Huilo Huilo e Pucón
Premio para quem já ouviu falar de Huilo Huilo!
Pois se não soa familiar, nenhum problema. É um lugar bastante remoto no Chile, geograficamente isolado pela Cordilheira dos Andes, inúmeros lagos, outras montanhas diversas e alguns vulcões. Olhando o mapa do Chile e da Argentina, é um lugar obscuro e perdido na parte chilena do que é San Martín de los Andes (norte de Bariloche), na Argentina.
O melhor acesso é voando até Santiago e outro vôo até Temuco. De lá, mais 4 horas de carro. As estradas são razoáveis e a parte de terra está sendo pavimentada.
Mas, de novo, o que é Huilo Huilo? Um povoado, uma cidade, praia. O que? Na verdade, Huilo Huilo é uma reserva florestal privada, coisa que soa, pelo menos para nós brasileiros, estranho. Não é fazenda, sítio e nem parque nacional ou estadual. É o sonho de um louco chileno com sobrenome alemão, endinheirado, claro, que resolveu ter sua própria “reserva da biosfera”. Comprou um montão de terra com belíssimas florestas centenárias e até vulcão particular e resolveu criar uma Disney ecológica. Um sonho tão bizarro como o de Fitzcarraldo (aquele demente do genial filme de Werner Herzog) e seus devaneios amazônicos.
Após as ditas 4 horas de carro acima citadas, chega-se a um hotel inteiramente construído em madeira, no meio de um bosque, que supostamente faz os turistas se sentirem vivendo em uma cabana-gigante em cima de uma árvore. Não entendeu? Pois o jeito é tentar decifrar o site do lugar e as poucas reportagens e fotos existentes sobre o Hotel Baobab. A revista Viaje Mais, no exemplar de janeiro de 2009, exibe fotos e uma reportagem bastante otimista sobre tal estabelecimento.
O hotel é estranhíssimo por fora, em forma de cone invertido, projeto arquitetônico que parece ter sido maquinado por estudantes do primeiro ano de arquitetura da pior universidade do planeta. A intenção é “copiar” uma árvore. Não funciona.
Mas, por dentro, é muito bonito, de bom gosto e confortável, misturando madeiras variadas com vidro e couro. Os quartos são bastante confortáveis, alguns deles beirando o luxuoso. Nos hospedamos nos chalés espalhados pela área do hotel que faz fronteira com a reserva florestal propriamente dita. Não é boa escolha; apesar de baratos e espaçosos, são frios e a lareira da sala não dá conta da umidade eterna da região mais chuvosa do planeta. Estamos na Selva Valdiviana, onde chove 330 dias por mês! E faz frio pelos menos nove meses por ano.
Portanto, se aventura, natureza e lugares exóticos (onde não há TV e o celular não pega – há Wi Fi) são a sua praia, rume a Huilo Huilo, hospede-se nas suítes maiores, nos andares mais altos do Hotel Baobab e desfrute do verdadeiro clima “floresta da Branca de Neve”, caminhadas estupendas e passeios por neve e geleiras muito interessantes. Sim, é isso o que oferece Huilo Huilo. Arvorismo, pesca, esqui, brincadeiras na neve do vulcão Mocho (topo permanentemente nevado), caminhadas, escaladas, descanso, um bonito SPA e boa comida. Este último item, uma das melhores coisas do Hotel Baobab. Variada, sofisticada e bem executada e apresentada (opte por estadia sem café da manhã se for mais barato, pois o dito é inexplicavelmente fraco); um ritual agradável e sensual depois de dias repletos de exercícios físicos através da imensidão da reserva e da imponência do vulcão Mocho. Almoços e jantares celestiais, mais abençoados ainda se acompanhados pelos vinhos chilenos que cada dia estão melhores. Os preços são razoáveis para refeições de tão alto nível. E nem é bom tentar comer algo nas duas vilas perto do hotel, feias e pobres. Numa delas, Puerto Fuy, às margens de belo lago, há um hotel com cara simpática e pode ser que seja uma opção para almoço. Não arriscamos, pois perder os menus descolados do Baobab seria uma pena, um risco que preferimos não correr!
O complexo inclui ainda o hotel Montanha Mágica (quartos menores e mais sim ples), verdadeira maluquice que mais parece uma invenção de Tolkien e seu famoso O Senhor dos Anéis .
O projeto megalomaníaco inclui haras, cervejaria, centro de esqui e coisas do gênero. Alguns destes itens já estão em andamento, mas tudo parece um tanto abandonado e com cara de que “está faltando grana” para terminar.
De duas, uma: ou a coisa vai para frente e realmente se transforma em parque de entretenimento natural e único, ou fica no estágio atual de “hotel no meio da floresta”.
É interessante? Vale a pena?
Adoramos por três noites e voltaríamos daqui há uns cinco ou sete anos para conferir os progressos. Se houver...
Aliás, o Chile é um país que oferece algumas destas atrações “exclusivas”. Deserto do Atacama e sua pitoresca cidade-base San Pedro de Atacama, o magnífico hotel Explora no sensacional Parque Nacional Torres Del Paine, a mágica e mística Ilha de Páscoa e agora, Huilo Huilo.
Na segunda parte de nossa viagem que aconteceu entre Natal 2009 e primeira semana de janeiro 2010, fomos a um destino perto de Huilo Huilo (nada é perto, só maneira de falar – seis horas de carro!), mais acessível e com clima um pouco melhor, Pucón. A deliciosa cidadezinha às margens do belo lago Villarica, mereceu nossa terceira visita em nove anos. Maior e com mais oferta turística (apesar de piora sensível na pavimentação de ruas e o lamentável incêndio de seu adorável hotel-casino), Pucón continua sendo bucólica e alegre, aos pés do majestoso vulcão Villarica. E foi por causa de dito vulcão que retornamos.
Rafting, praias lacustres de águas límpidas e areias negras dividem a atenção dos turistas com a famosa e horrivelmente difícil caminhada à cratera do vulcão. Todas as inúmeras agencias de “esporte aventura” em Pucón vendem a caminhada, que chamam de “escalada”. Não é técnica mas exige equipamento tenebroso tipo machado de gelo, capacete e grampos de neve, ótimo preparo físico e muita sorte. Em três tentativas tivemos sucesso em apenas uma, esta última. Tempo lindo, condições perfeitas. A grande decepção foi não ver lava – totalmente esgotada pela erupção do Llaima, vulcão vizinho, há cerca de dois anos. Todas as agencias prometem sucesso na dita aventura, mas o vulcão é nevado, íngreme e o tempo pode mudar de repente e não há o que fazer senão voltar. Decepcionante...
E o que as agencias também não contam é que o Parque Nacional Villarica não deixa ninguém ficar por lá depois de quatro ou cinco da tarde, portanto, mesmo se o tempo estiver bom, os turistas que não alcançaram a cratera até certa altura, tem que voltar. A infra estrutura do parque é fraca, o centro de esqui paupérrimo (com freqüência o teleférico não funciona, o que aumenta a miserável mente dura caminhada em duas a 3 horas) e tudo deve ser feito sem grandes expectativas. Se der certo, a vista do topo é fabulosa, com direito a vários outros vulcões e lagos da região. E a sensação de estar olhando bem dentro da cratera de um dos vulcões mais ativos do mundo é especial (misto de medo e admiração), para dizer o mínimo. Vale a tentativa, mas sem ilusões!
Nos hospedamos nas Cabañas Eldorado e voltaríamos com prazer. O terreno é grande, bonito, bem cuidado e os chalés muito charmosos e bem equipados. Bate qualquer hotel da região em preço e conforto. Por enquanto, o melhor hotel de Pucón não é dentro da cidade (o hotel do cassino era a melhor opção central) e sem carro, o luxuoso Park Hotel é um mico.
No campo gastronômico a cidade melhorou, agora oferecendo boas churrascarias e pizzarias. Destaque para a churrascaria-transada La Maga. Mas ainda não é destino gourmet e perde para Puerto Varas, estando anos-luz de distancia de Santiago.
Pucón e Huilo Huilo são natureza, esportes radicais e descanso. Paz verde.
Dornstetten, Alemanha. Fevereiro de 2010.
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