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sábado, 23 de novembro de 2013

ATACAMA E BOLIVIA SENSACIONAL - 2013


                                               AVENTURA BOLIVIANA

                               Com 2 escalas em San Pedro de Atacama 

 

                Acredite se quiser, a Bolívia tem o segundo lugar mais bonito do mundo. O primeiro é o Parque Nacional Torres Del Paine, na Patagônia chilena. Isso vai de gosto, é claro. Para mim o Salar de Uyuni e região são top de linha em minha longa carreira de viajante incessante, sempre visitando lugares diferentes, a procura de belezas que amenizem a loucura de nossas vidas em detestáveis cidades como São Paulo.

                Escolhi, erradamente, o hotel Tierra Atacama como ponto de partida e aclimatação às altitudes tremendas da viajem entre o Chile e a Bolívia. Preferi partir do Chile e fazer um trajeto mais lento, ingenuamente esperando contratar agencia chilena para tal programa de índio. Ledo engano...

                Não me arrependo de ter ido sentido Uyuni, ida e volta a San Pedro, pois vi coisas lindas e revi algumas mais. Fora que, viajar ao Chile é sempre agradável e enfrentar vários voos e trajetos extras num pais infernalmente pobre e atrasado como a Bolívia, não me parecia a principio muito tentador.

                Fiquei três dias em San Pedro, que já conhecia pela magnífica estadia de oito dias no hotel Explora, em 2002. Desta vez, escolhi o Tierra Atacama para variar um pouco o “cardápio”. Erro imperdoável. Apesar de lindo, o hotel tem péssimo serviço, comida duvidosa e pretenciosa, guias fracos, é quase tão caro quanto e Explora, mas é copia mal feita. Fora o fato de pertencer à empresa que domina Portillo, a velha e igualmente pretenciosa, estação de esqui chilena. Isso faz com que o poderoso marketing da companhia tente, com sucesso, atrair brasileiros que vão para ver e ser vistos. Odiosas criaturas, sempre em barulhentos grupos, que nem sequer sabem onde estão. Fuja!

                Apesar disso, fugi do mico curtindo San Pedro que continua doida e cheia de cães dormindo pelas ruas de terra. A vilazinha segue pacata, mas com lojas interessantes, mercado de artesanato ,museu renovado, igrejas, mais hotéis e restaurantes. La Casona oferece piscos e empanadas inesquecíveis e o moderno Blanco, mega-ceviches. Visitando os Gêiseres Del Tatio – sensacionais – e caminhando pela desafiadora trilha Guatin & Gatchi

                Após três noites por ali, parti para mais três na Bolívia; eu, e dois bolivianos da agencia Cordillera Traveller (boliviana, que eu acreditava ser chilena – a melhor recomendada por minha “Bíblia viageira”, o guia Bolívia Lonely Planet), um guia e outro motorista. Lá fomos nós cruzando a fronteira, a uma hora de San Pedro e a “apenas” 5000 metros de altitude! E aí começa o deslumbramento, pois o lado boliviano é muito, mas muito mais bonito do que o chileno e apesar da falta total de infra (não há sequer uma estrada asfaltada em 4 dias de viagem) e bom senso, vale conhecer. Vale o sacrifício das altitudes mata-cavalo e o pó constante em velho Toyota Land Cruiser sem ar condicionado.

                As primeiras paradas são um verdadeiro festival de lagoas multicoloridas e vulcões furiosos. A Blanca inicia a surpresa, a Verde parece o mar e a Colorada é como uma lagoa de sangue, uma coisa de sonho, cheia de flamingos. E aí se vai parando em desertos cheios de esculturas naturais, pedras em formatos bizarros, tudo atordoantemente bonito. Por ser região riquíssima nos mais diversos minérios, as montanhas são coloridas e as misturas de tons e superfícies e estonteante.  Como também coloridos são os gêiseres que espumam toda sua fúria e calor em local que mais parece um cenário de Marte. Águas fervendo em tons de rosa, vermelho, azul, roxo, verde.

Isso sem falar sobre  as delicadas vicunhas que pululam por toda parte, acompanhadas de raposas e coelhos. Pássaros exóticos fazem aparições constantes, além das sempre presentes lhamas andinas. A primeira noite, cansada de tanta beleza e altitude, dormimos placidamente no Hotel Del Desierto, um lugar simples, mas com calefação e cama quentinha. O chuveiro tem dois pingos de agua, mas dormir em altitude de 4 800 metros não é para os fracos de espirito e banho se torna secundário. A comida é razoável, caseira e saudável, destaque para a sopa de quinua, prato que comi varias vezes durante a viagem.

                Esta primeira noite o mal de altitude me pegou e eu tomei um remédio que o guia me deu e cortou o mal pela raiz. Eu já o tinha tomado quando escalei o Kilimanjaro, em 1999, mas me esqueci totalmente dele, pois em viagem ao Peru, em 2008, não precisei tomar e enfrentei bem as altas montanhas incas. Aconselho a qualquer pessoa, independente de idade ou estado físico, a falar com um medico antes de ir a Bolívia e, se possível, tomar o medicamento (o mate de coca ajuda, mas é apenas paliativo com gosto de pano velho. Quase todo mundo passa bem mal e isso, claro, estraga uma viagem que de tão deslumbrante, merece  ser aproveitada ao máximo.

                No dia seguinte, mais lagoas bonitas e paisagens especiais. Já nos aproximando do primeiro salar e tendo a impressão de se estar tendo miragens de montanhas que parecem flutuar na branca imensidão das toneladas de sal destas lagoas secas que são uma  maravilha indescritível. Dormimos em San Pedro de Quemez, um vilarejo micro, uma verdadeira viajem numa maquina do tempo; transportando-nos à época  dos incas e como eles viviam. As casas são idênticas às das ruinas de Machu Pichu, mas com telhados de palha como os incas faziam e gente morando e vivendo nos tempos atuais. É como estar num filme, sem ser o ator. Só observando uma inacreditável volta ao passado. Da mesma maneira que os incas faziam cercados e plantações, empilhando pedras sem liga de cimento ou massa. Em frente ao apropriadamente chamado Hotel de Piedra, um curral de lhamas, que vimos partir ao nascer da aurora para pastarem ali perto. Lindas e silenciosas, com fitinhas de lã coloridas nas orelhas e pastoreadas como sempre foram deste tempos imemoriais.

                Sentindo-me melhor, em altitude mais baixinha, a “apenas” 3600 metros, subi um morro ali perto, onde o antigo culto à mãe-terra, a Pacha Mama, se mistura a ritos católicos, como os 14 passos do calvário de Jesus Cristo. Nos antigos e redondos lugares rodeados de muros de pedras e construídos pelos incas; altares de sacríficos humanos ou não, a população local cultua Jesus e a Pacha Mama ao mesmo tempo, com oratórios montanha acima. Em cada curva do morro um passo de Cristo; casinha sem santo, mas com cruz no topo. Até chegar ao cume de um lugar de vista maravilhosa da ponta sul do Salar de Uyuni, o segundo lugar mais bonito do mundo. Sem maquina do tempo eu viajei por usos e costumes de uma civilização admirável que os espanhóis destruíram. Mas não completamente, pois em San Pedro de Quemez o modo de vida inca sobrevive. Com torre de celular e tudo!

                No terceiro dia, o melhor da festa: o Salar de Uyuni e sua deslumbrante imensidão branca. É como se eu estivesse em uma planície russa no inverno, inteiramente nevada. Mas Uyuni fica na Bolívia, tem 12 000 quilômetros quadrados e é inteiramente composto de sal. Lindo, branco, brilhante, provocando as miragens mais incríveis e a sensação de se estar fora da terra, em outro planeta sabe Deus qual. Tudo perfeitamente cercado de vulcões e múmias. O vulcão Tunupa, com cratera exposta em tons de azul e laranja, abriga varias cavernas recheadas de múmias. Uma delas pode ser visitada e é uma experiência macabramente interessante. No meio do salar, uma ilha! Claro, pois o salar há milhares ou milhões de anos, foi uma lagoa gigante. Agora é toda sal, mas a Isla Del Pescado está firme e forte lá, esplendorosa com suas pedras, formações de coral petrificado e os cactos mais lindos do mundo. Cheios de flores vermelhas ou amarelas, trilhas desafiadoras pedra acima e vistas ainda mais surreais de Uyuni.

                Coroando o terceiro dia, que é o mais bonito devido ao salar, uma noite das mais confortáveis no hotel  Luna Salada, feito inteiramente de sal. Já estive no Ice Hotel, na Suécia, todo feito em gelo. Belo, mas desconfortável. O de sal é muito aconchegante, a comida abençoadamente boa, tudo quentinho e confortável com calefação funcionando e banho decente. Até loja com artigos compráveis oferece o hotel. A noite de lua cheia e o por do sol no salar são um show. O sol se põe na imensidão branca e forma um leque de luz em meio aos vulcões. Alguns deles ficam lilases, alguns ocre. Depois disso a lua brilha nos cristais de sal e chorei de emoção. Nunca vi nada tão bonito...

                No quarto dia, passada pela feia cidade de Uyuni e volta a San Pedro. Pelo longo caminho, formações rochosas chamadas Cidade Perdida distraem da tortura do pó e caminhões de mineradoras trafegando por ali constantemente. O almoço foi um pavor de costeleta de lhama, uma carne dura e sem graça, com as pobreza lhaminhas perto dali pastando. De um bicho tão lindo, só a lã!

                Pensei que voltaria ao Chile, a San Pedro, em triunfo, ao hotel que apesar de pentelho-chique é bem confortável. Mas não. Fiquei triste ao deixar a Bolívia e as maravilhas desta terra de gente simpática e sofrida. Gostaria de voltar e rever La Paz, conhecer Potosí , ver o Salar de Uyuni coberto de água espelhando as nuvens no verão e pernoitar na Isla Del Sol no meio do lago Titicaca. Quem sabe um dia...

                Agora o lado prático:

                1 – contrate serviços exclusivos, caros, mas só para você e “sua turma”. Os longos e cansativos percursos não permitem contato com estranhos e carros apertados ( a não ser que você seja um mochileiro/a  convicto). Certifique-se de que os mesmos tem ar condicionado funcionando.  Ou invista ainda mais dólares nas Travesías Explora que fazem tais trajetos com a marca de competência de seus hotéis.

                2 – leve “alimentos alternativos” como chocolates, biscoitos e barras de cereal. O que os guias levam é bem fraco....

                3 – espirito esportivo e boa vontade com a “realidade boliviana” são fundamentais. Além de politicamente correto, o viajante aproveita esta região maravilhosa e não se estressa. Tenha a atitude de um norueguês no Brasil, por exemplo... 

 

 

Santiago, 19 de novembro de 2013

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