Translate

domingo, 29 de dezembro de 2013

link para FOTOS SALZBURG - NATAL 2013

https://www.dropbox.com/sc/pj9cv8stgruykjj/Dj26zVFNcj

NATAL NA AUSTRIA

NATAL EM SALZBURG – 2013 Meu primeiro natal europeu. Não poderia ter escolhido lugar mais perfeito, coisa mesmo de cartão postal: neve, montanhas, muita musica, sinos nas inúmeras e belíssimas igrejas, mercados vendendo enfeites maravilhosos e deliciosas comidas fumegantes. Lareira, lojas, frio, vinho quente, castelos. Tudo o que brasileiros sonham e não tem no Natal tropical. E o melhor mesmo é o Natal sem Papai Noel, pois os austríacos não cultuam a invenção americana e sim o menino Jesus. É ele a estrela da festa e com a maioria da população católica, as missas cantadas são inúmeras, o foco é mesmo o nascimento de Cristo e o lado comercial fica em terceiro plano. Primeiro religião, depois celebração com amigos e família e compras na seqüência (todo o comércio fecha as 13 00 do dia 24 e reabre só no dia 27). O resultado é super alegre, sem pressão e correria; muita gente nas ruas enfeitadas, grupos ruidosos brindando o evento com as várias versões de bebidas natalinas – alcoólicas ou não. Vinhos quentes com rum, canela ou vodka se misturam a chás picantes e cafés com uísque. Tudo apropriado ao clima gelado. Pelas praças principais da cidade, os mercados de Natal – instituição comum e tradicional na Áustria, Suíça e Alemanha – são os principais pontos de encontro. Tudo super limpo e organizado, as barracas são chalezinhos de madeira verde escuros e vendem comidas divinas, lindos objetos natalinos, artigos de inverno, sais de banho perfumados, pequenas lembranças. Nada caro ou luxuoso. São perfeitos presentes e souvenires para um Natal centrado na experiência, na celebração, no momento especial. Nada de consumismo exagerado e zero estresse. Salzburg, uma das mais importantes cidades austríacas, é famosa por ser onde Mozart nasceu e cenário do inesquecível filme, A Noviça Rebelde. Um dos mais famosos festivais de música clássica do mundo ocorre por lá todos os anos. Tudo isso faz do lugar um centro de turismo bastante concorrido, com cerca de 8 milhões de visitantes anualmente. Seus museus são impressionantes, destaque para o de Arte Moderna, no topo de uma montanha, cercado de castelos. Caminhada dura, mas imperdível. Exibições importantíssimas, como a do pintor alemão Jonathan Meese e um restaurante fabuloso completam a experiência. Há uma filial mais modesta do mesmo museu, no centro da cidade, mais focada em fotografia. O Salzburg Museum conta a história da cidade e o Panorama, ao lado, exibe mostras temporárias, como a de presépios que visitei nesta apropriada época do ano. Em frente, a Alte Residenz, dá um show de luxo nos 14 aposentos de um sortudo arcebispo-príncipe da cidade e o bom gosto da galeria de arte no mesmo prédio é imperdível. O acervo é pequeno, mas precioso e conta com um mini-óleo de Rembrandt de fazer inveja a qualquer museu holandês. O museu mais vistoso por fora é sem dúvida a Fortaleza de Salzburg, um castelo maravilhoso na mesma montanha onde se situa o Museum der Moderne anteriormente mencionado. É a marca registrada da cidade, não existe foto sem ele. Um gigante espetacular guardando Salzburg e uma antiqüíssima construção que foi poupada de bombardeios, fogo e destruição das várias guerras européias. Andar até lá é penoso, mas vale o sacrifício, pois é uma viagem no tempo, um périplo medieval. Por dentro, o castelo-fortaleza é um tanto sem graça e não exibe grandes tesouros. Apesar de enorme, os espaços são acanhados e sem salões ou mobília reluzente; talvez pelo caráter mais militar da edificação. Claro que vistas e fotos são incríveis e se o turista quiser explorar tudo precisa passar várias horas por ali. As igrejas são tão prolíficas e bonitas quanto os castelos, destaque absoluto para a Catedral Dom e para a Koleguienkirche e várias oferecem concertos musicais nos órgãos mais fabulosos que se possa imaginar. Algumas tem museus anexos. Salzburg é cercada por montes e montanhas de todos os tipos e tamanhos, decoradas ou não com neve e quase sempre com lindos bosques. A Kapuzinerberg, parte integral da Cidade Antiga, tem trilhas bem marcadas, convento com linda igreja, casas interessantes e até um pequeno castelo equipado com restaurante de comida local. Para quem gosta de exercício, um paraíso. Aliás, a região é perfeita para caminhadas, esportes aquáticos no verão nos inúmeros lagos cristalinos e esqui de primeira em variadas estações e graus de dificuldade. Uma infinidade de castelos e palácios, cidadezinhas pitorescas e o cafoníssimo museu Swarovsky completam a programação. A famosa marca austríaca de cristais e afins tem perto de Salzburg uma grande loja de fábrica, pois a mesma está ali e “um pseudo-museu a la Disney” de arte moderna, mega bizarro. Deve ser visitado pelo inusitado da mescla improvável de obras de artistas como Keith Harring ou Salvador Dalí com artigos utilizados pelo personagem “Gigante” da marca. O restaurante Terra e a loja legal são mesmo a razão para gastar os 11 euros da entrada deste parque temático. Mas, infelizmente, a região tem suas coisas tristes. Muito. Há apenas 14 quilômetros de Salzburg, já na Alemanha, um lugar chamado Obersalzberg dá o toque fúnebre ao passeio. Tudo é bonito e bem cuidado, vilarejos como Berchtesgaden não podem ser mais adoráveis, lagos como o Königsee são cenários de sonho, mas... Desgraçadamente, tal entorno foi lugar de grande importância para Hitler e sua gangue de assassinos. O complexo de Obersalzberg só perdia importância, durante o nazismo, para Berlin e foi ali que Hitler escreveu Mein Kampf, livro que inspirou o Nacional Socialismo e a Segunda Guerra Mundial. Quase tudo foi destruído por bombardeios alaidos e só sobrou a infame construção chamada Ninho da Águia (presente de Borman para Hitler). Mas os alemães, recentemente, num esforço notável e extremamente honesto em assumir total responsabilidade pelo massacre de 6 milhões de judeus e a conseqüente desgraça causada pela imensidão do escopo da Segunda Guerra, instalou um museu sobre as ruínas do chalé de inverno de Hitler. Chama-se Centro de Documentação Obersalzberg e é um dos museus mais terríveis que já vi. A porta abre e de cara, sem rodeios, lá está pôster de Hitler no centro e vários cadáveres de ambos os lados. Vídeos pavorosos mostram torturas, câmeras de gás, oficiais nazistas rindo de tudo e depoimentos de gente da região que teve suas casas confiscadas para que os demoníacos ditadores lá se instalassem. Um dos vídeos é mostrado dentro dos bunkers (abrigos anti aéreos) que sobraram embaixo da tal casa. A experiência é tocante, surreal, um massacre nos sentidos e na memória, pois você esta lá dentro, onde Hitler, Göring e Borman tinham suas casas de férias, onde recebiam dignitários internacionais, onde tomavam horríveis decisões. Há documentos assinados pelo próprio Hitler ordenando a morte de TODAS as pessoas com problemas mentais e físicos, o que ele denominava de “eutanásia”. Documento com o selo dele, assinado por ele. Na sua frente. Carta indecentemente puxa-saco do quase rei da Inglaterra, Edward, aquele cretino que abdicou do trono britânico para casar-se com a americana divorciada, Wallis Simpson. Na carta ele agradece a Hitler pela “amável” hospedagem e como eles “adoraram” a estadia... Nojento... Depois de tal choque e sem visitar o Ninho da Águia, pois no inverno isso não é possível, fomos almoçar ali perto, no hotel Intercontinental. Tudo bem chique e moderno, comida e serviço impecáveis. Mas... Tudo construído sobre as ruínas da casa de Göring. A comida ficou entalada... Apesar do dia horroroso e da experiência tristemente inesquecível, valeu a pena visitar e passar horas no Centro de Documentação. Para que regimes como o de Hitler sejam evitados, há que lembrar-se do passado. Sempre. Nunca esquecer. Muitos jovens alemães no centro. Duro, mas necessário. Voltando à alegria leve e saudável de Salzburg, o capitulo hospedagem e gastronomia, dois pontos fortes da cidade, pois há hotéis e comidas para todos os gostos e bolsos. O hotel Sacher é muito bem localizado, seu restaurante é um super custo-benefício e o Wiener Schnitzel (bife à milanesa austríaco) seguido da ilustre torta-de-chocolate-inesquecível, a Sacher Torte, são os melhores representantes da culinária do país da Sissi. Hotéis como o Bristol e Sheraton são opções chiques e centrais, perto dos belos jardins Mirabell e palácio correspondente. Optamos por alugar um romântico apartamento por 7 noites, em casa construída nos idos de 1400. Lareira, cozinha equipada, bom banheiro, sala espaçosa, um lugar de sonho a 230 euros por dia. Super central e bem mais barato e confortável que qualquer suíte de hotel. Interessados podem mandar email em inglês para Office@edwin-gisperg.at Acepipes modernos, gente super bonita, ambiente descolado você encontra no Carpe Diem, o imperdível restaurante do mesmo dono do Red Bull. Sempre lotado, serviço perfeito, preços camaradas, uma balada permanente no coração de uma cidade fundada antes de 700 depois de Cristo! Steak Tartare em casquinha de sorvete e mini cheeseburges em espetinho são algumas da modernas delícias reinventadas e repaginadas pela cozinha divertida, deliciosamente criativa do Carpe Diem. Na linha contemporânea e transada o M32, do museu de arte moderna acima citado é também boa opção. Experiências mais tradicionais, mas apresentadas de forma bastante atual, e até ousada podem ser obtidas no restaurante mais antigo da Europa, o Stiftskeller St. Peter. Diz a lenda que Carlos Magno ali fez refeições. Isso lá por volta de 803... Não é barato, mas comida, apresentação, serviço e ambiente compensam o investimento de cerca de 180 euros para 2 pessoas. Mais barato, charmoso e típico é o s´Herzl, no hotel elegante, Goldener Hirsch. Contudo, é comida de inverno austríaca, nada leve ou saudável. Como a época é de festa e comemoração, melhor mesmo é esquecer a dieta e mergulhar com tudo nos strudels fumegantes, nos knödels (almôndegas gigantes com variados recheios), nas gordas panquecas fatiadas e salpicadas de açúcar e canela (Kaiserschmarren), nos pães de mel melhores do mundo, nas tortas das confeitarias centenárias e nas bolas de chocolate e marzipan que são a cara de Salzburg: as Mozartkugeln. Sem esquecer os divinos ratinhos de chocolate Noite Feliz da confeitaria Braun. Voltaria à Salzburg a qualquer hora, em qualquer estação do ano. Seus encantos são infinitos. Gostaria de ir no verão e fazer o tour Noviça Rebelde, no ônibus amarelo de mesmo nome. Na cidade se respira Mozart, se canta Edelweiss, come-se como um verdadeiro imperador austro-húngaro, exercita-se como atleta olímpico e acordamos todos os dias com os encantadores sinos das igrejas. Natal perfeito, abençoado. Zurich, 29 de dezembro de 2013

sábado, 23 de novembro de 2013

PRIMAVERA FLORIDA EM SANTIAGO


                               TARDE  DE  SOL EM SANTIAGO

 

                Na capital do Chile, com a qual finalmente me reconciliei após umas 13 vezes na cidade. Não é Buenos Aires, mas está chegando lá...  Talvez questão de tempo.

                O restaurante peruano famosíssimo, Astrid y Gastón tem por lá uma filial preciosa, que eu já conhecia e queria repetir. Com sucesso, tiradito de atum selado e salmão iniciando o banquete e o principal prato, fabuloso espaguete com molho cremoso e centolla, aquele caranguejo chileno, gigante. Melhor impossível, com churros quentes recheados de banana e mel de doce de leite. Acompanhados por um pisco sour e depois uma taça de chardonnay que nem sei qual era. Nem precisei perguntar, pois o alegre sommelier o sugeriu com perfeição. Gastón Acúrio vale todos os prêmios e cotações que vem ganhando nos últimos anos. Sorry, Alex Atala e outros da mesma linha nacional, que jamais chegarão aos pés deste peruano, verdadeiro papa da cozinha inovadora sem ser pretenciosa, caso de nosso principal chef brasileiro no momento. E o Sr. Acúrio, ainda mais, mantém um padrão invejável em seus vários restaurantes espalhados pela América Latina. Sem cobrar fortunas impagáveis, de novo o caso de nosso conterrâneo. O almoço acima citado saiu por 100 dólares. Parabéns!

                Como tinha poucas horas na cidade, além da refeição supimpa, caminhei muito pelos parques verdes e bem cuidados da Av Providencia e me maravilhei com os jacarandás floridos de um violeta inesquecível. Por ali mesmo, os museus de Belas Artes e o de Arte Contemporânea são arautos da transformação de Santiago,  e cidade feia, poluída e chata, em interessante centro cultural. No primeiro, arte chilena e uma mostra espetacular de Carlos Faz, pintor muito talentoso que morreu tragicamente aos 22 anos, mas deixou um legado considerável de pintura das mais intrigantes. No Contemporânea, muitas fotos de um francês genial que intervém nas mesmas com toques malucos nos mais diferentes espaços. Bonito e inovador.

                Longe dali, mas imperdível, o museu da Memória e dos Direitos Humanos. Situado em bairro um tanto duvidoso, tipo La Boca em Buenos Aires, vale a visita pelo prédio super moderno e super lindo. No entanto, a mostra é tanto chocante quanto vital. Repleta de jovens, vários deles descendentes das pessoas que pereceram na odiosa ditadura do finado General Augusto Pinochet; não se pode fotografar nada e silencio é importante neste memorial que conta a historia de maneira nua e crua, das mais de 40 000 vitimas de tortura ou morte durante o abominável período. Impossível não se emocionar com o enorme painel de fotos das vitimas e relatos de torturas medonhas. Mesmo para quem não sabe nada a respeito da historia do Chile, o lugar é revelador. Perto dali há mais coisas que ver dentro do Parque Quinta Normal ( arte contemporânea ainda mais ousada do que no museu  mencionado anteriormente) e mais adiante o Centro Cultural Matucana.

                O melhor é ir pela manhã ou início da tarde, pois a fama do bairro não é das melhores...

                Voltarei agora a Santiago com prazer, para também conferir o Centro Cultura Gabriela Mistral, de arquitetura arrojada em ferro, com muitas atrações gastro-culturais. E para ir ao bairro Bellavista, ao charmoso Lastarria e por que não, ao sofisticado Las Condes, que sempre evitei pelo elitismo e mesmice de tais lugares repletos de condomínios-gaiola.

                Como bem escreveu o filósofo britânico Tony Judt: “condomínios fechados criam cidadãos fechados, sem idéia de cidadania e compartilhamento de espaços públicos”.

                E Santiago no momento vive o apogeu da economia chilena e principalmente, da vontade politica de seus governantes de fazerem de seu país a estrela da América Latina. Estão conseguindo e deixando nosso escabroso Brasil comendo poeira...

 

Santiago, 19 de novembro de 2013.

ATACAMA E BOLIVIA SENSACIONAL - 2013


                                               AVENTURA BOLIVIANA

                               Com 2 escalas em San Pedro de Atacama 

 

                Acredite se quiser, a Bolívia tem o segundo lugar mais bonito do mundo. O primeiro é o Parque Nacional Torres Del Paine, na Patagônia chilena. Isso vai de gosto, é claro. Para mim o Salar de Uyuni e região são top de linha em minha longa carreira de viajante incessante, sempre visitando lugares diferentes, a procura de belezas que amenizem a loucura de nossas vidas em detestáveis cidades como São Paulo.

                Escolhi, erradamente, o hotel Tierra Atacama como ponto de partida e aclimatação às altitudes tremendas da viajem entre o Chile e a Bolívia. Preferi partir do Chile e fazer um trajeto mais lento, ingenuamente esperando contratar agencia chilena para tal programa de índio. Ledo engano...

                Não me arrependo de ter ido sentido Uyuni, ida e volta a San Pedro, pois vi coisas lindas e revi algumas mais. Fora que, viajar ao Chile é sempre agradável e enfrentar vários voos e trajetos extras num pais infernalmente pobre e atrasado como a Bolívia, não me parecia a principio muito tentador.

                Fiquei três dias em San Pedro, que já conhecia pela magnífica estadia de oito dias no hotel Explora, em 2002. Desta vez, escolhi o Tierra Atacama para variar um pouco o “cardápio”. Erro imperdoável. Apesar de lindo, o hotel tem péssimo serviço, comida duvidosa e pretenciosa, guias fracos, é quase tão caro quanto e Explora, mas é copia mal feita. Fora o fato de pertencer à empresa que domina Portillo, a velha e igualmente pretenciosa, estação de esqui chilena. Isso faz com que o poderoso marketing da companhia tente, com sucesso, atrair brasileiros que vão para ver e ser vistos. Odiosas criaturas, sempre em barulhentos grupos, que nem sequer sabem onde estão. Fuja!

                Apesar disso, fugi do mico curtindo San Pedro que continua doida e cheia de cães dormindo pelas ruas de terra. A vilazinha segue pacata, mas com lojas interessantes, mercado de artesanato ,museu renovado, igrejas, mais hotéis e restaurantes. La Casona oferece piscos e empanadas inesquecíveis e o moderno Blanco, mega-ceviches. Visitando os Gêiseres Del Tatio – sensacionais – e caminhando pela desafiadora trilha Guatin & Gatchi

                Após três noites por ali, parti para mais três na Bolívia; eu, e dois bolivianos da agencia Cordillera Traveller (boliviana, que eu acreditava ser chilena – a melhor recomendada por minha “Bíblia viageira”, o guia Bolívia Lonely Planet), um guia e outro motorista. Lá fomos nós cruzando a fronteira, a uma hora de San Pedro e a “apenas” 5000 metros de altitude! E aí começa o deslumbramento, pois o lado boliviano é muito, mas muito mais bonito do que o chileno e apesar da falta total de infra (não há sequer uma estrada asfaltada em 4 dias de viagem) e bom senso, vale conhecer. Vale o sacrifício das altitudes mata-cavalo e o pó constante em velho Toyota Land Cruiser sem ar condicionado.

                As primeiras paradas são um verdadeiro festival de lagoas multicoloridas e vulcões furiosos. A Blanca inicia a surpresa, a Verde parece o mar e a Colorada é como uma lagoa de sangue, uma coisa de sonho, cheia de flamingos. E aí se vai parando em desertos cheios de esculturas naturais, pedras em formatos bizarros, tudo atordoantemente bonito. Por ser região riquíssima nos mais diversos minérios, as montanhas são coloridas e as misturas de tons e superfícies e estonteante.  Como também coloridos são os gêiseres que espumam toda sua fúria e calor em local que mais parece um cenário de Marte. Águas fervendo em tons de rosa, vermelho, azul, roxo, verde.

Isso sem falar sobre  as delicadas vicunhas que pululam por toda parte, acompanhadas de raposas e coelhos. Pássaros exóticos fazem aparições constantes, além das sempre presentes lhamas andinas. A primeira noite, cansada de tanta beleza e altitude, dormimos placidamente no Hotel Del Desierto, um lugar simples, mas com calefação e cama quentinha. O chuveiro tem dois pingos de agua, mas dormir em altitude de 4 800 metros não é para os fracos de espirito e banho se torna secundário. A comida é razoável, caseira e saudável, destaque para a sopa de quinua, prato que comi varias vezes durante a viagem.

                Esta primeira noite o mal de altitude me pegou e eu tomei um remédio que o guia me deu e cortou o mal pela raiz. Eu já o tinha tomado quando escalei o Kilimanjaro, em 1999, mas me esqueci totalmente dele, pois em viagem ao Peru, em 2008, não precisei tomar e enfrentei bem as altas montanhas incas. Aconselho a qualquer pessoa, independente de idade ou estado físico, a falar com um medico antes de ir a Bolívia e, se possível, tomar o medicamento (o mate de coca ajuda, mas é apenas paliativo com gosto de pano velho. Quase todo mundo passa bem mal e isso, claro, estraga uma viagem que de tão deslumbrante, merece  ser aproveitada ao máximo.

                No dia seguinte, mais lagoas bonitas e paisagens especiais. Já nos aproximando do primeiro salar e tendo a impressão de se estar tendo miragens de montanhas que parecem flutuar na branca imensidão das toneladas de sal destas lagoas secas que são uma  maravilha indescritível. Dormimos em San Pedro de Quemez, um vilarejo micro, uma verdadeira viajem numa maquina do tempo; transportando-nos à época  dos incas e como eles viviam. As casas são idênticas às das ruinas de Machu Pichu, mas com telhados de palha como os incas faziam e gente morando e vivendo nos tempos atuais. É como estar num filme, sem ser o ator. Só observando uma inacreditável volta ao passado. Da mesma maneira que os incas faziam cercados e plantações, empilhando pedras sem liga de cimento ou massa. Em frente ao apropriadamente chamado Hotel de Piedra, um curral de lhamas, que vimos partir ao nascer da aurora para pastarem ali perto. Lindas e silenciosas, com fitinhas de lã coloridas nas orelhas e pastoreadas como sempre foram deste tempos imemoriais.

                Sentindo-me melhor, em altitude mais baixinha, a “apenas” 3600 metros, subi um morro ali perto, onde o antigo culto à mãe-terra, a Pacha Mama, se mistura a ritos católicos, como os 14 passos do calvário de Jesus Cristo. Nos antigos e redondos lugares rodeados de muros de pedras e construídos pelos incas; altares de sacríficos humanos ou não, a população local cultua Jesus e a Pacha Mama ao mesmo tempo, com oratórios montanha acima. Em cada curva do morro um passo de Cristo; casinha sem santo, mas com cruz no topo. Até chegar ao cume de um lugar de vista maravilhosa da ponta sul do Salar de Uyuni, o segundo lugar mais bonito do mundo. Sem maquina do tempo eu viajei por usos e costumes de uma civilização admirável que os espanhóis destruíram. Mas não completamente, pois em San Pedro de Quemez o modo de vida inca sobrevive. Com torre de celular e tudo!

                No terceiro dia, o melhor da festa: o Salar de Uyuni e sua deslumbrante imensidão branca. É como se eu estivesse em uma planície russa no inverno, inteiramente nevada. Mas Uyuni fica na Bolívia, tem 12 000 quilômetros quadrados e é inteiramente composto de sal. Lindo, branco, brilhante, provocando as miragens mais incríveis e a sensação de se estar fora da terra, em outro planeta sabe Deus qual. Tudo perfeitamente cercado de vulcões e múmias. O vulcão Tunupa, com cratera exposta em tons de azul e laranja, abriga varias cavernas recheadas de múmias. Uma delas pode ser visitada e é uma experiência macabramente interessante. No meio do salar, uma ilha! Claro, pois o salar há milhares ou milhões de anos, foi uma lagoa gigante. Agora é toda sal, mas a Isla Del Pescado está firme e forte lá, esplendorosa com suas pedras, formações de coral petrificado e os cactos mais lindos do mundo. Cheios de flores vermelhas ou amarelas, trilhas desafiadoras pedra acima e vistas ainda mais surreais de Uyuni.

                Coroando o terceiro dia, que é o mais bonito devido ao salar, uma noite das mais confortáveis no hotel  Luna Salada, feito inteiramente de sal. Já estive no Ice Hotel, na Suécia, todo feito em gelo. Belo, mas desconfortável. O de sal é muito aconchegante, a comida abençoadamente boa, tudo quentinho e confortável com calefação funcionando e banho decente. Até loja com artigos compráveis oferece o hotel. A noite de lua cheia e o por do sol no salar são um show. O sol se põe na imensidão branca e forma um leque de luz em meio aos vulcões. Alguns deles ficam lilases, alguns ocre. Depois disso a lua brilha nos cristais de sal e chorei de emoção. Nunca vi nada tão bonito...

                No quarto dia, passada pela feia cidade de Uyuni e volta a San Pedro. Pelo longo caminho, formações rochosas chamadas Cidade Perdida distraem da tortura do pó e caminhões de mineradoras trafegando por ali constantemente. O almoço foi um pavor de costeleta de lhama, uma carne dura e sem graça, com as pobreza lhaminhas perto dali pastando. De um bicho tão lindo, só a lã!

                Pensei que voltaria ao Chile, a San Pedro, em triunfo, ao hotel que apesar de pentelho-chique é bem confortável. Mas não. Fiquei triste ao deixar a Bolívia e as maravilhas desta terra de gente simpática e sofrida. Gostaria de voltar e rever La Paz, conhecer Potosí , ver o Salar de Uyuni coberto de água espelhando as nuvens no verão e pernoitar na Isla Del Sol no meio do lago Titicaca. Quem sabe um dia...

                Agora o lado prático:

                1 – contrate serviços exclusivos, caros, mas só para você e “sua turma”. Os longos e cansativos percursos não permitem contato com estranhos e carros apertados ( a não ser que você seja um mochileiro/a  convicto). Certifique-se de que os mesmos tem ar condicionado funcionando.  Ou invista ainda mais dólares nas Travesías Explora que fazem tais trajetos com a marca de competência de seus hotéis.

                2 – leve “alimentos alternativos” como chocolates, biscoitos e barras de cereal. O que os guias levam é bem fraco....

                3 – espirito esportivo e boa vontade com a “realidade boliviana” são fundamentais. Além de politicamente correto, o viajante aproveita esta região maravilhosa e não se estressa. Tenha a atitude de um norueguês no Brasil, por exemplo... 

 

 

Santiago, 19 de novembro de 2013

FOTOS SANTIAGO DO CHILE, ATACAMA E A SENSACIONAL BOLIVIA - LINK DROPBOX

https://www.dropbox.com/sc/w80lvlerpp8ev78/sY1DJ-0pIl

domingo, 3 de novembro de 2013

fotos CEARÁ 2013

https://www.dropbox.com/s/kpp6oy718ss8zn7/IMG_9849.JPG

CEARÁ 2013


                Onde Judas Perdeu as Botas e eu Encontrei mais uma Linda Praia Brasileira

                               Pontal de Maceió -         Fortim – Ceara 

 

                Numa dessas chatas revistas de bordo, mais precisamente a da TAM, que sob o jugo chileno só faz piorar, li uma curta matéria sobre lugares bonitos para se visitar no Brasil. Na opção “desbravador” o hotel Vila Selvagem recebeu destaque e me despertou curiosidade; seu site na internet não é dos melhores, mas o hotel e praia de localização, com certeza são.

                A praia fica antes de Canoa Quebrada, umas duas horas de Fortaleza. A viagem e fácil, tudo asfaltado, tranquilo. O vilarejo de mesmo nome da praia não apresenta encanto algum, mas é decente. O mesmo não se pode dizer das barracas de praia, das mais indecentes do país. No entanto, como Deus é definitivamente brasileiro no que se refere a belezas naturais, o lugar é muito bonito e o hotel totalmente “pé na duna”, muito charmoso e confortável.

                Idéia de uns franceses amalucados que compraram grande área beira mar a preço de caju (a região é infestada deles), o Vila Selvagem e bonito, confortável, bom serviço e comida ótima. Única opção da área, não cansou nem enjoou nos oito dias inteiros e oito noites idem em que lá nos hospedamos. Coisa difícil em lugar distante, onde tal estabelecimento é a única coisa “ficável” do pedaço. Não há NADA o que fazer a não ser a imensa e bela praia de areias brancas e alaranjadas, a piscina, o mar verdinho, a boa comida franco-cearense e televisão. O celular pega médio e a internet idem. Os quartos do hotel são espaçosos e bem equipados, varanda frente ao mar, rede e quindim (melhor do que os baianos) com calda de chocolate.

                Os preços das diárias são os mais amenos do litoral cearense, que andam bem caro, e refeições sofisticadas não esvaziam contas bancarias. Com milhas até Fortaleza sai bem mais em conta do que Bahia ou Santa Catarina. E sem comparação com o Rio ou o caríssimo litoral paulista. Uma pizza razoável sai por 18,00, por exemplo. Lagostas são possíveis e fartas, camarão idem.

                Os passeios de bugue dão o tom animado à estadia, mas preparar o bolso se for contratado no hotel é recomendável; um dia inteiro com o dito mais motorista custa 400,00 para 2 pessoas. O hotel tem um mini spa a preços razoáveis e opções atraentes, mas a preguiça da praia me contaminou e não quis saber de banhos e massagens.

                O único dia em que saímos da letargia benéfica do estabelecimento foi para aventurarmo-nos em bugue do Bolota, um bom guia-motorista. Fomos pela praias, atravessando o imponente rio Jaguaribe até Redonda, onde comemos lagosta de montão, boa e barata. O trajeto é uma espetáculo de dunas, falésias, coloridas formações rochosas, bizarras usinas eólicas, vistas incríveis e muito sol. E vento. No calorão do Ceará não senti calor durante toda a estadia por causa da ventania constante. Muito agradável. No trajeto bugueiro paramos em Canoa Quebrada, uma diversão mais agitada em tanto paradeiro. Vale a visita, mas infelizmente não dá para ficar mais do que algumas horas e mesmo assim durante a semana, nada de feriados, sábado ou domingo, quando o lugar vira a favela-semi chique que é Morro de São Paulo, Bahia.

                Canoa é um bom lugar para distrair e fazer compras, parando na vizinha Majorlandia e apreciando o artesanato-paciência-de-Jó dos membros da família Carneiro que há muitos anos fazem e foram pioneiros, das garrafinhas com areias formando paisagens coloridas. Além da lagosta excelente custo-benefício da parada final, também visitamos uma fabrica “artesanal” (palavra politicamente correta para designar “fábrica sem higiene alguma” de castanha de caju). O tosco lugar é interessantíssimo, pois se pode ver as cerca de 20 etapas pelo qual passa a castanha para virar a delicia de bares e apetitivos. A coisa é difícil e custosa e ali se entende porque é cara a castanha de caju. A casca pode ser aproveitada na indústria química e a fruta, claro, nos sucos e doces maravilhosos do nosso querido Nordeste.

                O passeio também desvenda mistérios insondáveis, como o fato de que a Petrobras produz petróleo, EM TERRA, numa fazenda perto de Canoa Quebrada. Um cenário texano, em meio a coqueiros e cajueiros. Coisas de nosso Brasil enorme e incompreensível. Como também é difícil entender como a terra tão seca e sem chuva produz coco, caju, melancia e outros itens agrícolas, de montão. Tudo isso visível e conferível em apenas 50 ou 60 km de estrada.

                Vivendo e aprendendo. Eu modifico para: viajando e maravilhando...

 

Vila Selvagem – 19 de outubro de 2013

 

Observação: até a data acima, NÃO existia restaurante digno do nome em Pontal de Maceió, fora o do hotel Vila Selvagem. O arrumadinho Café das Artes, na praça da igreja pertence ao hotel Vila Selvagem, mas oferece pratos comuns e sem graça. A pizzaria da praia é bem ruim...

quarta-feira, 10 de julho de 2013

UPDATE Gramado, Santo Andre e Arraial - outono/inverno - 2013


                                            LUGARES DO CORACAO

 

                              GRAMADO, SANTO ANDRE E ARRAIAL DA AJUDA

 

               No primeiro semestre de 2013 estive nos 3.

               Gramado inevitavelmente linda, limpa e civilizada; querida em seu frio cortante, chuvas, ventos e neblina. O hotel Ritta Hoppner sempre aconchegante e com serviço impecável. O Território do Sapato com seus preços camaradas de costume e os chocolates da Prawer (destaque para bolinhas de choco-caramelo recheadas com damasco) engordando cada vez mais. Novos restaurantes visitados incluem o Malbec, o Bistrô da Lu e o Marco’s. Os três já conferidos anteriormente, mas agora revisitados sob nova administração. Não é o caso do Malbec que segue com os mesmos donos e no mesmo lugar. Em dezembro lá estivemos, mas só para aperitivos e saladinhas. Gostamos, principalmente do serviço e ambiente. Em junho de 2013 a casa não passou no teste e a carne parecia pedra e os preços igualmente rochosos. Reprovado.

               O Bistrô da Lu já é outra historia e compete firme com o restaurante do hotel La Hacienda na posição de melhor restaurante da Serra Gaúcha. A tal Lu foi aluna do chef Floriano Spiess, dono do finado Volta ao Mundo. Com o sucesso desta casa canelense, ele arrumou as malas e se mudou para Porto Alegre onde ganha mais dinheiro, faz mais sucesso, é mais reconhecido por sua cozinha moderna e deliciosa. Deixou Canela órfã e, consequentemente, Gramado. Não por muito tempo, pois a pupila Lu esta lá agora, no mesmo lugar e cozinhando tão bem quanto. O melhor custo-benefício da região, a melhor carne, melhor apresentação; aliados a interessante e barateira carta de vinhos. Marco’s, filial de montanha da casa praiana de Rio Grande e Porto Alegre, tinha já tentado negócio em Gramado, instalada em bonita “vitrine” no condomínio O Bosque. Não deu certo pelos preços e localização. Anos depois tomaram coragem e abriram belo local moderno e envidraçado em área central da cidade. Bom ceviche, risoto de camarão divino e petit gateau deliciosamente fumegante. Caro para padrões gramadenses, mas boa pedida para paulistanos como eu, acostumados e sofredores de preços escorchantes.

               Na área semi-cultural, o colorido espetáculo Korvantunturi faz as honras, agora apresentado o ano todo e não só na época do famoso Natal Luz. Coisa para crianças, mas o cuidado da produção e o esforço da equipe alegra adultos também. Se um dia mudar-se para espaço adequado, será um tipo de show a la Cirque du Soleil tupiniquim.

               Se por um lado Gramado brilha, o mesmo não se pode dizer da minha amada e baiana Santo André. A praia mais bonita do mundo continua lá, mas o entorno está passando por fase deprimente. Devido a expectativas de que o lugar se tornaria a próxima Trancoso, bons restaurantes, hotéis, lojas e pousadas lá investiram e deram com os “burros n’água”. Infelizmente caso da pousada Vitor Hugo, do hotel Costa Brasilis, Casa Praia e restaurante La Floridita. Alguns, como Vitor Hugo, La Floridita e Costa Brasilis operam parcialmente. Casa Praia fechou e em abril de 2013 só havia 2 lugares decentes para comer: Jacumã e Sant’Annas. De dois italianos que cozinham muito bem e estão sobrevivendo. Até quando? Jacumã pertence a um chef digno do nome, merecendo estar no Rio, São Paulo ou Nova Iorque. Ficará em lugar sem clientes? Só o tempo dirá.

               Em outubro do ano passado já sentimos os problemas e em abril deste ano a coisa só piorou. Alugamos uma linda casa ao lado da minha querida pousada Vitor Hugo (que não tem mais seu outrora ótimo restaurante) e foi um custo comer: fora e dentro. Dois restaurantes, NADA na horrenda Cabrália, cidade vizinha, e uma decepcionante refeição cara e gordurosa no também outrora bom restaurante da Maria Nilza, no Guaiú. O restaurante Gaivota, beira rio em Santo André só vale para emergências extremas; sujo, fedorento e lento. Fazer compras no ridículo mercadinho de Santo André é um parto e nem sequer mamão digno do nome se encontra por lá. Existe fina peixaria em Cabrália , mas outras coisas só mesmo na distante Porto Seguro. Opções de lazer se foram com todo o resto, o cinema para o brejo e a noite só resta dormir...

               Pena, pois amo Santo André e sempre torci pelo sucesso do lugar. Um dia, quem sabe...

               Já Arraial, só melhora. Demorou mas aconteceu! Pela primeira vez vejo a cidade e arredores cheia. Mais bares, lojas e restaurantes, até os taxis andam ajeitados e regulamentados em suas cores branca e azul. Vale o mesmo para os divertidos moto-taxi trafegam no verde limão. Praça da igreja ainda precisa de reforma e a feiura das barracas de praia na área bem em frente à rua principal desanimam. Contudo, belos condomínios e casas de bom gosto vão aos poucos desalojando a maloca e a cidade e praias andam mais limpas.

               Minha pousada preferida, local onde me hospedo há 11 anos, também só faz melhorar. A Pousada Beijo do Vento continua linda, com aparelhos de TV modernosos e bom wifi e agora oferece almoço. As caipirinhas da Ligia, beira-piscina, são viciantes. O mesmo não vale para o café da manhã, que alimenta mas não encanta. O serviço também só melhora e vai aqui a dica: economize 150,00 na diária (não é no total, e sim por dia) e ignore os aptos 1 e 4 com hidromassagem. São banheironas redondas gostosas e românticas, mas com o novo sistema de aquecimento demoram quase uma hora na função encher/aquecer. Tira a espontaneidade da coisa e irrita. Prefira o apto 5 que tem vista para o mar e a cama está posicionada estrategicamente para aproveitamento total de uma dos cenários mais belos da Bahia. Economize, aproveite a piscina e se quiser banheira, pague a parte pela utilização do simpático ofuro do charmoso mini-spa.

               Na área gastronômica o Don Fabrizio domina a cidade e o Cauim ainda reina na praia, mas sob ameaça do super descolado Flor do Sal, desconfortavelmente perto do Cauim. Este último, mais civilizado e confortável, o outro em área verde e sombreada pé na areia. O Flor é bar de praia mas a comida é levada a sério, comandada por argentinos, nacionalidade que reina absoluta em Arraial. O Flor do Sal/Mar (não se sabe bem) tem preços bastante mais camaradas do que o concorrente, mas lugares para sentar conforto-zero. O serviço é baiano-ruinzinho. A pizza do Rapha continua boa e os brigadeiros da Piazza del Caffe são os melhores do Brasil. Dão de mil em qualquer destas caras “brigaderias” de São Paulo. Outra novidade no ramo se encontra no Café da Santa, também com mão argentina no negócio. Casa antiga reformada, perto da igreja, um lugar bonito e sofisticado, onde além de óbvias empanadas e alfajores, oferece chás importados, quindins amarelinhos e puxa-puxa e a melhor torta vienense, Sacher, fora da Áustria. Parece piada, mas não é. Esta lá para qualquer um conferir.

               E para não ficar atrás da Praia do Forte, Arraial conta com o importante projeto ecológico Coral Vivo, igualmente financiado pela poluidora Petrobras. Com direito a laboratório dentro do Eco Parque e loja charmosa no centro.

               Como veem, os lugares do meu coração continuam lá, firmes, em seus vários estágios civilizatórios e sempre no esplendor da natureza que nos faz sempre suspeitar, nem que seja lá bem no fundo, no fundo de nossas mentes e corações, de que Deus é mesmo brasileiro!

 

Arraial da Ajuda, 9 de julho de 2013

ESCAPADA A BUENOS AIRES (SUBTITULO - CORRIDA CULTURAL MALUCA) JUNHO 2013


                                             UM FIM DE SEMANA NO CEU  

 

               De minha amada Buenos Aires, há exatamente um mês. Uma decisão maluca, mas acertada: passar 24 horas na capital argentina fazendo tudo que eu gosto.

               Fui num sábado cedinho, sem bagagem. As 10 30 da manha já me encontrava registrada no hotel Íbis Corrientes, pulgueiro ficavel e bem localizado (para quem quer ir aos teatros a pé). Caminhei tranquilamente por um dia frio e ensolarado de junho 2013, vendo as vitrines da Santa Fe e curtindo a Recoleta, fazendo hora para um belo almoço no Duhau e passada rápida pelo Palais de Glace e Centro Cultural Recoleta para ver se havia exposições interessantes. No primeiro, sempre há algo de certo interesse, pois costumeiramente exibem duas mostras paralelas em andares diferentes. No segundo, nada desta vez. Só o clima muito alegre da feirinha da praça em frente; evento que não aprecio e onde não consigo encontrar nada de meu interesse para comprar, mas alegra a vida sofrida dos portenhos em mais uma desastrosa administração peronista.

               Uma passada pela igreja do bairro, que de certa maneira me faz lembrar com carinho da fofinha de Arraial da Ajuda. E depois um filme inconsequente, mas divertido no Recoleta Fashion Mall, seguido por enorme caminhada até o museu Xul Solar, lugar que nunca tinha visitado. Interessantíssimo, em casa onde morou o artista, tudo bem exposto e preservado. Uma espécie de Marc Chagall argentino, Xul deixou um importante legado de pinturas pequenas e delicadas, várias delas pintadas em vidro. Programa dos melhores para os interessados em arte.

               Mas o melhor estaria por vir, à noite: a peca estrelada por Ricardo Darin (verdadeiro motivo de tão rápida viagem), Cenas de um Casamento, de Ingmar Bergman. Se o filme era bom, esta versão argentina para o palco é ainda melhor, muito contundente e atual, num retrato acertado e amargo da vida conjugal. Ricardo Darin é ainda mais competente e fascinante no palco do que na tela e sua colega de cena, Valeria Bertuccelli é uma atriz de primeira. Os dois dirigidos pela atriz-monstro sagrado argentina, Norma Aleandro. Difícil parar de aplaudir!

               Para terminar a maratona, fui ver as 22 30, exausta, outra peca que decidi comprar horas antes, a forte e difícil Incêndios, de Wajdi Mouawad. Drama de palestinos, não fez meu gênero apesar do ritmo profissional do espetáculo.

               Na manha seguinte, após poderoso café da manha reforçado pelas deliciosas medias lunas do adorável café Biela, voltei a São Paulo, ao detestável e indecente aeroporto de Guarulhos.

               Foram horas geniais numa cidade genial, feitas possíveis pelas milhas acumuladas e a proximidade de Buenos Aires. Sem bagagem e ida e volta pelo central Aeroparque, mais perto do que ir a Gramado, outro lugar que adoro e vou com frequência.

               Em vez de acumular milhas para frustrados resgate de bilhetes a Europa ou aos EUA , missão impossível nos dias que correm, prefiro utilizá-las para voos domésticos ou Buenos Aires. Que é como se fosse na esquina... 

 

Arraial da Ajuda, 9 de julho de 2013.

EUROPA FELIZ - VERAO 2013


                                            INTERIORES CHIQUES E FESTIVOS

                                            Escócia E Suíça  -  Verão 2013 

 

               Em junho de 2013 voltamos a um país em que havíamos estado há 10 anos e que não tínhamos nenhuma intenção de voltar: a Escócia. Apesar de bonitas paisagens, o resto é quase todo um tédio sem fim e nossos 15 dias por lá já foram mais do que suficientes. Como “o mundo gira e a Lusitana roda”, lá fomos “dar com os costados” por conta de uma festa de família. Alegre e divertida, em um castelo nas profundezas de Speyside, região produtora de grandes marcas locais do bom e velho uísque escocês.

               O Drummuir Castle, uma propriedade particular alugada a uma firma por tempo indeterminado, serve como centro de eventos a dita firma e posa como hotel de luxo só aberto a convidados da empresa. Em meio a lindos jardins e o verde eterno da Escócia, visitas a destilarias, observação de treino de falcões, águias e corujas, praticas de tiro, divertidas corridas de quadriciclo e os inevitáveis pubs. Aberdeen, rica e única cidade maior perto do castelo, dista uma hora e meia. Vale ser explorada, pelas construções inteiramente em granito criando clima “castelo do Harry Potter a beira mar”, museus intrigantes, seu ritmo alegre de cidade munida de concorrida universidade importante, próspera pela indústria petroleira local. Jantamos dentro de uma igreja transformada em restaurante. Uma experiência bizarra, singular, mas não necessariamente agradável....

               O interior da Escócia é muito bonito, colinas suaves recheadas de carneiros a perder de vista e verdíssimo pastos resultantes das constantes chuvas, contrastando com a beleza nevada, florida e montanhosa da Suíça, nossa próxima parada. Em Ascona, no sul, parte italiana do pais, sol, lagos e escarpas muito altas enfeitam o entorno de um vilarejo sofisticado, onde o importante Ascona Jazz Festival acontece há 20 anos na segunda quinzena de junho. Fina gastronomia fica por conta do modernoso Seven e suas criações que vão de peixe de rio ao molho suave de curry a macarrons de lavanda e outras esquisitices. O resultado, mesmo para quem, como eu, detesta tais modernices, é muito bom e na certa repetiríamos em nova estadia no delicioso lugar. De lá, montanha e neve acima até atingir a bela Saint Moritz, reduto de esqui de bilionários. Mesmo no verão, o local é espetacular, a cidade uma “feira de grifes” sem perder o toque tipicamente suíço de pequenos restaurantes revestidos de madeira servindo fondues e raclettes. Mesmo no verão, pois em junho, à noite, as temperaturas caem por volta de 10 a 12 graus o que também permite geladas visitas por poderoso teleférico ao alto pico Corvatsch e suas vistas deslumbrantes. Ali também visitamos o divertido bar do hotel Waldhaus, a maior coleção privada de uísques do mundo. Uma sensação mesmo para quem não gosta da bebida; termina-se  provando uns tantos quantos e cambaleando de volta ao hotel Kepmpinski. Luxuoso e grandioso, o antigo Gran Hotel des Bains administrado pela grife hoteleira, revive os dias de gloria em alto estilo. O café da manha descortina um banquete com direito a salmão, champanhe e caviar entre outros refinados acepipes

               O toque “Great Gatsby” foi dado pelos 40 Rolls Royce vintage que dali partiram em um rally classudo pela adorável paisagem da região de Grissons. Resquícios de um passado glorioso, mas não perdido como bem atesta a prosperidade e luxo mais do que presentes em Saint Moritz.

               Tanto Drummuir, quanto Ascona e Saint Moritz são parte do “interior” de seus respectivos países. Mas um interior de sonho e prosperidade, de experiências e momentos inesquecíveis.

               Isso sem contar as horas ensolaradas que passamos em Bellagio, já na Itália, a procura da casa do ator George Clooney. Não a encontramos, mas nos deliciamos com as ruazinhas charmosas e estreitas do vilarejo e com a sempre saborosa comida italiana. Provada e aprovada em simples cantina local. Massas e merengues, morangos na flor da estação. E muito vinho italiano porque ninguém e de ferro...

 

Dedico este artigo a minha irmã Gisela e meu cunhado Randy por serem anfitriões impecáveis e divertidos companheiros de viagem.

 

Arraial da Ajuda, 10 de julho de 2013.

sábado, 11 de maio de 2013

link para visualizar fotos de un dia ensolarado em La Boca, Buenos Aires

https://www.dropbox.com/sc/l11kfmcuc29vhju/frEo0cBTsc

BUENOS AIRES 2013


                                               OUTONO EM BUENOS AIRES

                                                               MAIO 2013 

 

Onze museus, duas igrejas e cinco peças de teatro divididos em quatro noites na capital argentina. Acompanhados por cinco almoços e deliciosas mediaslunas (croissants) matinais no tradicional café La Biela.

Como no ano passado, hospedagem no Urban Suítes Recoleta. Mesmo tipo de quarto, mas no oitavo andar, garantindo “vista cinematográfica” do famoso cemitério e menos ruído de rua e elevador. Continua valendo a pena, pois é impossível hospedar-se bem em áreas nobres da cidade por menos de 200 dólares diários, na baixa estação.

O campo gastronômico, caro e fraco. A única refeição que realmente compensou os R$ 250,00 (mesmo preço do almoço no Tomo 1 e La Cabaña) por pessoa foi no Duhau. Continua magnífico, um bife de chorizo imbatível. A cadeia Hyatt tem na Argentina um fornecedor de carne fabuloso. Um mistério num país à beira do abismo financeiro e político (apesar de se gabarem orgulhosos de terem Papa e Rainha), exportando tudo que podem para levantar dólares e enfraquecendo a oferta doméstica. Carne boa e barata como sempre foi possível comer da Argentina, coisa do passado. O bom vai para fora e o que fica é fraquinho e/ou ridiculamente caro. Felizmente este absurdo não se aplica aos vinhos locais, maravilhosos e com preços honestos. Como sempre, por copo não vale a pena. Sempre garrafa inteira.

Desta vez a carne do La Cabaña decepcionou, a do Tomo 1 estava fora do ponto. Nos dois lugares contudo, bom serviço e sobremesas ótimas. E as empanadas do La Cabaña seguem quase sem rival. Infelizmente, fui no “vai da valsa” turístico e fui dar com os costados em 2 mega-micos portenhos: El Obrero e La Brigada. O primeiro, tido como bodegón típico e tradicional do país, coisa para iniciados, é um nojo de sujo e cheira tão mal que não consegui comer mais do que umas poucas lulas de aperitivo. Encharcadas e fedorentas. O bife de chorizo, saboroso, mas igualmente engordurado e duvidoso.  Um muquifo pequeno, abafado, barulhento, cafona ,péssima e perigosa localização. Fuja.

O La Brigada, em San Telmo é muito bem localizado no gostoso e tradicional bairro de mesmo nome. Encantador, com suas ruas charmosas, praça movimentada e lojas e antiquários descolados. Três museus dignos do nome completam o entorno. O restaurante é simples, limpo, bom serviço e outra suposta tradição de Buenos Aires. Como o medonho acima citado, muito frequentado pelos próprios argentinos. Mas o ojo de bife era um pau de tão duro e a panqueca de doce de leite, insossa. Nas duas arapucas os preços são razoáveis. Pelo menos. Mais vale o Té Chai Latte do Starbucks na deliciosa Plaza Dorrego, ao som de musica brasileira.

No setor cultural, para mim o forte da cidade, o Malba continua brilhando e a exposição de nossa Adriana Varejão tornou tudo melhor ainda. No Palais de Glace uma mostra de fotografia forte e triste no primeiro andar e no segundo desenhos bizarros. A poucos passos dali, arte urbana radical no Centro Cultural Recoleta. Um show de artistas internacionais, com musica ao vivo, o Puma Urban Art. O PROA, na Boca, lugar que tentei ir mais várias vezes sem sucesso, não decepcionou na mostra de artistas argentinos. Livraria e café adoráveis. Também ali mesmo na Boca visitei os terraços do Museu Quinquela Martin e suas bonitas esculturas. Vista ótima do porto e boa oportunidade de rever as carrancas de antigos navios e as obras intensas do artista que dá nome ao museu.

Em San Telmo visitei pela primeira vez o museu de Arte Moderna e o de Arte Contemporânea. Ambos localizados no mesmo bonito edifício, em vias de término de reforma. Nada de especial nas mostras, mas o futuro promete, pois os espaços são muito adequados a exposições. Mesmo diria para o novíssimo e também não totalmente concluído Museo Del Cine (na Boca).

Mas San Telmo guarda mesmo um dos segredos mais preciosos de Buenos Aires, o Zanjón de Granados. Casa-museu particular, um achado arqueológico de primeira, com direito a porões, adegas, e corredores misteriosos por debaixo de várias “casas-linguiça” do bairro. Estranha história de um milionário local que comprou ruína para transformar em restaurante (está localizado a poucos passos do vetusto Viejo Almacén – local super tradicional de tango-turista na cidade) e se deparou com restos de construções do século 16. Arquivou o projeto culinário, contratou arqueólogos e historiadores, limpou e reformou tudo e agora o interessantíssimo espaço é usado como local de eventos corporativos, casamentos e outros que tais. Bem como museu sobre a história de Buenos Aires, com fascinantes visitas guiadas em espanhol e inglês. Telefone para saber dias e horários que mudam constantemente.

Mas o melhor de tudo foi reservado às artes cênicas, grande revelação desta viagem feliz à Argentina. Não é que Buenos Aires tem uma Broadway quiçá maior ainda do que a original norte americana? Parece piada, mas a região da Avenida Corrientes, aquela mesma do tango famoso, concentra mais de 25 teatros cuja fértil produção funciona a todo vapor de quarta a domingo. Coroada, claro, pelo maravilhoso Teatro Colón e o belo e austero Teatro Cervantes. Preços das entradas variam de 35 a 120 reais.

Por pura sorte vi cinco peças geniais, com ingressos facilmente compráveis na internet, no eficiente plateanet.com.ar . Dama de Negro está em cartaz em Londres há décadas e a versão em espanhol não empana o brilho deste drama-comédia com toques aterrorizantes. Os dois protagonistas, magníficos. Cecilia Roth e Dario Grandinetti, ambos conhecidos por protagonizarem filmes de Almodóvar, brilham em Uma Relación Pornográfica. O filme Amadeus volta a ser peça de luxuosa montagem com o gênio de Oscar Martínez e Rodrigo De La Serna. Este último, aquele ator perfeito de Diários de Motocicleta, o amigo de Che Guevara.

O drama argentino Miembro Del Jurado, minimalista e contundente é de arrepiar e a chave de ouro foi a apresentação curta e especial de Los Villanos de Shakespeare, de Steven Berkoff. Além de o autor ser um dos expoentes modernos do teatro, o ator era o não menos fabuloso Manel Barceló, um catalão de primeira linha. Raro ver texto e ator tão fantásticos em monólogo impressionante.

Volto breve para conferir se Ricardo Darín é ou não é digno da fama de seus filmes bem sucedidos. Afinal, grandes atores se revelam no teatro. Sem truques, computador ou maquiagem.

Só talento.

Aviso aos que, como eu, já usaram muito o Buenos Aires Bus. Não anda confiável, infelizmente. Os horários na internet e nas paradas pouco tem a ver com a realidade. Telefone sempre para confirmar.  E prepare-se para longas filas em paradas populares pois não há veículos suficientes para a demanda. Mais uma armadilha de um país dominado pela quadrilha K! Que deve ser combatida levando-se dólares em espécie, pagando tudo o que der em moeda americana, assim dando o dinheiro direto aos comerciantes e não aos horríveis governantes de nosso combalido vizinho...

Em tempos de 1 dólar valendo 10 pesos (já pensou nosso Real a isso?????), suas compras saem bem mais em conta!

 

 

São Paulo, 11 de maio de 2013

 

sábado, 9 de fevereiro de 2013

UMA CABANA ROMANTICA NA FINLANDIA

Finlândia, Suécia e Noruega - PARTE 2




Depois da maratona vôo-carro-navio-onibus-van-taxi-Ice Hotel, mais outros 400 km (total dirigido na Escandinávia: 1100 km e uma parada-bafometro no meio do nada em que o guarda ordenou a meu marido em perfeito inglês, sem meias palavras, que ele assoprasse no aparelho)até a Laponia finlandesa, de volta ao nosso ponto de início, para uma semana em casa alugada no meio da floresta, perto do povoado Akaslompolo e a estação de esqui, Yllas. Nossa mini-casa é uma charmosa construção de madeira no meio da floresta, literalmente enterrada no meio da neve. Com lareira na sala e sauna no banheiro; aconchegante e romântica. Como fica a 4 km do centro, caminhamos todos os dias a procura de suprimentos, restaurantes, lojas e outras necessidades básicas da vida moderna. Bom exercício, ajudado por “trenós-carrinho-de-compras” onde se carrega os itens adquiridos deslizando e patinando sobre o gelo. Fazer compras na Laponia é isso aí!

Esta área é famosa por seu esqui cross-country - aquela modalidade do esporte que se pratica em superfícies planas, com esquis mais fininhos e uma espécie de tênis especial para isso em vez de botas. É uma delícia, um grande exercício, sem o perigo de quebrar vários ossos no processo. A Finlândia é top neste esporte e a Laponia um dos melhores lugares do mundo para praticá-lo. Bem como as caminhadas usando snow shoes (sapatos de neves), a caminhada nórdica, corridas malucas e geladas com os snow cats (motos gelo) e os trenós puxados por cães da raça husky, especialmente criados para isso. Existe também o passeio de trenó conduzido por renas e apesar da metereologia inóspita da Laponia, há muito que fazer por aqui. Akaslompolo como mini-cidade não é particularmente interessante ou charmosa e opções gastronômicas e de compras são extremamente limitadas. Mesmo assim, a escuridão predominante faz com que os curtos dias sejam aproveitados ao máximo e dorme-se muito bem sob os grossos edredons e a neve caindo lá fora.

Neva incessantemente há sete dias e em nossos dez entre Noruega, Suécia e Finlândia, só um apresentou tempo bom, ensolarado e com céu auzl-rosado, típico destas latitudes no inverno ártico. Ensolarado e muito frio, variando entre -21 e -26 graus. Um frio que mais parece fogo, queimando nariz, dedos da mão e pé. Congelando cabelo e cílios, fazendo os olhos fecharem. Na marra!

Meu marido limpa nossa entrada diariamente para que não sejamos completamente soterrados pela neve e corta lenha para as noites de lareira, vinho e fondue.

Como o tempo não ajudou e nos limitou bastante, no dia mais ensolarado e conseqüentemente, o mais frio, enfrentamos temperaturas variando de -26 a -21 para visitar uma fazenda onde criam renas, há 70 km de Akaslompolo, na fronteira com a Suécia. Lugar belíssimo, propriedade da mesma família há mais de 200 anos. Ali, pudemos alimentá-las com liquens e como as renas comen docilmente em nossas mãos é possível ter bom contato com estes animais quase mitológicos para nos brasileiros, coisa do Papai Noel e contos de fadas. Mas as renas nada tem de fictícias e são animais bonitos e de grande utilidade. Sua pele é usada para roupas, móveis e tapetes, calçados também. Os chifres para decoração e peças utilitárias como maçanetas de portas ou cabides, por exemplo. Sua carne é usada nas mais diversas preparações, de carpaccios a rosbifes e os cozidos tradicionais. São o carro-chefe da cozinha regional, que inclui ainda salmão defumado e fresco, saladas de cogumelos e diversas sobremesas com frutas do bosque. Tudo isso pode ser provado no restaurante adorável do igualmente acolhedor Yllashumina, o melhor hotel da vila.

Na fazenda vendem a carne de rena congelada e embalada a vácuo, além dos mais variados souvenires feitos com pele e chifres de renas. A família se veste com roupas típicas e nos explicam em bom inglês, o trato com os animais e como laçá-los na floresta. O ponto alto do passeio é andar de trenó puxado por renas; trenós de madeira, duas pessoas por “veículo”, uma só rena que é capaz de puxar sozinha até 200 kgs! Maravilhosos animais bonitos e peludos, a “vaca do Ártico” só falta falar...

Desnecessário dizer que deslizar 30 minutos pela neve alta, por florestas lindas, com sol e céu azul, ter aquela sensação única de estar na terra do Papai Noel e utilizar seus trenós e renas, compensa o frio arrasador. Os trenós de madeira, bem rústicos, por incrível que pareça são quase acolhedores, cobertos pelas peles destes mágicos animais e poderosos cobertores. Inesquecível, especialíssimo, encantador...

Para terminar, tomamos café, chá e sopa ao redor de enorme fogueira ao ar livre. Alguns dos tocos de lenha mais grossos queimam em um lado e ainda tem neve do outro. Só mesmo nestas regiões longínquas, equivalentes ao norte do Alasca ou da Sibéria.

Esta semana em Akaslompolo é altamente recomendável para casais apaixonados, fanáticos por esportes de inverno ou famílias que curtam neve. Boa infraestrutura, preços razoáveis e a oportunidade especial e rara de se conhecer um lado remoto do mundo e um país tão interessante e de gente tão simpática como é a Finlândia. Que é não só a terra dos Angry Birds e da Nokia, mas também de paisagens cartão-postal e cultura tão diferente da brasileira. Alugar casa aqui é fácil e a agencia Destination Lapland organiza tudo muito bem. Também é possível vir aqui de junho a setembro, quando tudo fica bem verde, as temperaturas mais “negociáveis” e caminhadas mais prazerosas. Há vário lagos na área e atividades de água como pesca, rafting e canoagem são possíveis. E as renas ficam soltas e alegres por toda a parte. Como elas têm prioridade sobre os carros, o único perigo da Laponia no verão é uma colisão-frontal com os “motores de quatro cascos” do trenó do Papai Noel!

Nosso ultimo dia foi divertido e de bom tempo, de volta ao sol e ao azul rosado do final da tarde. Visitamos a montanha Yllas onde fica a estrutura de esqui da região; moderna e eficiente, no pico há até uma espécie de caverna/bar onde músicos tocam hits do rock pesado. A vista é maravilhosa, um festival de lagos gelados, florestas petrificadas, planícies gigantes e algumas colinas no meio. Uma sinfonia em branco e azul, paisagem totalmente diferente de Bariloche, Valle Nevado, Colorado e Alpes. Qualidade da neve para estes ski tradicional e snowboarding é sensacional e vai constante de novembro a maio.

Boa despedida no restaurante Jullis, ambiente meio saloon do velho oeste americano, música bem mixada, pizzas e burger gigantes e gostosos. A agradável surpresa foi a entrada, um intrigante tartar de carne de rena, com salada e molho cremoso decorado por Cranberries. A sobremesa foi o fecho com chave de ouro, na forma de um cheesecake de blueberries inesquecível. Bom e barato: para padrões escandinavos...



Akaslompolo, 09 de fevereiro de 2013





segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

ICE HOTEL – 2013




Finlândia, Suécia e Noruega no inverno

PARTE 1



Felicidade a 29 graus negativos e apenas 6 horas de luz – não sol – por dia. Isso pode levar a férias legais? Qual é a graça de lugares gelados e escuros? De dormir em cama de gelo a menos 5 graus Celsius? De navegar no oceano Ártico na bruma espessa a procura da famosa aurora boreal? De ficar oito dias numa cabana perdida nas florestas da Laponia?

O acima citado é muito legal e extremamente interessante se organizado de forma eficiente e sensata, como foi o caso de nossa viagem em janeiro/fevereiro deste ano. Uma viagem bem sucedida e alegre, começando por um vôo de 3 horas e meia de Zurich a Kittilä, no coração da Laponia finlandesa, a suposta terra do Papai Noel. Aterrisa-se em minúsculo aeroporto no meio do nada, onde Judas perdeu as botas e todo o resto da roupa! O piloto pede que os passageiros corram até o terminal, pois a neve intensa cobre as escadas e a pista. Até o setor de bagagem uma caminhadinha ao ar livre de 10 minutos, tentando correr e equilibrar malas de mão, pelo gelo absoluto. Começa aí a aventura.

Seguida de aluguel de carro especialmente adaptado a tais condições climáticas, de baterias especiais a fluidos anti-congelantes, cabos elétricos para ligar o carro a tomadas em certos pontos de estacionamento e os pneus equipados com cravos antiderrapantes. Tudo ótimo para quem sabe dirigir em tais engenhocas e tempo, como é o caso de meu marido suíço e, ainda por cima, engenheiro mecânico. Para ele, tudo divertidíssimo, para mim um tanto assustador a princípio. Toda a função com o carro é diariamente complicada pela neve implacável que cobre tudo o tempo todo. Limpar o veículo , ligá-lo e aquecê-lo todas as manhãs é um programinha de índio de pelo menos 20 minutos de duração.

Nossa primeira noite em hotel razoável em Levi, uma das principais estações de esqui da Finlândia não foi memorável e no dia seguinte partimos para uns meros 450 quilômetros na neve/gelo até o extremo norte da Noruega. Com certeza, uma das atrações máximas da viagem inteira, pois o percurso é de uma beleza indescritível e frio idem. As florestas finlandesas totalmente cobertas de branco contrastam com o prateado dos troncos das árvores, o azul-rosado do céu e o alegre pulular de renas por toda parte. Parece coisa de histórias de fadas, mas é realidade e é necessário fechar e abrir os olhos para não pensar que estamos sonhando. Tais estradas são estreitas, mas mantidas com perfeição e o tráfego é pouco, o que faz com que apreciar a paisagem seja ainda mais fácil e relaxante. Terreno plano, nada de curvas aterrorizantes. Foi nesse primeiro dia, claro e sem neve, que o termômetro do carro, marcando a temperatura externa, acusou -29. Dentro do veículo quentinho e escutando jazz suave, cercados pela deslumbrante natureza local, chegamos com segurança e tranqüilidade à Noruega, em Kirkenes.

Tal cidade, à beira mar, é uma das mais ao norte do mundo e suas águas portuárias congeladas e barcos presos ao gelo são bastante singulares. A fronteira com a Rússia e a famosa Murmansk, local importante na Segunda Guerra Mundial, dão o toque misterioso ao lugar onde pernoitamos em bom hotel da cadeia norueguesa Thon e saboreamos o King Crab das friorentas águas da região; com direto a malbec argentino. Aliás, vinhos argentinos dominam as cartas da bebida e prateleiras de supermercados por toda a Escandinávia. Há chilenos também, mas os argentinos tem presença mais forte e preços mais baratos do que no Brasil! Coisa boa em região do mundo onde os custos são altos e boas refeições não saem por menos de 100 euros per capita.

Foi em Kirkenes que embarcamos no MS Polarlys, da companhia de navegação Hurtigruten; uma mistura de balsa/navio cargueiro e cruzeiro turístico. Correto e limpo, o navio que transporta cerca de 600 passageiros, mais carros (sim, o nosso foi junto), navega com uma rapidez e eficiência incríveis pelas águas semi-congeladas dos fiordes noruegueses no oceano Ártico. A comida é boa, a cabine pequena e limpa, corretamente aquecida. Pela proteção natural das sensacionais montanhas norueguesas, verdadeiros “sorvetes de creme”, totalmente cobertas de branco nesta época do ano, as águas são relativamente calmas e o navio não joga muito. As atividades a bordo se limitam ao curto observar da paisagem quando isto é possível durante o curto dia das regiões acima no círculo polar ártico, a alguns filmes sobre culturas locais e o melhor mesmo são as paradas constantes da embarcação nos inúmeros portos da costa norueguesa. A precisão dos navegadores locais é fascinante, o navio se move atracando e partindo com a rapidez de uma canoa!

Em nossos três dias a bordo desembarcamos em Vardo, linda vila com direito a museu e igreja, mas sem muito tempo para longas caminhadas; em Hammerfest, que a Noruega alega ser a cidade mais ao norte do mundo e em Troms. Em Hammerfest passeamos pela movimentada cidade e subimos uma duríssima montanha onde supostamente descansaríamos e tomaríamos uma bebida revigorante no restaurante lá encima. Só ficou no difícil da subida na neve o vento cortante dos 17 graus negativos do pico. A descidade é muito lenta devido ao perigo de rolar morro abaixo. Valeu vistas e fotos e a experiência maravilhosa do “topo do mundo”. Mesmo com restaurante fechado e com a bebida revigorante deixada para o bar no porto. Mais igreja e museu, todos eles, como em Vardo, relacionados a eventos e destruições múltiplas ao longo da extensa história de guerras e conflitos europeus.

Em Troms, o melhor do cruzeiro, um concerto à meia noite na principal igreja da grande cidade que como Budapeste, é dividida em duas partes, na Noruega pelo mar. Na parte alta fica a moderna Igreja do Ártico. Seu formato triangular, parecendo um bolo branco em onze camadas irregulares e vitrais mostrando Jesus descendo à Terra, dão um toque especial às coloridas casas ao redor, como se um anjo-gigante acendesse aos céus impulsionado pela música clássica típica da Noruega, piano, órgão e instrumentos de sopro utilizados no concerto dentro da igreja. Embalados pela voz igualmente angelical da soprano, o frio da meia noite e as luzes fantasmagóricas da aurora boreal refletindo nos vitrais da igreja. Uma experiência inesquecível...

Desembarcamos em Harstad, uma movimentada e alegre cidade do norte da Noruega e assim completamos nosso breve périplo pelos fiordes nevados. Muito legal e diferente, repetiria tudo de maio a setembro, quando os dias são mais longos e as temperaturas mais amenas. Amamos a Noruega e seu povo simpático, arquitetura e natureza, modernidade e qualidade de vida.

Mas aviso a brasileiros que considerem cruzeiros com a linha norueguesa Hurtigruten:

1 – idiomas a bordo são apenas norueguês, alemão e inglês. Nesta ordem.

2 – o navio cumpre função de transporte entre ilhas e para pouco em lugares onde turistas gostariam de ficar mais tempo.

3 – para verdadeiros cruzeiros de verão pelo país é melhor considerar linhas internacionais tipo Norwegian ou Royal Caribbean.

4 – não há carregadores ou qualquer espécie de ajuda com bagagem em embarques e desembarque.

5 – refeições não estão incluídas no preço da passagem e um simples hambúrguer pode custar, fácil, 20 euros.

Descrevendo Harstad, infelizmente nossa ultima parada em curta estadia pelo pais de maior renda per capita atualmente no mundo. Cidade com cerca de 25 000 habitantes e poderosa economia movida a petróleo, gás natural e pesca. Com tempo um pouco mais seco e menos frio (apenas – 14) pudemos caminhar pelas ruas e observar arquitetura e pessoas por lá. Pequeno centro antigo, casas de madeira coloridas por pintura vermelha, verde ou variados tons de amarelo, tudo cercado pelo mar cinza-chumbo e as montanhas nevadas. A igreja + centro cultural na península Trondenes fazem parceria perfeita com a natureza e dão o toque histórico/cultural a Harstad. O museu conta a historia dos vikings em prédio moderno de madeira envernizada de vermelho e muito vidro. Mobília super arrojada e restaurante ótimo fazem da visita e caminhada de três quilômetros do centro até lá, pela neve eterna, um programa de quase dia inteiro, dos mais agradáveis. Isso sem mencionar o fato da igreja ser importantíssima em termos históricos, construída lá pelos idos de 1150. Originalmente de madeira, foi refeita em pedra para servir de fortificação contra os incontáveis ataques russos. É, possivelmente, a igreja mais ao norte da Europa.

Cenário de filme escandinavo, coisa de Bergman ou dos livros de mistério e crimes tipo Stieg Larsson. Com imaginação, paisagem ideal para histórias do Drácula e outros vampiros...

No dia seguinte, volta ao carro e longo percurso até a Suécia e a imponente região de Kiruna, uma espécie de Chapada Diamantina no gelo. Sem brincadeira, parece mesmo. As formações rochosas lembram bastantes as nossas e o efeito com neve é impressionante. Este novo percurso nos leva até o mundialmente famoso hotel no gelo, o Ice Hotel.

Situado em bucólico vilarejo sueco, o estabelecimento é, há muitos anos, um hotel de verão, para quem gosta de esportes fluviais e pesca. Todo em madeira, com vários chalés espalhados pelo jardim, um belo lugar mais ou menos tipo hotel-fazenda. Mas como ganhar dinheiro com um hotel cuja temporada vai de maio a setembro? Como tornar a coisa internacionalmente conhecida? Como atrair turistas globais até um povoado sem maiores atrativos no resto do ano? A resposta é simples: inventando a armadilha pega-trouxa mais lucrativa da história da Escandinávia, o Ice Hotel. Primeiro do mundo, copiado intensamente pelos países vizinhos, todos sem o glamour da marca original e patenteada.

O que é isso?

Todos os anos, de março a abril, guindastes especiais içam pesados blocos de gelo de um rio das redondezas, de água muito clara e pura e guardam ditos blocos em depósitos onde os mesmos ficam sempre a -5 graus. Em janeiro, quando as temperaturas baixam muito em Kiruna e ficam constantemente frias, o hotel é construído, cerca de 70 apartamentos, luxuosas suítes também. Tudo é de gelo. Incluindo a mobília e o bar; copos e tudo mais. No ótimo restaurante (quente e aonchegamente) há um cardápio frio servido em pratos de gelo. Esculturas assinadas por artistas do mundo inteiro, por toda parte, loja com belos produtos Ice Hotel, tudo muito divertido. Mais de 150 casais casam-se ali mesmo na capela de gelo e em abril a água toda volta para o rio, em atitude politicamente correta. Pode-se escolher entre dormir nas aquecidas cabanas de madeira ou nos apartamentos gelados. Claro, a maior parte dos hóspedes escolhe o gelo, pois estão ali para isso. E nós fizemos a mesma escolha. Errada.

Foi uma das noites mais infernais de nossas vidas.

Uma tortura implacável, muitas horas sem sono e um desconforto brutal.

A cama é de gelo, por cima um colchonete de plástico fininho coberto por umas peles de rena, para dar o toque “aconchegante-rural”. Mesa e cadeiras de gelo, chão de neve e escultura bonita ao lado da cama. Teto alto, abobada nevada. Bonito e espectral, a neve e o gelo brilham muito em branco e azul e também refletem luz especial, que jamais pode ser apagada para não desorientar os tresloucados hóspedes que vagam como reféns de um campo de concentração pelos longos corredores gelados.

No check in fornecem enormes botas térmicas e poderoso macacão, gorros, luvas e máscara de lã para o rosto e antes de dormir os hospedes recebem poderosos sacos de dormir. Com tudo isso, como sentir frio? Fácil. Para que toda a estrutura possa ser mantida, por pelo menos três meses ao ano e garantir aos donos uma enorme receita proveniente dos turistas dispostos a tal tortura, o complexo é mantido a -5 graus e não há como dormir bem a tais temperaturas. Mesmo com toda a roupa do mundo, os seres humanos precisam respirar e o ar que entra nos seus pulmões é gelado.

Eu e meu marido escolhemos o saco de dormir para casal; grande por certo, mas impossível de fechar e o frio entrando por toda a parte, cortando suas costas como adagas geladas, o rosto permanentemente petrificado, um vira para um lado, o outro o oposto e tudo mexe e faz barulho, um estica e puxa alucinante; a luz acesa desorienta, os travesseiros que precisam ficar embaixo do saco de dormir não param quietos e a coisa inteira é uma sinfonia perpétua de frio e enorme desconforto. Sem mencionar necessidades de ir ao banheiro, por exemplo. Os ditos lavatórios se localizam dentro de um vestiário aquecido, mas longe dos quartos de gelo, portanto é necessário percorrer, de pijama, muitos metros até o banheiro. E o pior, voltar! Ao sarcófago petrificante e à desdita de noite não só insone como torturante.

Não é possível levar líquidos aos tais quartos e eu, teimosa, levei uma garrafa de água que ficou totalmente congelada. É como dormir preso dentro de um freezer, morrendo de sede e de vontade de fazer xixi. De 10 da noite às seis da manhã do dia seguinte; talvez das piores noites de minha vida. Levantar da cama no dia seguinte é um pesadelo que envolve uma penosa saída do saco de dormir, colocação mais rápida possível das tais botas e uma corrida infernal pelo hotel até o vestiário. Detalhe: uma parte do percurso é feita ao ar livre, sob neve que cai implacavelmente sobre você, sem dó nem piedade. Vestir o macacão? Impossível, pois o dito congela, qualquer peça de roupa que fica no quarto petrifica. Portanto é só você, o pijamas, as botas de borracha mais frias do universo e as forças de Deus para chegar a um ambiente mais ameno.

Recomendo muito a estadia no Ice Hotel, que é realmente uma coisa diferente e inovadora, que tem tudo a ver com a cultural da Laponia sueca, com o meio ambiente do extremo norte do planeta. Mas durma nos quartos de madeira, aquecidos. Visite o hotel de gelo e delicie-se com os coquetéis ótimos feito com uma das patrocinadoras da casa, a vodka Absolut. Tome-os no bar de gelo, sentado nas cadeiras bunda-fria, nos copos de gelo, uma aventura bacana. Mas fuja da noite pavorosa nos quartos frigorífico. Que vai fazer o turista esquecer o magnífico jantar no restaurante acima mencionado (o hotel possui outro, também ótimo e quente há uns 500 metros dali) e tornar o bom café da manhã uma experiência insone e insossa.

O Ice Hotel também sugere eletrizantes passeios em jet skis de neve. Em alta velocidade por lagos e rios de Kiruna, todos congelados. E oferece ainda mais roupa e capacetes, se é que isto é possível.Boa sorte a quem se arrisca neste tipo de atividade ainda mais frigorífica e horrorosa!



Akaslompolo, Finlandia, 04 de fevereiro de 2013