Translate

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Pré-Natal em Nova York / Dezembro de 2010

Já passei Natal em Nova York algumas vezes, com neve e tudo, o verdadeiro White Christmas da musica tão famosa imortalizada por Bing Crosby. A própria tocava no radio quando começou a nevar, na tarde do dia 24 e a emoção foi enorme. Natal em Nova York é tudo que brasileiros sonham: frio, neve, Papai Noel vestido com roupas pesadas e sem suar, pinheiros e neve de verdade decorando a imensa arvore natural do Rockefeller Center. Como nos filmes, as pessoas passeando com arvores naturais debaixo do braço, como nas cenas tão comuns do quotidiano de invernos verdadeiramente gelados; apressadamente levando para casa o pinheiro de ultima hora. A decoração das vitrines e edificios, esfuziante. Sim, sempre foi desta maneira e sempre valeu muito estar lá nesta época festiva, que os americanos chamam de Holiday Season, a estação dos feriados, época de festas, como dizemos por aqui.
Em dezembro de 2010 resolvi ir à BIG Apple alguns dias antes do Natal, de 18 a 23.
Com a crise, nada de decoração e luzes feéricas por toda parte. Estava mais para minimalista chique do que para São Paulo e seus infernais shoppings, onde a decoração faraônica ofusca todo o resto. A crise pegou os americanos em seu ponto mais fraco: o consumo. Mas, como Nova York é invencível, o que faltou em decoração sobrou em multidão por todo lado, ao ponto de policiais terem que fechar ruas, pois não havia como conter as hordas compradoras nas avenidas principais. Tudo alegre e louco, a cara da cidade. Muitos nativos, claro, mas uma quantidade impressionante de britanicos, franceses, russos e, é claro, brasileiros.
Sempre sonhei em fazer uma temporada intimista e exclusiva na cidade: sozinha, fazendo compras, indo ao teatro, ao cinema e a bons restaurantes; fazendo só o que quisesse e quando quisesse. O meu programa.
E foi exatamente o que fiz nestas 5 noites e 6 dias na cidade. Fui a 8 pecas de teatro, 4 filmes e 8 restaurantes. Sem contar as compras muito, mas muito vantajosas para nós brasileiros, em tempos de dolar baixo. Tambem fiz um programao bem turistico, fui ao topo do Empire State Building. São não visitei o Ground Zero, pois não tenho ainda coragem para tanto. Como amo a cidade e já lá estive mais de 15 vezes, ela mora no meu coração e estar em lugar onde tanta gente morreu, de maneira tão horrivel e injusta, ainda não e a minha praia. Talvez um dia...
Nada de museus desta vez, nenhuma das exposições temporárias me interessou. Queria caminhar muito, sentir o vento frio no rosto, o sol fraquinho de inverno, ver e sentir a multidão, as vibrações frenéticas desta cidade tao internacional. Só peguei 2 taxis ida e volta do aeroporto, nunca o metro ou onibus, caminhei o maximo possivel. O que foi otimo para queimar as calorias de 3 cafés da manha suntuosos: no Plaza, reformado e espetacular, no Landmark (dentro do predio ancora do Columbus Circle) onde me deliciei com omelete de cogumelos e bela vista do Central Park e no dB Bistro, do chef Daniel Bolud – omeletes que mais parecem nuvens perfumadas e fumegantes.
Nunca jantei, meu “alimento” foi o teatro e almocei muito bem em duas filiais (uma a matriz) do PJ Clarke’s, no Metrazur, no db Bistro e no Benoit. Sem falar do Seraphina Broadway. Desta vez não quis restaurantes estrelados e optei pelo que os EUA têm de melhor: o hamburger; que no PJ’s é imbatível e no dB vem recheado com foie gras . O Seraphina, apesar de supostamente italiano nao pode ser mais americano. Sim, o cardapio apresenta carpaccios e massas, mas o ambiente, serviço e “modo de ser” sao totalmente americanos. Lembra muito o Planet Hollywood nos bons tempos.
No Benoit repeti os classicos franceses: escargots e steak tartare, ambos muito bons. E no Metrazur não só me deliciei com a comida divina e criativa do grande chef Charlie Palmer, como me encantei e emocionei em estar dentro da Grand Central Station, a maior estacao ferroviaria urbana do mundo. É um deslumbre de arquitetura e o Metrazur localiza-se no saguão principal, cenário de varios filmes, inclusivel dos Intocaveis, com Kevin Costner. A enormidade e bom gosto do lugar fazem do Metrazur uma das experiencias gastronomicas mais diferentes e prazeirosas que se pode ter em Nova York. Você está dentro de uma estacao de trens, sem ver ou ouvir os mesmos, mas observa do alto, com conforto e boa mesa, a agitação e movimento de um centro de transportes.
O programa turistico no Empire State foi maravilhoso, completo com filme e atração tipo Disney onde as cadeiras se movem e provocam a sensacao de montanha russa. Emocionante parecer voar sobre a cidade, passar pertinho das Torres Gemeas, da Estatua da Liberdade. Os terraços de observação são perfeitos e num dia claro, como o que tive a sorte de experimentar, nao podia ser melhor. Ve-se toda Manhattan e os detalhes interessantissimos de sua premiada e famosa arquitetura. Vale os 50 dolares do ingresso.
Na Broadway me encantei com o musical Addam’s Family e sua atriz principal, a perfeita e finamente ironica, Bebe Neuwirth e quase chorei no maravilhoso, mas tristissimo, Next To Normal. Saí no meio de outro musical, o sem graca, A Little Night Music, apesar da atuação impecável de minha querida Bernardette Peters. Amei La Bete, uma obra prima britanico-americana. Outra do gênero é Brief Encounter, com cast totalmente ingles, bem como Haunted e sua atriz principal, a espetacular Brenda Blethyn.Estas 3 ultimas valeram a viagem!
Driving Miss Daisy vale pelo desempenho fenomenal de James Earl Jones. Ele eclipsa Vanessa Redgrave e a peça só vale por ele, o texto é um tanto fraco e o filme é bem melhor. Love, Loss and What I Wore é uma peca curta e engracada, co-escrita pela genial Nora Ephron. Coisa por e para mulheres.
Teatro em Nova York equivale a investimento: média de 130 dólares por ingresso, bons lugares, claro. Sem cambista, comprados diretamente nas bilheterias dos respectivos teatros. E mais caro do que refeições na média dos restaurantes acima citados, que fica em torno de 70 dolares. A mais cara 92 e a mais barata, 42. Isso sem os horriveis 15% de gorjeta que os americanos impõe tão draconianamente aos pobres fregueses de restaurantes por todo o país.
Por fim, na parte “espriritual” da estadia nova iorquina, visita a duas igrejas bastante emblemáticas da cidade: a ortodoxa grega , perto do hotel Waldorf Astoria e a “símbolo” da cidade, a catedral de St. Patrick, na Quinta avenida. A primeira, escura e misteriosa, a outra, igreja-espetaculo, bem coisa da mentalidade show-business dos EUA. Apesar de antiga, a catedral é demasiado “nova” e impecável e não parece igreja de verdade,lugar de prece e introspecção como a ortodoxa anteriormente citada. Mais se assemelha a uma cópia que seria facilmente encontrada no Epcot Center.
Fake ou não, rezei e agradeci por estar de volta à cidade grande que mais amo no mundo, New York City. Até uma proxima, se Deus quiser!

domingo, 30 de janeiro de 2011

Fazer compras e viajar nos Estados Unidos é barato?

Hoje em dia está na moda fazer enxoval de bebê em Miami, comprar vestido de noiva em Nova York e besteiras semelhantes. Tudo sob o pretexto de que: vale à pena, os preços são ótimos, “tudo muito mais barato do que no Brasil”.
Sim, em tempos de cambio favoravel a quem ganha em reais as coisas sao mais baratas nos Eua mesmo. Tudo que os brasileiros gostam está muito em conta por lá e nossos impostos são e sempre foram exageradamente altos. Os hotéis americanos, dependendo do lugar, custam meros 120 reais a diaria. Coisa rara no Brasil...
Mas, comer bem nos EUA continua sendo mais caro do que aqui. A diferença já foi muito maior, lugares como Sao Paulo, Rio, ou mesmo a bucólica Gramado cobram preços astronômicos pelas mais singelas refeicoes. Estes preços altos são e continuam sendo os cobrados nos EUA. Bons restaurantes em Nova York cobram de 11 a 15 por taca de vinho argentino, ou prosecco de nivel medio. Uma conta para dois em restaurantes de medio luxo em Nova Orleans, Savannah ou Nova York, não saem por menos de 155 dolares o casal. Na querida Big Apple dos brasileiros, este valor salta para US$ 220. Tenho todos os recibos que comprovam isso, de minha viagem ao continente norte americano de dezembro de 2010 a janeiro de 2011.
Por mais que os ipads, iphones, computadores, mamadeiras, vestidos de festa e chupetas sejam baratos, o que dizer dos US$ 2800 que paguei em passagem de classe economica, pela AA em dezembro de 2010? E os 200 por dia do hotel-muquifo em Nova York? E os teatros que saem em media 130 dolares por cabeca? Ingresso no Kennedy Space Center a 80, subidinha rapida ao observatorio do Empire State Building por 50?
A dura realidade é que os brasileiros querem mesmo e viajar e se iludem com as “compras baratas”. Não há economia possível com os preços das passagens aéreas na lua, estadia em hoteis razoaveis, comida decente, entretenimento e as multiplas gorjetas que se tem que dar a todos e para tudo nos EUA.
A não ser que se vá em excursão do tipo CVC, nao se aproxime de qualquer cinema, teatro ou atração turística e faça refeições no Burger King ou McDonald’s. Daí vale mesmo a pena. Mas cuidado com a nossa alfandega. Eu, em 8 de janeiro adentrei a mesma em Guarulhos, com 3 gordas malas bem recheadas de porcarias americanas e a inspetora me perguntou quanto tempo eu tinha estado em terras do Tio Sam. Eu disse 3 semanas, a pura verdade.
E se eu disesse uma semana ou 10 dias, média da estadia de sacoleiros, excursionistas ou os iludidos pela suposta “pechincha” das “compras em Miami”? Imposto na tralha toda e aniquilação total de qualquer “economia” da viagem-armadilha!
Para dizer a verdade, a unica vez que realmente me surpreendi com o preço de algo nos EUA, foi na cadeia de restaurantes Red Lobster. Popular e feiosa, frequencia mais duvidosa ainda, no entanto oferece crustáceos deliciosos a preços mais do que camaradas. Jantar com lagosta otima e farta para dois, com vinho, entrada e serviço surpreendentemente amável saiu por 100 dolares.
Isto sim é que é pechincha, bom custo beneficio, o famoso “good value” do ingles americano. O resto é delírio idiota de brasileiros cretinos e mal informados. Ou dos tontos que precisam de justificativas ridículas para viajar...
GRAMADO NO VERÃO

Minha primeira vez na interessante cidade gaúcha foi num dezembro muito quente nos idos de 1995. Depois disso, só no inverno e outono, uma ou duas vezes na primavera. Gramado combina com verão? Totalmente.
Primeiro, suas principais atrações são ao ar livre e chove muito menos por lá no verão, ao contrario do torrencial e aborrecido verão no sudeste brasileiro. Os belos parques de Canela e São Francisco Xavier ficam muito mais divertidos com sol e calor. Caso das alegres trilhas do Parque Caracol e das cachoeiras bonitas do Parque das Cachoeiras, este muito indicado para os amantes dos banhos de rio. Que, contudo, perdem de longe para a sensacional trilha do Rio Caí no Parque da Ferradura. Ida e volta durissimas pelo paredao de um canion de 420 metros de altura; duas horas e meia de linda floresta, cachoeira de cinema e banhos de rio com agua morna. Imperdivel!
Claro, não dá para comer fondue e a cafonissima sopa no pão, para os que gostam do nefasto prato, mas os restaurantes da cidade e da região são tão criativos e diversificados que não se sente falta dos “tijolos” do inverno. Varias casas contam com espaços ao ar livre e com ar condicionado, coisa impensavel nos idos de 1995. Felizmente, isso mudou e a maioria dos bons hotéis também oferece piscinas e espaços para os dias quentes. Caso da Estalagem St. Hubertus, onde me hospedei na segunda quinzena de janeiro 2011. O hotel é ótimo, charmoso, bem decorado, serviço eficiente. A sala do café da manhã tem lareira, mas também tem terraço e a piscina coberta possui seu deck externo para banhos de sol. O hotel é boa alternativa para quem quer escapar, ou quase, dos pimpolhos em férias no mês de janeiro.
Infelizmente, Gramado não tem ainda os hotéis charmosos que não aceitem crianças, como ocorre em Visconde de Mauá ou na região serrana do Rio de Janeiro. Misteriosamente, os gaúchos toleram os chatos e barulhentos petizes por toda parte. Eu adoro o hotel Rita Hoppner, mas julho e janeiro nem chego perto. É o paraíso da petizada! O STF Hubertus, por não oferecer atrativos para os chatos-mirins, escapa parcialmente de tal sina. O mesmo vale para Varanda das Bromelias e La Hacienda. Os preços altos também espantam familias.
No campo gastronomico, ousei desta vez. Enfrentei a turma dos onibus da CVC e provei o strudel do Castelinho Caracol. A casa é bonita e interessante e a tal torta de maçã é divina. Não é strudel, é torta mesmo. Orignal e saborosa. A casa tem lojinhas interessantes e museu inclusos. Alem de lindos jardins. Recomendo que se vá logo cedo, maximo 9 30 da manha para escapar dos grupos medonhos.
Almocei no Tarantino’s, caro e agradavel. A comida é fraca e o polpetone não e digno do nome. A sobremesa estava correta e a carta de vinhos interessante. A casa é alternativa para os dias em Gramado que os principais restaurantes não oferecem almoço, por exemplo. Mas só. O custo-benefício é ruim. Otimo no Josephina, casa que tem cerca de um ano na cidade, na rua ao lado da igreja. A casa antiga é um charme, com musica descolada e decoração idem. Misto feliz de café e restaurante, aberta de terça a domingo o dia todo. Coisa rara na cidade. Crostinis bons, mas pão inadequado não me fez desanimar de pedir um prato ousado: tortei ao molho ragu de ossobuco e amendoas torradas, em lascas. Prato dificil que se revelou surpreendente e o pão caseiro que o acompanha é perfeito para “limpar” o prato do excelente molho. A sobremesa é a torta Josephina, de chocolate com pedacos de caramelo duro e crocante; o bombom gelado de chocolate pode ser escolha “menorzinha”. A carta de vinhos poderia oferecer melhoras opções em meias garrafas, mas dá para o gasto nas garrafas inteiras.
Espero que continue assim e nao “acomode” o cardápio ao gosto e bolso dos nojentos participantes dos grupos CVC que assolam a cidade. Isso, infelizmente, já aconteceu com vários bons restaurantes da cidade. Quem não vende sopa no pao ou sequencia de fondue, se adapta ou perece. Poucos sobrevivem á falta de gosto do turismo massificado da cidade. Viva os sobreviventes! Moscerino entre os poucos dignos de menção. El Fuego, excelente churrascaria, teve que “adaptar” o cardápio à breguice de grande parte dos turistas. Perdeu a classe, mas as carnes e acompanhamentos continuam muito bons e e de longe a melhor churrascaria da regiao. Querendo fugir do rodizio, claro. Invenção gaúcha das mais nefastas e por lá chamado mais cafonamente ainda de “espeto corrido”...
Fui até Nova Petrópolis conferir o que o Guia 4 Rodas chama de “a melhor refeição colonial do país”. Acertadamente. Mistura comida alemã e italiana, com toques brasileiros. Serviço perfeito e ambiente agradavel. O Colina Verde vale a visita, não há mesmo nada igual no Brasil.
No quesito tipico, o Cantina 28, em Canela é maravilhoso, no esplendor de suas polentas, recheios e molhos suculentos. As saladas mais frescas e originais que se pode imaginar, massas feitas na propria casa para acompanhar os molhos das polentas se o cliente não é fã das mesmas. Coisa que considero praticamente impossivel. Quem não gosta de purê de batata? Polenta é a versão italiana do dito. Melhorada. E como! Ela vem tambem no aperitivo, tipo “polenta chips” com queijo parmesao. De arrepiar de bom. Até a sobremesa, composta por doces brasileiros tipo “caseiros”, que não são o meu forte, me encantaram. O doce de figo é extraordinário e o sagu com creme de amendoas, um sonho. E logo eu que detestava sagu...
Minha temporada gastronomica “veraniega” terminou com uma visita ao Cucina del Bosco, em Canela. Pequeno e agradavel, otima comida italiana sofisticada. Carpaccio correto, penne com queijos e funghi e escalopes que se revelaram files altos e suculentos, um show. Panna cota adoravel para “fechar” a refeição.
Mas não é só no campo da culinaria que a serra Gaucha apresenta novidades. Viva e muito bem vinda a Ravanello, primeira vinicola de Gramado. Pequena e super moderna, o lugar e seus donos sao encantadores. Comprei um tinto e um branco e vou provar. Vamos ver o que dá enfrentar o frio, a umidade e a neblina constantes de Gramado. É coisa para gente de coragem!

domingo, 16 de janeiro de 2011

NEW ORLEANS, SAVANNAH E KEY WEST

TRES LUGARES QUE ESCAPARAM DA FALSA MORALIDADE RELIGIOSA DO SUL DOS EUA – encarnando o espírito livre, a paixão e a alegria de viver dos pioneiros do “sonho americano”

Dois lugares nos EUA para quem quiser se aventurar fora do eixo brazuca Orlando-Miami e Nova York; duas cidades portuárias, muita história, misticismo e música.
New Orleans, a maior, muitas vezes atingida por intensos furacões, o ultimo deles devastando quase 80% da cidade (o nefasto Katrina). Nem por isso seus habitantes se deixaram abater e as áreas de mais interesse para os turistas estão preservadas e reconstruídas. Por sorte, estão quase todas em regiões mais altas da cidade e não sofreram a devastação do resto. O bairro Frances, French Quarter, continua bonito e divertido e as belíssimas casas antigas do Garden District não perderam o charme e a imponência.
New Orleans é lugar para amantes do jazz, blues, country; cidade para quem se interessa pela história movimentada do sul dos EUA, da colonização francesa, das investidas espanholas. Para os amantes da gastronomia é um paraíso e a arquitetura, encantadora. Para os curiosos ou aficionados do candomblé e voodoo haitiano. E para os baladeiros, que encontram na louquíssima Bourbon Street um paraíso de festas, bares, boates e “inferninhos” oferecendo espetáculos pornográficos com fotos bastante explícitas nas fachadas. Não é local para crianças, principalmente à noite e o melhor mesmo é não levá-las a New Orleans; é “praia” de adultos, mais adulta ainda do que a “devassa” Las Vegas. Sim, porque esta ultima há muito tempo vem oferenco atrações pasteurizadas para famílias. New Orleans não; é uma cidade de verdade, nada de Disney, nada de castelos falsos ou torres Eiffel de mentira. Compras limitam-se a lindos antiquários e galerias de arte e para quem gosta, bonecas de voodoo para eventuais “despachos”; vem completas, com alfinetes e tudo! As ruas são um tanto esburacadas para padrões americanos, as calçadas ainda piores, barulho e movimento por toda parte. Há edifícios preservados como eram há mais de 200 anos, sem um mínimo de pintura para que realmente transmitam a idéia de lugar antigo, caso do restaurante Napoleon.
Conheço bem os EUA, país que visito regularmente há 44 anos. New Orleans é, ainda, um dos poucos destinos turísticos “não-pasteurizados” de lá. A comida é forte e apimentada (lembra a nossa baiana), a população negra é a mais simpática do Hemisfério Norte, a bagunça é bem vinda, sujeira e descontração por toda parte. Há mendigos e artistas de rua, o cais do porto é de certo modo embelezado para o benefício dos turistas, mas o aspecto industrial e comercial da área são bastante evidentes. Shows de jazz baratíssimos por toda parte, principalmente no bairro Faubourg Marigny. Mas não espere teatros, bares ou casas de show luxuosas. Tudo muito simples e sem conforto. O importante é a música, a alegria, a balada. Imperdíveis os espetáculos do Snug Harbor, a 15 dólares por cabeça e os de 5 dólares do agitado e baladeiro Spotted Cat. Show animados, intimistas, perfeitos no primeiro; Charmaine Nevile, cantora super famosa no país e internacionalmente, se apresenta no Snug Harbor todas as segunda feiras: quando não está em turnês mundiais.
Os chegados ao jazz mais tradicional não ficam desapontados e podem ouvi-lo nos bares chiques e bem comportados de hotéis bacanas como o Montenapoleone (este lugar conta até com bar giratório, um carroseel de verdade, daqueles de parquinho de diversão).
Passear de bonde pela cidade é muito divertido, principalmente porque não é coisa só para turistas, a população ainda usa os velhos veículos e as “figuras” dão uma boa amostra do mix eclético da região.
A comida francesa, claro, está por toda parte, mas a “creole”, invenção de New Orleans é a verdadeira estrela: ostras, gumbo e jambalaya. As ostras, não só cruas como as conhecemos, mas apresentadas nas mais loucas versões: assadas, fritas, empanadas e frequentemnet estrelas principais de bizarros e deliciosos sanduíches “poh-boys”. Dá para imaginar sanduíche de ostra? Uma delícia! Ostras grelhadas, banhadas em molho picante? Ótimas! Mesmo para quem não é muito fã destes crustáceos, vale provar pois as receitas são bastante diferentes. Em lugares simples e tradicionais como o Felix, há filas enormes para degustar tais invenções. O gumbo é uma sopa grossa parecida com moqueca baiana e o jambalaya está mais para cuscuz paulista e moqueca capixaba. As raízes negras de boa parte da população brilham na musica e na culinária. As francesas e espanholas, na arquitetura e numa espécie de dialeto local que mistura as duas linguas latinas.
Para quem quiser comer bem, sem grandes aventuras, os franceses e tradicionais Antoine’s e Galatoire’s são “seguros”. O magnífico Commander’s Palace, localizado no maravilhoso bairro residencial, Garden District e instalado em genuína mansão tipo “ E O Vento Levou”, encanta pela tradição do ambiente, pelo brunch dominical ao som do mais tradicional jazz de New Orleans e pelas receitas super diferentes de seu chef, que corre todos os riscos do mundo ao misturar frutos do mar com carne de vaca e sopas de tartaruga. As sobremesas são um terremoto para qualquer dieta e o bolo de morango, irresistível.Os amantes de frutos do mar vão adorar o G.W. Fins pela variedade do cardápio, o ambiente desolado e para lugar chique e romântico, o Stella! não tem rival. Os aventureiros devem ir ao Felix acima citado, ao Napoleon, ao Acme: baratos e genuinamente creole. Para uma experiência fashion de comida local super moderna o Cochon surpreende com sua ousadia em receitas que vão de ostras grelhadas a saladas de rúcula com orelhas de porco. Lotados, divertidos, barulhentos e um tanto sujos, dão a cor local a qualquer programa em New Orleans. Se bater a vontade irresistível de comer pratos italianos, o Tony’s, em subúrbio residencial da cidade, faz as honras. E nem precisa ir a estas casas aqui recomendadas, pois não há como comer mal na cidade; culinária é um ponto de honra para os nativos e é difícil errar.
Fuja dos passeios bem sem graça aos cemitérios e outros mostrando os restos da devastação do Katrina. Quase 6 anos depois, a cidade está bastante recuperada e tudo que o turista vê são algumas casas abandonadas. Dispense. Bem como evite os tediosos “cruzeiros” pelo Mississipi. Nada há o que ver nas regiões altamente industrializadas da cidade e o rio é bem feioso. Fique em terra firme e aproveite a festa constante que é New Orleans. Afinal, é o único Carnaval (Mardi Gras) que pode remotamente competir com o brasileiro. Isso já diz tudo...
Um dia lá voltaremos para o sensacional Festival de Jazz que acontece todos os anos entre abril e maio e reúne grandes nomes em parque bonito, a céu aberto.
Assim como voltaremos, espero, a uma das mais lindas cidades do mundo: Savannah, Geórgia. Cenário de filmes famosos como Forrest Gump e Midnight in the Garden of Good and Evil, um deleite de parques e praças, enormes carvalhos decorados por uma parasita curiosa da família das bromélias, chamada Spanish moss em inglês. Faz com que as gigantescas e centenárias árvores pareçam eternamente decoradas por pingentes delicados balançando ao vento, dando ao lugar um ar de mistério e encantamento.
Savannah é a criação do General Oglethorpe, um inglês que lá chegou nos idos de 1733 e decidiu criar no Novo Mundo, na América de Colombo, uma Londres revisitada. Como esta última, Savannah é beira-rio e o quarto porto mais importante dos Estados Unidos. Área muito bem preservada, mistura saudável de bairro turístico e porto concorrido. Mas com cara de coisa real, velhos armazéns renovados para lojas, bares e restaurantes, sem nada de forçado; respeitando parâmetros tradicionais, deixando os edifício que abrigaram importantes depósitos de algodão envelhecerem com dignidade, sem muitas intervenções modernosas e cafonas nas fachadas. Paralelepípedos e pedras cheias de musgo dão o tom e o resultado é um lugar alegre, animado, que a própria população de Savannah freqüenta, o famoso River Walk. Não foi deixado à mercê de ônibus de excursão e seus horrendos grupos. Pode-se comer bastante bem no Chart House, no Kessler e no Vic’s On the River sem ter a sensação de “armadilhas para forasteiros”. Trilogia BBB: bons, bonitos e (razoavelmente) baratos. Fazer um passeio de bondinho Old Trolley ou similares é uma boa maneira de se ter uma idéia do Historic Distric, a parte antiga e interessante que deslumbra os visitantes.
Esta “Londres” pequena e adorável, aconchegante mesmo, exibe uma arquitetura semelhante à capital inglesa, misturada a verões muito quentes, música, história de fantasmas e assombrações e vegetação lindíssima. Suas ruas fáceis e agradáveis de caminhar, oferecem ótimos museus, igrejas protestantes das mais bonitas que já conheci e visitas incríveis às mansões dos séculos 18 e 19, cuidadosamente restauradas. Cada uma delas e seu mobiliário, conta uma parte da história dos EUA, um olhar sulista; relaxado e gentil em sua maneira muito charmosa de ser. E nada ou ninguém narram tal história como o filme de Clint Eastwood, Midnight in The Garden of Good and Evil.
É absolutamente necessário ver o filme antes, durante ou depois de uma visita à Savannah. O filme É a cidade. Sua encarnação mais perfeita, seus mistérios nunca resolvidos, o misticismo de conversas embaladas por martinis nos bizarros cemitérios da cidade. Clint Eastwood é um gênio e um gênio extremamente sensível ao captar a magia e o que faz Savannah tão especial, o mix super bem sucedido de natureza, história, arquitetura, superstição, porto e cultura. Lugar imperdível.
Lá voltarei para também conferir a culinária da região, que não tivemos tempo de realmente apreciar. A famosa chef Paula Deen lá brilha com The Lady and Sons. Não é coisa para gente fresca: muita fritura e comida pesada, deliciosa, segundo os simpáticos e falantes moradores desta que é considerada uma das 10 mais importantes Cidades Históricas dos EUA.
Em terceiro lugar, em ordem de importância e tamanho ( mas não no meu coração. Minha favorita é Savannah) vem Key West, na Florida. Lugar curioso, pois o trajeto de carro, de Miami até lá, é ainda mais interessante do que a pequena cidade em si. Lugar também importante em matéria de história e geografia, capital gay dos EUA (disputa tal honraria com São Francisco) e um dos lugares favoritos do grande escritor americano, Ernest Hemingway.
É o ponto mais ao sul dos EUA, o Chuí americano. Uma ilhota em meio a um mar muito azul e casinhas de madeira. Paraíso de pescadores e amantes da natureza; tranqüila fora da temporada, fervendo na dita cuja. E isso é uma das coisas que não gosto em Key West: hordas de turistas bêbados, feios e gordos, enchendo a cara noite e dia nos bares cafonas da cidade. Também não gosto do excesso de tinta que descaracterizou as casas de pescadores e boêmios de outros tempos. Faz lembrar a cidade mais antiga dos Estados Unidos, Saint Augustine, também na Flórida. Se você não souber que está em local de tal idade, nunca desconfiará. É uma cópia das “cidades” fajutas do Epcot Center. E, infelizmente, Key West sofre tal influencia. Menos, mas não se tem a sensação gostosa de lugares “de verdade” que se experimenta em New Orleans e Savannah.
Mesmo assim, vá à Key West pelo trajeto espetacular da estrada e múltiplas pontes engenhosamente construídas sobre o mar e pelo por do sol indescritivelmente fabuloso. Visto do restaurante Bistro, no hotel Westin. Sem a gente pavorosa, sem os cachaceiros. Só com bom vinho, fajitas de lagosta, boa música, shows de rua dos mais divertidos e loucos, bom serviço. Afinal, se está quase em Cuba; dizem, visível de Key West em dias muito claros. Sem o Fidel chato e a tristeza do povo cubano; com a infra poderosa dos norte americanos e muito conforto. Cheers!

Para Gisela, minha irmã de Miami.

São Paulo, 15 de janeiro de 2011.