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quarta-feira, 10 de novembro de 2010

FAZENDAS HISTÓRICAS EM MINAS GERAIS, TIRADENTES, SÃO JOÃO DEL REY E CONGONHAS DO CAMPO – PARTE DA FAMOSA ESTRADA REAL

Uma viagem pelo tempo e pela gastronomia mineira

Depois de uma bem sucedida estadia de cinco dias em Ouro Preto e arredores, em meados de setembro de 2010, dirigimos em dia ensolarado pela estrada que nos levou à adorável Fazenda Santa Marina, propriedade da tradicional família mineira, os Alckmin. O lugar, datando dos idos de 1700, faz parte do circuito de fazendas históricas nas cercanias de Cristiano Otoni, a uns 120 km de Belo Horizonte. O acesso, de Ouro Preto, é fácil e o percurso é todo asfaltado. Os marcos da antiga Estrada Real estão por toda parte e placas explicativas tornam tudo bastante educativo.
A casa-sede, amarelo vivo e azul pavão é bonita e confortável, os poucos quartos um charme. Lareira, flores por toda parte, banheiros modernos, belo mobiliário. Sem falar na comida de fazenda, mas do tipo saudável, pois as quatro irmãs proprietárias fazem a linha zen e a culinária não carrega nos torresmos e outros atentados às artérias dos hóspedes. Boa carta de vinhos, paz e muito romantismo neste lugar especial para descansar e namorar. Os mais ativos podem escolher cavalgadas ou caminhadas e visitas a outras fazendas da área. Mas a piscina e as massagens, inclusive sala de meditação, convidam as pessoas a ali ficarem, aproveitando o silencio só quebrado pelos pássaros multicoloridos ou o raro mugido de uma vaca ou outra.
É uma parada perfeita entre Ouro Preto e Tiradentes. Depois do agito e barulho da primeira, a tranqüilidade esotérica da Santa Marina prepara o viajante para o, muito que fazer em Tiradentes, nosso próximo destino.
Tiradentes, apesar de pequena, preservada e bucólica, oferece grande atividade turística. Começando por bares e restaurantes, caminhadas e passeios às cidades vizinhas. Isso sem falar nas compras maravilhosas nas lojas de móveis e artesanato da cidade. Sua vizinha, Bichinho, é sede da famosa Oficina de Agosto e suas peças impressionantes. Não é barato, mas vale pelo menos a visita. O ateliê da grife, localizado em um sitio fácil de encontrar é o mais bacana e misterioso, com as peças de vanguarda que fizeram o sucesso da marca e a pequena loja no “centro” de Bichinho, exibe as peças mais antigas e óbvias da Oficina. Não há centro, só uma rua principal de terra, onde se encontram a maioria de lojas e ateliês. Tudo muito interessante, pode-se passar uma tarde inteira lá. Mesmo não comprando, só as visitas valem a pena. E no caminho é bom parar no interessante Museu do Automóvel e seus exemplares bem conservados de carros, muitos deles, parte da história automobilística brasileira- com direito a Gurgel e tudo mais.
Para quem está atrás de móveis, Tiradentes é uma festa. Festa da Madeira, isto é. As mais lindas peças e móveis neste material. Os preços são razoáveis mas não baratos. Vale pelo acabamento e originalidade, principalmente no Armazém do Arquiteto, uma “arca do tesouro” contendo maravilhas difíceis de encontrar num só lugar, um enorme “depósito” que impressiona pela classe , qualidade e variedade. De modo geral, nas lojas de móveis da região, há de tudo para todos os bolsos, mas o bom gosto impera em Tiradentes e é difícil encontrar coisa brega.
Presentes, objetos de decoração, algumas peças de vestuário e artesanato são lindos por toda parte e em todos os materiais e cores possíveis. Uma tentação terrível. Bem como a comida, genialmente representada, nesta ordem, pelo Theatro da Vila, Tragaluz e Santo Ofício. O primeiro é uma das casas mais bem decoradas e românticas em que já estive em minha longa carreira de viajante. A comida é maravilhosa e os preços altos não assustam. Vale o que cobram. O serviço é amável e o local é imperdível. Se o turista tem apenas uma noite para jantas em Tiradentes é no Theatro da Vila que deve ir. É experiência gourmet, sofisticada, cardápio enxuto e a carta de vinhos, seriíssima. Estupendo! O famoso Tragaluz é bom, mas nada de excepcional para quem viaja muito e está acostumada às boas casas de Rio e SP, sem falar nas internacionais. Tem ambiente acolhedor, bom serviço, culinária criativa, mas nada de UAU! – como o Theatro da Vila, por exemplo. A fama, injustificada, se deve ao fato da dona ser MUITO bem relacionada em círculos sociais de BH. O Santo Ofício é o melhor custo benefício da cidade, com meigo ambiente à luz de velas e cardápio original. Serviço acima da média e preços camaradas. Altamente recomendado.
Para quem é fã da pesadíssima cozinha-mineira-tijolo, o Estalagem do Sabor é o destino ideal. O Mexidão (o nome já diz tudo) é muito, muito saboroso e te agrega umas 5000 calorias na cintura e arredores. Ambiente simples mas confortável e no verão, mesas no bonito gramado. Tiradentes tem mais duas opções estreladas de comida mineira, mas como não somos fanáticos, só fomos ao estabelecimento acima citado. No quesito petiscos, ninguém é páreo para o Bar Sapore D’ Itália (não confundir com restaurante de mesmo nome), nome infeliz para um lugar ótimo na praça principal, o conhecido Largo das Forras. O lugar se destaca pelas mesas no terraço, bom ponto de observação para a vida na cidade e pelos pastéis de angu; péssimo nome para fabulosos pastéis com recheios distintos que se deveriam chamar “pastéis de polenta”, pois a massa é muito parecida com o famoso item italiano. De chorar de bom! Boas bebidas, bons preços.
E além de comer e comprar? Muita coisa. Caminhar pela cidade é um prazer, descobrir cantinhos adoráveis como o do Chafariz de São José e por trás do dito, a trilha pela floresta que circunda Tiradentes. Tal mata é muito bem preservada, moldura perfeita entre a cidade e as montanhas rochosas. Há trilhas de todos os tipos e dificuldades, mas com guia. A pequena e fácil acima mencionada é muito recomendável e dispensa guias chatos. A igreja matriz de Santo Antonio é minha preferida, aquela mesmo de todas as novelas de época da Globo. Linda, bem preservada, um lugar especial. Para se admirar, rezar e assistir a concertos de órgão. As outras igrejas em Tiradentes perdem muito para as vizinhas em Congonhas do Campo e São João Del Rey. Por falar nas duas cidades, que SÓ valem visitas pelas igrejas, são passeios perfeitos e fáceis pela região de Tiradentes. São João é facilmente alcançada na engraçada Maria Fumaça, aquele trem antigo também muito filmado pela Globo. O trem é confortável, o trajeto é curto e vale a pena. São João é suja, grande e moderna, a parte antiga vale a visita, “pero no mucho”. Se o turista for interessado no finado Tancredo Neves, há museu e cemitério dedicados ao quase-presidente.
Congonhas do Campo é uma cidade feia, mas o Santuário de Bom Jesus do Matozinhos é espetacular. Não tanto a igreja, mas os profetas que rodeiam a mesma. Sofrendo ação do tempo ou poluição, lá se encontram majestosos em toda sua glória de pedra sabão e seus traços finos e delicados. São verdadeiras pinturas em pedra, de um refinamento e delicadeza impressionantes. Aleijadinho foi um gênio e seu legado, incomparável.
Ficar ou não ficar no centro, eis a questão hospedagem em Tiradentes. Ficamos e adoramos o Solar da Ponte, ainda o melhor da cidade e ainda sob o comando magnífico de John Parsons. Mas ele quer vender o Solar, portanto é uma grande duvida se os novos donos manterão a casa da maneira primorosa e com o serviço classudo como o inglês e sua mulher o fazem. Os quartos são grandes e ótimos, bom café da manhã e chá da tarde, boa piscina. O único ponto negativo é o barulho do lugar. Para quem quer calma a pedida são as boas e modernas pousadas fora da cidade. Não são longe e oferecem um silencio que o centro de Tiradentes não tem, infelizmente. Carros e gente impedem a paz. Numa próxima vez eu tentaria Pousada dos Inconfidentes, Villa Paolucci ou Pequena Tiradentes.
Tiradentes não exibe o esplendor arquitetônico de Ouro Preto e muito menos sua grande importância histórica. Mas é um lugar dos mais agradáveis e interessantes, sem falar charmoso, do Brasil histórico. Uma Parati melhorada, sem o mar, mas com o charme dos lugares bem preservados, que pararam no tempo sem serem tediosos.
Prepare o bolso, é o destino mais caro de nossa querida Minas Gerais.

São Miguel do Gostoso

Que nome bizarro para uma cidadezinha perdida nos confins do Rio Grande do Norte! Por que Gostoso + nome de santo? Bem, o município é novo, existe há apenas 10 ou 15 anos e seus 10.000 habitantes decidiram mesclar o nome do padroeiro da cidade com o sentimento de se estar em suas praias maravilhosas, com o vento constante amenizando o calor, a delícia de suas águas mornas, a calma do lugar, uma paz só. Gostoso. E é assim, de maneira abreviada, que seus habitantes se referem a este lugar, 100 km ao norte de Natal, que se está tornando rapidamente um destino turístico dos mais agradáveis.
Já era Meca dos kitesurfistas, loucos pelo lugar e seus ventos perfeitos para a prática deste esporte que está virando mania entre os jovens em geral, não apenas os engajados em praticas aquáticas. E é divertido ver dezenas deles “voando” pelo mar. Há escolas (Escola Gostoso, claro) e material de aluguel no lugar. Os estrangeiros, principalmente portugueses e italianos, ajudaram a sofisticar a região, com seus surpreendentemente bons bares e restaurantes.
Gostoso é uma boa e diferente alternativa às praias do sul do estado, a famosa Pipa, por exemplo. Geografia totalmente distinta, dunas em vez de falésias, uma imensidão impressionante de areia sem fim. Particularmente bonita é Tourinhos, um bom passeio a pé, pela praia, seis belos quilômetros pontilhados por formações rochosas, resultando em charmosa baía de águas claras e uma vegetação “entortada” pelo vento, compondo um quadro pitoresco e bucólico. Tudo muito vazio. Ainda. A infra estrutura melhora rapidamente e o acesso de Natal é fácil e confortável por boa estrada de asfalto.
As praias estão entre as mais lindas do Brasil e boas pousadas, como a Só Alegria, são totalmente “pé na areia”. Comandada por um casal de paulistas de Ribeirão Preto, o estabelecimento é bem decorado, confortável e profissional. Por enquanto, a “top” de Gostoso. Seu restaurante, Malagueta, está entre os cinco melhores e o café da manhã, delicioso; criativo em receitas como o waffle de pão de queijo e “sanduíches” de tapioca.
O bar de praia J. Sparrow’s (nome do personagem de Johnny Depp em Piratas do Caribe) oferece pratos sofisticados como ceviche e preparações com polvo das mais descoladas. Além de caipirinhas diferentes, como a de uva preta e saquê. No capítulo comidinhas + boutique transada, o Madame Chita faz as honras com seus crepes voluptuosos e bolsas com a cara estranha da artista mexicana Frida Khalo. O pequeno Esquina do Brasil, na avenida principal, não desaponta no bem temperado arroz de polvo. Mas o melhor mesmo é o Hibiscus, invenção de um mineiro e de uma baiana. Suas reinterpretações de clássicos baianos como a moqueca e o risoto de camarão, são delicados e criativos. Bom serviço, ambiente bonito, opções razoáveis de vinhos. Os preços de toda essa farra ainda são decentes. Caros para a região, mas bem mais baratos do que os praticados no Sudeste.
O que há para fazer em Gostoso? Nada.
Relaxar, comer, dormir bem, andar infinitamente pelas praias gigantescas, nadar, passear de bugue pelas redondezas, ir de praia em praia comparando areias, mar e vegetação. Ler aqueles livros que sempre se deixa para depois, contratar massagem boa e barata, tentar esportes marítimos. E concordar com nativos e turistas: é tudo muito Gostoso!!!

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

OURO PRETO, FESTIVAL DE JAZZ E INHOTIM

OURO PRETO, FESTIVAL DE JAZZ E INHOTIM

Setembro 2010

Nossa primeira parada em viagem de 10 dias às cidades históricas mineiras, de histórica não teve nada. Foi em Inhotim, espetacular museu de arte contemporânea na nada espetacular Brumadinho, uma cidadezinha horrenda nos mais horrendos ainda arredores da feia Belo Horizonte. Em meio a tanta feiúra e pobreza existe um museu espetacular instalado e cercado por verdadeiros “jardins da Babilônia”, um lugar de sonho projetado por Burle Marx. Os delírios de grandeza de um mineiro misterioso que ganhou muito dinheiro com mineração e resolveu “devolver um pouco” à comunidade com um museu, jardins e ótimo restaurante, deram certo. O lugar vale a visita, o pó e a distancia. O acervo é bem escolhido, exposto e arrojado e a integração com a natureza exuberante é maravilhosa. Esculturas parecem encaixar-se perfeitamente a palmeiras exóticas, lagos, patos e cisnes. Instalações bizarras e arrojadas coexistem pacificamente com gansos, carpas e árvores gigantes. Tudo limpo, bem exposto, explicado, uma experiência muito agradável. A loja vende belos artigos a preços incompráveis, mas é interessante mesmo assim. O restaurante é imperdível por suas instalações ao ar livre, um buffet primoroso e pequeno menu a la carte; tudo oferecendo ótimo serviço. Como o lugar é grande e distante, um exercício de horas de caminhada, almoçar ali é quase obrigatório, pois não há outra alternativa decente nos precários arredores.
Depois desta agradável e educativa visita, fomos a Ouro Preto onde eu não havia estado desde criança.
Continua magnífica, museus, praças e contruções em grande parte em bom estado de conservação. As restrições a caminhões e ônibus no centro histórico estão em pleno vapor, o que ajuda, mas não resolve. A proibição a qualquer tipo de veículo serio o certo nas ruas principais; sofrem pedestres e antigas construções. Também ajudaria a diminuir o enorme movimento de grupos de jovens feios e ruidosos; para não falar na total falta de educação dos mesmos e do lixo por toda parte. São desafios a serem vencidos pela linda cidade, patrimônio não só nosso, mas de toda a humanidade.
Revisitei os ótimos Museu da Inconfidência, Museu de Ciência e Tecnologia, Casa dos Contos e as belas igrejas de São Francisco de Assis, de Nossa Senhora do Carmo, do Pilar, do Rosário. Para mais não deu, mas fica para uma próxima viagem, pois Ouro Preto vale a volta. Sempre. E principalmente quando ocorre o Tudo é Jazz, já em sua nona edição. Durante 4 dias em setembro, a cidade ferve com eventos musicais, vários deles gratuitos. Este ano, pela primeira vez, instalado com conforto no complexo de exposições do Parque Metalúrgico, o evento reuniu nomes internacionais de peso como Jon Hendricks, Nnenna Freelon e Regina Carter. Estes espetáculos, pagos, em pequeno teatro e os grátis em espaço ao ar livre. Com direito a bar, comidinhas, lojas e bastante animação. É uma idéia democrática que atrai muitos jovens que não poderiam pagar para estar ali, nunca poderiam ouvir a alegria e competência de uma banda de New Orleans como os Soul Rebels por exemplo. Há vários restaurantes que exibem músicos de jazz também grátis e a cidade é uma musica só durante este evento.
No capítulo gastronômico, Ouro Preto apresenta boas opções, mas ainda pode melhorar muito, como a mais ou menos vizinha, Tiradentes.
O Bené da Flauta continua sendo o melhor da cidade. Não foi desbancado pelo confuso e pouco profissional restaurante “supostamente” chique do questionável melhor hotel da cidade, o Solar do Rosário. O Café Geraes e o Passo Pizza são opções mais simples, mas não menos charmosas. Para quem não gosta, como eu, de bufês ou comidas “por quilo”, todo cuidado é pouco, pois Ouro Preto é contaminado por tais estabelecimentos. Como o Chafariz, Casa dos Contos e Deguste; bonitos e charmosos mas para lá de “genéricos”.
Hospedagem também não é quesito fácil na cidade. Solar do Rosário cobra ridículos 1000 reais ou mais pela diária de um bom quarto (não o melhor) durante o festival de jazz. O segundo melhor, a bela Pousada do Mondego, onde me hospedei, 700 por apartamento confortável mas pavorosamente barulhento.
Após essa estadia na cidade cheguei à conclusão de que pousadas mais baratas e com localização mais silenciosa são a melhor opção. Não se fica muito no quarto mesmo devido ao festival e aos inúmeros programas da região, portanto gastar dinheiro bom com serviço ruim não vale a pena. Visitamos os oito charmosos e confortáveis apartamentos do novo Hotel do Teatro, em frente ao mimoso Teatro Municipal e nos encantaram as instalações, a localização e os preços. R$ 250,00 pelas suítes luxo. Será com certeza nossa escolhida em volta ao festival. Inspecionamos também a Pousada do Douro, cujos pequenos quartos sem vista compensam pela localização privilegiada do estabelecimento e pelo excelente café da manhã. Um pouco mais cara que o hotel anterior acima citado, mas opção considerável.
A cidade vizinha Mariana, não chega aos pés de Ouro Preto, mas precisa ser prestigiada por três atrações: mina de ouro da Passagem, praça principal e adjacente com belas igrejas e casario preservado e a catedral. Esta última deve ser visitada às sextas e domingos nos horários dos concertos de órgão. O instrumento é único no Brasil e a organista consegue sons sublimes do mesmo. Tudo no lindo ambiente da catedral, um momento de paz e silencio, meditação ao som de Haendel na viagem de lazer e cultura pelo Brasil.
Chegamos à Mariana, vindos de Ouro Preto, no Trem da Vale. Parece bom mas não é. A estação que a famosa companhia mineradora restaurou com primor em Ouro Preto é divertida e tudo promete uma hora de agradável viagem. Engano: o trajeto é monótono e o trem francamente péssimo, desconfortável e barulhento. Melhor ir à Mariana de táxi se não houver veículo próprio.
A mina de ouro da Passagem, desativada, serve de atração turística levando os curiosos por seus labirintos subterrâneos a 120 metros de profundidade. Tudo interessante e misterioso, com direito a lago de águas cristalinas onde se pode até nadar!
Como se pode ver, muito há o que fazer nesta parte do estado que não fica a sequer 100 km de Belo Horizonte. Um programa que reúne cultura e diversão, gastronomia, musica e historia em quatro ou cinco noites deliciosas!

Para meu avo Huet, que me ensinou e mostrou os orgulhos mineiros.
Ouro Preto, 19 de setembro de 2010

sexta-feira, 16 de julho de 2010

SUÍÇA ROMANTICA NO VERÃO 2010

Meu marido, que é suíço, e eu nos casamos no ano passado no país natal dele. Como usos e costumes são bem diferentes dos tupiniquins, recebemos presentes de casamento bastante inusitados para padrões brasileiros.

Como o “fim de semana total”, nos dado pelos dois irmãos, cunhadas, sobrinhos, pai e madrasta. Todos, até crianças e adolescentes pagam a sua parte do presente. Que consistiu em um fim de semana surpresa com tudo incluído. Tudo mesmo, até compras e tratamentos no spa do maravilhoso Walhotel Dolderhorn, em Kandersteg, perto da capital suíça, Berna. E até a data em que resolvemos utilizar o “vale fim-de-semana”, não sabíamos aonde iríamos. Eles fizeram a reserva baseados nos dias que escolhemos e ao dar partida no carro, nos avisaram para passar na casa do irmão gêmeo de meu marido e pegar as “instruções”. Fomos, apreensivos, sem sabe que tipo de lugar enfrentaríamos, se era mico ou não, se as roupas e sapatos que estávamos levando seriam adequadas, um verdadeiro “tiro no escuro”!

O envelope que nos foi entregue por minha cunhada continha mapa, foto do hotel e os nomes dos membros da família que patrocinavam a jornada. Também especificava que poderíamos comer tudo o que quiséssemos e beber também dentro das dependências do hotel, usar o spa infinitamente e comprar a loja toda se este fosse o caso. Tudo muito legal e divertido e na certa muito diferente para mim brasileira.

Nunca havíamos estado na região conhecida como Berner Oberland, que abriga picos alpinos eternamente nevados,altíssimos e é o cenário de lagos e rotas famosas de trem como o Glacier Express. A viagem de carro entre Zurich e Kandersteg, nosso destino final, é muito bonita. Um festival de lagos azuis, florestas muito verdes no verão e cidadezinhas coloridas e bucólicas. Para nossa surpresa, o hotel Dolderhorn é imponente e luxuoso, dividido em dois, uma parte mais tipo fazenda antiga de um lado da pequena estrada e outro grande e moderno, tipo resort, do outro. Reservaram para nós um chalé construído no século 19 e, claro,restaurado. Confortável, bem decorado equipado, excelente banheiro. Até cama de dossel daquelas bem antigas que se vê em museus e se tem a impressão bizarra de “como se pode dormir em tal caixa?” o chalé oferecia. Ao lado do chalé principal, uma antiga casa de fazenda dos idos de 1725. Tudo encravado nas altíssimas montanhas de granito da região, cercados de flores do campo que no verão decoram maravilhosamente os campos, vales e pradarias suíças. Um cenário de sonho e um fim de semana idem.

O café da manhã, apenas correto, não empanou o brilho de dois jantares maravilhosos, um no restaurante gourmet do hotel, lado resort, e outro com direito a fondue de queijo com champignons selvagens na sala antiga e aconchegante do lado “fazenda”. Vinhos divinos, sobremesas inesquecíveis. Spa bem equipado mas sem charme, bons banhos aromáticos e massagens eficientes. Não abusamos da generosidade da família e compramos apenas lembrancinhas baratas na loja do hotel.

As caminhadas pelas montanhas e lagos de Kandersteg já são razão suficiente para uma visita de alguns dias à cidadezinha, em si, muito agradável e charmosa. Há esqui no inverno, mas não tem o peso, tamanho, estrutura e fama de Gstaad, St Moritz ou Zermatt.

As trilhas são bem marcadas, se pode fazer muito esforço ou menos, depende do gosto do freguês. Há teleféricos e bondinhos até os pontos mais altos das trilhas, o que torna as coisas mais fáceis para quem não quer penar nas gigantescas subidas. Quando se atinge o topo, o premio de vistas incomparáveis, geleiras e lagos belíssimos. Tudo cercado pelas flores azuis ciano que são a marca registrada da região. Nas trilhas principais há vários tipos de bares e restaurantes e não há necessidade de se levar mochila com alimentos. Mas é necessário agasalhos para o vento traiçoeiro e lugares com mais altitude.

A “surpresa” acabou bendo mesmo muito boa e Kandersteg ficou na nossa lista de “lugares para se voltar”.

ARRAIAL D’AJUDA – 2010

Há três anos não visitava minha querida Arraial, o segredo mais bem guardado do Sul da Bahia; não por mim, que a canto em prosa e verso há quase 10 anos. Felizmente, ninguém me ouve e Arraial continua um misto interessante de bucolismo, encanto de vilazinha baiana e sofisticação.

Fiquei no Maitei, o hotel chique do momento, colado no Paraíso do Morro onde me hospedei em 2002. O Maitei é bem construído e decorado, bem localizado e exibe serviço bastante acima da média local. Pertence a um bonito e descolado casal carioca que aposta no segmento luxo do lugar. Corajosos, mas para tudo há sempre os pioneiros...

Mas os preços salgados fazem com que o melhor custo-benefício da cidade seja ainda, invencível, a Pousada Beijo do Vento. O melhor é ficar na Beijo e jantar no Maitei. O risoto de camarão com abacaxi é ótimo e mais barato do que a porcaria semelhante que comi na noite anterior no bonito Aipim. Por meigos 65 reais!!! O Aipim é muito romântico e agradável, o serviço eficiente, mas a comida é francamente cara e ruim.

O melhor restaurante de Arraial continua sendo o Cauim, na Pousada Pitinga. Não há moqueca mais fumegante e nem camarões mais saborosos. Fora que é o único restaurante de bom nível à beira-mar na região. Perfeito para almoço.

A pizza do Rapha continua correta e agora conta também com ambiente coberto e musica ao vivo. Animado e bem freqüentado.

Há mais lojas, bares e restaurantes em Arraial. E o transito está extremamente restrito na rua principal. Boas notícias. A praça da igreja continua de cartão-postal e a igreja bem antiga, uma das primeiras do Brasil, concorre acirradamente com a Universal, vizinha de praça. Não há lugar melhor para se observar a vida tranqüila que levam os baianos da cidade.

Arraial consegue, em seu tamanho diminuto, separar sem segregar, os turistas independentes e de bom gosto, do pessoal CVC e dos baladeiros. Há lugares distintos para todos, sem mistura e nem confusão. Quem quer coisas de nível e preço mais altas, sem falar em menos barulho, fica mais perto da pizza do Rapha, do Beco das Cores, do Maitei. A CVC está perto do Manguti, os baladeiros entre os dois e os bregas na antiga “Broaduei”. Cujo “glamour” não existe mais, pois há poucos bares e bebedeiras e mais lojas e farmácias.

As lindas praias são de todos, mas não os bares, graças a Deus. Sting, boa parte dos bares à esquerda do reduto hippie-chic e o Plage Blanche dão o tom descolado e o resto fica entre CVC e o razoável. É só evitar os que recebem enormes e barulhentos grupos e seu dia de calma e relaxamento na praia está garantido.

E viva o governo baiano que finalmente está reformando o aeroporto de Porto Seguro!

GRAMADO 2010 E RETORNO AO PERFEITO LA HACIENDA

Há quase três anos não me hospedava no divino La Hacienda, perto de Gramado. Íamos lá almoçar, curtir a beleza e aconchego do lugar, mas por razões práticas só vínhamos nos hospedando perto do centro. Pena,pois o La Hacienda continua sendo o melhor que Gramado tem a oferecer. E seu restaurante está entre os melhores do país.

Indicado para casais, para gente buscando sossego, para tipos calmos e de bom gosto, Para os agitados melhor passar longe. O lugar dista 14 km de Gramado e ter carro é super necessário. E o hotel é tão gostoso que não dá vontade de sair e aproveitar as inúmeras atrações que não param de acontecer na cidade. Em fins de abril era a Festa da Colônia e a Feira de Moveis. Todos padrão -Gramado: organizados e divertidos.

O La Hacienda faz parte agora da organização Roteiros de Charme e há detalhes diferentes como roupa de cama especial, cardápio de travesseiros, mimos nos chalés e coisinhas deliciosas que fazem da experiência um sonho inesquecível. As lareiras crepitam e o clima de romance está por toda parte.

Como em grande parte de nossa rede hoteleira, em especial nos estabelecimentos de luxo, os preços estão nas nuvens. Pena, pois isso limita os lugares e afugenta possíveis hospedes. O La Hacienda vale o que cobra, honestamente não cobra os absurdos 10% de serviço que é a praga de nossos hotéis, mas ainda assim é caro. R$800,00 por diária com café da manha, fora de temporada e feriados é salgado e um tanto fora da realidade praticada na região. Exemplo: tenho reserva para o feriado de 7 de setembro próximo no Ritta Hoppner. A suíte Provençal, fabulosa, sairá por R$ 500,00 com igualmente fabuloso café da manhã.

O La Hacienda cobra o cenário. Que é de cinema, com preços de produção hollywoodiana! E o clima, incerto entre o bucólico e o sofisticado, hesitante entre o romântico-sexy e o bem comportado-Casa Cor. E a exclusividade também, o fato irrefutável de que não existe no Brasil algo parecido. Nem em Campos do Jordão, nem em Visconde de Mauá ou Petrópolis,concorrentes na categoria “montanha-chique”. Talvez na Suíça...

VIÑA SANTA RITA

Em fins de abril de 2010, depois de uma desastrada viagem ao Taiti, Ilhas Marquesas e de Páscoa, nossas três ultimas noites foram passadas admiravelmente na antiga casa de fazenda da ótima vinícola Santa Rita, nos arredores de Santiago do Chile. A Casa Real, como é chamada, foi reformada para abrigar hóspedes interessados em vinho e boa comida. Muito bem localizada no Vale do rio Maipo, região importantíssima na produção vinícola chilena, é uma base perfeita para se conhecer outros estabelecimentos produtores, como a enorme Concha y Toro.

Melhor ter carro alugado para mais liberdade, mas nós não optamos por isso e não nos atrapalhou. O lugar é lindo e relaxante, os quartos perfeitos, os espaços públicos muito bonitos e comida e serviço são dignos do que foi à casa de uma família muito rica no passado. Os jardins são deslumbrantes, a cave um primor e há até um pequeno museu de arqueologia e história com direito à loja apresentando artigos bastante exclusivos.

O lugar é um sonho para relaxar, namorar, comer e, é claro, beber muito bem. A Santa Rita tem também o rótulo Carmen e Casa Real, excelentes. Degustá-los todos é um prazer único, ainda mais neste cenário de paz e romantismo e visita-se as plantações em charretes antigas. Mas não é programa para crianças, adolescentes ou quem não é fanático por vinhos. Não há sequer piscina, muito menos sala de ginástica. Portanto, os apreciadores de “resorts” e sucos devem passar longe.

O hotel opera com sistema “all inclusive”, o que faz sentido, pois apesar de estar perto de Santiago, cerca de 50 minutos, localiza-se em área de fazendas e não há muitas opções de bons restaurantes por perto. Fizemos todas as refeições no hotel, ótimas por sinal e só no dia da visita à Concha y Toro é que almoçamos no pitoresco La Vaquita Echá. Churrascaria com grande terraço ao ar livre, bem típica chilena. A comida não é grande coisa, mas o serviço amável e o bucolismo do lugar compensam.

A visita à Concha y Toro é magnífica. Tudo super profissional, perfeito e irretocável. Só se deve ter cuidado com a maravilhosa loja e a tentação de comprar tudo!

O Vale do Maipo não apresenta a infra estrutura turística do Vale do Colchagua, mais ao sul da capital chilena. Não há trem do vinho e tours organizados. O próprio visitante é que, uma vez hospedado em uma das vinícolas, tem que procurar outras visitas e destinos. Para os amantes do vinho, não há programa melhor. Mais profissional e agradável do que a chata Mendoza na terra do abominável Maradona e suas vinícolas antipáticas e amadoras (exceção feita à Família Zuccardi).

terça-feira, 27 de abril de 2010

ILHA DE PÁSCOA

Revisitada após 15 anos e definitivamente o lugar mais louco do mundo!
Estive na ilha em 1995 e adorei. Tudo.
Os moais imponentes, o povo, o clima “Machu Pichu” ou “Eram os Deuses Astronautas?” do lugar. O mar azul-pavão e a praia de areia cor de rosa. Os mistérios insondáveis de sua história, a primeira vez que vi o oceano Pacífico, que me deparei com um ser polinésio. Uma ilhota perdida no meio do nada, distante 3700 km do Chile a mais de 4000 do Taiti. Isolamento total. Do topo de um de seus 3 principais e extintos vulcões, só se vê mar. Por toda parte.
Não há para onde ir, não tem como escapar.
Só uma empresa aérea voa para lá, navios cargueiros, vez e outra; cruzeiros raríssimos.
Por que quase 5000 habitantes moram na ilhazinha? Por que viver em lugar tão difícil de chegar, tão solitário? Água potável só de chuva, quase todos os alimentos são importados, as terras pertencem 70% ao governo chileno e o resto sobra pouco para cultivo e gado. Tudo vem de fora, nada é feito lá. Por que viver assim?
E se vive há séculos, desde que, provavelmente, uns polinésios doidos cruzaram milhares de quilômetros em botes, talvez vindos das Ilhas Marquesas e lá aportaram há uns 4 ou 5 séculos após o nascimento de Jesus Cristo. A ilha, em seu apogeu, chegou a ter 15 000 pessoas, os pirados que construíram aquelas fabulosas e enormes estátuas chamadas moais, que fazem mais de 50 000 turistas a cada ano, ficarem embasbacados. Até o ator Kevin Kostner arriscou uma mega produção em 1994 sobra a ilha maluca. Deu o nome polinésio da ilha, Rapa Nui. Fracasso total de crítica e bilheteria.
Dos pioneiros sobrou pouco, pois através dos séculos, lutas, escassez de alimentos, doenças e invasões estrangeiras dizimaram os nativos. Dos que restaram, triste figura: não querem ser chilenos (a quem pertence a ilha faz tempo), querem ser independentes. Como? Tem orgulho de suas origens, mas não há certeza delas; é apenas especulação.” Acho que...” “Há estudos que dizem”...
Vivem do nada, no meio do nada, para nada...
Para os turistas, é tudo divertido, claro. Interessantíssimo sob o ponto de vista histórico e atualmente os sítios arqueológicos e monumentos principais estão muito bem preservados pelas autoridades chilenas. O vulcão onde os tais povos desmiolados esculpiam os moais continua sendo o ponto alto em matéria de atração histórico-turística, pois se pode observar a “linha de montagem” dos enigmáticos gigantes de pedra. A única praia da ilha é uma das mais bonitas do mundo. Mar azul pavão e turquesa, areia rosada, coqueiral com gramado, dunas, lugares bons e simples para se comer. Até limpos banheiros públicos. A praia é recinto histórico pois é decorada com moais que dão as costas às belezas naturais e parecem ignorar os banhistas. São os únicos com chapéu na ilha. Bizarros “sombreros” avermelhados. Ver para crer.
Além de caminhadas, cavalgadas e a dita praia, há interessantes possibilidades em mergulho autônomo. Para os menos esportivos e energéticos, atualmente bons hotéis e restaurantes interessantes.
A desvantagem de tal lugar fascinante: o custo.
A LAN detém o monopólio absoluto dos vôos e cobra de acordo. Cinco horas e meia na ida e quatro de quarenta e cinco na volta. Longinho...
Por enquanto só há dois hotéis dignos do nome: Explora e Altiplánico. O primeiro é ótimo, all inclusive, aquela mesma mini-cadeia da Patagônia de do Atacama. É coisa de mais de 1000 dólares por dia, por pessoa. O outro é legalzinho, vistas para o mar, descolado, 350 dólares o casal. Só café da manhã. O resto é composto de pensões , hotéis simples e casas de aluguel. Tudo MUITO BÁSICO. Ficamos no Cabañas Mana Ora, indicação “especial” do Lonely Planet. Uma porcaria que não valeu um centavo sequer dos 150 dólares diários que pagamos pela tal “cabana”. Sem café da manhã, claro. As únicas casas de aluguel que valem a pena, pertencem a um francês ( www.hevapropiedades.cl) que foi membro da equipe do explorador oceanográfico, Jacques Cousteau. Variando entre 350 3 450 dólares por dia, com 170 m2 de área, bem construídas, equipadas, vistas para o mar e belos jardins. O antigo hotel Hanga Roa sofre mega reforma e no próximo ano deve virar a atração da ilha. Na certa, será o maior e de localização mais central. Bom para grupos.
Quem quiser algo mais central, na avenida Atamu Tekena, o “hot spot” da vila, o pequeno hotel australiano-chileno Taura’a, com apenas 10 quartos é bastante decente. Meu marido hospedou-se lá há 5 anos e gostou. Não é barato. No mínimo 140 dólares por quarto. Com café da manhã. Entre este hotel e o charmoso café resto Aloha, existe um restaurante com cozinha aberta, raridade no local, bastante bom. Massas, saladas e frutos do mar são bem feitos e apresentados e o lugar é ajeitado e romântico (infelizmente não me lembro do nome da casa). Outra raridade...
Se eu voltasse amanhã, escolheria o hotel Altiplánico para ficar, cópia mais barata e bem sucedida do Explora. Segue os passos do “mentor” na Patagônia e no Atacama, com lugares bem interessantes. O Alitplánico fica fora da cidade mas não impossivelmente longe (caso do Explora), não é mortalmente caro, vistas lindas para o mar e para um moai triste, sério e solitário; exibe nível decente de conforto e possibilita aos que gostam de caminhar, bom exercício até à “cidade”.
Hanga Roa é o centro da ilha, uma vilazinha doida e feia, com toques de Trancoso e Monte Verde, numa mescla de cães e cavalos soltos por todo o lado, ruas esburacadas, lojas capengas, uma igreja e museu que valem as visitas e alguns restaurantes bons e bizarros como Au Bout Du Monde, Ariki (só pelas empanadas) e La Taverne Du Pecheur. Comida internacional com toques franceses e bastante peixe cru; bem preparada. Cara. Nenhum casal come decentemente por menos de 100 dólares. Em lugares que estão mais para “barraco-chique” do que para restaurantes. Onde à noite com freqüência acaba a luz e a espera pelos pratos pode ser longa.
A vantagem etílica é o bom vinho chileno e os refrescantes piscos sours.
Do ponto de vistas das compras, economia total! Não há zero para comprar. O artesanato é horrendo, roupas nem pensar.
Por que ir à tal lugar? Caro e longe?
Porque não há NADA igual no mundo. A ilha é única e o que se vê por lá não se vê em lugar algum. Sua história é distinta de todas as ilhas por todos os oceanos de nosso planeta, o povo é uma mistura estranhíssima de chileno com os semi-polinésios acima citados, seu estilo de vida é ímpar e conversar come eles é inesquecível. Cada um tem uma razão para viver e gostar de tal maluqueira e isolamento. Um fugindo do caos urbano de Santiago, um suíço que se apaixonou por uma nativa, comissária de bordo da LAN, um dentista chileno que virou uma espécie de Paul Gaugin da ilha, “enlouquecido” pelas mulheres e a “magia e sedução” dos trópicos. E por aí vai...
Seu povo, vulcões, moais, centenas de cavalos selvagens, ruínas, cavernas , lendas, suposições, mistérios e a moldura fabulosa do azul profundo do Pacífico valem o investimento.
E com tanto tsunami, terremoto e vulcões furiosos atualmente, vá antes que acabe!

Viña Santa Rita – 24 de abril de 2010

O TAITI É AQUI

Volta ao paraíso da Polinésia Francesa após 5 anos

Em nossa primeira visita (2005), gostamos tanto das ilhas que resolvemos voltar para celebrar 10 anos de relacionamento. Escolhemos outro hotel em Papeete, optamos erroneamente por um cruzeiro tedioso e caro pelas Ilhas Marquesas e elegemos Moorea para os dias finais de nossa volta à Polinésia Francesa.
Infelizmente, o hotel Manava, em zona residencial de Papeete é uma porcaria, mas o entorno tão lindo e divertido, que compensou o quarto escuro dando para o estacionamento do hotel. Sem falar nos encanamentos fedorentos do banheiro...
E o café da manhã fraquinho custando 50 dólares!
Mas não importa. O Taiti é um deslumbramento e as 3 noites em Papeete acabaram sendo felizes e relaxantes. Visitamos também Fakarava e Rangiroa, no arquipélago vizinho, Tuamotu. Lindas e primitivas, as ilhas são um show de paz e cores. A primeira, pequena e primitiva, a segunda, um dos maiores atóis do mundo, uma sensação de ilhas de todos os tamanhos e formatos e o mar mais azul que se possa imaginar. Com os peixes de todas as cores imaginávrisd ou não. Rangiroa, junto com Bora Bora é uma Meca do mergulho, autônomo ou não e o clima é totalmente zen. É o que Moorea e Bora Bora devem ter sido há 50 anos. Poucos hotéis, povo super simpático, restaurantes simples, bons e baratos, o que é total raridade na Polinésia Francesa. Por 40 dólares almoçamos um magnífico tartar de atum com fritas e o prato nacional do Taiti, o poisson cru. Delicioso peixe cru nadando em leite de coco e marinado no limão. Porções generosas.
Nas Marquesas e Tuamotus ainda é possível comer bem e razoavelmente barato. Nas Ilhas da Sociedade, que compreendem as mais famosas – Taiti, Bora Bora, Moorea, Tahaa, Raiatea, Huahine, Maupiti e outras, isso já é quase missão impossível.
Infelizmente, o delicioso hotel Kia Ora, o melhor de Rangiroa, fechou as portas. Espero que temporariamente, pois o lugar é lindo e a piscina lançada sobre o mar parece um barco de tom de azul um tanto diferente dos fabulosos do mar local. O efeito é deslumbrante.
A crise financeira mundial iniciada pelos EUA (depois da França, o país que mais envia turistas à região) em 2008 afetou tremendamente o turismo local. Em toda a Polinésia. Mas Rangiroa, por ser remota e um tanto desconhecida, sofreu mais. Fechou seu melhor hotel. Uma pena...
O Kiaroa da Bahia é uma cópia fraca do original acima citado. Não há como rivalizar o mar e os peixes.
Terminamos nossa segunda e longa jornada pela Polinésia Francesa em Moorea. Muito acertadamente no Pearl Beach Hotel. O bangalô na praia ajudou muito, amplo, romântico e muito confortável. O total pé na areia, com o mar quase entrando no quarto é sensacional. Continuo achando que os famosos e cobiçados bangalôs sobre a água, além de caros acabam sendo inconvenientes. Vários deles recebem sol fortíssimo praticamente o dia inteiro e ficar no terraço é uma tortura. Para que pagar mais de 1000 dólares para ficar trancado no ar condicionado ou na piscina?
O restaurante do Pearl é excelente e o serviço muito simpático e charmoso. É um hotel 4 estrelas, não é nada barato, mas é uma boa opção na linda Moorea. O SPA é celestial e a loja bem original, vendendo produtos completamente diferentes do que a mesmice encontrada nas cadeias conhecidas.
Ficar em Moorea e ignorar Papeete é fundamental para fazer da experiência Polinésia a melhor possível. Como escrevi em meu primeiro artigo, há cinco anos, sobre a região, Papeete não exibe grandes encantos. Para nós brasileiros, voando com a Lan via Chile, uma noite em Papeete é inevitável, pois o vôo chega à meia noite em Papeete e não é possível chegar à charmosa vizinha Moorea a tal hora. Mas só. Há vôos curtos e balsas eficientes e perfeitas o dia todo, com apenas meia hora de trajeto.
E Moorea continua sendo, como ilha-vulcanica-verde-e-florida, minha total favorita.
Quero voltar e ela e a Rangiroa. Nem que seja só em sonhos...

sábado, 17 de abril de 2010

ARMADILHA ARANUI - Cruzeiro chato pelas mais chatas ainda Ilhas Marquesas

Consultem o mapa, pois não há muita gente que sabe onde estão as tais ilhas. Não há vergonha nisso, pois elas fazem parte da Polinésia Francesa, e são um pequeno arquipélago, extremamente isolado no Pacífico Sul. Tão distantes, que apesar de pertencerem ao conjunto de arquipélagos que compõe a maravilhosa Polinésia Francesa (mais conhecida por Taiti), poucos turistas chegam ali. Em navio, quase 3 dias inteiros de navegação entre Papeete, a capital do Taiti e Nuku Hiva, a capital das Marquesas. De avião é possível conhecer algumas delas que possuem aterradores “aeroportos” que só comportam avionetas minúsculas. Caro e arriscado.
O cargueiro Aranui é o único navio que faz transporte de passageiros de forma regular, há mais de 20 anos, entre as 6 ilhas habitadas do arquipélago. As vezes, um ou outro cruzeiro de luxo arrisca uma ou duas viagens por ano. Nada mais.
As Marquesas são importantes do ponto de vista histórico e arqueológico, pois estão entre as primeiras ilhas habitadas da Polinésia e os sítios arqueológicos lá existentes são muitos e muito antigos, alguns com datas antes de Cristo. A geografia das ilhas é montanhosa e verde, um verdadeiro “paraíso tropical”, tendo em volta o azul-violeta do Pacífico. Uma maravilha, não? Quem não gostaria de conhecer tais lugares? História, tradições preservadas pela pequena população das ilhas, costumes exóticos, museus, igrejas, artesanato, pérolas negras, tatuagens exóticas e exclusivas. E por aí vai a mística que faz das Marquesas um destino de fascínio para todos os turistas mais viajados e informados, dos amantes da natureza aos eco-chatos, de historiadores a antropólogos e também àqueles casais em lua de mel que procuram alongar a sofrida e caríssima visita ao Taiti com algo de mais peso antropológico-cultural. Aquela sensação gostosa de contar aos amigos que estiveram nos confins do planeta, em ilhas mágicas habitadas por seres inteiramente tatuados e seminus, sexo livre, lugar onde o fabuloso pintor francês Paul Gaugin morreu e escolheu viver cercado de garotas de 14 anos, suas voluntárias “escravas sexuais” na famosa Maison Du Jouir (literalmente: casa do gozo).
Baseados na suposta magia do arquipélago e já tendo estado no Taiti e Ilha de Páscoa (com planos em breve para viagem ao Hawaii), resolvemos conhecer as Marquesas para extender nossa perspectiva sobre o fascínio de tais povos e lugares. Assim sendo, optamos pelo cruzeiro de 13 noites no acima citado navio. E não podia ser pior escolha. Ruim e caro.
O navio em si é quase tão famoso quanto as ilhas e o que o ótimo guia Lonely Planet chama de “viagem-ícone” às Marquesas. Embalados nisso tudo, lá fomos nós, tragados e cegos pelo marketing e mistério de tal aventura. O que caracteriza a viagem como “aventura” é a distancia e o fato de se viajar em cargueiro. De fato, o procedimento de mover carga para dentro e para fora do navio é muito interessante e surpreende que um navio possa transportar tanta coisa. De enormes containeres a barcos e motos. Sem contar o material de construção, as geladeiras e por aí vai. Desde o primeiro momento no Aranui, antes do navio zarpar, é possível acompanhar tais procedimentos. Parece bobagem? Pois é um dos pontos altos do cruzeiro.
Vocês então, podem imaginar o resto...
Optar pela melhor suíte do navio foi decisão muito acertada, pois o trajeto é longo, as áreas comuns do Aranui bem feias e pequenas, o bar não é digno do nome. A sala de reuniões e conferencias cheira mal e muitos europeus e americanos porcalhões se movem sem sapatos por todos os lados e põe os nojentos pés descalços nas poltronas, mesas e até nos 2 computadores que deveriam prover acesso à internet umas 5 vezes durante o cruzeiro e não o fazem.
Tudo no Aranui é confuso: paga-se 40 dólares por acesso ilimitado à internet, mas os responsáveis abrem o lento sinal e todos podem usar! E que se dane quem já havia pago os tais 40. Eu, por exemplo...
A comida só não é francamente péssima, pois estamos na Polinésia que é francesa e portanto, os padrões comestíveis são bons. No entanto, porções minúsculas e o mesmo molho de salada durante quase 2 semanas faz pensar em como o conservam por tanto tempo. Fora a cor amarronzada, nem um pouco convidativa. A sala de refeições é pequena e desconfortável, suja e também cheira mal. Casais são forçados a sentar-se em grandes mesas comunitárias para refeições, numa Babel de línguas que incluem frances, alemão, inglês, italiano, espanhol, taitiano e também linguagem típica das Marquesas. Com gente comendo de boca aberta, velhos caquéticos dormindo e roncando, crianças ruidosas, franceses que não tomam banho há dias, serviço péssimo. Uma confusão tediosa...
Não há absolutamente NADA o que comer fora das 3 refeições. NADA! Não há serviço de cabine, não existe lanchonete e se o viajante perde uma das refeições, problema dele, pois ficará sem comer até a próxima ocasião. Umas 5 ou 6 vezes há almoços patrocinados pelos navio em restaurantes “típicos” nas ilhas. Pior ainda! É uma meleca total de buchada de bode, (não é piada, falo sério), leitão assado em imundo forno de barro, peixe cru, arroz grudento, fruta pão asquerosa e bananas defumadas. Conseguimos escapar de 2 e comemos muito bem em restaurante simples em Ua Pou e em pousada chique na ilha do Paul Gaugin, Hiva Oa. De resto, compramos batatas chips, frutas secas, nozes e bolachas para termos o que comer nas muitas vezes em que ignoramos jantar e café da manhã, assim evitando o rebanho de gente feia, suada e mal vestida e a comida indigna do nome.
Os horários das refeições são militares. O freguês paga uma fortuna para café da manhã entre 7 e 8 30, almoço de 12 a 1 30 e jantar de 7 a 8 30. Estamos em férias ou servindo o exército????? Não mencionando o fato de que o restaurante comportaria no máximo 80 pessoas com conforto e os malditos chineses espremem 170 pagantes como sardinhas em lata.
As camareiras entram em sua cabine quando querem, em total desrespeito à privacidade alheia. A vantagem é que são muito simpáticas e alegres, característica que compartilham com a maior parte dos polinésios.
Bom, visto que o navio além de sujo e fedorento, desconfortável – a piscina é uma piada de água doce trocada a cada 2 dias, muito pequena e repleta de crianças barulhentas. O bar serve bebidas caras e semi-intragáveis e as áreas comuns são poucas e totalmente desprovidas de charme, o jeito é escapar delas o máximo possível.
Eu , até o meio da viagem não sabia que o Aranui pertence a chineses e foi feito na Romênia, famosa por mão de obra péssima e ainda mais barata do que a semi-escrava e baratíssima mão de obra chinesa. Vim contando com navio frances e saí levando uma horrível operação chinesa! Como os chineses não respeitam direitos humanos, também não respeitam os direitos dos turistas. Pagamos 10 000 euros pela cabine-salvação, mas fomos obrigados a comer pouco e mal, gastar dinheiro (8 dólares por um saco de batata frita, 10 por latinha de castanha de caju) na loja com as parcas opções acima citadas e a beber vinho frances de qualidade duvidosa e a enfrentar longas e tediosas filas para embarcar ou sair do navio nas ilhas. Cento e setenta turistas, em sua grande maioria idiotas europeus de classe média, para quem sol e calor já é o suficiente. Não se importam em levar gato por lebre, pagam para estar nos “exóticos trópicos”. E os espertos chineses aproveitam isso!
Portanto meus queridos leitores brasileiros, fujam do Aranui rapidinho e jamais considerem tal cruzeiro. Para nós tupiniquins, acostumados a sol, calor, vegetação tropical e boa comida, a coisa toda é uma mega mico!
E as ilhas? O Paul Gaugin tinha razão em ser tão feliz nelas? Bom, como dizem sabiamente os ingleses, “é um gosto adquirido”.
As ilhas são montanhosas, secas, faz lá um calor do cão, a comida é ruim, não há nada que comprar. Ás vezes umas pérolas, estátuas bizarras em pedra e madeira. Tudo caríssimo e de gosto questionável. A geografia de Ua Pou e Fatu Hiva, esta última a mais isolada entre as ilhas, com acesso apenas por barco, é bonita, com picos de granito que lembram as Torres Del Paine no Chile e nosso querido Pão de Açúcar no Rio. Fora disso, NADA. Não são lugares agradáveis, não há boa comida ou comércio interessante, os pequenos museus são um tédio, as caminhadas por florestas de coqueiros, bambus e bananeiras, não são especiais para nós brasileiros; são paisagem batida e muito parecida com nossa vegetação. Caminhar pelas áreas mais verdes requer calça comprida e camisa de mangas compridas também, para não sermos devorados vivos pelos inúmeros mosquitos letais das ilhas. Com direito a dengue e tudo mais.
Pode-se cavalgar por quase toda parte, mas nas mesmas condições de calor e sol a pino. O mar às vezes apresenta cores bonitas, mas perde de longe, muito longe para o deslumbramento do arquipélago do Taiti e da beleza das ilhas Tuamotu. Mais fáceis de chegar e bastante mais interessantes.
Quase não existem praias e as poucas acessíveis são de areia preta e grudenta, repletas de pedras perigosas, outro NADA absoluto.
Vale a pena voar 15 horas, navegar por 14 ida e volta (percurso marítimo em total de 3500 quilômetros) para ver isso????? Para brasileiros que tem um costa gigantesca de praias lindas, com serviços (milho, caipirinha e raspadinha), conforto, alegria e bom custo benefício, certamente não.
E o intrigante povo das ilhas Marquesas?
NADA há de especial com eles, gordos e feios hoje em dia, totalmente subsidiados pelos cofres generosos do governo frances, num festival interminável de carros enormes e caríssimos, tudo patrocinado por Monsieur Sarkozy e comparsas, na certa com a consciência pesada pelos medonhos testes nucleares que perpetraram na região. Das interessantes tradições polinésias das Marquesas nada restou. Só show folclóricos para turistas cretinos. Não se vestem com cangas e flores nos cabelos o tempo todo, mais uma vez, só para a turistada imbecilizada pelo “mito” local. Todos tem celular e internet em casa, não há nem meio mendigo e tem orgulho de serem franceses. Creio que bem mais do que serem polinésios. Também pudera! Quase não trabalham ou estudam e vivem vidas de reis. Financiados a grande pelo pobre contribuinte frances.
E os famosos sítios arqueológicos? Outra decepção. No meio de florestas e árvores imensas que engoliram quase tudo, uns punhados de pedras fazem as honras da casa, como “importantes resquícios arqueológicos”. Outro NADA. Apenas em Fatu Hiva se encontra o vestígio interessante de civilizações antigas, com grandes estátuas chamadas tiki e uma história verdadeiramente importante. Só.
O museu dedicado a Gaugin, em Hiva Ao, é absurdamente ridículo, pois TODAS as valiosas pinturas deste magnífico artista, estão espalhadas pelos principais museus da França e Estados Unidos. Sem contar as maravilhas que hoje estão no deslumbrante Hermitage, São Petersburgo, na Rússia. Em Hiva Ova, o turista paga para ver cópias de sétima categoria. Há uma réplica da pecaminosa Maison Du Jouir. Só. No cemitério local, sua simples tumba, bem perto de outro fanático pelas Marquesas, o cantor e poeta Jacques Brel.
Resumindo: o navio é caro e ruim, o percurso longo demais, as ilhas um tédio sem grandes belezas naturais, os locais gordos e sem charme.
Os dois pontos altos: duas breves paradas nas fabulosas Fakarava e Rangiroa. Ironicamente situadas na parte da Polinésia Francesa que é REALMENTE um paraíso. De beleza natural à sofisticação francesa, com direito a história e gente que vive vidas e costumes genuinamente polinésios. O navio ancora perto delas como um “bônus” aos turistas, pois o Aranui não transporta carga para tais ilhas. Paradas de apenas 2 ou 3 horas ...
Fiquem com o Taiti e as Tuamotu e esqueçam para sempre que existe um péssimo navio chamado Aranui e umas ilhas sem atrativos especiais chamadas de Marquesas. Ou Les Marquises para os franceses. O nome em frances reflete um suposto charme que não existe.
Sofrendo nos últimos dias da infernal banheira flutuante chamada Aranui, rumo sul – 14 de abril de 2010

CHILE PÓS TERREMOTO – 2010

Já estive no Chile umas 13 vezes e adoro o país. Portanto, foi com grande tristeza que soube do terremoto fortíssimo que abalou o país em fins de fevereiro. E apreensão, pois passei Natal e Ano Novo ali e poderia ter vivenciado o que, creio eu, deve ser uma das experiências mais apavorantes em termos de desastres naturais. Mais medo ainda, pois em fins de março tínhamos viagem marcada para o Chile; uma noite apenas, mas...
Nada vi. Em nossas 24 horas em Santiago, hospedados no bairro alegre e movimentado que é Providencia, no dia 31 de março de 2010, não vimos qualquer vestígio da tragédia. O povo alegre e ocupado pelas ruas, bares e cafés. Tudo aparentemente normal, não vimos nada rachado ou destruído.
Almoçamos magnificamente no Astrid y Gastón, casa do famoso chefe peruano, Gastón Acura, sócio também da cadeia La Mar, com uma filial em São Paulo. O La Mar é bom e o Astrid y Gastón consegue ser ainda melhor. Numa casa antiga, em rua arborizada e tranqüila, o estilo espanhol de lajotas no chão e pátios internos oferece refúgio fresco ao calorão da capital chilena nos meses de verão.
O pisco sour é mais que perfeito. Uma feliz combinação chileno-peruana da bebida cuja origem é disputada por ambos os países.
Frutos do mar em criativas receitas, boa carta de vinhos, serviço amável, até cordeiro patagônico e sobremesas elaboradas são dignos de crédito. O preço é equivalente ao La Mar de São Paulo. A diferença é que o cardápio é bem mais extenso, variado e caprichado do que o do restaurante paulista. E a carta de vinhos, incomparável.
O aeroporto foi o único lugar que apresentou danos causados pelo terremoto. Mas se não se sabe do dito, pode-se facilmente pensar que há obras de remodelação do mesmo. Nada fora de reparos e reformas normais. Na loja Duty Free, talvez o único vestígio da catástrofe: muitas garrafas de vinho à venda, com seus rótulos manchados.
Voltaremos lá em meados/fim de abril e nos hospedaremos na Vinícola Santa Rita, no famoso Valle Del Maipo, arredores de Santiago. Os experts já prevêem mais abalos sísmicos. Veremos...

domingo, 21 de março de 2010

CINCO PEQUENAS CIDADES EUROPÉIAS – 2010









... Ou melhor: como aproveitar o frigorífico inverno europeu com
dignidade E diversão

Janeiro/fevereiro é boa época para férias brasileiras no exterior. Por aqui, calor horrível, preços nas nuvens, tudo lotado. Ir à Europa pode até sair mais em conta. O ponto negativo é o frio, mas a neve é o charme; mesmo para quem não esquia.
Minha primeira parada, dia 23/01/2010, foi Saas Fee, lindo vilarejo nas montanhas suíças do Valais. É dessa região a fondue, a raclette, os bons presuntos crus, o melhor esqui do país, os lugares dos bilionários como Gstaad, por exemplo.
Saas Fee é linda, nevada e seus restaurantes e possibilidades de
hospedagem, incomparáveis. Por meros 300 reais ao dia aluga-se um apartamento muito bem equipado, espaçoso, com lareira,
quarto, sala e banheiro, com varanda e vista espetacular. Em alta temporada; na Suíça, um dos países mais caros do universo.

Tal paraíso faz parte do hotel Hohnegg, que além de tudo conta com três ótimos restaurantes. Em bonita caminhada por uma floresta nevada, chega-se ao estrelado restaurante Fletschorn e saboreia-se uma das comidas melhores deste pequeno país alpino. Morro abaixo, por outra floresta igualmente nevada, a pedida é o Schäfferstube, uma cabana minúscula em pedra e madeira que oferece as carnes de caça mais intensas e perfumadas que se possa imaginar. Acompanhadas dos ótimos vinhos da região. Não se sente o frio em Saas Fee. Só se vê a beleza dos enormes glaciares que brilham azuis a altitudes de mais de 4000 metros e em noites claras e estreladas parecem espelhar o brilho delas. A vilazinha é um charme, pequena e aconchegante, contando com excelente comércio. Uma semana de pura paz...
Dornstetten, no sul da Alemanha, ganha o premio cidade-onde-neva-sem-parar e ninguém parece se importar! A curiosa cidade ganha metros e metros de neve durante o longo inverno alemão e ninguém está nem aí. Nem sequer gorro de lã usam. Muito curioso observar as crianças brincando no recreio das escolas, naquele frio impossível para nós brasileiros, parecendo não se importarem com nada e curtindo as batalhas de neve. O centro histórico é um primor de arquitetura típica do sul deste país e as igrejas são lindas. Sem falar nas casas “enxaimel”. Casa de bonecas é pouco, nevadas mais ainda.
Zurich é bem maior do que as acima citadas, claro. A maior metrópole suíça conta com quase 400 000 habitantes, coisa risível em termos brasileiros. Mas é uma metrópole micro com tudo o que uma grande pode oferecer. Em fevereiro de 2010 exibia uma exposição de arte impressionista da coleção Bührle, no perfeito museu Kunsthaus, que deixa outras, a não ser Paris, no chinelo. Se o museu construir nova ala, a coleção é deles e o Kunsthaus de Zurich será o maior centro impressionista fora de Paris.
No campo gastronômico Zurich continua rica. Trufas brancas no Contrapunto, mariscos no Mère Catherine, salsichões suculentos no Kronenhalle, carpaccios ferozes no Commercio e os mais perfeitos bifes a milanesa no Vorderer Sternen fazem da cidade um altar à alta cozinha do continente.
Os cinemas sempre muito atualizados e o incrívelmente eficiente transporte público fazem da cidade um lugar super agradável de se estar. Mesmo a muitos graus abaixo de zero. Isso sem mencionar as compras de alto nível em suas boutiques e lojas de departamento alucinantes. Fora os chocolates e capuccinos fumegantes. Sem mencionar as tradicionais raclettes e fondues, Zurich conta agora com um restaurante moderníssimo, localizado no aeroporto, eleito sem parar o melhor da Europa.
Vale a pena conhecer o Blue, no hotel Radisson. Mesmo para quem está no centro de Zurich, o trajeto até o aeroporto para desfrutar dos prazeres inusitados do Blue, vale a pena. Não há transito à noite. O restaurante é dividido em dois: italiano e churrascaria-chique. O primeiro é ótimo e o segundo é louco, comida moderníssima para quem gosta de espumas em lugar de sopas e macarrão doce se passando por sobremesa. Os dois se localizam ao lado de uma enorme torre de vidro que serve de adega. Os vinhos que os comensais escolhem são “fisgados” por bonitas moças vestidas de branco, “anjos” com asas e tudo que fazem acrobacias por cabos metálicos ao som de música cool e trazem os vinhos à mesa. Música e luzes mudam o tempo todo e o efeito é muito bonito e divertido. De bom gosto, chique. Como Zurich.
Na França, voltamos a Strasbourg, na Alsácia. Linda cidade do norte gelado da França, importante sede do parlamento europeu, vice de Bruxelas. Desta vez só comemos comida típica, pesada e muito saborosa. Os vinhos da região aquecem corações e estômagos combalidos pelo vento que sopra implacável nesta cidade de cerca de 300 000 almas. Também visitamos dois museus muito interessantes: o da cidade, que conta a louca história de um lugar que sempre foi ora alemão, ora Frances e fala as duas línguas até hoje. O novo e moderno, Arte Contemporânea, é sensacional em sua arquitetura em vidro, vistas e acervo. Mesmo geladas, as ruas da cidade, seus rios e canais são um charme. Sem falar da catedral, totalmente restaurada, uma das mais bonitas e importantes da França. Vale escalar os muitos degraus da apertada escadinha e aproveitar a vista quando o tempo permitir. De um mirante flanqueado por gárgulas sinistras e clima de mistério...
Última parada: Reins. E uma esticadela a Epernay para visitar a vinícola Moet Chandon.
Reins está a confortáveis 45 minutos de Paris no rápido trem TGV e é a capital daquela bebida fantástica que é o champanhe. O verdadeiro, nada de espumante ou cava. O orgulho Frances. Ali perto, a 10 minutos no fofinho “trem do champanhe”, a pequena Epernay oferece as visitas às caves mais importantes. A da Chandon é um deslumbre digno dos donos da empresa a que hoje em dia pertence, LVMH. Pois é, tudo padrão Louis Vuitton mesmo. Por 60 euros você faz o tour da embasbacante adega, com guia simpática, bem vestida e perfumada. Visita a loja deslumbrante, a sede mais ainda e degusta duas grandes e generosas taças de milesime tradicional e o rose. Vale cada borbulha desta bebida dos deuses.
E totalmente embriagadas e felizes, minha filha e eu voltamos a Reins para um almoço campeão no Les Millenaires, uma abençoada estrela no Guia Michelin. Bêbadas, mal vestidas, congeladas pelo frio e o vento implacáveis da região, descabeladas e descompostas. Receberam-nos com relutância, mas como dinheiro é língua internacional e fala mais alto, ali desfrutamos de um almoço fabuloso. Quatro pratos celestiais acompanhados de uma garrafa gigante de champanhe rose da região, é claro. Estava tudo tão bom e chique e nosso nível etílico, tão alto, que não tenho a menor idéia do nome da bebida. Deveria ter anotado...
Mesmo “nas nuvens”, nos maravilhamos com a catedral onde todos os reis franceses foram coroados. Um milagre de simplicidade e beleza, iluminada pela luz pálida de inverno filtrada pelos vitrais delicados. Reins é alegre, muito simpática e acolhedora, um clima festivo o tempo todo. Deve ser o champanhe...
E viva o frio, o inverno, a Europa e os alcoólicos locais!!!
Para meus companheiros de jornadas alegres e geladas, Urs e Paola.

São Paulo, 21 de março de 2010.

PARIS 2010 - Inverno gelado e delicioso na Cidade Luz

Seis dias em Paris, mãe e filha. Seis dias de gastronomia perfeita, museus incríveis, exposições especiais, caminhadas intermináveis pela beleza das ruas e construções de Paris. Nem o frio que marcou o inverno mais rigoroso na cidade, nos últimos 30 anos, prejudicou uma estadia feliz, agradável e cara. Compras e cinema ajudaram nas despesas viageiras, que em minha opinião de turista profissional há 21 anos, são o melhor investimento em qualidade de vida que existe. Não sou de jóias, imóveis, carros e roupas de marca. Prefiro viajar e ir a bons restaurantes, me hospedar em lugares confortáveis, comprar coisas sem me preocupar com as faturas dos cartões de crédito. Aproveitar o aqui e agora: carpe diem! É o meu lema. Em inglês, seize the Day: agarre o dia.
E agarrei os seis com vontade. A começar pela hospedagem no Hotel de Suède, no 7ème arrondissement, bairro chique da margem esquerda do rio Sena. Pertinho do adorável museu Rodin, do descolado Café Mucha (adoro a decoração de veludo roxo, muito Toulouse Lautrec), do Boulevard Saint Germain. Bom, barato, muito francês. E o que quer dizer “barato” em uma das cidades mais caras do mundo? Quarto individual, minúsculo, charmossísimo, limpo e bem equipado, por 100 euros sem café da manhã. Para Paris, pechincha.
Visitei um novo museu, dentro do enorme Louvre, mas com entrada independente – o Museu de Artes Decorativas. No acervo permanente, uma exposição sobre materiais usados em jóias através dos séculos. Imperdível e fascinante. No terceiro andar, uma exibição sobre publicidade, não sei se permanente ou temporária, mas interessantíssima de qualquer maneira. No térreo, mostra temporária sobre os brinquedos Lego. A criançada fazendo a festa. Dentro deste canto abençoadamente vazio do Louvre, um restaurante moderno e atraente, o Sauf Du Loup. Lá pedi um steak tartare que veio sem qualquer preparação. O freguês adiciona os ingredientes que são fornecidos junto com a carne crua. Uma experiência inovadora. A sobremesa veio pronta e maravilhosa. No verão e em dias mais amenos, o restaurante possui mesas fora, no jardim pré-Louvre. Deve lotar.
Musée D´Orsay e Orangerie encantam pelos magníficos acervos e as temporárias também. As filas são chatas, mas vale a pena o sacrifício. Um que não tem fila e é um oásis de tranqüilidade na movimentada região da Avenida Champs Elysées, é o Petit Palais. Grátis, lindo e silencioso. No Rodin, a itinerante estava chata desta vez e o acervo já cansei de ver, mas os jardins com as famosas “Portas do Inferno” são sempre magníficos, não os canso de admirar. No minúsculo Maillol, uma mostra fabulosa sobre um tema difícil, a morte. De Caravaggio a Damien Hirst. Sensacional!
Mas talvez minha visita mais impactante tenha sido à Opera Garnier. Nunca havia entrado no maravilhoso palácio dourado, cenário do livro de Gaston Leroux e do musical Fantasma da Ópera. É o teatro mais lindo do mundo, os detalhes são estonteantes e o clima é de total mistério e luxo. Dispense visitas guiadas e perca-se nos labirintos desta que é na certa uma das mais emblemáticas construções da cidade. Com direito à exibições sobre óperas, balés e concertos. A reforma externa ainda continua, mas o esplendor dourado cúpula e da fachada estão à mostra, enfeitando a região.
O inverno não é boa época para visitar Paris, pois o frio e o vento, sem mencionar a neve neste duro ano, tiram um pouco a vontade de caminhar. Por outro lado, a boa comida e os vinhos divinos dão forças aos turistas para admirarem a arquitetura maravilhosa da cidade, as vitrines, as mulheres chiques, o esplendor total da capital francesa. Desta vez, não prestigiei estabelecimentos estrelados e ficamos felizes com restaurantes de nível médio. Que na cidade estão entre 70 a 100 euros por cabeça.
No quesito moderno, adoramos o Café de L’Esplanade, do grupo Costes, e o Les Editeurs. Ambos alegres, jovens e movimentados. Bom serviço e ambientes aconchegantes. Odiamos o famoso L’Ombre, cujo nome deriva de sua localização “à sombra” da torre Eiffel. Jantamos praticamente no escuro, comida fraca e porções ridiculamente minúsculas. O serviço, indecente. Total perda de tempo...
O lugar que eu sempre amei e por anos considerei como o “melhor restaurante do mundo”, não é o mesmo. Infelizmente. Mudou de dono, a famosa galinha não é mais tão suculenta, os carrinhos de especialidades já não circulam por lá e os preços dobraram. Perdeu o charme e a autenticidade. O D’Chez Eux já era. Está no Zagat’s e virou coisa para americano trouxa que pensa estar comendo a “única e verdadeira” comida francesa e pagando 85 euros por frango para dois. Fuja!
A boa surpresa e lugar que voltarei com certeza, é o minúsculo Fines Gueules. Sem turistas, menu pequeno, vinhos diferentes, um lugar muito aconchegante. O carpaccio (de vitela-para iniciados pois as fatias rosadas são grossas) é quase melhor do que o do Harry’s Bar de Veneza- que inventou tal iguaria - e os pratos generosos de presuntos crus especiais são maravilhosos. A sobremesa é uma nova versão do petit-gateau e se chama mi-cuit; mais quente, mais mole e com chocolate mais amargo. Coisa para chocólatras como eu. Não é para os fracos de espírito.
Nosso almoço mais barato e um dos melhores, na certa foi no Resto Med, na Ile Saint Louis. Conduzidos por 3 senhoras eficiente e simpáticas, servem patê de foie gras ótimo, risotos perfeitos e outros pratos que misturam bem o toque mediterrâneo das culinárias francesa e italiana. Com uma garrafa de vinho e fumegantes tortas de maçã de sobremesa, não passou dos 45 euros por pessoa. Outra barganha parisiense.

Para Paola, minha alegre e querida companheira de Paris.

São Paulo, 21 de março de 2010.

domingo, 14 de março de 2010

CHILE 2010

Huilo Huilo e Pucón

Premio para quem já ouviu falar de Huilo Huilo!
Pois se não soa familiar, nenhum problema. É um lugar bastante remoto no Chile, geograficamente isolado pela Cordilheira dos Andes, inúmeros lagos, outras montanhas diversas e alguns vulcões. Olhando o mapa do Chile e da Argentina, é um lugar obscuro e perdido na parte chilena do que é San Martín de los Andes (norte de Bariloche), na Argentina.
O melhor acesso é voando até Santiago e outro vôo até Temuco. De lá, mais 4 horas de carro. As estradas são razoáveis e a parte de terra está sendo pavimentada.
Mas, de novo, o que é Huilo Huilo? Um povoado, uma cidade, praia. O que? Na verdade, Huilo Huilo é uma reserva florestal privada, coisa que soa, pelo menos para nós brasileiros, estranho. Não é fazenda, sítio e nem parque nacional ou estadual. É o sonho de um louco chileno com sobrenome alemão, endinheirado, claro, que resolveu ter sua própria “reserva da biosfera”. Comprou um montão de terra com belíssimas florestas centenárias e até vulcão particular e resolveu criar uma Disney ecológica. Um sonho tão bizarro como o de Fitzcarraldo (aquele demente do genial filme de Werner Herzog) e seus devaneios amazônicos.
Após as ditas 4 horas de carro acima citadas, chega-se a um hotel inteiramente construído em madeira, no meio de um bosque, que supostamente faz os turistas se sentirem vivendo em uma cabana-gigante em cima de uma árvore. Não entendeu? Pois o jeito é tentar decifrar o site do lugar e as poucas reportagens e fotos existentes sobre o Hotel Baobab. A revista Viaje Mais, no exemplar de janeiro de 2009, exibe fotos e uma reportagem bastante otimista sobre tal estabelecimento.
O hotel é estranhíssimo por fora, em forma de cone invertido, projeto arquitetônico que parece ter sido maquinado por estudantes do primeiro ano de arquitetura da pior universidade do planeta. A intenção é “copiar” uma árvore. Não funciona.
Mas, por dentro, é muito bonito, de bom gosto e confortável, misturando madeiras variadas com vidro e couro. Os quartos são bastante confortáveis, alguns deles beirando o luxuoso. Nos hospedamos nos chalés espalhados pela área do hotel que faz fronteira com a reserva florestal propriamente dita. Não é boa escolha; apesar de baratos e espaçosos, são frios e a lareira da sala não dá conta da umidade eterna da região mais chuvosa do planeta. Estamos na Selva Valdiviana, onde chove 330 dias por mês! E faz frio pelos menos nove meses por ano.
Portanto, se aventura, natureza e lugares exóticos (onde não há TV e o celular não pega – há Wi Fi) são a sua praia, rume a Huilo Huilo, hospede-se nas suítes maiores, nos andares mais altos do Hotel Baobab e desfrute do verdadeiro clima “floresta da Branca de Neve”, caminhadas estupendas e passeios por neve e geleiras muito interessantes. Sim, é isso o que oferece Huilo Huilo. Arvorismo, pesca, esqui, brincadeiras na neve do vulcão Mocho (topo permanentemente nevado), caminhadas, escaladas, descanso, um bonito SPA e boa comida. Este último item, uma das melhores coisas do Hotel Baobab. Variada, sofisticada e bem executada e apresentada (opte por estadia sem café da manhã se for mais barato, pois o dito é inexplicavelmente fraco); um ritual agradável e sensual depois de dias repletos de exercícios físicos através da imensidão da reserva e da imponência do vulcão Mocho. Almoços e jantares celestiais, mais abençoados ainda se acompanhados pelos vinhos chilenos que cada dia estão melhores. Os preços são razoáveis para refeições de tão alto nível. E nem é bom tentar comer algo nas duas vilas perto do hotel, feias e pobres. Numa delas, Puerto Fuy, às margens de belo lago, há um hotel com cara simpática e pode ser que seja uma opção para almoço. Não arriscamos, pois perder os menus descolados do Baobab seria uma pena, um risco que preferimos não correr!
O complexo inclui ainda o hotel Montanha Mágica (quartos menores e mais sim ples), verdadeira maluquice que mais parece uma invenção de Tolkien e seu famoso O Senhor dos Anéis .
O projeto megalomaníaco inclui haras, cervejaria, centro de esqui e coisas do gênero. Alguns destes itens já estão em andamento, mas tudo parece um tanto abandonado e com cara de que “está faltando grana” para terminar.
De duas, uma: ou a coisa vai para frente e realmente se transforma em parque de entretenimento natural e único, ou fica no estágio atual de “hotel no meio da floresta”.
É interessante? Vale a pena?
Adoramos por três noites e voltaríamos daqui há uns cinco ou sete anos para conferir os progressos. Se houver...
Aliás, o Chile é um país que oferece algumas destas atrações “exclusivas”. Deserto do Atacama e sua pitoresca cidade-base San Pedro de Atacama, o magnífico hotel Explora no sensacional Parque Nacional Torres Del Paine, a mágica e mística Ilha de Páscoa e agora, Huilo Huilo.
Na segunda parte de nossa viagem que aconteceu entre Natal 2009 e primeira semana de janeiro 2010, fomos a um destino perto de Huilo Huilo (nada é perto, só maneira de falar – seis horas de carro!), mais acessível e com clima um pouco melhor, Pucón. A deliciosa cidadezinha às margens do belo lago Villarica, mereceu nossa terceira visita em nove anos. Maior e com mais oferta turística (apesar de piora sensível na pavimentação de ruas e o lamentável incêndio de seu adorável hotel-casino), Pucón continua sendo bucólica e alegre, aos pés do majestoso vulcão Villarica. E foi por causa de dito vulcão que retornamos.
Rafting, praias lacustres de águas límpidas e areias negras dividem a atenção dos turistas com a famosa e horrivelmente difícil caminhada à cratera do vulcão. Todas as inúmeras agencias de “esporte aventura” em Pucón vendem a caminhada, que chamam de “escalada”. Não é técnica mas exige equipamento tenebroso tipo machado de gelo, capacete e grampos de neve, ótimo preparo físico e muita sorte. Em três tentativas tivemos sucesso em apenas uma, esta última. Tempo lindo, condições perfeitas. A grande decepção foi não ver lava – totalmente esgotada pela erupção do Llaima, vulcão vizinho, há cerca de dois anos. Todas as agencias prometem sucesso na dita aventura, mas o vulcão é nevado, íngreme e o tempo pode mudar de repente e não há o que fazer senão voltar. Decepcionante...
E o que as agencias também não contam é que o Parque Nacional Villarica não deixa ninguém ficar por lá depois de quatro ou cinco da tarde, portanto, mesmo se o tempo estiver bom, os turistas que não alcançaram a cratera até certa altura, tem que voltar. A infra estrutura do parque é fraca, o centro de esqui paupérrimo (com freqüência o teleférico não funciona, o que aumenta a miserável mente dura caminhada em duas a 3 horas) e tudo deve ser feito sem grandes expectativas. Se der certo, a vista do topo é fabulosa, com direito a vários outros vulcões e lagos da região. E a sensação de estar olhando bem dentro da cratera de um dos vulcões mais ativos do mundo é especial (misto de medo e admiração), para dizer o mínimo. Vale a tentativa, mas sem ilusões!
Nos hospedamos nas Cabañas Eldorado e voltaríamos com prazer. O terreno é grande, bonito, bem cuidado e os chalés muito charmosos e bem equipados. Bate qualquer hotel da região em preço e conforto. Por enquanto, o melhor hotel de Pucón não é dentro da cidade (o hotel do cassino era a melhor opção central) e sem carro, o luxuoso Park Hotel é um mico.
No campo gastronômico a cidade melhorou, agora oferecendo boas churrascarias e pizzarias. Destaque para a churrascaria-transada La Maga. Mas ainda não é destino gourmet e perde para Puerto Varas, estando anos-luz de distancia de Santiago.
Pucón e Huilo Huilo são natureza, esportes radicais e descanso. Paz verde.

Dornstetten, Alemanha. Fevereiro de 2010.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

BRINCANDO COM MOZART EM PRAGA

BRINCANDO COM MOZART EM PRAGA


Numa fria noite de outono, percorrendo o que hoje em dia é conhecido por “caminho real” _ percurso que reis e rainhas medievais costumavam fazer, após sua coroação na Catedral de São Vito, saudando o povo _ , olhando a igreja de São Nicolau (mini basílica de São Pedro, paraíso de mármores lilás, rosa e cinza) onde Mozart tocou no imenso órgão. Na época em que visitei o lugar o nobre instrumento estava sendo consertado e nos apontaram a taverna à direita, do outro lado da estreita rua; onde ele, pobre, comia de graça. Sua música celestial saindo do órgão, ruas e vielas iluminadas por tochas. Teria ele, como eu, se horrorizado com a crueldade das enormes estátuas do santo que foi papa, degolando o demônio e outros inimigos menores, vestido com roupa, chapéu de papa e todos os demais paramentos?
Hoje, quase no ano 2.000, as tochas foram substituídas por luz elétrica, mas bem fraquinha, para que a magia, o mistério de Praga não se percam em nosso mundo idiota e globalizado. Praga é dramática , mistério e tristeza são as duas melhores palavras para definir a que talvez seja uma das cidades mais lindas do mundo, considerando seu conjunto arquitetônico maravilhosamente preservado.
O mar comeu Veneza e o que resta, apesar de estupendo, é pouco mais que ruína. Em Praga, o mais incrível é o estado de conservação dos edifícios que podem datar do século 10 e parecer que foram construídos ontem. Talvez por estar longe do mar, que cedo ou tarde reclama para si o que humanos tentaram erigir, o conjunto de Praga seja tão perfeito. Seu povo melancólico, porém tenaz, tem certamente algo a ver com a conservação impecável da cidade.
O que diria Mozart das inúmeras lojas de cristais, dos bares e restaurantes, do discreto McDonald’s, das lojas de quinquilharias que pululam pelas ruazinhas tortuosas da capital da República Checa? Como reagiria ele à preservação das construções de seu tempo misturadas aos sinais do século 21? Os turistas, os carros, a música moderna? Como aquele austríaco que amava Praga veria sua cidade favorita agora?
O progresso não tira de Praga o encanto de becos e escadarias, da “viela dourada”onde Franz Kafka morou. A sua minúscula casinha é hoje uma das livrarias mais charmosas do mundo, espaço mínimo onde se pode comprar até livros de Oscar Wilde em alemão. Não há néon nem revelação 24 horas que tirem o encanto de monumentos, castelos, pontes, parques, cemitérios e praças. Nada apaga a luz de Praga, refletida no rio Moldava que corre manso por entre as belíssimas construções.
Como em Praga se anda muito, emprestei a Mozart um de meus tênis Nike e lá fomos nós explorar a cidade: ele com os olhos de sua época e eu com os meus atuais. Mozart andou comigo pelos paralelepípedos polidos por séculos de pés que sempre giraram maravilhados, sem saber onde fixar olhar; pois é impossível deter-se numa só coisa. O castelo da Bela Adormecida mora ali completo, com a Bela e tudo, já que as mulheres do país são lindas. O que diria Mozart da recepcionista do meu hotel? Tentaria ele conquistar a dona de uma cascata de cabelos loiros que salão de beleza algum poderia reproduzir? Tentaria ele beijar aquele nariz que o Pitanguy nunca conseguiria reproduzir?
Será que os olhos mais azuis do que qualquer água-marinha seduziriam o famoso compositor? Talvez a antipatia das mulheres checas o repelisse.
Compreenderia ele a história de um país massacrado por invasões de todos os tipos? Talvez por isso o povo não seja simpático, especialmente as mulheres. Não tratam bem os turistas que são uma das poucas fontes de renda de um país pobre; ignoram fregueses em lojas e os expulsam de restaurantes se assim o desejarem. O mesma sensação de “fora colonizadores brancos!” que tive na Tanzânia, senti na República Checa. Com a bizarra diferença de que são brancos tratando mal outros brancos, seja qual for suas nacionalidades.
Na certa, se ela topasse, Mozart teria levado a Bela Adormecida a um passeio pela ponte Carlos IV, admirando os pequenos canais do rio, os moinhos primitivos, de madeira, os pássaros revoando o lugar, as estátuas negras e macabras; ao longo dos séculos depredadas e repostas. Teria ela posado para algum artista que faz a vida retratando pessoas ali? Mozart não teria podido pagar os extorsivos preços cobrados dos turistas.
Será que ele a convidaria para jantar no esplendoroso restaurante Francouzská? Provavelmente não, pois a sede da Sinfônica de Praga não existia naquela época, prédio construído em glorioso art-déco, de propósito, para desafiar a arrogância de Viena.
Teria ele visto as cinco estrelas que, segundo a lenda, surgiram no rio Moldava quando São João Nepomuceno lá foi atirado por um rei ciumento que o forçara a contar os pecados de sua amada rainha? Ele nunca contou, já que era o fiel confessar da monarca e por isso foi morto e torturado. As cinco estrelas vivem na coroa do santo e povoam a imaginação do gente da cidade.
Será que Mozart visitou o Palácio Real, conhecido como Castelo de Praga? Único no mundo por abrigar em seu terreno uma catedral inteira, protegida por seus muros enormes, marco da cidade. Mozart poderia tocar num verdadeiro museu de vitrais, lugar muito estreito e comprido, distraído pela luz da manhã entrando pelas janelinhas e pintando tudo de dourado? E se ele tocasse algo que não agradasse o rei da época? Seria defenestrado? É possível, pois jogar pessoas pelas altíssimas janelas do palácio era prática comum durante um certo tempo. A única vantagem era morrer olhando a vista belíssima do lugar, na certa uma passagem garantida para o céu.
Preferiria ter tocado na monumental Ópera da cidade? Le Nozze di Figaro em versão tcheca? E o relógio da prefeitura? Mozart teria ficado amedrontado com as figuras da Morte e da Vaidade, apavorado com as torres negras da Bruxa Malvada que fazem da igreja de Nossa Senhora de Tyn um verdadeiro palácio do terror. Na certa teria corrido para outra igreja, não muito longe dali, que abriga a pequena e frágil imagem do Menino Jesus de Praga. É um templo lindo, cheio de um astral mágico e perfumado pelas muitas velas que pedem ao pobrezinho do santo toda a sorte de milagres.
Mozart me levou também ao lugar onde estreou Don Giovanni em 1787 _ o teatro Estates, uma verdadeira jóia restaurada _ e à biblioteca central; esta última, fechada a turistas. Horrorizou-se com os preços das lindas granadas _ pedra oficial do país _, das jóias em âmbar, dos cristais, das roupas de grife, dos cristais variados, dos hotéis e dos restaurantes. Como diz um amigo inglês: os tchecos ficaram gananciosos. São pobres e mal vestidos, mas sabem cobrar preços de primeiro mundo. A lenda da Praga bonita e barata é só isso: uma lenda. É uma cidade cara e, aparentemente, seu povo não tem se beneficiado disso. Os táxis são verdadeiros ladrões sem armas e é necessário lutar pelo preço antes de entrar no carro. Sorte de Mozart que não andava de táxi.
Ao indicar restaurantes os guias afastam das cabeças dos turistas as casas de primeira linha. São impensáveis para a população local. Mozart lhes daria razão. Ele também, como eu, preferiu a “nouvelle cuisine” tcheca às tradicionais e sem graça especialidades locais. Restaurantes modernos como o Pravda, numa avenida chique, repleta de lojas caras, é um dos melhores lugares para se comer na cidade.
Voltando a meu companheiro de viagem, fui com ele visitar um prédio moderno, conhecido como “Ginger and Fred”, uma homenagem aos bailarinos de Hollywood e à arquitetura que lembra um par de bailarinos em movimento. Desnecessário dizer que um dos autors do projeto é americano. Mozart preferiu o estilo das construções vienenses e não pareceu muito impressionado, pelo que, eu, com minha cabeça do século 20, considero uma das construções mais interessantes que já vi.
A imagem da Praga romântica é mais uma falida estratégia de marketing do que a realidade. Veneza e Paris são mesmo românticas. Praga é bela, lúgubre, misteriosa e triste. É um lugar interessantíssimo, que vale a pena ser visitado várias vezes, pois há muito o que ver e fazer por lá. Mas não é uma cidade romântica. É muito sofrida para ser romântica e a história local é poderosa demais para disfarçar as guerras e a recente ocupação comunista. Não é também alegre e vibrante; é sutil, bonita, calma, cheia de fantasmas. O labirinto virtual e imaginado de rios e pontes faz da cidade um cenário perfeito para as “ghost walks” organizadas por agências de turismo locais. Mozart já tinha mencionado a lenda do padre e a prostituta, do barbeiro maluco e sua navalha afiada. Não me contou porém, das cabeças decepadas, do fantasma de Kafka na rua Baker e muito menos da paixão que nutria o imperador Rodolfo II pela alquimia e o oculto.
Uma das principais atrações, em artes cênicas, é o Teatro Negro de Praga. É tão misterioso e hermético em suas luzes e cores, que é necessário intercalar números com mímica estúpida, à la Groucho Marx. É pobre e sem graça para quem está acostumado à produções da Broadway e dos grandes centros mundiais. Mozart dormiu ferrado durante a apresentação e recusou-se a me acompanhar numa caminhada pelos lugares principais da “revolução de veludo”. Talvez seja uma das poucas cidades do mundo que oferecem tais programas, que incluem conversas com ex-dissidentes políticos em bares que costumavam freqüentar! A amargura tcheca é tanta que se transformou em atração turística.
“Nascemos chorando e as pessoas à nossa volta sorriem felizes com nossa chegada. O homem feliz é aquele que morre sorrindo e tem à sua volta pessoas chorando por sua partida.” É bonito, de autor tcheco, mas ilustra bem o estado de espirito do local. Nos foi contada por uma guia nativa, em frente a um muro pintado com o rosto de John Lennon. Lugar em que jovens costumavam se reunir para protestar contra o domínio comunista. Mozart cochichou no meu ouvido que aquele lugar não lhe serviria nunca de inspiração para “A Flauta Mágica”. Papagueno, o alegre personagem principal desta obra magistral, na certa preferiria a beleza e o glamour da sede da embaixada francesa, do outro lado da praça que abriga o funesto muro.
Um dos lugares mais interessantes de Praga, é no entanto, um dos mais tristes, senão o mais. Custou muito para que Mozart entendesse porque. É o bairro judeu, gueto que abrigou pessoas desta religião durante séculos. O centro é o Museu Judeu de Praga, reaberto, ironicamente, pelos nazistas em 1942. Há muito o que ver neste lugar que abrigou um centro de triagem para vários campos de concentração durante a Segunda Guerra Mundial. Além de arte religiosa e sinagogas, há várias paredes pintadas com os milhares de nomes de pessoas que morreram nos tais campos. É uma verdadeira visão do inferno e não é para os fracos de espírito.
O velho cemitério, do lado de fora, é uma pavorosa lembrança do estigma que sofreu o povo judeu ali. Há 12.000 lápides, mas o número de pessoas enterradas ali é bem maior, pois não podiam ser enterradas em outros locais. Há várias camadas de tumbas; fazendo com que as da superfície ficassem tortas, parecendo velhos dentes sobrepostos e amarelados.
Por tudo isso é que Mozart me aconselhou a voltar a Praga no inverno. Segundo ele é a época em que a cidade se encontra mais serenamente bela, coberta de neve. Os preços são mais baixos, somem os medonhos turistas e é possível apreciar melhor os sons da intensa atividade musical da cidade. Nas igrejas, todo o esplendor de órgãos e vozes. Na Câmara Municipal, os acordes de divinas orquestras e preciosos ballets.
Talvez no inverno, andando na neve, sob o som estranho que pés humanos e calçados fazem ao esmagar o gelo branco, eu encontrasse a figura solitária do presidente Václav Havel, personagem que tanto fez por seu país e hoje sofre o isolamento provocado por correntes nacionalistas. Seria ele tão bom anfitrião à Praga moderna quanto Mozart foi para mim da cidade antiga? Duvido. Mozart era muito alegre. Sem falar na sua música encantadora que nos acompanhou durante todo o tempo.
Quem sabe Havel nos conduzisse melhor ao elemento de mistério que é central a Praga, aquela vibração indefinível que incendeia nossos sentidos, um dos três elementos principais do ato de viajar, além do conhecimento e da curiosidade? Ou seria Polixena de Lobkovic, senhora nobre da sociedade local, a pessoa que doou a estatueta cera, o famoso Menino Jesus de Praga à comunidade; anfitriã mais adequada para um olhar feminino sobre uma cidade sem sexo?
Pouco importa. Praga não precisa de guias e é imune às quatro estações.