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terça-feira, 24 de agosto de 2021

LUBECK - ALEMANHA DOCE - MARZIPAN E HISTÓRIA

LÜBECK E O MUSEU DO MARZIPÃ Pois é, em visita bem recente ao norte da Alemanha acatei a dica de uma aluna sabida e fui visitar Lübeck, que além de cidade importante é também a Meca dos confeitos de amêndoa, pelos quais sou totalmente viciada. É lá que fica a fábrica, lojas, cafés e museu do marzipã da antiga e famosa marca Niederegger. Além dos confeitos dos céus em enorme variedade de sabores, formatos e cores, há até chá de marzipã, uma festa! Para quem gosta do doce, vale a ida até a cidade só pelo prazer visual e comestível da empresa. Apesar de ser produto fácil de encontrar por toda a Europa, uma espécie de Nestlé do marzipã, preços muito acessíveis e produção gigante, a qualidade é impressionante e o nível de sofisticação idem. Mas Lübeck é bem mais do que confeitos, é uma cidade de grande importância histórica e seu centro antigo é um dos mais bonitos da Europa. Por suas ruas estreitas protegidas por um pórtico espetacular, que de tão bonito foi tornado ainda mais famoso por Andy Wharhol que também, como eu, não resistiu ao charme eterno do Holstenthor e o eternizou em suas fotos-pinturas de vanguarda; caminha-se por vielas repletas de casinhas minúsculas em corredores idem, que nos idos de 1600 e até bem antes disso, eram moradias de artesão, de gente muito simples mesmo. Apertavam-se em espaços improváveis, cinco ou seis pessoas vivendo em cerca de 30 metros quadrados, com pouca luz e ventilação, tetos baixo, frio e humidade. Hoje em dia está tudo reformado, bonito e florido e tornou-se atração turística. Em alemão, os Gänges (corredores, passagens) e Höff es (pátios internos) são moradias reais e poucos podem ser visitados em seus interiores. Mas ver de fora já é muito interessante e na primavera e verão as flores tão carinhosamente cultivadas pelos alemães são uma explosão de cores e perfumes. Perto das casinhas está o Museu St. Anne instalada em antigo convento e que reúne uma coleção espetacular de arte sacra com os relicários mais estonteantes que se possa imaginar, bem como exposições de arte contemporânea, coisas ousadas como mostras sobre sexo nas artes e na publicidade e a obra genial do grande ator alemão Armin Mueller Stahl. Seus quadros são contundentes e impressionantes e o vídeo com o depoimento dele sobre seus amigos judeus e a participação dele em filmes onde fez papel de nazista e de judeu, alternadamente, é comovente. Igrejas e enormes catedrais pipocam por esta cidade tão sofrida com os bombardeios da Segunda Guerra Mundial. A igreja St Petri, quase toda destruída, é hoje centro de exibições culturais e artísticas, sem nada dentro, só pintada de branco, cor da paz. Em sua enorme torre, um mirante com vistas maravilhosas desta cidade muito plana e verde. E do que sobrou de monumentos históricos e construções tombadas. Lübeck mistura bem o antigo e o moderno e sua economia vibrante, comércio variado e turismo forte contribuíram para o renascimento do lindo lugar. Por sua proximidade com a espetacular e enorme Hamburg, Lübeck é destino fácil, a apenas 44 minutos de trem do grande centro. Ir de manhã e sair à noite, de preferencia no verão é um grande programa. Mas ficar uns dois dias inteiros, pelo menos, é o ideal. Aproveitando os bons preços dos ótimos hotéis e restaurantes da cidade, além de boas, baratas e saborosas compras! Zurique, 25 de julho de 2021

sábado, 14 de agosto de 2021

BOGOTÁ

BOGOTÁ – 2021 Só faltava a capital colombiana para completar meu itinerário por capitais sul americanas. Como creio que jamais viaje as Guianas ou Suriname, por total falta de interesse nestes nossos vizinhos tão ao norte, a Colômbia e sua espetacular capital eram, respectivamente, o ultimo país e ultima capital a explorar. Veredito: minha favorita, disparada em primeiro lugar, é Buenos Aires. A segunda, surpresa total, Bogotá. Lima e Santiago e a séria Montevidéu perdem para esta enorme e interessante cidade encravada nos Andes. Sua localização privilegiada e única destaca Bogotá de outros centros andinos e do alto do morro Monserrate se pode observar porque. A cidade se espalha por enorme planície entre dois lados das encostas andinas, por um lado muito verdes, por outro mais secas e nevadas. Curiosamente, os bairros mais elegantes e os centros históricos estão colados aos morros cobertos de vegetação exuberante e muitas flores, o que lembra um pouco o Rio de Janeiro e é por este verdejante esplendor é que se chega ao alto de Monserrate e a vista fabulosa. O topo, a 3100 metros de altitude, pode ser facilmente alcançado por teleférico e com muita dificuldade, por uma espetacular caminhada por escadaria infinita, cerca de 1500 degraus. A caminhada vale a pena pelo exercício, pela observação das flores colombianas alegrando o trajeto e pela alegria do povo, que adora subir a encosta íngreme nos finais de semana. Em sua maioria jovens e famílias, junto a fiéis católicos que fazem o trajeto cumprindo promessa ao Senhor dos Caídos, na igreja de mesmo nome, no topo. O grau de dificuldade da caminhada de duríssima uma hora e meia, deve-se ao fato de que Bogotá é uma das capitais mais altas do mundo e subir caminhando os 500 metros de diferença em altitude é totalmente de tirar o fôlego. Deve ser feito devagar, por pessoas sem problemas cardíacos ou respiratórios, em boa forma e com muita paciência. Há vendedores pelo caminho ofertando água, refrigerantes e frutas, além dos suvenires de costume. O local é bastante policiado, mas como a Colômbia é um pais tipo Brasil e Bogotá tem o mesmo nível de alerta que o Rio de Janeiro, convém fazer o trajeto nos finais de semana, em horários diurnos, com gente por perto. Foi o que fiz, sem o menor problema. Me diverti com os ruidosos nativos, bem parecidos com os brasileiros, os que sobem caminhando com som alto, dançando, rindo, falando mais alto ainda. Diversão grátis e saudável. A igreja no topo abriga a imagem acima citada, supostamente milagrosa, antiga dos anos 1600, um Jesus caído no chão, estirando o braço, pedindo ajuda. Vale uma oração para agradecer a chegada até ali, bem como vale um almoço na Casa San Isidro, uma casa de fazenda com mais de 120 anos, linda, aconchegante, lareira crepitando no salão principal, comida deliciosa. Desci o belo serro com o teleférico, chega de escadas. Ir a Bogotá e não subir o Monserrate é não conhecer Bogotá, não ter a menor idéia de como é a cidade, pois só é neste topo que se tem a dimensão completa do lugar, da majestade das montanhas e vulcões, das planícies repleta de gado gordo, das plantações do melhor café do mundo, da beleza do céu infinito contrastando com todo o resto. Não tão imperdível, mas curiosa, é a visita à mina de sal em Zipaquirá, cidadezinha histórica a uns 50 km da capital. A Catedral do Sal é a parte turística e muito bem organizada da operação e para cristãos fervorosos uma impressionante igreja subterrânea, gigante e misteriosa. Na volta os curiosos gourmets devem programar almoço ou jantar no bizarríssimo e delicioso restaurante Andrés Carne de Rés, no subúrbio de nome Chía, lugar semi-chique de Bogotá. Serviço impressionante, eficiente, lugar bem louco, só vendo para crer. É uma mistura de ferro velho, loja vintage, circo antigo, parque de diversões. Imperdível. Há outras filiais pelo país, mas a matriz é a melhor. A comida em Bogotá é excelente e a qualidade dos ingredientes é o carro-chefe. Carne padrão argentino, frutos do mar maravilhosos, café melhor do mundo, chocolate de respeito (destaque para os da marca Serge Tierry, só encontrado em boutiques exclusivas), frutas e sucos divinos. Assim como mais que divinas são suas rosas e floriculturas. Há lojas que só vendem rosas, nos arranjos mais incríveis e de tamanhos e cores surreais. A arquitetura da cidade brilha nas muitas construções que usam tijolos aparentes, harmonizando com o verde eterno desta cidade onde chove todos os dias e a temperatura média é de 14 graus. Sempre fria, venta muito por causa dos Andes, não é lugar para quem gosta de calor e praia. Bogotá é lugar para quem gosta de frio, elegância, bom comércio, boa comida, baladas, prazeres urbanos em meio a belos parques e infinitas possibilidades de lazer. Nunca vi tantos shoppings, tantos cinemas. Muito teatro, mesmo em tempos pandêmicos e oferta cultural abundante neste país de tantos escritores maravilhosos como Garcia Marquéz, Laura Restrepo, Pilar Quintana e Fernando Vallejo. No centro cultural dedicado ao Gabo, premio Nobel inesquecível dos Cem Anos de Solidão, comprei livros numa das livrarias mais bem sortidas que já visitei. Em plena pandemia assisti ao lindo show musical de Flora Martínez, boa cantora se apresentando no pequeno Teatro Colón, bela miniatura do gigante argentino. O distanciamento social entre as poltronas era marcado por rosas vermelhas, da cor das poltronas. Toque sensível e bem colombiano. Os famosos Museu Do Ouro e o Botero justificam a fama, principalmente o primeiro. Os artigos dourados, profissionalmente exibidos e catalogados fazem do Museo del Oro um dos top 10 das Américas. O Botero é pequeno, grátis e para quem, como eu, é fã dos gorduchos retratados pelo caríssimo pintor nativo, perfeito. Ali conheci as pinturas de frutas gordas e esculturas gordas, inéditas. Os dois museus localizam-se num emaranhado intrigante de construções antigas bem preservadas e aquela atmosfera do centro da capital paulista com toques de Ouro Preto, um tanto caótica e caída. Tudo em meio a lindas igrejas, camelôs, lojas que vendem esmeraldas, museu dedicado a tal pedra, que não visitei. Bogotá conta com vários outros museus interessantes que não tive tempo de conferir, mais um motivo para voltar. No quesito gastronômico o restaurante Cosette, francês descoladinho do shopping chique, Centro Andino, é ótimo lugar para ver e ser visto, comida de primeira. Os famosos Harry Sasson e El Chato, ambos bem cotados na lista dos 50 melhores restaurantes da América Latina da revista Restaurant, atual Bíblia do assunto, valem o que cobram. O primeiro vale pelo ambiente, serviço, melhor palmito grelhado do mundo, movimentação de gente bonita, localização. O El Chato é hoje em dia o melhor da Colômbia, culinária de vanguarda em ambiente simples, mas transado. Meu favorito, no entanto, foi o restaurante do belíssimo hotel Four Seasons, o Castanyoles. Modernidade alimentar fina, em lindo ambiente confortável e ensolarado, mescla de alimentos locais e influencia forte espanhola. Churros com cremes de frutas em vez de dulce de leche, croquetes crocantes de jamón ibérico, berinjelas gratinadas picantes e outras bondades. O país, nos tempos atuais, é barato para brasileiros, não tanto como a Argentina, mas um dos poucos onde nossa moeda sofrida vale algo. Os hotéis são variados e de custo razoável e me hospedei no EK, muito bom, no agradável e bonito bairro semi residencial, Chapinero. Escolha certa, pois o centro de Bogotá, apesar das muitas atrações, é o mesmo mico que hospedar-se no centro de São Paulo. Melhor pagar táxis, muito baratos, e andar tranquilo nas ruas belas e arborizadas de Chapinero do que nas duvidosas artérias da La Candelaria. O povo me pareceu alegre e comunicativo, gostam de brasileiros, são bem informados sobre nosso controverso país. Voltarei para conhecer praias, Cartagena, Medellín e Cali. Quem sabe o famoso carnaval de Barranquilla, voltando sempre a Bogotá, que adorei. Só não gostei do transito, pior que o de São Paulo. Mas não há lugar perfeito, certo? Se existir, só o Céu... Zurique, 04 de julho de 2021.