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quinta-feira, 23 de setembro de 2010

OURO PRETO, FESTIVAL DE JAZZ E INHOTIM

OURO PRETO, FESTIVAL DE JAZZ E INHOTIM

Setembro 2010

Nossa primeira parada em viagem de 10 dias às cidades históricas mineiras, de histórica não teve nada. Foi em Inhotim, espetacular museu de arte contemporânea na nada espetacular Brumadinho, uma cidadezinha horrenda nos mais horrendos ainda arredores da feia Belo Horizonte. Em meio a tanta feiúra e pobreza existe um museu espetacular instalado e cercado por verdadeiros “jardins da Babilônia”, um lugar de sonho projetado por Burle Marx. Os delírios de grandeza de um mineiro misterioso que ganhou muito dinheiro com mineração e resolveu “devolver um pouco” à comunidade com um museu, jardins e ótimo restaurante, deram certo. O lugar vale a visita, o pó e a distancia. O acervo é bem escolhido, exposto e arrojado e a integração com a natureza exuberante é maravilhosa. Esculturas parecem encaixar-se perfeitamente a palmeiras exóticas, lagos, patos e cisnes. Instalações bizarras e arrojadas coexistem pacificamente com gansos, carpas e árvores gigantes. Tudo limpo, bem exposto, explicado, uma experiência muito agradável. A loja vende belos artigos a preços incompráveis, mas é interessante mesmo assim. O restaurante é imperdível por suas instalações ao ar livre, um buffet primoroso e pequeno menu a la carte; tudo oferecendo ótimo serviço. Como o lugar é grande e distante, um exercício de horas de caminhada, almoçar ali é quase obrigatório, pois não há outra alternativa decente nos precários arredores.
Depois desta agradável e educativa visita, fomos a Ouro Preto onde eu não havia estado desde criança.
Continua magnífica, museus, praças e contruções em grande parte em bom estado de conservação. As restrições a caminhões e ônibus no centro histórico estão em pleno vapor, o que ajuda, mas não resolve. A proibição a qualquer tipo de veículo serio o certo nas ruas principais; sofrem pedestres e antigas construções. Também ajudaria a diminuir o enorme movimento de grupos de jovens feios e ruidosos; para não falar na total falta de educação dos mesmos e do lixo por toda parte. São desafios a serem vencidos pela linda cidade, patrimônio não só nosso, mas de toda a humanidade.
Revisitei os ótimos Museu da Inconfidência, Museu de Ciência e Tecnologia, Casa dos Contos e as belas igrejas de São Francisco de Assis, de Nossa Senhora do Carmo, do Pilar, do Rosário. Para mais não deu, mas fica para uma próxima viagem, pois Ouro Preto vale a volta. Sempre. E principalmente quando ocorre o Tudo é Jazz, já em sua nona edição. Durante 4 dias em setembro, a cidade ferve com eventos musicais, vários deles gratuitos. Este ano, pela primeira vez, instalado com conforto no complexo de exposições do Parque Metalúrgico, o evento reuniu nomes internacionais de peso como Jon Hendricks, Nnenna Freelon e Regina Carter. Estes espetáculos, pagos, em pequeno teatro e os grátis em espaço ao ar livre. Com direito a bar, comidinhas, lojas e bastante animação. É uma idéia democrática que atrai muitos jovens que não poderiam pagar para estar ali, nunca poderiam ouvir a alegria e competência de uma banda de New Orleans como os Soul Rebels por exemplo. Há vários restaurantes que exibem músicos de jazz também grátis e a cidade é uma musica só durante este evento.
No capítulo gastronômico, Ouro Preto apresenta boas opções, mas ainda pode melhorar muito, como a mais ou menos vizinha, Tiradentes.
O Bené da Flauta continua sendo o melhor da cidade. Não foi desbancado pelo confuso e pouco profissional restaurante “supostamente” chique do questionável melhor hotel da cidade, o Solar do Rosário. O Café Geraes e o Passo Pizza são opções mais simples, mas não menos charmosas. Para quem não gosta, como eu, de bufês ou comidas “por quilo”, todo cuidado é pouco, pois Ouro Preto é contaminado por tais estabelecimentos. Como o Chafariz, Casa dos Contos e Deguste; bonitos e charmosos mas para lá de “genéricos”.
Hospedagem também não é quesito fácil na cidade. Solar do Rosário cobra ridículos 1000 reais ou mais pela diária de um bom quarto (não o melhor) durante o festival de jazz. O segundo melhor, a bela Pousada do Mondego, onde me hospedei, 700 por apartamento confortável mas pavorosamente barulhento.
Após essa estadia na cidade cheguei à conclusão de que pousadas mais baratas e com localização mais silenciosa são a melhor opção. Não se fica muito no quarto mesmo devido ao festival e aos inúmeros programas da região, portanto gastar dinheiro bom com serviço ruim não vale a pena. Visitamos os oito charmosos e confortáveis apartamentos do novo Hotel do Teatro, em frente ao mimoso Teatro Municipal e nos encantaram as instalações, a localização e os preços. R$ 250,00 pelas suítes luxo. Será com certeza nossa escolhida em volta ao festival. Inspecionamos também a Pousada do Douro, cujos pequenos quartos sem vista compensam pela localização privilegiada do estabelecimento e pelo excelente café da manhã. Um pouco mais cara que o hotel anterior acima citado, mas opção considerável.
A cidade vizinha Mariana, não chega aos pés de Ouro Preto, mas precisa ser prestigiada por três atrações: mina de ouro da Passagem, praça principal e adjacente com belas igrejas e casario preservado e a catedral. Esta última deve ser visitada às sextas e domingos nos horários dos concertos de órgão. O instrumento é único no Brasil e a organista consegue sons sublimes do mesmo. Tudo no lindo ambiente da catedral, um momento de paz e silencio, meditação ao som de Haendel na viagem de lazer e cultura pelo Brasil.
Chegamos à Mariana, vindos de Ouro Preto, no Trem da Vale. Parece bom mas não é. A estação que a famosa companhia mineradora restaurou com primor em Ouro Preto é divertida e tudo promete uma hora de agradável viagem. Engano: o trajeto é monótono e o trem francamente péssimo, desconfortável e barulhento. Melhor ir à Mariana de táxi se não houver veículo próprio.
A mina de ouro da Passagem, desativada, serve de atração turística levando os curiosos por seus labirintos subterrâneos a 120 metros de profundidade. Tudo interessante e misterioso, com direito a lago de águas cristalinas onde se pode até nadar!
Como se pode ver, muito há o que fazer nesta parte do estado que não fica a sequer 100 km de Belo Horizonte. Um programa que reúne cultura e diversão, gastronomia, musica e historia em quatro ou cinco noites deliciosas!

Para meu avo Huet, que me ensinou e mostrou os orgulhos mineiros.
Ouro Preto, 19 de setembro de 2010