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domingo, 16 de outubro de 2022

AZERBAIJÃO, GEORGIA, ARMENIA E CATAR - SETEMBRO E OUTURBRO 2022

QUATRO PAÍSES EM TRES SEMANAS – SETEMBRO 2022 AZERBAIJÃO, GEORGIA, ARMENIA E CATAR Quando já se conhece quase o mundo inteiro, o que há mais a explorar neste nosso lindo e sofrido planeta? Existe sim, muito que ver e é só uma questão de querer e ousar, pois os países acima citados são bastante distantes do nosso Brasil. São, contudo, superinteressantes e valem os voos longos e cansativos. Os três primeiros estão localizados ao sul da cadeia de montanhas do Cáucaso, fazendo uma fronteira natural com a Rússia. O Catar, não tão longe dali, é um pedacinho da Arábia Saudita, pertinho dos Emirados Árabes. Nossa primeira parada foi Baku, capital do Azerbaijão e famoso circuito de rua da Fórmula Um. Quase nada sabíamos do lugar e a surpresa ótima foi total. Uma capital grande, moderna, com um centro histórico pequeno, murado, bonito e protegido como patrimônio histórico pela Unesco. Algumas avenidas largas, bem parecidas com os belos bulevares de Paris, com as mesmas árvores, mesmo estilo arquitetônico e até as mesmas placas francesas com os nomes das ruas. A cidade tem arquitetura moderna impressionante, torres maravilhosas, hotéis deslumbrantes e um centro cultural projetado pela finada arquiteta Zaha Haddid, que é uma das maravilhas da arquitetura moderna mais impressionantes que já vi. Parece um enorme fantasma branco pairando de uma colina sobre a cidade. Baku tem uma orla marítima com uma estranha e curiosa mistura de praia e poços de petróleo. Afinal, Baku está estrategicamente localizada no Mar Cáspio, um dos grandes produtores de petróleo mundiais. E o país é rico por isso. E só isso. O resto é um semiárido quase improdutivo e vários itens são importados da Rússia, Geórgia ou Turquia. O Azerbaijão é um país muçulmano “light”, onde a maior parte das mulheres não cobre a cabeça e a frequência as mesquitas é menos concorrida. A única que visitei, muito bonita e pequena, foi o único templo islâmico em que vi homens e mulheres rezando juntos. Bastante hospitaleiros, nos deixaram rezar com eles, admirar o divino teto de espelhos no estilo persa e nos deram até uns doces; umas senhoras que fazem isso em certas épocas do ano para pagarem promessas. No quesito museus, o dos tapetes, o Carpet Museum, além de ser espetacular por ter sido projetado em formato único de carpete enrolado, é muito superior a similares na região, como o famoso museu dedicado ao tapete persa, na capital iraniana. É aí que o dinheiro de tanto petróleo é bem usado, expondo de maneira espaçosa e correta as riquezas históricas do país. Não sobrou muito do Palácio dos Shirvanshas, mas o que se pode visitar está bem explicado e conservado, bem como a Torre da Donzela e a vista bela do porto que se descortina ali. Tudo o que o campo arquitetônico de Baku é legal, sua história fascinante e arredores diferentes, a cidade deixa a desejar no setor gastronômico. Para quem não é grande fã de ”comida árabe”, como eu, tudo pode ser um tanto repetitivo e limitado. Tentamos até um restaurante chique de hotel boutique, mas a coisa não se afasta muito da carne de carneiro, do molho de romã e do arroz branco insosso. Nada de sobremesas interessantes e só num café modernoso no centro histórico consegui provar um cheesecake digno do nome. Os vinhos locais não são dignos de menção, mas se a vontade for grande, o Hillside, é bebível. Mas se o viajante começa pelo Azerbaijão e vai a Georgia, percurso bem fácil e rápido de avião, vai se esquecer rapidinho da falta de apelo da cozinha local, pois os alimentos georgianos são muito apetitosos e únicos, o mesmo valendo pelos vinhos, que lá fazem há mais de 6 mil anos. Destaque absoluto para a uva Saperavi e seu after taste de nozes. A Georgia é totalmente diferente do Azerbaijão, apesar da proximidade geográfica. É muito verde, montanhosa, russa, cristã, hippie, alternativa, charmosa. A capital Tbilisi é um mix europeu-hippie-orgânico-alternativo-artístico, absolutamente original e único em minha longa e extensa experiencia viageira. Foi, de longe a capital dos 4 países da qual mais gostei, com a que mais me identifiquei. Talvez pelo traçado irregular, o verde, o rio, as igrejas, a descontração, as casinhas coloridas com singelos terraços decorados, a intensa vida cultural. E a comida, claro. Museus de Belas Artes, o de Arte Moderna, Museu Nacional de História, Teatro de Ópera, todos na mesma bonita e larga avenida, convenientemente, localizados ao lado de nosso excelente hotel, o Biltmore. Penso, do alto de minha grande experiencia em alojamentos temporários, que localização é absolutamente vital. Faz uma enorme diferença no sucesso de uma viagem, principalmente quando se fica pouco tempo nos lugares. Sempre pesquiso hotéis e Airbnbs focando nisso. Perto de museus, teatros, parques, estações de trem, lugares interessantes e convenientes para mim. Pontos altamente positivos para a agência Freeway, de São Paulo, que organizou nossa viagem aos três países do Cáucaso. Hotéis de primeira, pontos estratégicos e restaurantes acima da média do horrível “padrão-excursão”. Na Geórgia encontramos a melhor comida e os melhores restaurantes. Destaque total para o Barbarestan, considerado o melhor clássico-moderno do país. Localizado em simpático bairro boêmio de Tbilisi, numa casa antiga e bem charmosa, a equipe reinterpreta receitas centenárias em versões modernas e deliciosas. Ali comi os croquetes melhores da minha vida, bem como uma exótica versão georgiana do tiramissu, com queijo cremoso defumado e um prato de salmon com noodles, negros, uma coisa maravilhosa. Tudo regado a Saperavi, minha uva do coração. Tanto Azerbaijão como Geórgia são países baratos, pode-se fazer boas compras de praticamente tudo e os custos estão mais para Argentina em tempos recessivos, do que para Brasil em boa maré econômica. O mesmo já não se pode dizer na Armenia, péssimo custo-benefício. Entretanto, e sempre há um porém, a Armenia é o país que dos 4 visitados apresenta mais atrações históricas de interesso e peso. Portanto, apesar dos preços salgados e comida fraca, vinhos sem personalidade e clima triste de país inviável, a visita merece a respeitabilidade histórica que comanda. O interior da Georgia é decepcionante, o verde é um tanto seco, as vinícolas não oferecem boa estrutura aos visitantes e apesar da bela localização de alguns monastérios e igrejas, os ditos, por dentro, deixam a desejar. As estradas são ruins e lotadas de caminhões, é muito custoso ir de um lugar a outro, as fazendas são feias e pobres. O que vale mesmo a pena no país é Tbilisi, inesquecível. O resto é só ir, para dizer que foi. Fuja de Borjomi, uma Campos de Jordão pra lá de mixuruca e gaste suas fichas visitando Gori e o Museu Stalin, superinteressante. Nossa última parada no Cáucaso, foi a pequena e sofrida Armenia; com sua história milenar, suas igrejas e monastérios limpos, cheios, de charme, bem preservados, atmosféricos. Com o lindo e nevado Monte Ararat, com as histórias da Arca de Noé, com a tristeza e honestidade do Museu do Genocídio, com o peso dos terríveis e violentos vizinhos, Turquia e Rússia. E também com o encanto limitado de Yerevan, moderna e agitada. Bons museus de arte moderna por lá, interessantes monumentos soviéticos, muito que ver e uma sala de concertos das mais fáceis e inclusivas, onde assistimos dois balés lindos. Restaurantes modernos e antigos, a tradição gastronômica data mesmo dos tempos bíblicos, mas os resultados são fracos para o meu gosto; é comida turca, da qual eu não gosto. Para quem é fã das especialidades ditas “árabes” no Brasil, na realidade a comida de países do Oriente Médio e Ásia Menor, Azerbaijão, Catar e Armenia são boas pedidas. Eu fico com a Geórgia e sua orinalidade, qualidade e frescor de ingredientes, onde as influências mediterrâneas, europeias e russas brilham. Nossa última parada, o Catar, foi validada por aproveitarmos o destino final do voo, mas a época do ano e o evento Copa do Mundo prejudicou nossa experiencia que poderia ter sido bem melhor. Prejudicou o calor ainda desagradável do início de outubro e fato de que o belíssimo Museu Islâmico e a Galeria de Arte Contemporânea, ao lado, estavam fechados. Já, o Museu Nacional do Catar valeu a viagem, o calor, tudo. A arquitetura fantástica de Jean Nouvel, que eu já tinha me deliciado com similar no Louvre em Abu Dhabi, não muito longe dali, estonteou e surpreendeu de novo. O museu é um show a parte, o acervo lindo, a curadoria estupenda e pode-se passar horas ali, apreciando tudo com bastante calma e sem multidões. Além das delícias do Café, das lojas, dos jardins e do magnífico Jiwan, restaurante que o papa da gastronomia francesa, meu amado Alain Ducasse, ali plantou. Reinterpretação impecável dos pratos locais tradicionais, fazendo tudo bonito e palatável a paladares ocidentais. Infelizmente, por causa das restritivas leis locais, nada de álcool. Nada de vinho. Pena, mas Monsiuer Ducasse consegue parear sucos e chás com as maravilhas dos pratos. Imperdível. Estádios da Copa e o complexo de entretenimento e compras, o Katara Village, completaram nossa limitada experiencia em Doha, cidade moderna que quer muito ser Dubai, até agora sem sucesso. Sua arquitetura é bonita e ousada, poderosa infraestrutura, mercado bonito no Souq Waqif, única oportunidade de realmente ver os poucos cataris nativos que vivem no país e suas formas de vestir e agir bem diferentes da falta de limites das vestimentas brasileiras, por exemplo. Nosso hotel, o Tivoli, ótimo custo-benefício era dentro do Souq e facilitou bem a experiencia. O Parisa, restaurante iraniano, encravado na rua central do Souq, completou nossa experiencia gastronômica. A quais dos 4 países voltaria alegremente e sem pensar? Voltaria a Georgia, só Tbilisi e voltaria a Doha para conferirar o Museu Islâmico, a joia do finado I.M. Pei. E que venham mais viagens e destinos interessantes! São Paulo, 16 de outubro de 2022.