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quarta-feira, 16 de fevereiro de 2022

NOVA YORK - FEVEREIRO 2022

NOVA YORK – DOIS ANOS DEPOIS FEVEREIRO 2022 No dia 03 de janeiro de 2020 parti de Nova York achando que voltaria dali a uns três ou quatro meses. Com a pandemia, só voltei dois anos depois a minha amada Big Apple. Receosa de encontrá-la diferente, caída, derrotada, empesteada... Mas como uma fênix que ressurge das cinzas, esta cidade que tantos golpes já levou, ressurge lentamente e promete voltar à glória do passado. Ainda não se sabe bem quando, pois neste inverno da variante Omicron, a cidade estava bem mais vazia do que o normal e todas as suas habituais atrações estavam apresentando níveis entre 40% a 70% de lotação. Algumas, até menos. O aeroporto principal, JFK, um tanto às moscas para uma quinta feira à noite, voos idem. Muitos espaços comerciais disponíveis para locação, a famosa Quinta Avenida, em alguns quarteirões, irreconhecivelmente fantasmagórica. O Hotel Wellington, onde já havia me hospedado várias vezes, fechou para todo o sempre. Idem para meu cabeleireiro legal ali perto e inúmeros imóveis ao redor. O restaurante DB também. Bar e restaurante dos hotéis Algonquin e Sofitel, fechados no momento por falta de clientes. Contudo, a passos dali, na Rua 44, um bar legal abriu, o Jane Doe. Sim, existe gente corajosa e empreendedora que aposta na cidade e abre novas coisas nestes amargos tempos atuais. O restaurante do MOMA, o The Modern Lounge Bar estava lotado, comida e preço excelentes. Os tradicionais e divinos Oyster Bar e Gabriel Kreuther funcionavam bravamente com 40% de ocupação e continuam tão bons e caros como sempre; sendo ambos os melhores lugares da cidade para comer aquela lagosta gigante do Maine. O maravilhoso Milos do shopping elegante do Hudson Yards, vista rio e Vessel, ia nos 50% de clientela. Não tem igual para crab cakes e lula a doré. Boa parte dos estabelecimentos funciona com bem menos atendentes, portanto paciência com serviço um tanto lento e distraído é recomendável. Pela primeira vez vi aquele shopping center (nome oficial – The Shops and Restaurants at Hudson Yards) quase cheio, normalmente, mesmo nos bons tempos era muito vazio; bom sinal. Grande parte dos espaços comerciais ocupados, aleluia! Ali é também o acesso a plataforma Edge, com belas vistas da cidade e a sensação estonteante de se estar solto no vazio acima da enorme cidade. Fuja se tiver medo de altura, pois os vidros de proteção são baixos e um triangulo no chão descortina as ruas a seus pés. Frio na barriga é pouco! Para mim a novidade foi assistir a uma peça papo-cabeça no The Shed, um dos principais itens do cartão postal do mega-projeto do Hudson Yards. Na saída comemos churros no Little Spain, que é uma espécie de EATALY com artigos espanhóis em vez de italianos. Este mall, como dizem os americanos, é uma perfeita alternativa e refúgio do mau tempo costumeiro de Nova York. Para os que caminham na High Line e querem comer e comprar bem, usar banheiro e desfrutar de um ambiente bonito e bem refrigerado ou aquecido, dependendo da época do ano, o lugar é um paraíso raro nesta cidade. Ainda no campo gastronômico, voltamos ao Benoit que estava vazio e péssimo e ao PJ Clark’s, um pouco mais cheio e delicioso. Tem o Manhattan melhor do mundo, chamado no cardápio, em grande destaque, de THE PERFECT MANHATTAN, perfeito mesmo. Cheeseburger com bacon entre os top 10 do universo. Tristeza ali perto com o Fiorello’s fechado, nada das minhas celestiais panquecas de blueberry desta vez. Porém, creio que não fechou para sempre, deve ser temporário. Ojalá! A Épicerie Boulud ali ao lado tinha vários clientes se locupletando com os itens padaria-chique-francesa, bons cafés, tortas e itens para viagem. Para nós a novidade gastronômica foi o recém-inaugurado Pavillon, do estreladíssimo chef Daniel Boulud, ao lado da Grand Central, num novo e sensacional prédio envidraçado, One Vanderbuilt. Ambiente lindo, muito verde, gente bonita, comida fantástica, serviço impecável. Há esperança! Em termos de custo, Nova York continua muito cara e não vejo maneira de isto mudar algum dia. Das entradas de teatros e shows, museus, bares e restaurantes, atrações variadas, tudo caro como sempre. Como bem caro também é o famoso doce Mont Blanc, na filial americana, na Sexta Avenida, perto da rua 42, da famosa confeitaria parisiense, Angelina. É um café bonito e pequeno, que dá para matar um pouco a saudade de Paris... Museus e galerias reiniciaram atividades com boas mostras e nível razoável de público, bem como os espetáculos da Broadway e as divindades do Lincoln Center. Há muita esperança no ar, muitas promessas e otimismo. Assistimos ballet, opera, concerto da Royal Philharmonic de Londres, o contagiante musical The Music Man, o animadíssimo MJ e o feminismo dançante e engraçado de SIX, com dez mulheres no palco. Finalmente conseguimos ver Hamilton, que tentamos há cinco anos sem sucesso. Portentoso, mas só para quem entende bem inglês. Muito bem. Conhecimento adequado da história americana também é um quesito importante. Nestes quase dois anos de pandemia e 80 voos depois, até agora, pelo Brasil e o mundo, não vi lugar algum mais afetado por esta praga do século 21 do que Nova York. Cidades brasileiras como São Paulo ou Curitiba, Gramado tão dependente de turismo e até a combalida Buenos Aires não mostram os efeitos nefastos da paralização mundial que o coronavírus proporcionou à Big Apple. Vê-se agora, claramente, a dependência tremenda da cidade do setor turístico, de lazer e de negócios, dos efeitos devastadores do home office, da diminuição drástica no número de estudantes estrangeiros nas escolas locais. O comércio online atacou as lojas de rua com virulência ainda pior do que a do Corona. Estima-se que os bons tempos retornarão por volta de 2025, pleno emprego. Tomara. Na Sexta Avenida, onde costumava haver uma escultura vermelha com a palavra LOVE, agora substituída por HOPE. Afinal, esperança é mesmo a última que morre... Zurique, 06 de fevereiro de 2022.

sábado, 12 de fevereiro de 2022

FILADÉLFIA - FEVEREIRO 2022

UM DIA DE SOL NA FILADÉLFIA Gelado, lindo, nevado. Meu primeiro e feliz contato com esta cidade que inspirou o filme de Tom Hanks, berço da democracia americana e anfitrião do segundo maior museu de arte dos Estados Unidos. Só perde, pero no mucho, para o Metropolitan em New York. Primeiramente, pela espetacular localização, numa colina beira rio, ponto final de uma majestosa avenida arborizada e repleta de monumentos. O lugar é tipo templo grego que faz do Paternon um anão sem graça. A majestade da construção também inspirou Rocky Balboa, o mítico boxeur vivido por Stallone no filme Rocky. Ele se exercitada pelas escadarias infinitas na busca do título e reconhecimento neste esporte. Em homenagem ao famoso personagem, uma estátua em frente ao museu, que atrai mais selfies do que todo o resto! A fachada e entorno do Philadelphia Museum of Art impressiona, mas nem de longe anuncia os inúmeros tesouros ali guardados, que vão de templos e casas de chá japonesas, inteiros e completos, a ambientes inteiramente importados da China e índia para compor o embasbacante terceiro andar, quase todo dedicado a arte asiática. O primeiro andar não é tão impressionante, mas para quem gosta de arte americana, é ambiente de respeito. Também abriga um dos melhores restaurantes dos EUA, o Stir. Comida moderna e ousada, poções generosas, num ambiente que Frank Gehry revitalizou recentemente. Aliás, o famoso arquiteto americano repaginou e desencavou espaços no museu, como as galerias e corredores com tetos abobadados, coisas quase esquecidas e enterradas nos porões do museu. O segundo andar abriga arte dos impressionistas mundiais até os contemporâneos, em sua maioria europeus e norte americanos. O numero de obras importantes é estonteante e o espaço intitulado Rotunda é uma verdadeira ode ao bom gosto em pinturas de Monet, Renoir e outros gênios deste calibre. A sala com os trabalhos de Marcel Duchamp é considerada como uma das mais importantes coleções deste artista francês, em todo o planeta. Programaço de dia inteiro, facilmente executado de Nova York, uma hora de trem da recém-renovada Penn Station no coração da cidade, até a magnífica central de trens da rua 30TH, no coração da Filadélfia. O museu é uma agradável caminhada de meia hora dali, numa bela trilha beira rio que o Google Maps indica com perfeição. Nada como os bons trens Acela da Amtrak, quase comparáveis aos europeus, sem o estresse de aeroportos, aviões e táxis. Inesquecível dia de arte e gastronomia, no último dia gelado de janeiro. Zurique, 05 de fevereiro de 2022.

sábado, 5 de fevereiro de 2022

CINCO MUSEUS - NOVA YORK FEVEREIRO 2022

Dez dias e cinco museus – Nova York FEVEREIRO 2022 MoMA para começar, é lógico. Depois de dois anos pandêmicos e longe de minha amada Big Apple, o museu de arte moderna mais charmoso do mundo foi a primeira parada. Breve, para almoçar no sensacional The Modern e ver com calma a mostra dos trabalhos maravilhosamente ecléticos da artista suíça Sophie Tauber-Arp. Ela trabalhou com óleo, litogravuras, tecido, tapeçaria, madeira, vitrais. Um sem número de peças muito bem curadas, traçando a trajetória desta artista singular, muito adiante de sua época. Não sou fanática por fotografia, mas a filial americana da sueca Fotografiska é local de respeito, numa casa antiga e muito agradável perto do restaurante estrelado 11 Madison Park. A casa é uma construção que estaria perfeita num dos livros do Harry Potter e em seus seis pequenos andares pudemos apreciar fotos curiosas de artistas alemães, coreanos, franceses e americanos. No piso térreo um café simpático e uma lojinha linda. Whitney desta vez brilhava com uma giga-exposição de Jasper Johns, Mind and Mirror. Por total coincidência havia visto há poucos dias, a exposição correspondente, no Museu de Arte da Filadélfia. A do Whitney é bastante maior e interessante, fora o fato de que este tipo de mostra no Whitney é grandemente realçada pela vista do Hudson, pela maravilhosa luz natural do museu projetado por Renzo Piano. Não sou fã de Jasper Johns, mas esta exibição é tão interessante, que relevei minha falta de entusiasmo pelo artista. No mesmo dia, mostra super original sobre a influencia da arte francesa nos desenhos de Walt Disney, principalmente, Branca de Neve, Bela Adormecida, A Bela e a Fera e Cinderela. Ambiente escuro e musical, iluminação perfeita, matéria de sonhos que me fez lembrar a infância, apesar de não ser indicada para crianças, pois a curadoria do Metropolitan é ultra-sofisticada e totalmente voltada para o luxo e fausto da época dos reis franceses. É história, arte, desenho; nada de diversão infantil. Também no Metropolitan, a exposição das esculturas-gigantes do artista americano Charles Ray. É um “gosto adquirido”, pois a reprodução do corpo humano, na visão deste controverso artista, não cai no gosto popular facilmente. Amei. Finalizando, prestigiei o Guggenheim, longe de ser meu favorito na cidade. Muitos Kandinskys, que pouco aprecio, mas uma divina surpresa nas fotos da inglesa Gillian Wearing no espetáculo intitulado Wearing Masks (nome bastante apropriado aos dias que correm). Seu trabalho é ao estilo da americana Cindy Sherman, que adoro, mas Gillian de um modo bem britânico, é mais contundente, mais humor negro, mais elegante. Evita cores, prioriza os trabalhos em preto e branco e técnicas multimídia. Mesmo semi-derrotada pelo Coronavírus, Nova York vive com garbo suas tradições culturais de raíz. Tem de tudo, para todos. Zurique, 05 de fevereiro de 2022.