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sábado, 13 de maio de 2023

SUL DO MUNDO - ABRIL 2023 - CURITIBA, PORTO ALEGRE, GRAMADO E BUENOS AIRES

COISAS DO SUL – ABRIL 2023 CURITIBA, PORTO ALEGRE, GRAMADO E BUENOS AIRES Estas cidades têm sido parte de minha “área de atuação” nos últimos 17 anos e vou com frequência a elas; sempre alegre e sempre achando que vou “enjoar”. Até agora não aconteceu e continuo descobrindo ou redescobrindo coisas bacanas. Como em Curitiba, durante o último festival de teatro, o famoso Festival de Curitiba. O maior do Brasil, um dos maiores do mundo. Pena que só pude assistir a dois espetáculos, um monologo com Vera Holz e Fúria, dança contemporânea das mais ousadas. Por dois dias o restaurante Nômade me forneceu o gás alimentar para a empreitada, a Passion du Chocolat, o açúcar sempre muito necessário. O Cine Passeio sempre adorável, o Pátio Batel sempre chique. Dois dias perfeitos numa sequência de 35 no sul do mundo. Na continuação, Porto Alegre, que é um achado relativamente recente que comecei a levar mais a sério no ano passado. Cidade de respeito, majestosa as margens do famoso rio/lago Guaíba, um esplendor de calçadões infinitos beira-rio. Parques por todo lado, novas áreas de lazer junto ao recém-inaugurado Shopping Pontal. Colado ao Barra Shopping. Descobri a graça de ver filmes de qualidade na Cinemateca Paulo Amorim, folhear de novo os livros da pequena e bem sortida livraria do Centro Cultural Mario Quintana; naquele prédio imponente que já abrigou o hotel Majestic. A Rua dos Andradas é o cenário arborizado e perfeito para aproveitar o lado “cabeça” da cidade. Comer à gaúcha aconteceu no Bah e no Fogo, este último, uma versão confortável e modernosa do bom e velho fogo de chão do Rio Grande do Sul. O Fogo me impressionou pelo diferente da proposta e a qualidade dos alimentos preparados na frente dos clientes, em grelha gigante, sem fumaça, sem mesas, todos sentados num balcão bonito, olhando a preparação e os ingredientes, participando do que se vai comer, do resultado final. Não sou deste tipo de lugar, mas o Fogo é tão especial, que voltaria à casa, sem piscar. Menção honrosa para a carta de vinhos com opções de tannats nacionais, da região da Campanha, fronteira com o Uruguai. Para quem gosta deste líquido forte e roxo, destas uvas poderosas, nossos Ravanello e Guatambu (Rastro dos Pampas) são geniais. Querendo alimentos asiáticos, o Kho Pee Pee brilha, comida top num ambiente sem graça que vale muito a pena a reserva. E pôr do sol famoso deve ser curtido a bordo do Cisne Branco, um barco antigo que já é tradição na cidade. Ali perto, na Praça da Alfandega, o agito abre alas para o cultural no Farol Santander. Tome um café fumegante ali, dentro de um antigo cofre de banco, bem diferente e interessante. Porto Alegre não é a limpa e inclusiva como Curitiba, mas tem seus encantos, que vou descobrindo aos poucos. Minha amada Gramado continua “aprontando das suas” e até parque aquático inaugurou; não para de inaugurar atrações e não se inibe quando algumas delas não vão adiante. Abre outras! No campo gastronômico também, mas nos restringimos aos tradicionais: Table D’Or e seu imutável cardápio, as delícias coloniais do Nonno Mio e Di Paolo e as comidinhas chiques do Josephina. O novo que vale ousar está mesmo em Canela. Agora o Capullo é a estrela, da chef local Renata Rech. Estupendo em seu cardápio semi-extenso, brasileiro, gaúcho e italiano. Lindo ambiente em casa antiga, ótimo serviço, bons preços, nota 10! Lu, Galangal, Empório Canela e 1835 seguem muito apetitosos, cada um em sua categoria e diversidade. No quesito cultural, Gramado agora tem pequeno museu relatando sua história. Instalado em casa de madeira, um lugar de grande importância histórica, tombado e reformado, com direito a patrocinador de peso, a fábrica de chocolates Lugano. Que abriu um café-confeitaria no quintal dos fundos do museu, aprazível local para um chá da tarde. Last but not least, mí Buenos Aires querida, facilmente alcançável de Porto Alegre em eficiente e pontual voo noturno das Aerolineas Argentinas; em uma hora e vinte chega-se triunfante a capital portenha. Que segue caidíssima e fascinante. Fiquei no hotel DECO Recoleta, retrato das contradições da cidade. Quartos grandes, localização excelente, mas estado de conservação a beira do precipício; espelho do país. Mas para o turista, tudo é farra e me diverti muito nos teatros, nas infinitas caminhadas por parques e avenidas majestosas, com os chocolates viciantes do El Viejo Oso, nos restaurantes sempre celestiais: Preferido, Zum Edelweiss, Pizza Cero, Croque Madame, Piegari, Lima Nikkei, Café PROA. Não inovei em restaurantes desta vez, pois estes são tão bons que não estava com pique de arriscar. Só arrisquei voltando à Boca, longe e cansativa. Valeu a pena, pois não ia ao PROA havia tempo e a exposição que ali vi estava excelente; novas galerias de arte, museus, lojas, entorno reformado e sanitizado, segurança, tudo naquele pedaço pequeno e de grande importância histórica para Buenos Aires. Me encantei com o Fábrica Colón, lindo galpão que abriga cenários e figurinos das produções de opera e dança de meu amado e magnífico teatro de mesmo nome. É um depósito-museu com visitas guiadas super interessantes para os fanáticos das artes cênicas como eu. Minha única frustração, desta vez, foi, de novo, não conseguir ir ao Don Julio e nem sequer reservar para daqui a 3 meses. Messi estragou a festa ao prestigiar esta estupenda churrascaria recentemente e não dá mais para entrar. O craque do futebol argentino se juntou a hordas de brasileiros cafonas e “genéricos” que entopem tudo e, infelizmente, re-descobriram Buenos Aires. Felizmente esquecida por esta gente horrorosa, turba ignara de mulheres maquiadas demais, com bocas de Pato Donald, cílios de girafa e cabelos de Pequena Sereia Tupiniquim. Seus equivalentes masculinos falam alto, usam correntes de ouro no pescoço e emitem ensurdecedoras gargalhadas. Um horror! Volto a tentar quando a moda Don Julio passar e os unspeakables acima descobrirem um lugar novo para torturar... Por enquanto fico com a fugazzetta, invenção magnífica da gente pobre da Boca, pessoal da área portuária que descobriu que pão com queijo barato e muita cebola poderia dar certo. Deu e é hoje, em suas inúmeras variações e sofisticações, o retrato da cara inovadora e lutadora de Buenos Aires. São Paulo, 13 de maio de 2023.