TARDE DE SOL
EM SANTIAGO
Na
capital do Chile, com a qual finalmente me reconciliei após umas 13 vezes na
cidade. Não é Buenos Aires, mas está chegando lá... Talvez questão de tempo.
O
restaurante peruano famosíssimo, Astrid y Gastón tem por lá uma filial
preciosa, que eu já conhecia e queria repetir. Com sucesso, tiradito de atum
selado e salmão iniciando o banquete e o principal prato, fabuloso espaguete
com molho cremoso e centolla, aquele caranguejo chileno, gigante. Melhor impossível,
com churros quentes recheados de banana e mel de doce de leite. Acompanhados
por um pisco sour e depois uma taça de chardonnay que nem sei qual era. Nem
precisei perguntar, pois o alegre sommelier o sugeriu com perfeição. Gastón Acúrio
vale todos os prêmios e cotações que vem ganhando nos últimos anos. Sorry, Alex
Atala e outros da mesma linha nacional, que jamais chegarão aos pés deste peruano,
verdadeiro papa da cozinha inovadora sem ser pretenciosa, caso de nosso principal
chef brasileiro no momento. E o Sr. Acúrio, ainda mais, mantém um padrão
invejável em seus vários restaurantes espalhados pela América Latina. Sem
cobrar fortunas impagáveis, de novo o caso de nosso conterrâneo. O almoço acima
citado saiu por 100 dólares. Parabéns!
Como
tinha poucas horas na cidade, além da refeição supimpa, caminhei muito pelos
parques verdes e bem cuidados da Av Providencia e me maravilhei com os
jacarandás floridos de um violeta inesquecível. Por ali mesmo, os museus de
Belas Artes e o de Arte Contemporânea são arautos da transformação de Santiago,
e cidade feia, poluída e chata, em
interessante centro cultural. No primeiro, arte chilena e uma mostra
espetacular de Carlos Faz, pintor muito talentoso que morreu tragicamente aos
22 anos, mas deixou um legado considerável de pintura das mais intrigantes. No
Contemporânea, muitas fotos de um francês genial que intervém nas mesmas com
toques malucos nos mais diferentes espaços. Bonito e inovador.
Longe
dali, mas imperdível, o museu da Memória e dos Direitos Humanos. Situado em bairro
um tanto duvidoso, tipo La Boca em Buenos Aires, vale a visita pelo prédio
super moderno e super lindo. No entanto, a mostra é tanto chocante quanto
vital. Repleta de jovens, vários deles descendentes das pessoas que pereceram
na odiosa ditadura do finado General Augusto Pinochet; não se pode fotografar
nada e silencio é importante neste memorial que conta a historia de maneira nua
e crua, das mais de 40 000 vitimas de tortura ou morte durante o abominável
período. Impossível não se emocionar com o enorme painel de fotos das vitimas e
relatos de torturas medonhas. Mesmo para quem não sabe nada a respeito da
historia do Chile, o lugar é revelador. Perto dali há mais coisas que ver
dentro do Parque Quinta Normal ( arte contemporânea ainda mais ousada do que no
museu mencionado anteriormente) e mais
adiante o Centro Cultural Matucana.
O
melhor é ir pela manhã ou início da tarde, pois a fama do bairro não é das
melhores...
Voltarei
agora a Santiago com prazer, para também conferir o Centro Cultura Gabriela
Mistral, de arquitetura arrojada em ferro, com muitas atrações
gastro-culturais. E para ir ao bairro Bellavista, ao charmoso Lastarria e por
que não, ao sofisticado Las Condes, que sempre evitei pelo elitismo e mesmice
de tais lugares repletos de condomínios-gaiola.
Como
bem escreveu o filósofo britânico Tony Judt: “condomínios fechados criam
cidadãos fechados, sem idéia de cidadania e compartilhamento de espaços
públicos”.
E
Santiago no momento vive o apogeu da economia chilena e principalmente, da
vontade politica de seus governantes de fazerem de seu país a estrela da
América Latina. Estão conseguindo e deixando nosso escabroso Brasil comendo
poeira...
Santiago, 19 de novembro de 2013.
Liebe Fernanda, mesmo sendo chilena, não conheço Santiago como vc. Sempre adorei ler seus relatos. Só uma perguntinha: como assim vc fez as pazes? Vc estava de mal com Santiago? bjs
ResponderExcluirVocê sabe que eu amo o Chile de paixão e depois da Suíça é o país estrangeiro que mais amo no mundo! Mas Santiago eu sempre comparei, desfavoravelmente, a Buenos Aires. Como o Chile está econômica e socialmente muito bem, Santiago reflete isto e me parece bem mais interessante agora. Muito mais o que fazer. Voltarei!
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