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quarta-feira, 6 de julho de 2022

INVERNO EM BUENOS AIRES - JUNHO 2022 - PARTE UM

BUENOS AIRES NO INVERNO – 2022 PARTE UM Tento sempre evitar o inverno na cidade, pois como ela é perfeita para longas e prazerosas caminhadas, para curtir os muitos parques verdes e floridos, penso que o frio, o vento e a chuva do meio de maio até meio de setembro prejudicam muito a experiência. No entanto, lá fui parar no começo de junho deste ano e frio ou não, aproveitei muito esta cidade que amo. E fazia bastante frio, apesar do sol constante e da absoluta ausência de chuva. O vento congela tudo e é onipresente nesta época do ano. Por isso justifiquei a comilança como escudo no combate ao frio e provei pela primeira vez um típico prato argentino, na certa herança italiana que nunca vi na Itália por sinal, a famosa fugazzetta. É uma espécie de pizza com MUITO queijo e muita cebola, na receita clássica. Experimentei tal maravilha no Pizza Cero, restaurante alegre, movimentado e agradável na Avenida Del Libertador, perto do Museu de Artes Decorativas. Ambientes internos e externos confortáveis e bem servidos. No restaurante clássico Edelweiss, a fugazzetta se junta a impecável carne argentina e vem fumegando por cima de um bife a milanesa perfeito. Mais que perfeitos continuam também o célebre Don Julio e seu primo pobre, El Preferido de Palermo, bem como o Elena e o Lima Nikkei. Agora com a grande vantagem de ser possível fazer reserva online para as primeiras duas casas e não é mais necessário fazer filas enormes e primitivas na calçada. Preços altos para o triste cenário econômico argentino. Para brasileiros, preço de casas de nível médio a semi-alto em São Paulo. E por falar em custos, Buenos Aires não está mais a barganha divina que encontrei nos últimos três anos . A inflação está altíssima e o dólar não acompanha. Ainda é em conta , pero no mucho... Melhor não esperar milagres. A cena cultural continua estonteante, com a volta plena dos espetáculos no meu amado Teatro Colón. Lá vi a versão da opera Nabucco, uma espetacular produção italiana, com os cenários mais deslumbrantes possíveis, uma coisa caríssima num país totalmente falido. Assisti a versão argentina do musical americano Kinky Boots, melhor do que em Nova York, estrelada pelo gênio musical de Martín Bossi, por ele mesmo um one-man-show. Como é possível? Como a Argentina continua muito a frente do Brasil em termos culturais? Como financiam teatro, cinema, música, museus? Como os ingressos podem ser tão baratos, ou até mesmo de graça???? Mistérios insondáveis... Para mim a resposta é que cultura e educação são prioridades, não importa o cenário econômico ou o nível de endividamento do país. Os argentinos preferem livros a carros, ópera a roupas de marca, concertos a Botox e por aí vai. Já no Brasil, país que tem Anita como ícone, um boçal como Neymar como semi-Deus , o Jair como presidente e o energúmeno do Lula como futuro, a coisa é sem esperança. Pena... Volto no começo de agosto pra enfrentar o frio portenho de novo, pois Buenos Aires está melhor do que nunca e é diversão certa. Mais barata e mais perto do que a Europa. E ainda continua sendo, culturalmente, mais europeia do que nosso triste Brasil jamais será. Apesar de não gostar do atual presidente argentino, Alberto Fernandez, mais um peronista tentando arrasar nosso lindo país vizinho, concordo com ele quando disse no ano passado: o Brasil vem da selva e a Argentina dos barcos europeus. Nós destruímos a selva e eles, pelo menos, valorizam a cultura da qual descendem. Zurich, 06 de julho de 2022

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