Translate

sábado, 25 de fevereiro de 2012

ACAMPAR NA NEVE E FOTOS ABAIXO

ACAMPANDO NA NEVE

Já acampei no gelo do Ártico canadense; duro mas inesquecível. Como assim é a experiência de acampar em pleno inverno suíço, nas montanhas da região francesa do país, cercanias da famosa Verbier.
Sempre a caça de novidades viageiras, no dia 24 de dezembro de 2011 me deparei com um artigo que descrevia um “acampamento de luxo”, na Suíça, na revista de bordo da linha aérea daquele pais, a SWISS. Fiquei fascinada pelo conceito e convenci meu marido a passar 3 noites lá, fevereiro 2012. O preço “promocional” do pacote, R$ 2000,00 com café da manha, nos animou a tentar.
O lugar se chama Whitepod, o “hotel” localizado perto da feia Monthey. Chegar lá com mau tempo, como foi o nosso caso, não é fácil e requer correntes nos pneus do carro. Meu marido, suíço e precavido, ligou para o hotel no dia anterior e perguntou sobre este quesito e lhe disseram que as tais correntes não eram necessárias. São. Num dos invernos mais frios da Europa nos últimos 30 anos, as temperaturas e condições meteorológicas mudam rapidamente e a estradinha que leva ao hotel é facilmente coberta de neve. Em menos de uma hora...
Chegamos por milagre, sem enxergar nada, uma neblina que misturada com a neve caindo e o vento era uma tortura. Na recepção, a funcionaria sem a menor boa vontade em nos ajudar, nos deu bastões de esqui e sapatos especiais para que “caminhássemos” naquelas condições terríveis, por meia hora, ate nossa “tenda”. Que eles sofisticadamente chamam de “pod”, palavra inglesa muito em moda à custa dos produtos da americana Apple. Poderíamos ter ido nos snowcats, espécie de jet-ski de neve. Mas faz parte da “aventura” a caminhada introdutória, uma espécie de “iniciação”...
Pouco a pouco nos arrastamos pela tormenta e o frio intenso até nosso pod, que surpreendentemente estava quentinho. Os pods são tendas bem grandes em formato de iglu e supostamente bem insuladas contra o frio. Supostamente, pois a porta é um zíper de barraca de acampamento normal e toda a sofisticação das duas camadas de plástico separadas por isopor, de todo o resto, não servem para muita coisa. O pod é realmente aquecido por uma poderosa lareira fechada com uma porta de ferro e vidro. Não é fácil lidar com a dita cuja, mas é a única maneira de não virar uma pedra de gelo no pod. Se a lareira é mantida constantemente funcionando o pod realmente fica quentinho e agradável.
As mega-tendas iglu são confortáveis e contam com enormes camas box-spring, edredons e cobertores poderosos, poltronas cobertas por peles de carneiro e um banheiro surpreendentemente grande e bem equipado. O chuveiro tem agua bem quente e há até um aquecedor elétrico para tornar tudo mais confortável. Como se pode ver, um verdadeiro acampamento de luxo.
O cenário é maravilhoso, as montanhas nevadas deslumbrantes e o fato de se estar praticamente dentro da neve é muito especial. Os pods tem grandes sacadas de madeira e cadeiras para se desfrutar do sol que ameniza as temperaturas em dias de sorte. Tivemos sorte após nossa dramática chegada e o sol brilhou o tempo todo, refletindo no azul forte do céu o branco cintilante da neve. Incrivelmente lindo e especial.
As atividades no Whitepod são basicamente esportes de inverno como esqui e suas variantes, caminhadas na neve com os snowshoes (ótima maneira de queimar as muitas calorias do ótimos fondues do hotel), trenós individuais e os divertidos puxados por cachorros treinados, coisa que diverte muito as crianças. O restaurante do hotel tem cardápio restrito mas bem executado e além dos clássicos pratos do inverno suíço, como raclettes e fondues, boas opções da cozinha francesa estão presentes. Nada de muito sofisticado ou especial, mas corretamente preparado. Em chalé de madeira, com lareira aberta central, muito romântico e aconchegante com iluminação de velas.
Não voltaria a me hospedar no Whitepod, uma vez basta. Foi uma experiência única e divertida, uma coisa bastante diferente que vale muito a pena. Mas prefiro mesmo em bom quarto de hotel ou casa/apartamento alugado, com calefação. Não é fácil acordar de 3 em 3 horas para por lenha na lareira, para manter o pod aquecido. Na primeira noite não fizemos isso e a temperatura de menos 5 graus, DENTRO do pod não foi nada agradável...
Recomendo para famílias com crianças, para os românticos, os aventureiros, os amantes do esqui que podem fazer uma combinação com as magnificas pistas de Verbier, seus hotéis sofisticados e comida fabulosa como o La Table D’Adrien. O Whitepod é uma parada louca dentro de um roteiro invernal na Suíça, uma coisa que só funciona num pais onde se pode contar com as condições a seguir:

1- A área é TODA aberta. Não há muros, cercas, nada. Tudo maravilhosamente sem fronteiras, barreiras ou qualquer funcionário de segurança.
2- As tendas, os pods, não tem tranca. São fechados apenas com zíper. Nada ocorre, os turistas dormem tranquilos e nada é roubado.
3- O bar é igualmente aberto. Localizado em belo chalé antigo, perto dos pods (recepção e restaurante estão à meia hora de caminhada pela neve como anteriormente mencionado) e lugar onde também é servido o café da manha, ótimo por sinal. O tal conceito de bar aberto é verdadeiramente incrível num mundo violento e superpopuloso como o que habitamos. As bebidas estão em prateleiras e na geladeira. Você se serve do que quer e anota o que consumiu e o numero do seu pod. Não há nenhuma alma viva no lugar para controlar e NADA desaparece.

Só na Suíça mesmo...


Zurique, 25 de fevereiro de 2012

fotos WHITEPOD




























SALVADOR, MORRO DE SAO PAULO E GRAMADO

O MELHOR DE DOIS MUNDOS

Férias de verão na praia e na montanha? Pela manhã nadando no mar, calorão, muito sol e a noite, dormindo quentinha debaixo de um fofo edredom? Perfeitamente possível no Brasil entre dezembro e janeiro. Foi o que fizemos, escolhendo a Bahia para o fim do ano e começando 2012 em Gramado; um projeto caríssimo, mas feliz.
Infelizmente, contudo, viajar bem no Brasil muito, muito caro. Nosso projeto saiu o mesmo ou mais do que gastaríamos no igual numero de dias em Paris, por exemplo.
Saímos de São Paulo, via Congonhas, para Salvador no dia 25 de dezembro. Qualquer passagem via Congonhas custa quase o dobro de uma via Guarulhos. Em Salvador nos hospedamos no luxuoso e péssimo Convento do Carmo. O prédio antigo e lindo, bem restaurado, os quartos magníficos e localização ótima – para quem quer curtir o Pelourinho. No entanto, o serviço péssimo e o restaurante idem. O café da manha muito bom, contrastando com o jantar a preços de São Paulo, horas de espera pela comida – fraca - e garçons que nada sabem. Como também nada sabe o pessoal da recepção, um deles um italiano idiota que não sabia informar onde era o Solar do Unhão (um dos principais museus da cidade) e não reservou o taxi que pedimos. Uma vergonha, solido exemplo da cretinice da administradora portuguesa, a bisonha cadeia Pestana.
Mas os problemas com o hotel não atrapalharam nossa estadia feliz em Salvador, uma cidade sempre alegre e interessante. Caminhadas pelo centro histórico e visitas as lindas igrejas principais foram acrescidas de um longo passeio com o ônibus turístico de dois andares, cópia dos que existem na Europa e África do Sul. O roteiro em Salvador muito extenso e quem não quer ficar no ônibus por cinco horas, melhor não encarar. Também cara a passagem, como todo o resto, compensa por ter o andar de cima aberto, o veiculo limpo e confortável e uma ótima maneira de se ter uma ideia do que Salvador. Como toda cidade grande, difícil de conhecer de uma vez, em única visita. Mas com o ônibus de dois andares e todas as explicações, em três idiomas, a coisa fica mais fácil. Visita-se a infalível igreja do Bonfim, bairros residências modernos, lagoa do Abaete, praias, Mercado Modelo. O ônibus para em alguns destes locais e fica cerca de meia hora em cada um. Terminamos o passeio com um magnífico almoço/jantar no Amado, restaurante versão-baiana do Manacá de Camburi. Lugar bonito, beira mar, bom serviço, comida de primeira. Também preços paulistas.
Depois de Salvador, encaramos a avioneta-terror para Morro de São Paulo. Vale o medo, pois nosso hotel, Villa dos Orixás, não podia ter sido escolha melhor. Foram 5 noites perfeitas em praia de sonho, com serviço e comida maravilhosos. O tempo ajudou, só sol e mar transparente, pontilhado de peixes coloridos, morninho. Uma delicia! Na paz e beleza da praia do Encanto, bem longe da cafonice e barulheira que destruíram o centro e praias de 1 a 4 em Morro. A festa de Réveillon foi animada, ótima ceia com direito a champanhe espanhol, a cava, em homenagem aos donos que são de Barcelona. O jovem casal faz ali um belo trabalho de hotelaria e treinamento dos toscos nativos, gente com pouca escolaridade, mas com simpatia e boa vontade de sobra. O resultado um hotel-boutique digno do nome, um coqueiral belíssimo polvilhado por 10 bangalôs bem montados e confortáveis. Salva de palmas para a moqueca de polvo com banana e outras delícias que enfeitam um cardápio criativo e bem bolado. As caipirinhas são igualmente criativas e algumas delas usam a erva capim-santo em sua composição.
No dia 1 de janeiro, encaramos 3 voos para chegar até Gramado. A avioneta de volta a Salvador, um para Guarulhos e outro para Porto Alegre. Tempo péssimo, muita turbulência e os preços das passagens, literalmente, nas nuvens. A parte aérea de nossa viagem nos custou em torno de R$ 8000,00 para duas pessoas. Mais caro que Europa! Os hotéis no final de ano brasileiro estão, como diria minha avó, “pela hora da morte”. Não nos hospedamos nos extorsivos resorts que cobram fortunas inimagináveis, mas nossos 3 nesta viagem eram níveis de 4 a 5 estrelas e preços foram de 500 a 700 dólares por dia. Só com café da manha. Por estas quantias fica-se bem em Paris...
Carro alugado (coisa longe de ser barata em nosso país), lá fomos serra acima até nossa querida Gramado, justamente eleita pelos leitores de Viagem e Turismo como o melhor destino de viagens no Brasil. Sem falar que é o melhor destino de inverno. Há muito tempo.
Com amigos suíços nos visitando lá, fomos de novo ao lindo espetáculo de música, o Nativitaten. O Natal em Gramado dura mais de dois meses e vai de meados de novembro a meados de janeiro. É bem estranho ouvir canções natalinas em janeiro, Papai Noel desfilando por toda parte em janeiro, mas a cidade organiza tudo tão bem, que funciona. O clima é de alegria e animação, mesmo que fora de época. Revisitamos também o zoológico que agora conta com mais bichos e uma loja bem sortida e fizemos longas caminhadas pelo Parque Ferradura. Curtimos como sempre a hospedagem perfeita no La Hacienda e nos deliciamos com a cozinha do hotel, cada vez melhor e variada.
O contraste entre o clima ameno e as noites friazinhas de Gramado no verão com a fornalha baiana é intenso, mas não deixa de ser interessante. Aproveita-se a incomparável baianidade das praias do meu estado nordestino preferido, a culinária única da angelicais moquecas, a simpatia sempre presente dos baianos, a costa deslumbrante e a grande importância histórica de Salvador. Cultural e contemporânea, os museus de arte moderna não param de despontar por suas ruas arborizadas e gostosas de caminhar.
Em Gramado, limpeza, organização e ótima estrutura turística; na Bahia, sujeira e pouco treinamento dos profissionais que recebem os visitantes. São contrastes ainda mais fortes se vistos e sentidos nas mesma viagem, 16 dias entre os dois estados. Uma boa lição de Brasil. De nossas virtudes e de nossos desafios. E um destes desafios transformar os custos em somas pagáveis, os aeroportos em locais eficientes e a educação da população, prioridade. Máxima.

Martigny, Suíça, 20 de fevereiro de 2012