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sábado, 9 de fevereiro de 2013

UMA CABANA ROMANTICA NA FINLANDIA

Finlândia, Suécia e Noruega - PARTE 2




Depois da maratona vôo-carro-navio-onibus-van-taxi-Ice Hotel, mais outros 400 km (total dirigido na Escandinávia: 1100 km e uma parada-bafometro no meio do nada em que o guarda ordenou a meu marido em perfeito inglês, sem meias palavras, que ele assoprasse no aparelho)até a Laponia finlandesa, de volta ao nosso ponto de início, para uma semana em casa alugada no meio da floresta, perto do povoado Akaslompolo e a estação de esqui, Yllas. Nossa mini-casa é uma charmosa construção de madeira no meio da floresta, literalmente enterrada no meio da neve. Com lareira na sala e sauna no banheiro; aconchegante e romântica. Como fica a 4 km do centro, caminhamos todos os dias a procura de suprimentos, restaurantes, lojas e outras necessidades básicas da vida moderna. Bom exercício, ajudado por “trenós-carrinho-de-compras” onde se carrega os itens adquiridos deslizando e patinando sobre o gelo. Fazer compras na Laponia é isso aí!

Esta área é famosa por seu esqui cross-country - aquela modalidade do esporte que se pratica em superfícies planas, com esquis mais fininhos e uma espécie de tênis especial para isso em vez de botas. É uma delícia, um grande exercício, sem o perigo de quebrar vários ossos no processo. A Finlândia é top neste esporte e a Laponia um dos melhores lugares do mundo para praticá-lo. Bem como as caminhadas usando snow shoes (sapatos de neves), a caminhada nórdica, corridas malucas e geladas com os snow cats (motos gelo) e os trenós puxados por cães da raça husky, especialmente criados para isso. Existe também o passeio de trenó conduzido por renas e apesar da metereologia inóspita da Laponia, há muito que fazer por aqui. Akaslompolo como mini-cidade não é particularmente interessante ou charmosa e opções gastronômicas e de compras são extremamente limitadas. Mesmo assim, a escuridão predominante faz com que os curtos dias sejam aproveitados ao máximo e dorme-se muito bem sob os grossos edredons e a neve caindo lá fora.

Neva incessantemente há sete dias e em nossos dez entre Noruega, Suécia e Finlândia, só um apresentou tempo bom, ensolarado e com céu auzl-rosado, típico destas latitudes no inverno ártico. Ensolarado e muito frio, variando entre -21 e -26 graus. Um frio que mais parece fogo, queimando nariz, dedos da mão e pé. Congelando cabelo e cílios, fazendo os olhos fecharem. Na marra!

Meu marido limpa nossa entrada diariamente para que não sejamos completamente soterrados pela neve e corta lenha para as noites de lareira, vinho e fondue.

Como o tempo não ajudou e nos limitou bastante, no dia mais ensolarado e conseqüentemente, o mais frio, enfrentamos temperaturas variando de -26 a -21 para visitar uma fazenda onde criam renas, há 70 km de Akaslompolo, na fronteira com a Suécia. Lugar belíssimo, propriedade da mesma família há mais de 200 anos. Ali, pudemos alimentá-las com liquens e como as renas comen docilmente em nossas mãos é possível ter bom contato com estes animais quase mitológicos para nos brasileiros, coisa do Papai Noel e contos de fadas. Mas as renas nada tem de fictícias e são animais bonitos e de grande utilidade. Sua pele é usada para roupas, móveis e tapetes, calçados também. Os chifres para decoração e peças utilitárias como maçanetas de portas ou cabides, por exemplo. Sua carne é usada nas mais diversas preparações, de carpaccios a rosbifes e os cozidos tradicionais. São o carro-chefe da cozinha regional, que inclui ainda salmão defumado e fresco, saladas de cogumelos e diversas sobremesas com frutas do bosque. Tudo isso pode ser provado no restaurante adorável do igualmente acolhedor Yllashumina, o melhor hotel da vila.

Na fazenda vendem a carne de rena congelada e embalada a vácuo, além dos mais variados souvenires feitos com pele e chifres de renas. A família se veste com roupas típicas e nos explicam em bom inglês, o trato com os animais e como laçá-los na floresta. O ponto alto do passeio é andar de trenó puxado por renas; trenós de madeira, duas pessoas por “veículo”, uma só rena que é capaz de puxar sozinha até 200 kgs! Maravilhosos animais bonitos e peludos, a “vaca do Ártico” só falta falar...

Desnecessário dizer que deslizar 30 minutos pela neve alta, por florestas lindas, com sol e céu azul, ter aquela sensação única de estar na terra do Papai Noel e utilizar seus trenós e renas, compensa o frio arrasador. Os trenós de madeira, bem rústicos, por incrível que pareça são quase acolhedores, cobertos pelas peles destes mágicos animais e poderosos cobertores. Inesquecível, especialíssimo, encantador...

Para terminar, tomamos café, chá e sopa ao redor de enorme fogueira ao ar livre. Alguns dos tocos de lenha mais grossos queimam em um lado e ainda tem neve do outro. Só mesmo nestas regiões longínquas, equivalentes ao norte do Alasca ou da Sibéria.

Esta semana em Akaslompolo é altamente recomendável para casais apaixonados, fanáticos por esportes de inverno ou famílias que curtam neve. Boa infraestrutura, preços razoáveis e a oportunidade especial e rara de se conhecer um lado remoto do mundo e um país tão interessante e de gente tão simpática como é a Finlândia. Que é não só a terra dos Angry Birds e da Nokia, mas também de paisagens cartão-postal e cultura tão diferente da brasileira. Alugar casa aqui é fácil e a agencia Destination Lapland organiza tudo muito bem. Também é possível vir aqui de junho a setembro, quando tudo fica bem verde, as temperaturas mais “negociáveis” e caminhadas mais prazerosas. Há vário lagos na área e atividades de água como pesca, rafting e canoagem são possíveis. E as renas ficam soltas e alegres por toda a parte. Como elas têm prioridade sobre os carros, o único perigo da Laponia no verão é uma colisão-frontal com os “motores de quatro cascos” do trenó do Papai Noel!

Nosso ultimo dia foi divertido e de bom tempo, de volta ao sol e ao azul rosado do final da tarde. Visitamos a montanha Yllas onde fica a estrutura de esqui da região; moderna e eficiente, no pico há até uma espécie de caverna/bar onde músicos tocam hits do rock pesado. A vista é maravilhosa, um festival de lagos gelados, florestas petrificadas, planícies gigantes e algumas colinas no meio. Uma sinfonia em branco e azul, paisagem totalmente diferente de Bariloche, Valle Nevado, Colorado e Alpes. Qualidade da neve para estes ski tradicional e snowboarding é sensacional e vai constante de novembro a maio.

Boa despedida no restaurante Jullis, ambiente meio saloon do velho oeste americano, música bem mixada, pizzas e burger gigantes e gostosos. A agradável surpresa foi a entrada, um intrigante tartar de carne de rena, com salada e molho cremoso decorado por Cranberries. A sobremesa foi o fecho com chave de ouro, na forma de um cheesecake de blueberries inesquecível. Bom e barato: para padrões escandinavos...



Akaslompolo, 09 de fevereiro de 2013





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