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domingo, 25 de dezembro de 2022

Curitiba e interior do Paraná - novembro e dezembro 2022

CURITIBA SHOW E RESORT PÉSSIMO NO PARANÁ Meus dias em Curitiba em novembro\dezembro de 2022 foram deliciosos. Temperaturas amenas, pouca chuva, muitas caminhadas pela cidade limpa e organizada, muito cinema e teatro também, com direito a mega espetáculo da rockeira veterana, Bonnie White e uma versão curiosa do balé Quebra Nozes, na Ópera de Arame. Esta última, um dos pontos turísticos da cidade e cartão postal eterno de Curitiba, que já havia visitado, mas onde nunca tinha assistido nada. Valeu a experiencia, mas fica aqui meus dois avisos para quem quiser assistir algo por lá: leve agasalho, pois a Ópera de Arame não possui qualquer isolamento térmico, Curitiba é 10 meses por ano fria e a Ópera fica numa pedreira com lago, muita mata em volta, bastante humidade. Outra dica é lembra-se de que o lugar é longe e tem trânsito. Ubers e táxis buscam pessoas lá, mas demoram mais, pois é fora de mão. Manu Buffara continua sendo a melhor chef do Brasil e seu restaurante é impecável; assim como impecável é o K.asa, onde jantei pela primeira vez e amei. Comida, serviço, preço, ambiente, tudo nota 10. Nomade segue bem bom, idem para Durski, Terra Madre e Madero Prime. Os doces da Passion du Chocolat são e continuam divinos e o Pateo Batel, o melhor e mais agradável shopping do Brasil. Por isso amo Curitiba: parques, muito verde, limpeza, organização, eficiência dos serviços, o cinema mais fofo do país, o cine Passeio, restaurantes top e qualidade de vida raras aqui por terras tupiniquins. E foi neste espírito, nesta “vibe”, que me arrisquei pelo interior do Paraná, para ficar quatro caras e infelizes noites no Virá Charme Resort. O lugar é bonito, mas comida e serviço péssimos, caríssimo, nada funciona nos chalés aparentemente luxuosos, beira lago; um mico. Há duas horas de Curitiba, por estrada mortalmente perigosa, a visita foi um grande fracasso. Mais detalhes nos meus comentários no Trip Advisor sobre esta armadilha paranaense. Mas viajar é isso, nem sempre acertamos. Neste 2022 que finda viajei por mais de onze países, em continentes diversos, a maior parte adoráveis, mas Iran e Virá “sem-charme” resort falharam. Contudo, não desisto e vou continuar tentando. Que venha 2023, a Islândia gelada, Eslovênia idem, Viena com ópera, minha suave Suíça e os chocolates inesquecíveis, Malta, Buenos Aires no inverno e quem sabe, para coroar o segundo semestre, o Santo Gral viageiro: o Japão. São Paulo, 25 de dezembro de 2022.

sábado, 24 de dezembro de 2022

FINAL DA COPA EM BUENOS AIRES- DEZEMBRO 2022

FINAL DA COPA DO MUNDO EM BUENOS AIRES – DEZEMBRO 2022 Neste ano abençoado que se finda, um ano para mim pelo menos, de muito amor, paciência, força, criatividade e viagens aos quatro cantos do mundo; foi nesta penúltima viagem internacional que encontrei uma alegria vibrante e uma conexão intensa com nossos vizinhos argentinos, os supostos “Hermanos”. Deveriam ser, pois temos muito em comum com eles, como já dizia nosso sábio presidente, Fernando Henrique Cardoso. Estive na Argentina este ano, três vezes: junho, agosto e dezembro. Experiencias diferentes de inverno e verão, com Copa e sem ela. Diferentes hotéis, novos restaurantes, parques, caminhadas, olhares, percepções. Sempre Buenos Aires, ando com preguiça de me aventurar país afora, pois a atual estrutura aérea do país é precária e o Aeroparque continua bem ruinzinho. Apesar disso, foi ali que assisti à final da Copa que merecidamente foi ganha pelo time que tanto lutou por ela. Estar lá e ver três jogos seguidos, vibração das ruas, bares, gente alegre num país falido e problemático, tendo momentos de alívio do peronismo inclemente que tanto os atormenta há mais de 70 anos. O curioso, é que ao contrário daqui o comércio, principalmente shoppings, não fecha durante os jogos da Argentina. Fui ao cinema no segundo tempo da semifinal, na maior tranquilidade. Um privilégio, vivenciar tais diferenças culturais. Alegria, sem parar de trabalhar. Desta vez me hospedei num apart-hotel bom e barato em Palermo e adorei. É na verdade a “fronteira” com a Recoleta, bem mais residencial e sem turistas, fora do circuito óbvio do city tour. Lá prestigiei e me deliciei com a carne maravilhosa do El Estrebe, com os sorvetes celestiais do RapaNui, com as minis lojinhas de brinquedos, papelarias antiguinhas, com o Cine Cosmos e seus filmes de arte (parte do complexo gigante que forma a Universidade de Buenos Aires), com as quase igualmente deliciosas carnes do Aires Criollos, que apesar de localizado na Santa Fé com Callao, não tem quase turistas. Turistas vão no Don Julio, onde consegui reserva com dois meses de antecedência. As 11:30 da manhã do dia da semifinal, lotado. Sempre perfeito. As decepções foram o restaurante do elegante hotel Sofitel, que apesar de lindo apresenta comida fraca e servida quase fria, sem sal. O La Cabrera do Mercado de los Carruajes é regular e caro. Lá vi o Brasil perder para a Croácia, o que não ajudou. Mas o Mercado vale a visita e lá voltei para comprar muitas maravilhas na loja Cachafaz. Este lugar, foi estacionamento de carruagens nos tempos em que tais veículos existiam e agora, totalmente reformado, é um mix de lojas de comida, restaurantes e sorveterias. Pequeno, chique, bem decorado e iluminado, perto de Puerto Madero. No próprio, voltei como sempre ao museu Fortabat e ao Croque Madame, que além dos ótimos sanduíches e saladas, tem massas espetaculares. No quesito sobremesas, priorizei sorvetes e visitei: Freddo, Persicco, RapaNui, Cadore, Scannapieco; as duas últimas minúsculas, na Corrientes, os melhores sorvetes do mundo. Dulce de leche o Persicco é campeão e frutos vermelhos o RapaNui, que é aquela chocolateria maravilhosa e antiga de Bariloche, eleva os sorvetes de frutas patagônicas a um patamar bem alto. Lima Nikkei continua bom e barato, apesar de decoração e serviço um tanto caídos. Pizza Cero e Zum Edelweiss, bombando nos itens fugazzetta, mas é no Don Julio que se come a melhor empanada do planeta, justamente a de fugazzetta. Comida, restaurantes, vinhos, brinquedos, taxis, hotéis, teatro, música, museus, tudo bem barato. Roupas e acessórios continuam sem preços competitivos, apesar de lindos e de ótima qualidade. Viva as vacas argentinas cujo couro, carne e leite tornam tudo uma festa! E viva o teatro argentino, com uma monumental apresentação do balé natalino O Quebra Nozes, na versão do bailarino inesquecível, Rudolf Nureyev. Não sabia que era também coreógrafo. O nível técnico é espetacular, e como sempre, as produções do Colón são de embasbacar. Muitos shows de música, até drag queen em bar gay fui ver. Novidade para mim também as majestosas produções do Teatro San Martin e sua mega versão da peça de Garcia Lorca, Bodas de Sangue. O balé moderno e violento, La Era del Cuero, é uma coisa chocante e fabulosa, uma dança local chamada malambo, mistura folclórica e contemporânea. O coreógrafo Paulo Rotemberg e seus oito bailarinos excepcionais, 6 homens e 2 mulheres, seminus, apresentam um espetáculo estonteante. Até rock argentino fui ver, de graça, no CCK, um coroa descolado e famoso chamado Litto Nebbia; plateia em transe, bem divertido. Na bela igreja da Plaza Guemes, em Palermo, perto do Don Julio, visitei pela primeira vez a bela e imponente Basílica do Espírito Santo. Rezei pela Argentina, por nós e pela Ucrânia. Feliz Natal! São Paulo, 24 de dezembro de 2022

segunda-feira, 7 de novembro de 2022

SANTO ANDRÉ E ARRAIAL- BAHIA OUTUBRO 2022

SANTO ANDRÉ E ARRAIAL – BAHIA 2022 Vou, há 20 anos, todos os anos ao Sul da Bahia, região que adoro, praias nordestinas de acesso caro, porém fácil aos estados do sudeste brasileiro. Há muito escrevo sobre a região e minhas experiencias por lá e meus leitores sabem o quanto adoro este paraíso baiano. Desta vez não fomos a Trancoso, mas jantamos uma noite em Arraial D’Ajuda. Continua pitoresca, limpa, alegre e com mais opções gastronômicas. Está também mais próspera e movimentada, o que nos alegrou; já vimos o vilarejo bem vazio e caído. Há quatro novos restaurantes na Praça da Matriz e optamos pelo bom e caro Ro.Za, que substituiu o Egadi. Comida de autor, chef carioca que tenta apurar os paladares locais e turistas a uma comida fina e chique. Se vai conseguir, não sei. Afinal, nestes 20 anos, o único restaurante de qualidade imutável que sobreviveu, foi a excelente casa da Pousada Pitinga, o Cauim. O resto vai e volta e os mais simples da rua principal são os mais estáveis. No Ro.za os risotos de camarão, croquetes de costela desfiada, carpaccio de polvo e a casquinha de siri, foram pratos que nos deliciaram. Vale os preços salgados. No entanto, nos cobraram R$100,00 de rolha por um vinho que trouxemos, um absurdo de caro para a região. Além dos novos estabelecimentos na praça da linda igreja de Arraial, há dois com bom aspecto na bela ruazinha a direita da igreja. Voltaremos no próximo ano para conferir. Se os ditos sobreviverem! Nos hospedamos em Santo André, por 12 noites, praia que continua calma e linda e que agora, milagrosamente, pós-pandemia, conta com dois ótimos restaurantes e um asiático razoável, além do constante e bom Victor Hugo. O João de Tiba é um novo espaço beira-rio, comandado por Miki, antiga chefe da Pousada do Corsário e o restaurante Floridita. No João de Tiba ela gerencia a cozinha e uma equipe bastante profissional. Comida maravilhosa a preços justos. Além de alguns pratos do Floridita, os pastéis de polvo, caranguejo, camarão e lagosta são fantásticos. Para quem gosta de comida japonesa, o Esai não faz feio, mas não gostamos do ambiente descuidado e vazio. O ceviche insosso e com muito limão também não ajudou. Pena, pois costumava ser um charme como restaurante italiano de um finado chef lá instalado há anos. Os novos donos sequer pintaram a casa, a aparência de descaso não anima. A maravilhosa surpresa foi mesmo o minúsculo Luz de Minas e sua cozinha deliciosa que mistura acepipes mineiros aos baianos e o resultado não pode ser melhor. Siri na casca de queijo da Serra da Canastra, chutney de rapadura, brigadeiro de paçoca, de chocolate 70%, ao leite, uma festa. Polvo grelhado, palmito em rodelas gigantes e suculentas, camarão rosa, tudo muito bem-preparado e apresentado. Compramos também cachaças com as quais fazem das melhores caipirinhas que já tomei e o tal chutney de rapadura, perfeita combinação para quem gosta de sabores agridoces. Tomara que Renata continue por lá, comandando este lugar, pequeno, agradável e simples, melhorando a oferta gastronômica de Santo André, palco de grandes e finados chefs como meu querido Stefano Berra. São Paulo, 07 de novembro de 2022.

domingo, 16 de outubro de 2022

AZERBAIJÃO, GEORGIA, ARMENIA E CATAR - SETEMBRO E OUTURBRO 2022

QUATRO PAÍSES EM TRES SEMANAS – SETEMBRO 2022 AZERBAIJÃO, GEORGIA, ARMENIA E CATAR Quando já se conhece quase o mundo inteiro, o que há mais a explorar neste nosso lindo e sofrido planeta? Existe sim, muito que ver e é só uma questão de querer e ousar, pois os países acima citados são bastante distantes do nosso Brasil. São, contudo, superinteressantes e valem os voos longos e cansativos. Os três primeiros estão localizados ao sul da cadeia de montanhas do Cáucaso, fazendo uma fronteira natural com a Rússia. O Catar, não tão longe dali, é um pedacinho da Arábia Saudita, pertinho dos Emirados Árabes. Nossa primeira parada foi Baku, capital do Azerbaijão e famoso circuito de rua da Fórmula Um. Quase nada sabíamos do lugar e a surpresa ótima foi total. Uma capital grande, moderna, com um centro histórico pequeno, murado, bonito e protegido como patrimônio histórico pela Unesco. Algumas avenidas largas, bem parecidas com os belos bulevares de Paris, com as mesmas árvores, mesmo estilo arquitetônico e até as mesmas placas francesas com os nomes das ruas. A cidade tem arquitetura moderna impressionante, torres maravilhosas, hotéis deslumbrantes e um centro cultural projetado pela finada arquiteta Zaha Haddid, que é uma das maravilhas da arquitetura moderna mais impressionantes que já vi. Parece um enorme fantasma branco pairando de uma colina sobre a cidade. Baku tem uma orla marítima com uma estranha e curiosa mistura de praia e poços de petróleo. Afinal, Baku está estrategicamente localizada no Mar Cáspio, um dos grandes produtores de petróleo mundiais. E o país é rico por isso. E só isso. O resto é um semiárido quase improdutivo e vários itens são importados da Rússia, Geórgia ou Turquia. O Azerbaijão é um país muçulmano “light”, onde a maior parte das mulheres não cobre a cabeça e a frequência as mesquitas é menos concorrida. A única que visitei, muito bonita e pequena, foi o único templo islâmico em que vi homens e mulheres rezando juntos. Bastante hospitaleiros, nos deixaram rezar com eles, admirar o divino teto de espelhos no estilo persa e nos deram até uns doces; umas senhoras que fazem isso em certas épocas do ano para pagarem promessas. No quesito museus, o dos tapetes, o Carpet Museum, além de ser espetacular por ter sido projetado em formato único de carpete enrolado, é muito superior a similares na região, como o famoso museu dedicado ao tapete persa, na capital iraniana. É aí que o dinheiro de tanto petróleo é bem usado, expondo de maneira espaçosa e correta as riquezas históricas do país. Não sobrou muito do Palácio dos Shirvanshas, mas o que se pode visitar está bem explicado e conservado, bem como a Torre da Donzela e a vista bela do porto que se descortina ali. Tudo o que o campo arquitetônico de Baku é legal, sua história fascinante e arredores diferentes, a cidade deixa a desejar no setor gastronômico. Para quem não é grande fã de ”comida árabe”, como eu, tudo pode ser um tanto repetitivo e limitado. Tentamos até um restaurante chique de hotel boutique, mas a coisa não se afasta muito da carne de carneiro, do molho de romã e do arroz branco insosso. Nada de sobremesas interessantes e só num café modernoso no centro histórico consegui provar um cheesecake digno do nome. Os vinhos locais não são dignos de menção, mas se a vontade for grande, o Hillside, é bebível. Mas se o viajante começa pelo Azerbaijão e vai a Georgia, percurso bem fácil e rápido de avião, vai se esquecer rapidinho da falta de apelo da cozinha local, pois os alimentos georgianos são muito apetitosos e únicos, o mesmo valendo pelos vinhos, que lá fazem há mais de 6 mil anos. Destaque absoluto para a uva Saperavi e seu after taste de nozes. A Georgia é totalmente diferente do Azerbaijão, apesar da proximidade geográfica. É muito verde, montanhosa, russa, cristã, hippie, alternativa, charmosa. A capital Tbilisi é um mix europeu-hippie-orgânico-alternativo-artístico, absolutamente original e único em minha longa e extensa experiencia viageira. Foi, de longe a capital dos 4 países da qual mais gostei, com a que mais me identifiquei. Talvez pelo traçado irregular, o verde, o rio, as igrejas, a descontração, as casinhas coloridas com singelos terraços decorados, a intensa vida cultural. E a comida, claro. Museus de Belas Artes, o de Arte Moderna, Museu Nacional de História, Teatro de Ópera, todos na mesma bonita e larga avenida, convenientemente, localizados ao lado de nosso excelente hotel, o Biltmore. Penso, do alto de minha grande experiencia em alojamentos temporários, que localização é absolutamente vital. Faz uma enorme diferença no sucesso de uma viagem, principalmente quando se fica pouco tempo nos lugares. Sempre pesquiso hotéis e Airbnbs focando nisso. Perto de museus, teatros, parques, estações de trem, lugares interessantes e convenientes para mim. Pontos altamente positivos para a agência Freeway, de São Paulo, que organizou nossa viagem aos três países do Cáucaso. Hotéis de primeira, pontos estratégicos e restaurantes acima da média do horrível “padrão-excursão”. Na Geórgia encontramos a melhor comida e os melhores restaurantes. Destaque total para o Barbarestan, considerado o melhor clássico-moderno do país. Localizado em simpático bairro boêmio de Tbilisi, numa casa antiga e bem charmosa, a equipe reinterpreta receitas centenárias em versões modernas e deliciosas. Ali comi os croquetes melhores da minha vida, bem como uma exótica versão georgiana do tiramissu, com queijo cremoso defumado e um prato de salmon com noodles, negros, uma coisa maravilhosa. Tudo regado a Saperavi, minha uva do coração. Tanto Azerbaijão como Geórgia são países baratos, pode-se fazer boas compras de praticamente tudo e os custos estão mais para Argentina em tempos recessivos, do que para Brasil em boa maré econômica. O mesmo já não se pode dizer na Armenia, péssimo custo-benefício. Entretanto, e sempre há um porém, a Armenia é o país que dos 4 visitados apresenta mais atrações históricas de interesso e peso. Portanto, apesar dos preços salgados e comida fraca, vinhos sem personalidade e clima triste de país inviável, a visita merece a respeitabilidade histórica que comanda. O interior da Georgia é decepcionante, o verde é um tanto seco, as vinícolas não oferecem boa estrutura aos visitantes e apesar da bela localização de alguns monastérios e igrejas, os ditos, por dentro, deixam a desejar. As estradas são ruins e lotadas de caminhões, é muito custoso ir de um lugar a outro, as fazendas são feias e pobres. O que vale mesmo a pena no país é Tbilisi, inesquecível. O resto é só ir, para dizer que foi. Fuja de Borjomi, uma Campos de Jordão pra lá de mixuruca e gaste suas fichas visitando Gori e o Museu Stalin, superinteressante. Nossa última parada no Cáucaso, foi a pequena e sofrida Armenia; com sua história milenar, suas igrejas e monastérios limpos, cheios, de charme, bem preservados, atmosféricos. Com o lindo e nevado Monte Ararat, com as histórias da Arca de Noé, com a tristeza e honestidade do Museu do Genocídio, com o peso dos terríveis e violentos vizinhos, Turquia e Rússia. E também com o encanto limitado de Yerevan, moderna e agitada. Bons museus de arte moderna por lá, interessantes monumentos soviéticos, muito que ver e uma sala de concertos das mais fáceis e inclusivas, onde assistimos dois balés lindos. Restaurantes modernos e antigos, a tradição gastronômica data mesmo dos tempos bíblicos, mas os resultados são fracos para o meu gosto; é comida turca, da qual eu não gosto. Para quem é fã das especialidades ditas “árabes” no Brasil, na realidade a comida de países do Oriente Médio e Ásia Menor, Azerbaijão, Catar e Armenia são boas pedidas. Eu fico com a Geórgia e sua orinalidade, qualidade e frescor de ingredientes, onde as influências mediterrâneas, europeias e russas brilham. Nossa última parada, o Catar, foi validada por aproveitarmos o destino final do voo, mas a época do ano e o evento Copa do Mundo prejudicou nossa experiencia que poderia ter sido bem melhor. Prejudicou o calor ainda desagradável do início de outubro e fato de que o belíssimo Museu Islâmico e a Galeria de Arte Contemporânea, ao lado, estavam fechados. Já, o Museu Nacional do Catar valeu a viagem, o calor, tudo. A arquitetura fantástica de Jean Nouvel, que eu já tinha me deliciado com similar no Louvre em Abu Dhabi, não muito longe dali, estonteou e surpreendeu de novo. O museu é um show a parte, o acervo lindo, a curadoria estupenda e pode-se passar horas ali, apreciando tudo com bastante calma e sem multidões. Além das delícias do Café, das lojas, dos jardins e do magnífico Jiwan, restaurante que o papa da gastronomia francesa, meu amado Alain Ducasse, ali plantou. Reinterpretação impecável dos pratos locais tradicionais, fazendo tudo bonito e palatável a paladares ocidentais. Infelizmente, por causa das restritivas leis locais, nada de álcool. Nada de vinho. Pena, mas Monsiuer Ducasse consegue parear sucos e chás com as maravilhas dos pratos. Imperdível. Estádios da Copa e o complexo de entretenimento e compras, o Katara Village, completaram nossa limitada experiencia em Doha, cidade moderna que quer muito ser Dubai, até agora sem sucesso. Sua arquitetura é bonita e ousada, poderosa infraestrutura, mercado bonito no Souq Waqif, única oportunidade de realmente ver os poucos cataris nativos que vivem no país e suas formas de vestir e agir bem diferentes da falta de limites das vestimentas brasileiras, por exemplo. Nosso hotel, o Tivoli, ótimo custo-benefício era dentro do Souq e facilitou bem a experiencia. O Parisa, restaurante iraniano, encravado na rua central do Souq, completou nossa experiencia gastronômica. A quais dos 4 países voltaria alegremente e sem pensar? Voltaria a Georgia, só Tbilisi e voltaria a Doha para conferirar o Museu Islâmico, a joia do finado I.M. Pei. E que venham mais viagens e destinos interessantes! São Paulo, 16 de outubro de 2022.

sábado, 13 de agosto de 2022

INVERNO EM BUENOS AIRES - PARTE 2

INVERNO EM BUENOS AIRES – PARTE 2 Mais frio e vento, mas dias ensolarados no começo de agosto, nada de chuva visto que a Argentina passa por uma de suas secas ocasionais. Bom para os turistas, pois caminhar por Buenos Aires é muito gostoso. Desta vez me hospedei no hotel Palácio Paz, parte da mansão histórica que enfeita a já bela Plaza San Martín. A localização é ótima e silenciosa, lobby um charme, bem movimentado e o restaurante/café é super concorrido, pois é bom e barato. É um hotel onde os argentinos se hospedam, poucos estrangeiros por lá. Preços razoáveis e quartos decentes. Museu, desta vez, só o Bellas Artes que tem sempre algo interessante e meu foco, como sempre, é o teatro, música e dança. Vi também uma mostra bem sem graça na embaixada brasileira, na qual entrei pela primeira vez. Sobre Lygia Clark e Lina Bo Bardi, nomes de peso, mas a pequena exposição deixa a desejar... Espetáculos, como sempre, de primeira: ópera O Elixir do Amor, concerto da Sinfônica de Buenos Aires no meu amado Colón, musical maravilhoso sobre a vida de Edith Piaf no charmoso Teatro Liceo, a casa de espetáculos, privada, mais antiga da América Latina. A atriz Elena Roger ganha prêmios na Europa e EUA constantemente e é superior a Marion Cotillard, que retratou a torturada cantora francesa num filme de peso. Elena canta e interpreta a nível de Meryl Streep e Maria Callas, impressionante. Encontrei jazz bom e barato no Teatro Picadero, em seu bar/restaurante, só gente local, nada de turistas. As empanadas e o vinho, bem bons e incrivelmente baratos. Sempre as terças feiras as nove da noite. Fiz algumas compras interessantes no setor bolsa/sapato, pontos fortes do comércio portenho. Preços do Brasil. Compras boas custam e não se incluem nos tempos módicos para brasileiros, como os dos últimos anos na Argentina. Comida, táxi, hospedagem e entretenimento nos fazem sentir ricos no país vizinhos, mas malas cheias só gastando a nível Real/Dólar e Euro. Não sou de outlets, pode ser que ali os preços sejam atraentes. No comércio a nível de avenida Santa Fé para cima, o cenário está mais para internacional do que local. Idem para as lojas de moda modernosa e bonita de Palermo. O ponto alto desta estadia foi, na certa, os restaurantes. Ando me aventurando por modernidades como Martí, Molusca Bar e Mercado de Liniers, sempre voltando aos divinos Pizza Cero e ao clássico Zum Edelweiss. Martí é impressionante, cozinha totalmente aberta no meio do restaurante que é um espaço moderno e bem decorado dentro de uma loja de roupas. Sua proposta é vegetariana e o resultado é ótimo. Ao lado do Lima Nikkei, na Recoleta, os dois lugares dão uma quebrada bem-vinda ao trio carne-empanada-panqueca de dulce de leche. Me arrisquei com frutos do mar no Molusca, perto do MALBA, adorei. Também moderno, menu de almoço surpreendentemente barato para um lugar sofisticado e descolado como esse. Do mesmo dono, restaurante de autor, bem gourmet, o Mercado de Liniers em Palermo Hollywood. Inesquecível nos seus pratos e combinações perfeitas e exóticas. São bastante generosos nos vinhos e o resultado é uma refeição prazerosa, tranquila, contemporânea, muito diferente. Voltaria aos três, mas o Mercado de Liniers é na certa, desde já um clássico e um dos meus favoritos em Buenos Aires. Lista que inclui todos acima citados, mais Don Julio, Piegari, La Cabaña, El Mirasol, Croque Madame e El Preferido de Palermo. A Argentina, para meu gosto e em minha opinião, tem a comida melhor do mundo. E isto sendo que sou uma gourmet contumaz, foodie confessa e pessoa de grande sorte por viajar o mundo há 66 anos bem vividos, provando do bom e do melhor. Viva a boa mesa que faz de qualquer viagem, um prazer ainda maior na aventura dos acepipes inauditos! São Paulo, 13 de agosto de 2022.

terça-feira, 19 de julho de 2022

SUÍÇA E LICHTENSTEIN - VERÃO FUMEGANTE EM JULHO DE 2022

SUÍÇA E LICHTENSTEIN VERÃO TÓRRIDO EUROPEU – JULHO 2022 Neste verão de temperaturas infernais, mas muito sol, céu azulíssimo sem nuvens e chuva, alegria, confusão, baladas e malas perdidas, os dois países do título deste artigo oferecem refúgio das temperaturas extremas, da multidão infernal e das preocupações com incêndios devastadores. Com temperaturas mais amenas e a proteção imponente dos Alpes, a Suíça é uma delícia cara e sofisticada, começando por Genève, onde passei um dia delicioso de ópera, caminhadas, bons drinques no hotel Four Seasons e um almoço modernoso e agradável no chiquérrimo hotel The Woodward, que abriga a nova e póstuma casa de Joel Robüchon (que só abre para jantar). O Le Jardinier, no terraço com vista premium do lago e montanhas, é um vegetariano sofisticado, com belas opções de pratos que mugem ou cacarejam também. Outro dia em Basel, escapando do calor na Fondation Beyeler e viajando com Mondrian nesta espetacular e exclusiva mostra. No Kunsthalle e Kunstmuseum, mais cultura e opções importantes, a da primeira instituição, resenhada pela The Economist, coisa rara e valiosa. Cinema no Kult Kino, que além de ser um dos cinemas mais confortáveis e agradáveis do mundo, abriga um café com sandubas maravilhosos e muita champanhe. Tudo pode ser levado e desgustado nas várias salas de espetáculos. Com ar condicionado e sem multidões. No dia de Lucerna, a fantástica mostra de David Hockney no KKL, um espaço multicultural beira-lago, onde o lago entra em partes do edifício e o telhado negro espelha tudo em efeito mágico. Ali mesmo, o restaurante Lucide, muito bem avaliado pelos guias Michelin e Gault Millau. Vista surreal de lago e montanhas, ainda mais bonita que a de Genève, se é que isto é possível. Vai de gosto. Como no verão, as sobremesas suíças são levinhas demais para meu gosto chocólatra, me dirigi à nova loja do Max Chocolatier e me dei ao luxo de pagar 240 reais por 16 pequenos bombons, que, na certa, são os mesmos que se comem no Paraíso. Um fim de semana mais fresco em Bad Ragaz, que abriga um dos hotéis mais luxuosos do mundo, o Quellenhof. Campo de golfe e SPA enorme, suas águas termais e parques muito verdes, árvores centenárias e montanhas escarpadas, são um belo par para a cidadezinha linda e divertida, onde há ótimas opções de bares de tapas, restaurantes típicos, confeitarias e uma caminhada radical para queimar tantas calorias, nove quilômetros ida e volta até a fonte de águas termais que movem o SPA público e o do hotel de luxo. Mais uns nove quilômetros até o vilarejo antigo e adorável de Maienfeld e suas minúsculas vinícolas. A Salenegg é digna da visita e o restaurante Alter Torkel é um show de comida moderna, vinhos brancos do outro mundo, vistas adoráveis e preços mais módicos. Serviço entre os melhores do país. Relax, gastronomia e exercício são os pontos fortes da região de Bad Ragaz. E se der tempo e houver “espaço” digestível, não perder a torta de morango da única e escondida padaria de Maienfeld. É um sonho de mousse e fruta geladinhas adornando um bolo fofinho... Na outra semana, um dia em Lenzburg, para visitar o belo castelo, enfrentar a caminhada até o topo e admirar o estado de perfeita conservação desta antiga fortaleza dos idos de 1300. Após o esforço, um almoço top no Rosmarin e o cardápio verão com sopa de tomate fria, risoto com morangos e sobremesa de damasco. Na volta a Zurich, vindos de Bad Ragaz, paramos na capital do Lichtenstein, um dos menores países do mundo. Vaduz é minúscula, repleta de bancos, tem dois museus de arte moderna interessantes, belas igrejas, mas não muito mais. Em quatro horas preguiçosas, com almoço, já vimos o principal deste paiseco bilionário, regido com mão de ferro por um príncipe controverso e misterioso. Zurich, 19 de julho de 2022

quarta-feira, 6 de julho de 2022

INVERNO EM BUENOS AIRES - JUNHO 2022 - PARTE UM

BUENOS AIRES NO INVERNO – 2022 PARTE UM Tento sempre evitar o inverno na cidade, pois como ela é perfeita para longas e prazerosas caminhadas, para curtir os muitos parques verdes e floridos, penso que o frio, o vento e a chuva do meio de maio até meio de setembro prejudicam muito a experiência. No entanto, lá fui parar no começo de junho deste ano e frio ou não, aproveitei muito esta cidade que amo. E fazia bastante frio, apesar do sol constante e da absoluta ausência de chuva. O vento congela tudo e é onipresente nesta época do ano. Por isso justifiquei a comilança como escudo no combate ao frio e provei pela primeira vez um típico prato argentino, na certa herança italiana que nunca vi na Itália por sinal, a famosa fugazzetta. É uma espécie de pizza com MUITO queijo e muita cebola, na receita clássica. Experimentei tal maravilha no Pizza Cero, restaurante alegre, movimentado e agradável na Avenida Del Libertador, perto do Museu de Artes Decorativas. Ambientes internos e externos confortáveis e bem servidos. No restaurante clássico Edelweiss, a fugazzetta se junta a impecável carne argentina e vem fumegando por cima de um bife a milanesa perfeito. Mais que perfeitos continuam também o célebre Don Julio e seu primo pobre, El Preferido de Palermo, bem como o Elena e o Lima Nikkei. Agora com a grande vantagem de ser possível fazer reserva online para as primeiras duas casas e não é mais necessário fazer filas enormes e primitivas na calçada. Preços altos para o triste cenário econômico argentino. Para brasileiros, preço de casas de nível médio a semi-alto em São Paulo. E por falar em custos, Buenos Aires não está mais a barganha divina que encontrei nos últimos três anos . A inflação está altíssima e o dólar não acompanha. Ainda é em conta , pero no mucho... Melhor não esperar milagres. A cena cultural continua estonteante, com a volta plena dos espetáculos no meu amado Teatro Colón. Lá vi a versão da opera Nabucco, uma espetacular produção italiana, com os cenários mais deslumbrantes possíveis, uma coisa caríssima num país totalmente falido. Assisti a versão argentina do musical americano Kinky Boots, melhor do que em Nova York, estrelada pelo gênio musical de Martín Bossi, por ele mesmo um one-man-show. Como é possível? Como a Argentina continua muito a frente do Brasil em termos culturais? Como financiam teatro, cinema, música, museus? Como os ingressos podem ser tão baratos, ou até mesmo de graça???? Mistérios insondáveis... Para mim a resposta é que cultura e educação são prioridades, não importa o cenário econômico ou o nível de endividamento do país. Os argentinos preferem livros a carros, ópera a roupas de marca, concertos a Botox e por aí vai. Já no Brasil, país que tem Anita como ícone, um boçal como Neymar como semi-Deus , o Jair como presidente e o energúmeno do Lula como futuro, a coisa é sem esperança. Pena... Volto no começo de agosto pra enfrentar o frio portenho de novo, pois Buenos Aires está melhor do que nunca e é diversão certa. Mais barata e mais perto do que a Europa. E ainda continua sendo, culturalmente, mais europeia do que nosso triste Brasil jamais será. Apesar de não gostar do atual presidente argentino, Alberto Fernandez, mais um peronista tentando arrasar nosso lindo país vizinho, concordo com ele quando disse no ano passado: o Brasil vem da selva e a Argentina dos barcos europeus. Nós destruímos a selva e eles, pelo menos, valorizam a cultura da qual descendem. Zurich, 06 de julho de 2022

segunda-feira, 4 de julho de 2022

CROÁCIA - VERÃO 2022

CROÁCIA – VERÃO 2022 Eis aqui um país que encanta os brasileiros pelas praias (bonitas, mas nada de areia, só pedras ferventes), mar muito azul, cruzeiros luxuosos, barcos espetaculares. Na verdade, a Croácia é uma Grécia mais em conta e bem mais interessante. Sacrilégio? Não. Os tesouros históricos da Croácia são infinitamente melhor preservados do que os gregos e há muito mais que ver. Começando por Zagreb, a capital, que nem no mar é e sim localizada no centro do país. Cidade linda, barata, muito que fazer numa infinidade de museus, teatros, espetáculos grátis no verão, muitos shows de música por toda parte, comércio atraente, ótimos restaurantes e bons hotéis. Tudo em espaço compacto, caminhável, delicioso. A culinária, além dos óbvios frutos do mar da ampla costa do Mar Adriático, sofre forte influencia das ótimas cozinhas austríacas e húngaras. No belo Kavkaz, este mix é bem apresentado, o ambiente é descolado e os preços muito camaradas. No Boban, o carpaccio de camarão brilha e o steak tartare do Bistrot, restaurante casual do chique hotel Esplanade é definitivo. O Hotel Dubrovnik, super bem localizado, oferece significativo custo beneficio em seus quartos maiores do que a média minúscula europeia e um café da manhã farto. É hotel business, sem charme, mas profissional, central e espaçoso. De Zagreb, fui de trem até a costa, até Split. Sete horas e meia de puro deleite com as interessantes paisagens do caminho que leva até o mar. Como o trem é bem lento, pudemos aproveitar os detalhes de povoados pitorescos e minúsculos, lagos, escarpas, desfiladeiros e florestas. O trem é decente e confortável, mas é aconselhado levar comes e bebes, pois não há nada o que deglutir a bordo. Split, a segunda maior cidade da Croácia, é um show de história no Palácio de Deoclésio, um antigo imperador romano que construiu lugar de tal magnitude para ter onde aposentar-se com conforto. Isso nos idos de 350 depois de Cristo. Hoje em dia o palácio abriga uma cidade inteira, que através dos séculos foi ali se desenvolvendo. Uma coisa bem diferente, uma espécie de Veneza croata, a beira mar, mas sem os canais. Há de tudo dentro das muralhas, de lojas a igrejas, museus, sorveterias, cartórios, gente morando, uma festa! Mas desaconselho a hospedagem dentro da parte antiga, pois os espaços são minúsculos e o barulho é muito. Fora das muralhas, encontram-se hotéis de várias categorias e apartamentos ou quartos em casas particulares, muito típicos do país. Tudo funciona bastante bem. Destaque gastronômico em Split para o restaurante Portofino, comida italiana e a Konoba Korta, bem em frente, comida croata típica, maravilhosa. Polvo fumegante de entrada e risoto de mariscos com queijo local, de babar... Os vinhos brancos da Croácia são outra maravilha inaudita, com destaque aos produzidos na ilha de Korcula, com a uva bem seca e dourada, chamada posip. De Split fizemos um passeio de meio dia a Trogir, ilha minúscula com igreja maravilhosa e ruazinhas resplandecentes ao sol do meio dia, no lindo branco do mármores nativos que dominam o litoral do país. O trajeto em pequeno e eficiente barco de linha regular, é bem agradável. Com ótimos e baratos catamarãs se faz o trajeto até outras ilhas, como Hvar, lugar de moçada bonita e muita balada, encimada por um forte antigo com vistas sensacionais. O restaurante Paradise Garden tem comida italiana perfeita (burratta celestial e canelone de camarão) e vinhos estonteantes. Em Hvar a Croácia começa a ficar cara. Até este ponto da viagem, custos bem razoáveis para países europeus. De Hvar ao sul, a coisa muda de figura e a força de um turismo intenso pressiona os preços. Pesquise bem hotéis e apartamentos, pois o custo-benefício em Hvar pode ser inexistente. Já o custo-benefício da próxima e acanhada ilha, Korcula, vale super a pena. A ilha é linda, a cidadezinha de mesmo nome é um charme total, as pessoa são simpáticas e a parte antiga da cidade é belíssima, uma mini Dubrovnik, uma espécie de trailer da cidade seguinte, a famosíssima vila fortificada que se tornou ainda mais famosa por ter sido cenário de Game of Thrones, a série inesquecível da HBO. Mas tudo o que Dubrovnik tem de turística e agitada, Korkula tem de calma, idílica, genuína e maravilhosamente preservada. Vale duas noites só para curtir a atmosfera de sonho do lugar. Afinal, é lá que nasceu meu herói viageiro, o inesquecível Marco Polo. Sua casa e a torre que o emprisionaram por alguns anos ainda permanecem, nos lembrando do espírito aventureiro e das histórias da China, do impagável Marco Miglione, assim apelidado por exagerar um pouco seus feitos. Ultima parada, Dubrovnik, aonde cheguei desanimada por relatos de super lotação, lugar fake, turístico, hordas de gente feia cuspida sem parar dos inúmeros navios de cruzeiro que por lá atracam diariamente. Escolhi um hotel 3 quilômetros longe do centro antigo para me esconder da turba ignara. O Hotel Adria tem quartos honestos, vistas belíssimas do porto da cidade, um lugar bem agradável. Mas só. O resto, é fora de mão, comida ruim, atmosfera impessoal, funcionários um tanto desleixados. A grande desvantagem é não ser na rota da excelente linha de ônibus que compõe um transporte publico impecável e portanto o turista gasta muito com táxis e Uber. Para quem puder gastar, fique com certeza no Hilton Imperial, ao lado da cidade antiga, mas fora das muralhas e da muvuca. Maravilhoso. Assim como, maravilhosa é Dubrovnik, sem adjetivos fortes o suficiente para descrever esta maravilha de cidade murada a beira mar. Cenário perfeito para Game of Thrones que atrai milhares de idiotas querendo encontrar King’s Landing. Os tontos encontram Dubrovnik, cuja história é bem mais interessante do que qualquer seriado de TV. O melhor da festa é caminhar pelas muralhas, assistir um filme com pipoca caseira no cinema ao ar livre, uma ópera no pequeno e antiguinho teatro da cidade. Caminhar por ruazinhas improváveis de tão pequenas, por escadarias infinitas, ser cegado pelo branco forte do sol idem do verão croata. Lindas igrejas e a segunda sinagoga sefardita mais antiga da Europa, museus variados, sorveterias pecaminosas, comida divina. Tudo caro, mas valendo cada centavo, um prazer gastar. Gaste com uma refeição no Proto, de longe o restaurante não turístico mais legal da cidade. Amoret, também pouco turístico, perfeito, com vista para a catedral. Pizza é no simpático Oliva. Gaste comprando produtos locais feitos de figo, especialmente geleias com chili, mistura bombástica. Invista nos vinhos, azeites de oliva, cremes de corpo, especialmente os feitos com uma delicada rosa local. Belas lojas de outros artigos não-comestíveis também, passeios de barco, fortalezas variadas, shows grátis na rua a qualquer hora e um teleférico caro que descortina a beleza e majestade do Mar Adriático. Dubrovnik é uma das cidades-museu, como Veneza, imperdíveis no mundo. Voltaria muitas vezes e com certeza, descobriria cantos e contos diferentes a cada vez. Fecho de ouro para uma viagem feliz, 12 dias de clima perfeito, de ócio criativo que plenamente justificam minha opção pessoal pelo trabalho remoto, visto que sou nômade digital há quase 7 anos. E países como a Croácia justificam e engrandecem minha escolha. Para Eileen e Luiz Fernando, que tão bem representaram o Brasil na Croácia em anos melhores... Zurich, 04 de julho de 2022.

domingo, 29 de maio de 2022

IRÃ - MAIO 2022

IRÃ REAL E A MINHA PÉRSIA INVENTADA – MAIO DE 2022 A escritora chilena Isabel Allende tem um livro de memórias, Meu País Inventado, no qual magistralmente descreve o seu Chile da infância, do coração, da traiçoeira memória. Fui ao Irã com este nível de expectativa, almejando a Pérsia de Ciro, Dario, das grandes conquistas, dos enormes avanços médicos já há alguns séculos antes de Cristo; um Egito falando farsi. Ou seja, meu Irã inventado e por mim colocado como país na lista dos 3 a ir antes de morrer; o que os americanos chamam de bucket list. No ano passado fui a Islândia e amei, era da lista também, superou todas as minhas já bastante altas expectativas. No ano que vem, Japão. O Irã foi uma decisão rápida, surgiu uma oportunidade e agarrei a dita com unhas e dentes. Me juntei a um grupo muito legal, onde todos se deram bem e partilhavam de grande interesse pelo país. Os guias da Latitudes, excelentes; ou seja, fui em condições mais que perfeitas. Bom clima, nada de sustos geopolíticos, só alegria. Mesmo assim, da minha Pérsia sonhada sobrou bem pouco. As ruínas de Persépolis decepcionam, as de Passárgada são de chorar. O poema de Manuel Bandeira, “vou-me embora pra Passárgada, lá sou amigo do rei”, martelou na minha cabeça o tempo todo e minhas fotos junto a tumba do rei Ciro são meu único contato com a mística do poema e vestígio triste daquele monarca que escreveu a primeira declaração dos direitos humanos do mundo. O famoso Cilindro de Ciro, contendo as belas palavras e intenções, está no Museu Britânico, em Londres. Assim como, o tapete persa mais antigo e importante da Pérsia está no Hermitage, na Rússia. E foi com esta tristeza que percebi o quão pouco resta das glórias do passado no país dos aiatolás radicais. Me decepcionei e não voltaria ao Irã. Para mim está visto e o custo-benefício é baixo, a conta não fecha: muito longe, logística cara apesar do país ser baratíssimo, comida insossa, obrigatoriedade de usar véu para as mulheres, celulares que não funcionam, internet fraca, hotéis sem graça, NADA de bebida alcoólica em lugar algum, cartão de crédito e débito não rola e é necessário carregar bolos de dinheiro o tempo todo. Nos tempos que correm? Não... Israel, Egito e Turquia são bem melhores, fáceis, prazerosos e acessíveis. Isso sem falar na Índia, Tunísia, Jordânia e Marrocos e a diversão certa e moderna dos Emirados Árabes e Qatar. Isso mencionando apenas países do norte da África, Oriente Médio e Ásia Ocidental. Nesta categoria “exótica” para nós brasileiros. Do que gostei: 1 - Do povo, seus usos e costumes 2 – De Shiraz, Yazd e Esfahan (não gostei de Teheran) 3 – Do gaz (nougat iraniano), do açafrão e dos pistaches 4 – Do Zoroastrismo e das Torres do Silencio 5 – Das paisagens 6 – Da história moderna, pós Primeira Guerra Mundial 7 – Da segurança 8 – Dos tapetes persas O Guia Lonely Planet Iran indica o povo como a atração número 1 do país e eu concordo plenamente. Gentis, alegres, engraçados e hospitaleiros, gente que consegue ser ainda mais simpática que os mexicanos. Pedem para tirar fotos com os turistas, nos fazem perguntas e dizem que somos muito bem-vindos a seu país, convidam para festas e jantares em suas casas, uma gente adorável. É um assédio benéfico, adorável. Não há mendigos, ninguém tenta te vender nada, mesmo nos interessantes bazares os vendedores não atormentam, tudo muito zen. Único país islâmico que já visitei, onde não sofri com gente enlouquecedora tentando vender ou pedir coisas. As cidades que mencionei no item 2 tem muito a oferecer em termos de mesquitas, monumentos, bazares, atmosfera típica e pouco turística, belos oásis e são, cada uma a seu modo, muito gostosas. A praça principal de Esfahan é um deslumbre, um lugar agradabilíssimo. Única no mundo. Templos zoroastras, a antiga religião da Pérsia, também são fascinantes e alguns adeptos ainda sobrevivem ao massacre islâmico, que como na Índia, destrói, ou quase, tudo pelo caminho. Foi assim na Índia e não é diferente no Irã. A diferença é que na Índia sobrou bastante dos vestígios pré-arraso muçulmanos. Museus por toda parte, na maioria pequenos, mal curados e em estado de manutenção duvidosa. Vale por peças especiais aqui e ali, mas poderia ser muito melhor em outras circunstâncias políticas, onde o governo não fosse tão obcecado com religião e investisse mais em cultura. Apesar das considerações acima, recomendo a visita ao país àqueles muito viajados, aos interessados na região, na cultura específica, no Islamismo, na geopolítica, no exotismo e especialmente aos turistas com baixas expectativas. Ou ideias mais realistas do que as minhas. Menos Passárgada e mais pé-no-chão! O que na certa me ajudará em minha próxima viagem, ainda este ano, por países vizinhos ao Irã: Azerbaijão, Geórgia, Armenia e Qatar. Expectativa zero, curiosidade máxima e boa vontade, flexibilidade e otimismo na casa dos 100%. Veremos... São Paulo, 29 de maio de 2022

segunda-feira, 23 de maio de 2022

PORTO ALEGRE - MAIO 2022

UM DIA ALEGRE DE SOL EM PORTO ALEGRE Já tinha tentado outras incursões a capital gaúcha, mas sem sucesso. Sua geografia confusa e montanhosa nunca me ajudou a apreciar a cidade pelo que ela é, em toda sua beleza, esplendor e complexidade. Falar de cidade bonita no Brasil é limitar-se ao Rio de Janeiro, mas Porto Alegre e sua magnífica localização a beira do Rio Guaíba, na verdade, a enorme Lagoa dos Patos, é bonita pelo mosaico de cidade alta e baixa, as construções antigas do centro, as ilhas bem verdes, o tamanho do rio, o famoso pôr do sol e o calçadão gigante entremeado de parques bem cuidados, que faz a cidade ter um clima de praia muito gostoso. O centro é razoavelmente preservado, caminhável e seguro durante o dia. Praça da Alfandega onde fica o museu MARGS, é muito verde e frequentada por todo tipo de gente, espaço bem democrático. O museu de arte anteriormente citado é pequeno e interessante e perto dali fica a Fundação Mario Quintana, lugar que já foi o famoso Hotel Majestic. Todo reformado, com cinemas, teatro, museu, café e livraria, é uma delícia passar tempo lá e aproveitar as inúmeras atrações. Tudo ou grátis ou bem barato, numa rua super verde e movimentada. Aliás, o verde é imperativo por lá, dos contrafortes da Serra Gaúcha às ilhas do Guaíba, passando pela verdadeira floresta urbana que é o bairro Moinhos de Vento, onde está um dos melhores hospitais do Brasil e alguns dos melhores restaurantes também. O Bateau Ivre, casa francesa maravilhosa comandada pelo filho do falecido dono, um belo chef francês, teve várias estrelas no infelizmente finado Guia 4 Rodas da editora Abril. Continua merecendo as ditas, pois seu foie gras é suculento, camarões ao estilo tailandês com suaves batatas dauphine são um sonho e o serviço é perfeito. Idem no que se refere a ambiente e carta de vinhos. Beira rio visitei o projeto Cais Embarcadero, lugar aprazível onde há restaurantes informais e descolados com vista para a água. O 20/9 é ótimo, cardápio enxuto e bem brasileiro. Do queijo coalho, ao burguer gaúcho, finalizando no sorvete com cocada, tudo é uma festa dentro de uns contêineres bem decorados. Pertence a um grupo de empresários da capital que tem hoje o melhor restaurante de Gramado, que é em Canela, o 1843 e também o Toro, bar restô com jazz ao vivo e comidinhas prazerosas. Ostentam além do mais, bela casa no Shopping Iguatemi, que é o dobro em tamanho do paulistano. Centro comercial excelente, com direito a pequena filial da confeitaria Berola, de Pelotas. Doces portugueses mais maravilhosos do que qualquer coisa que já se faz ou fez em Portugal. Ou no resto do Brasil. No final da tarde, visita a Fundação Iberê Camargo, museu, loja e café dignos de Primeiro Mundo, arquitetura arrojada que lembra o Guggenheim de Nova York. Vi por lá uma exposição de Magliani, uma artista gaúcha magnífica. Sua vida e obra são a cara do Brasil. Imperdível. Á noite, peça A Vela, no curioso Teatro São Pedro. Pela ida ao teatro, me hospedei num hotel na própria Praça da Matriz (o hotel tem o mesmo nome da praça), colado ao teatro, ao Palácio Piratini e à majestosa Catedral. O hotel é um muquifo bem típico das deterioradas regiões centrais das capitais brasileiras, mas totalmente viável por uma reforma da casa antiga, começo do século passado, uma experiencia diferente, barata e conveniente. Na manhã seguinte, um sábado frio e ensolarado, caminhei tranquilamente por ruas que no centro de São Paulo são agora inviáveis, dominadas pelo crack e violência. Em Curitiba e Porto Alegre o centro é vivo e participativo. Tomara que assim continue! São Paulo, 23 de maio de 2022

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2022

NOVA YORK - FEVEREIRO 2022

NOVA YORK – DOIS ANOS DEPOIS FEVEREIRO 2022 No dia 03 de janeiro de 2020 parti de Nova York achando que voltaria dali a uns três ou quatro meses. Com a pandemia, só voltei dois anos depois a minha amada Big Apple. Receosa de encontrá-la diferente, caída, derrotada, empesteada... Mas como uma fênix que ressurge das cinzas, esta cidade que tantos golpes já levou, ressurge lentamente e promete voltar à glória do passado. Ainda não se sabe bem quando, pois neste inverno da variante Omicron, a cidade estava bem mais vazia do que o normal e todas as suas habituais atrações estavam apresentando níveis entre 40% a 70% de lotação. Algumas, até menos. O aeroporto principal, JFK, um tanto às moscas para uma quinta feira à noite, voos idem. Muitos espaços comerciais disponíveis para locação, a famosa Quinta Avenida, em alguns quarteirões, irreconhecivelmente fantasmagórica. O Hotel Wellington, onde já havia me hospedado várias vezes, fechou para todo o sempre. Idem para meu cabeleireiro legal ali perto e inúmeros imóveis ao redor. O restaurante DB também. Bar e restaurante dos hotéis Algonquin e Sofitel, fechados no momento por falta de clientes. Contudo, a passos dali, na Rua 44, um bar legal abriu, o Jane Doe. Sim, existe gente corajosa e empreendedora que aposta na cidade e abre novas coisas nestes amargos tempos atuais. O restaurante do MOMA, o The Modern Lounge Bar estava lotado, comida e preço excelentes. Os tradicionais e divinos Oyster Bar e Gabriel Kreuther funcionavam bravamente com 40% de ocupação e continuam tão bons e caros como sempre; sendo ambos os melhores lugares da cidade para comer aquela lagosta gigante do Maine. O maravilhoso Milos do shopping elegante do Hudson Yards, vista rio e Vessel, ia nos 50% de clientela. Não tem igual para crab cakes e lula a doré. Boa parte dos estabelecimentos funciona com bem menos atendentes, portanto paciência com serviço um tanto lento e distraído é recomendável. Pela primeira vez vi aquele shopping center (nome oficial – The Shops and Restaurants at Hudson Yards) quase cheio, normalmente, mesmo nos bons tempos era muito vazio; bom sinal. Grande parte dos espaços comerciais ocupados, aleluia! Ali é também o acesso a plataforma Edge, com belas vistas da cidade e a sensação estonteante de se estar solto no vazio acima da enorme cidade. Fuja se tiver medo de altura, pois os vidros de proteção são baixos e um triangulo no chão descortina as ruas a seus pés. Frio na barriga é pouco! Para mim a novidade foi assistir a uma peça papo-cabeça no The Shed, um dos principais itens do cartão postal do mega-projeto do Hudson Yards. Na saída comemos churros no Little Spain, que é uma espécie de EATALY com artigos espanhóis em vez de italianos. Este mall, como dizem os americanos, é uma perfeita alternativa e refúgio do mau tempo costumeiro de Nova York. Para os que caminham na High Line e querem comer e comprar bem, usar banheiro e desfrutar de um ambiente bonito e bem refrigerado ou aquecido, dependendo da época do ano, o lugar é um paraíso raro nesta cidade. Ainda no campo gastronômico, voltamos ao Benoit que estava vazio e péssimo e ao PJ Clark’s, um pouco mais cheio e delicioso. Tem o Manhattan melhor do mundo, chamado no cardápio, em grande destaque, de THE PERFECT MANHATTAN, perfeito mesmo. Cheeseburger com bacon entre os top 10 do universo. Tristeza ali perto com o Fiorello’s fechado, nada das minhas celestiais panquecas de blueberry desta vez. Porém, creio que não fechou para sempre, deve ser temporário. Ojalá! A Épicerie Boulud ali ao lado tinha vários clientes se locupletando com os itens padaria-chique-francesa, bons cafés, tortas e itens para viagem. Para nós a novidade gastronômica foi o recém-inaugurado Pavillon, do estreladíssimo chef Daniel Boulud, ao lado da Grand Central, num novo e sensacional prédio envidraçado, One Vanderbuilt. Ambiente lindo, muito verde, gente bonita, comida fantástica, serviço impecável. Há esperança! Em termos de custo, Nova York continua muito cara e não vejo maneira de isto mudar algum dia. Das entradas de teatros e shows, museus, bares e restaurantes, atrações variadas, tudo caro como sempre. Como bem caro também é o famoso doce Mont Blanc, na filial americana, na Sexta Avenida, perto da rua 42, da famosa confeitaria parisiense, Angelina. É um café bonito e pequeno, que dá para matar um pouco a saudade de Paris... Museus e galerias reiniciaram atividades com boas mostras e nível razoável de público, bem como os espetáculos da Broadway e as divindades do Lincoln Center. Há muita esperança no ar, muitas promessas e otimismo. Assistimos ballet, opera, concerto da Royal Philharmonic de Londres, o contagiante musical The Music Man, o animadíssimo MJ e o feminismo dançante e engraçado de SIX, com dez mulheres no palco. Finalmente conseguimos ver Hamilton, que tentamos há cinco anos sem sucesso. Portentoso, mas só para quem entende bem inglês. Muito bem. Conhecimento adequado da história americana também é um quesito importante. Nestes quase dois anos de pandemia e 80 voos depois, até agora, pelo Brasil e o mundo, não vi lugar algum mais afetado por esta praga do século 21 do que Nova York. Cidades brasileiras como São Paulo ou Curitiba, Gramado tão dependente de turismo e até a combalida Buenos Aires não mostram os efeitos nefastos da paralização mundial que o coronavírus proporcionou à Big Apple. Vê-se agora, claramente, a dependência tremenda da cidade do setor turístico, de lazer e de negócios, dos efeitos devastadores do home office, da diminuição drástica no número de estudantes estrangeiros nas escolas locais. O comércio online atacou as lojas de rua com virulência ainda pior do que a do Corona. Estima-se que os bons tempos retornarão por volta de 2025, pleno emprego. Tomara. Na Sexta Avenida, onde costumava haver uma escultura vermelha com a palavra LOVE, agora substituída por HOPE. Afinal, esperança é mesmo a última que morre... Zurique, 06 de fevereiro de 2022.

sábado, 12 de fevereiro de 2022

FILADÉLFIA - FEVEREIRO 2022

UM DIA DE SOL NA FILADÉLFIA Gelado, lindo, nevado. Meu primeiro e feliz contato com esta cidade que inspirou o filme de Tom Hanks, berço da democracia americana e anfitrião do segundo maior museu de arte dos Estados Unidos. Só perde, pero no mucho, para o Metropolitan em New York. Primeiramente, pela espetacular localização, numa colina beira rio, ponto final de uma majestosa avenida arborizada e repleta de monumentos. O lugar é tipo templo grego que faz do Paternon um anão sem graça. A majestade da construção também inspirou Rocky Balboa, o mítico boxeur vivido por Stallone no filme Rocky. Ele se exercitada pelas escadarias infinitas na busca do título e reconhecimento neste esporte. Em homenagem ao famoso personagem, uma estátua em frente ao museu, que atrai mais selfies do que todo o resto! A fachada e entorno do Philadelphia Museum of Art impressiona, mas nem de longe anuncia os inúmeros tesouros ali guardados, que vão de templos e casas de chá japonesas, inteiros e completos, a ambientes inteiramente importados da China e índia para compor o embasbacante terceiro andar, quase todo dedicado a arte asiática. O primeiro andar não é tão impressionante, mas para quem gosta de arte americana, é ambiente de respeito. Também abriga um dos melhores restaurantes dos EUA, o Stir. Comida moderna e ousada, poções generosas, num ambiente que Frank Gehry revitalizou recentemente. Aliás, o famoso arquiteto americano repaginou e desencavou espaços no museu, como as galerias e corredores com tetos abobadados, coisas quase esquecidas e enterradas nos porões do museu. O segundo andar abriga arte dos impressionistas mundiais até os contemporâneos, em sua maioria europeus e norte americanos. O numero de obras importantes é estonteante e o espaço intitulado Rotunda é uma verdadeira ode ao bom gosto em pinturas de Monet, Renoir e outros gênios deste calibre. A sala com os trabalhos de Marcel Duchamp é considerada como uma das mais importantes coleções deste artista francês, em todo o planeta. Programaço de dia inteiro, facilmente executado de Nova York, uma hora de trem da recém-renovada Penn Station no coração da cidade, até a magnífica central de trens da rua 30TH, no coração da Filadélfia. O museu é uma agradável caminhada de meia hora dali, numa bela trilha beira rio que o Google Maps indica com perfeição. Nada como os bons trens Acela da Amtrak, quase comparáveis aos europeus, sem o estresse de aeroportos, aviões e táxis. Inesquecível dia de arte e gastronomia, no último dia gelado de janeiro. Zurique, 05 de fevereiro de 2022.

sábado, 5 de fevereiro de 2022

CINCO MUSEUS - NOVA YORK FEVEREIRO 2022

Dez dias e cinco museus – Nova York FEVEREIRO 2022 MoMA para começar, é lógico. Depois de dois anos pandêmicos e longe de minha amada Big Apple, o museu de arte moderna mais charmoso do mundo foi a primeira parada. Breve, para almoçar no sensacional The Modern e ver com calma a mostra dos trabalhos maravilhosamente ecléticos da artista suíça Sophie Tauber-Arp. Ela trabalhou com óleo, litogravuras, tecido, tapeçaria, madeira, vitrais. Um sem número de peças muito bem curadas, traçando a trajetória desta artista singular, muito adiante de sua época. Não sou fanática por fotografia, mas a filial americana da sueca Fotografiska é local de respeito, numa casa antiga e muito agradável perto do restaurante estrelado 11 Madison Park. A casa é uma construção que estaria perfeita num dos livros do Harry Potter e em seus seis pequenos andares pudemos apreciar fotos curiosas de artistas alemães, coreanos, franceses e americanos. No piso térreo um café simpático e uma lojinha linda. Whitney desta vez brilhava com uma giga-exposição de Jasper Johns, Mind and Mirror. Por total coincidência havia visto há poucos dias, a exposição correspondente, no Museu de Arte da Filadélfia. A do Whitney é bastante maior e interessante, fora o fato de que este tipo de mostra no Whitney é grandemente realçada pela vista do Hudson, pela maravilhosa luz natural do museu projetado por Renzo Piano. Não sou fã de Jasper Johns, mas esta exibição é tão interessante, que relevei minha falta de entusiasmo pelo artista. No mesmo dia, mostra super original sobre a influencia da arte francesa nos desenhos de Walt Disney, principalmente, Branca de Neve, Bela Adormecida, A Bela e a Fera e Cinderela. Ambiente escuro e musical, iluminação perfeita, matéria de sonhos que me fez lembrar a infância, apesar de não ser indicada para crianças, pois a curadoria do Metropolitan é ultra-sofisticada e totalmente voltada para o luxo e fausto da época dos reis franceses. É história, arte, desenho; nada de diversão infantil. Também no Metropolitan, a exposição das esculturas-gigantes do artista americano Charles Ray. É um “gosto adquirido”, pois a reprodução do corpo humano, na visão deste controverso artista, não cai no gosto popular facilmente. Amei. Finalizando, prestigiei o Guggenheim, longe de ser meu favorito na cidade. Muitos Kandinskys, que pouco aprecio, mas uma divina surpresa nas fotos da inglesa Gillian Wearing no espetáculo intitulado Wearing Masks (nome bastante apropriado aos dias que correm). Seu trabalho é ao estilo da americana Cindy Sherman, que adoro, mas Gillian de um modo bem britânico, é mais contundente, mais humor negro, mais elegante. Evita cores, prioriza os trabalhos em preto e branco e técnicas multimídia. Mesmo semi-derrotada pelo Coronavírus, Nova York vive com garbo suas tradições culturais de raíz. Tem de tudo, para todos. Zurique, 05 de fevereiro de 2022.

sábado, 22 de janeiro de 2022

SUIÇA 2022 - ANDERMATT E SCHWYZ

SUIÇA 2022 Inverno em Andermatt e Schwyz Neste começo de 2022, quem está salvando o turismo de inverno suíço é, pasmem, nossos turistebas tupiniquins, substituindo em bem menor numero, os chineses e indianos que sumiram do país. Brasileiros fascinados por neve e civilização, conforto, segurança e boa comida, visitam o pequeno e rico país alpino e até o maior jornal local, o Tages Anzeiger, publicou matéria de página inteira na semana passada, relatando o fenômeno. Que é fenômeno mesmo, visto que o cambio do real e franco suíço é altamente desfavorável a nossa sofrida e combalida moeda e mesmo em bons tempos, a Suíça é um dos países mais caros do mundo. Mesmo assim, os brazucas vão, gastam e se divertem. No momento que escrevo este artigo, a Suíça nem mais exige teste de covid para entrar no país. Só vacina. Voltamos a Andermatt, que conhecíamos sob o sol do verão e agora conhecemos sob o sol do inverno. Muita neve contrastando com o céu muito azul, noites claras e estreladas, tudo lindo e confortável. Gostamos de Andermatt em qualquer estação. Pelo fácil acesso, pelas boas e acessíveis opções de hospedagem, pela paisagem, pelas caminhadas deliciosas, pelo ar puro, pelos bons restaurantes. Não é lugar para compras, as lojas nada têm de especial. O especial fica por conta das paisagens alpinas majestosas, dos bondinhos que nos levaram aos 3000m de altitude, acima quase das nuvens. Especial também o almoço ao ar livre, no meio da neve, sob o abençoado sol das 3 da tarde e o calor do vinho branco que gela naturalmente enterrado na neve. Calor das batatas rösti com bacon e ovo frito, das sobremesas de maçã fumegantes. Faz fila para tal preciosa experiência no bar do campo de golfe do hotel Radisson. Imperdível... Na volta a Zurique, paramos em Schwyz, lugar de grande importância histórica para os suíços. Nos dois museus estatais conferimos o tratado de formação do país, dos idos de 1200, sua história muito diferente, um contrato social entre quatro “tribos” falando línguas diferentes, mas que acabaram se unindo para formar um país maravilhoso e escapar das garras dos imperadores austríacos. Relevaram diferenças culturais e linguísticas e conviveram harmoniosamente com a separação da igreja católica e protestante, séculos depois, que poderia ter ameaçado a própria existência do país. Hoje em dia a Suíça tem uma das rendas per capta mais altas do mundo, falam quatro línguas, 30% de sua população é composta de estrangeiros e tudo funciona tão bem como a precisão de seus famosos relógios. Além dos museus, o centro antigo é lindo e bem cuidado e as opções gastronômicas são de primeira. A confeitaria Haug tem um café com ambiente tradicional e refeições acessíveis e para quem quiser gastar, o restaurante do hotel Wysses Rösli é bastante aprazível. A prefeitura é uma atração singular, pois sua fachada é totalmente tomada por pinturas em tons de ocre, marrom e amarelo, retratando de maneira belíssima, uma das várias batalhas pela independência do lugar. Zurique, 22 de janeiro de 2022.

segunda-feira, 10 de janeiro de 2022

BUENOS AIRES - DEZEMBRO 2021

BUENOS AIRES – DEZEMBRO 2021 Após um ano sem ir à Argentina por causa desta maldita e infindável pandemia, foi com alegria que voltei a uma das minhas cidades preferidas. Contente, mas ciente da burocracia que envolve uma simples ida ao país vizinho nos tempos que correm. Mesmo assim, vale a pena, pois continua lindo e baratíssimo. Hospedei-me num lugar surpreendente, o hotel DeCo Recoleta, magnificamente localizado numa parte meio escondida do bairro, muito perto do hotel Four Seasons e da embaixada da Romênia. Excelente custo benefício, valendo enfrentar os quartos espaçosos, mas sem manutenção (via de regra por toda a Argentina) e deliciar-se com a proximidade de muitos pontos de interesse, sem gastar fortunas para isso. Os teatros portenhos continuam ótimos e os espetáculos, surpreendentes. Idem para os restaurantes e lojas. É um verdadeiro milagre, considerando-se a situação politica e econômica precária do país. Buenos Aires segue alegre e interessante, apesar da pobreza mais ao estilo brasileiro e um sem fim de moradores de rua. Palermo escapa a esta regra e é delicioso caminhar por suas ruas arborizadas e movimentadas. O museu Malba continua bom, seu restaurante, que eu não conhecia, é perfeito para refeições rápidas, no verão embaixo dos jacarandás floridos. O Museu de Bellas Artes sempre tem exposições legais, o de Arte Decorativa também. O preço das entradas é irrisório, quando não é totalmente grátis e no espetacular auditório do CCK vi um concerto clássico em homenagem a Astor Piazzola, de altíssimo nível e também sem pagar nada. O falido governo continua subsidiando a cultura e só Deus sabe como conseguem... A carne segue sendo a melhor do mundo e me esbaldei no Preferido de Palermo, no El Mirasol e no Elena. Os cafés seguem cheios e a sorveteria VOLTA tem os melhores alfajores do país, além dos sorvetes fabulosos. Meu novo vício são os de dulce de leche e em nove dias na capital provei os sete sabores oferecidos pela sorveteria Freddo. Maravilhas inesquecíveis... No Palácio Paz voltei ao restaurante Croque Madame, que só conhecia de Puerto Madero e do museu de Arte Decorativa. O Palácio é lindo, bem ali na celestial Plaza San Martin e comer algo em suas salas magníficas é experiência única. A visita só pode ser feita com agendamento, mas indo ao restaurante você já tem uma boa ideia da beleza desta residência de uma família poderosa nos bons tempos da Argentina. Mas para mim, na área gastronômica, o que realmente impressionou foi a experiência no restaurante Lima Nikkei na Recoleta. A casa já foi sede do La Cabaña, do Aramburu e do Pecora Nera Grill. Nada dura muito ali e espero que o Lima fique para sempre e com a qualidade da comida japonesa-peruana que é a firme proposta da casa. Inesquecível e espetacular! Buenos Aires, quando frequentemente me perguntam porque gosto tanto de lá, tem TUDO o que aprecio numa metrópole: teatros, cinemas, comércio, livrarias, música, espaços caminháveis, parques verdes, floridos e bem cuidados, boa comida, vinhos top. Além de ser perto de São Paulo, ter boas conexões aéreas e um idioma que amo e domino. Precisa mais? E sim, apesar de empobrecida e caída, a cidade é mais segura do que qualquer grande centro brasileiro e sempre voltava dos teatros no centro de Buenos Aires, entre 11 e meia noite, a pé, sozinha do alto dos meus 66 anos bem vividos, sem jamais sentir medo. Isso é possível no Brasil? Zurique, 10 de janeiro de 2022.

FLORIANÓPOLIS E GRAMADO - VERÃO 2022

FLORIANÓPOLIS E GRAMADO – DICAS VERÃO 2022 Costumo ir pouco a Santa Catarina, mas resolvi variar um pouco neste dezembro passado e aluguei um apartamento pé na areia numa praia muito bonita, a do Santinho. Mais precisamente no condomínio Águas do Santinho (disponível na Booking), lugar perfeito para famílias, pois tem ótima infra para crianças. Apto grande, belo terraço em frente ao mar, alguns dias de paz, sol e muito exercício. Mais exercício caminhando incansavelmente nesta praia que é perfeita para andar, correr, jogar bola e bicicletar. Muito plana, areia firme, faixa de areia larga, condições ideais. Tudo cercado de bela vegetação e construções de altura razoável. A maior delas é o hotel Costão do Santinho. Nada que comprometa a beleza e a tranquilidade do local. Opções gastronômicas são poucas: ou os restaurantes do hotel, ou um simples pé na areia em frente ao condomínio, com boa comida e serviço. A praia do Santinho não é para festas, não é sofisticada. É lugar de descanso e natureza. E temperaturas mais amenas do que as das praias do Sudeste e Nordeste do Brasil. Preços mais camaradas também. Sempre de volta a Gramado, meu terceiro lar, conferimos a bela decoração do invencível e incansável Natal Luz, que bravamente sobrevive a Pandemia Ano Três e restrições de todos os tipos. Por volta do Natal passado, a cidade estava lotada e muito alegre. Voltamos a nos hospedar no La Hacienda, coisa que não fazíamos há três anos. Continua bom, o restaurante que já foi o melhor de Gramado e caiu muito, mas agora mostra sinais de recuperação (o carré de cordeiro, prato de difícil execução, estava divino e as bruschettas são maravilhosas). Investiram em quatro novos chalés bem modernos e luxuosos, com preços bastante salgados. Vale a pena? Depende. Se o casal quer sossego, não, pois o La Hacienda hoje em dia é tipo hotel-fazenda-disfarçado-de-pousada sofisticada. Seu público é pelo menos 70% composto de famílias e seus ruidosos rebentos. Vale pagar R$ 3000,00 a diária de um chalé sofisticado para dividir a piscina com crianças e bebes indisciplinados? Tomar café da manhã com bela vista, mas correria dos pimpolhos? Jantar idem? A proposta do La Hacienda mudou muito e os donos idem. Portanto pense bem antes de ir... Arriscamos um novo restaurante na Borges de Medeiros, o Sálvia e adoramos. Lugar bonito e comida excelente. Vá antes que acabe, pois o restaurante pode não resistir muito às intempéries da economia brasileira e às multidões de turistas que vão a Gramado e só comem rodízio e fondue. O Sálvia é uma rara benção e tomara que sobreviva! Todos os outros, nossos preferidos, continuam ótimos: Bistrô da Lú, Empório Canela, La Table D’Or, Josephina e Nonno Mio. Na próxima vez conferiremos o novo restaurante dos mesmos donos do San Tao, no Espaço Goods BR, em outra parte da Borges de Medeiros. O lugar é lindo, super diferente e a proposta é comida do mar grelhada. Como o San Tao é e sempre foi o único lugar de comida asiática de respeito da região, confiamos que seus frutos do mar preparados à moda mediterrânea possam seguir com a mesma qualidade. Voltaremos a Gramado na Páscoa e retornaremos a este blog com notícias frescas. Zurique, 10 de janeiro de 2022.