OUTONO EM BUENOS AIRES
MAIO 2013
Onze museus, duas igrejas e cinco
peças de teatro divididos em quatro noites na capital argentina. Acompanhados
por cinco almoços e deliciosas mediaslunas (croissants) matinais no tradicional
café La Biela.
Como no ano passado, hospedagem
no Urban Suítes Recoleta. Mesmo tipo de quarto, mas no oitavo andar, garantindo
“vista cinematográfica” do famoso cemitério e menos ruído de rua e elevador.
Continua valendo a pena, pois é impossível hospedar-se bem em áreas nobres da
cidade por menos de 200 dólares diários, na baixa estação.
O campo gastronômico, caro e
fraco. A única refeição que realmente compensou os R$ 250,00 (mesmo preço do
almoço no Tomo 1 e La Cabaña) por pessoa foi no Duhau. Continua magnífico, um bife
de chorizo imbatível. A cadeia Hyatt tem na Argentina um fornecedor de carne
fabuloso. Um mistério num país à beira do abismo financeiro e político (apesar
de se gabarem orgulhosos de terem Papa e Rainha), exportando tudo que podem
para levantar dólares e enfraquecendo a oferta doméstica. Carne boa e barata
como sempre foi possível comer da Argentina, coisa do passado. O bom vai para fora
e o que fica é fraquinho e/ou ridiculamente caro. Felizmente este absurdo não
se aplica aos vinhos locais, maravilhosos e com preços honestos. Como sempre,
por copo não vale a pena. Sempre garrafa inteira.
Desta vez a carne do La Cabaña
decepcionou, a do Tomo 1 estava fora do ponto. Nos dois lugares contudo, bom
serviço e sobremesas ótimas. E as empanadas do La Cabaña seguem quase sem
rival. Infelizmente, fui no “vai da valsa” turístico e fui dar com os costados
em 2 mega-micos portenhos: El Obrero e La Brigada. O primeiro, tido como
bodegón típico e tradicional do país, coisa para iniciados, é um nojo de sujo e
cheira tão mal que não consegui comer mais do que umas poucas lulas de
aperitivo. Encharcadas e fedorentas. O bife de chorizo, saboroso, mas
igualmente engordurado e duvidoso. Um
muquifo pequeno, abafado, barulhento, cafona ,péssima e perigosa localização.
Fuja.
O La Brigada, em San Telmo é
muito bem localizado no gostoso e tradicional bairro de mesmo nome. Encantador,
com suas ruas charmosas, praça movimentada e lojas e antiquários descolados. Três
museus dignos do nome completam o entorno. O restaurante é simples, limpo, bom
serviço e outra suposta tradição de Buenos Aires. Como o medonho acima citado,
muito frequentado pelos próprios argentinos. Mas o ojo de bife era um pau de
tão duro e a panqueca de doce de leite, insossa. Nas duas arapucas os preços
são razoáveis. Pelo menos. Mais vale o Té Chai Latte do Starbucks na deliciosa
Plaza Dorrego, ao som de musica brasileira.
No setor cultural, para mim o
forte da cidade, o Malba continua brilhando e a exposição de nossa Adriana
Varejão tornou tudo melhor ainda. No Palais de Glace uma mostra de fotografia
forte e triste no primeiro andar e no segundo desenhos bizarros. A poucos
passos dali, arte urbana radical no Centro Cultural Recoleta. Um show de
artistas internacionais, com musica ao vivo, o Puma Urban Art. O PROA, na Boca,
lugar que tentei ir mais várias vezes sem sucesso, não decepcionou na mostra de
artistas argentinos. Livraria e café adoráveis. Também ali mesmo na Boca
visitei os terraços do Museu Quinquela Martin e suas bonitas esculturas. Vista
ótima do porto e boa oportunidade de rever as carrancas de antigos navios e as
obras intensas do artista que dá nome ao museu.
Em San Telmo visitei pela
primeira vez o museu de Arte Moderna e o de Arte Contemporânea. Ambos
localizados no mesmo bonito edifício, em vias de término de reforma. Nada de
especial nas mostras, mas o futuro promete, pois os espaços são muito adequados
a exposições. Mesmo diria para o novíssimo e também não totalmente concluído
Museo Del Cine (na Boca).
Mas San Telmo guarda mesmo um dos
segredos mais preciosos de Buenos Aires, o Zanjón de Granados. Casa-museu
particular, um achado arqueológico de primeira, com direito a porões, adegas, e
corredores misteriosos por debaixo de várias “casas-linguiça” do bairro.
Estranha história de um milionário local que comprou ruína para transformar em
restaurante (está localizado a poucos passos do vetusto Viejo Almacén – local
super tradicional de tango-turista na cidade) e se deparou com restos de
construções do século 16. Arquivou o projeto culinário, contratou arqueólogos e
historiadores, limpou e reformou tudo e agora o interessantíssimo espaço é
usado como local de eventos corporativos, casamentos e outros que tais. Bem
como museu sobre a história de Buenos Aires, com fascinantes visitas guiadas em
espanhol e inglês. Telefone para saber dias e horários que mudam
constantemente.
Mas o melhor de tudo foi
reservado às artes cênicas, grande revelação desta viagem feliz à Argentina.
Não é que Buenos Aires tem uma Broadway quiçá maior ainda do que a original
norte americana? Parece piada, mas a região da Avenida Corrientes, aquela mesma
do tango famoso, concentra mais de 25 teatros cuja fértil produção funciona a
todo vapor de quarta a domingo. Coroada, claro, pelo maravilhoso Teatro Colón e
o belo e austero Teatro Cervantes. Preços das entradas variam de 35 a 120
reais.
Por pura sorte vi cinco peças
geniais, com ingressos facilmente compráveis na internet, no eficiente
plateanet.com.ar . Dama de Negro está em cartaz em Londres há décadas e a
versão em espanhol não empana o brilho deste drama-comédia com toques
aterrorizantes. Os dois protagonistas, magníficos. Cecilia Roth e Dario Grandinetti,
ambos conhecidos por protagonizarem filmes de Almodóvar, brilham em Uma
Relación Pornográfica. O filme Amadeus volta a ser peça de luxuosa montagem com
o gênio de Oscar Martínez e Rodrigo De La Serna. Este último, aquele ator
perfeito de Diários de Motocicleta, o amigo de Che Guevara.
O drama argentino Miembro Del
Jurado, minimalista e contundente é de arrepiar e a chave de ouro foi a
apresentação curta e especial de Los Villanos de Shakespeare, de Steven
Berkoff. Além de o autor ser um dos expoentes modernos do teatro, o ator era o
não menos fabuloso Manel Barceló, um catalão de primeira linha. Raro ver texto
e ator tão fantásticos em monólogo impressionante.
Volto breve para conferir se
Ricardo Darín é ou não é digno da fama de seus filmes bem sucedidos. Afinal,
grandes atores se revelam no teatro. Sem truques, computador ou maquiagem.
Só talento.
Aviso aos que, como eu, já usaram
muito o Buenos Aires Bus. Não anda confiável, infelizmente. Os horários na
internet e nas paradas pouco tem a ver com a realidade. Telefone sempre para
confirmar. E prepare-se para longas
filas em paradas populares pois não há veículos suficientes para a demanda.
Mais uma armadilha de um país dominado pela quadrilha K! Que deve ser combatida
levando-se dólares em espécie, pagando tudo o que der em moeda americana, assim
dando o dinheiro direto aos comerciantes e não aos horríveis governantes de
nosso combalido vizinho...
Em tempos de 1 dólar valendo 10
pesos (já pensou nosso Real a isso?????), suas compras saem bem mais em conta!
São Paulo, 11 de maio de 2013
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