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sábado, 17 de abril de 2010

ARMADILHA ARANUI - Cruzeiro chato pelas mais chatas ainda Ilhas Marquesas

Consultem o mapa, pois não há muita gente que sabe onde estão as tais ilhas. Não há vergonha nisso, pois elas fazem parte da Polinésia Francesa, e são um pequeno arquipélago, extremamente isolado no Pacífico Sul. Tão distantes, que apesar de pertencerem ao conjunto de arquipélagos que compõe a maravilhosa Polinésia Francesa (mais conhecida por Taiti), poucos turistas chegam ali. Em navio, quase 3 dias inteiros de navegação entre Papeete, a capital do Taiti e Nuku Hiva, a capital das Marquesas. De avião é possível conhecer algumas delas que possuem aterradores “aeroportos” que só comportam avionetas minúsculas. Caro e arriscado.
O cargueiro Aranui é o único navio que faz transporte de passageiros de forma regular, há mais de 20 anos, entre as 6 ilhas habitadas do arquipélago. As vezes, um ou outro cruzeiro de luxo arrisca uma ou duas viagens por ano. Nada mais.
As Marquesas são importantes do ponto de vista histórico e arqueológico, pois estão entre as primeiras ilhas habitadas da Polinésia e os sítios arqueológicos lá existentes são muitos e muito antigos, alguns com datas antes de Cristo. A geografia das ilhas é montanhosa e verde, um verdadeiro “paraíso tropical”, tendo em volta o azul-violeta do Pacífico. Uma maravilha, não? Quem não gostaria de conhecer tais lugares? História, tradições preservadas pela pequena população das ilhas, costumes exóticos, museus, igrejas, artesanato, pérolas negras, tatuagens exóticas e exclusivas. E por aí vai a mística que faz das Marquesas um destino de fascínio para todos os turistas mais viajados e informados, dos amantes da natureza aos eco-chatos, de historiadores a antropólogos e também àqueles casais em lua de mel que procuram alongar a sofrida e caríssima visita ao Taiti com algo de mais peso antropológico-cultural. Aquela sensação gostosa de contar aos amigos que estiveram nos confins do planeta, em ilhas mágicas habitadas por seres inteiramente tatuados e seminus, sexo livre, lugar onde o fabuloso pintor francês Paul Gaugin morreu e escolheu viver cercado de garotas de 14 anos, suas voluntárias “escravas sexuais” na famosa Maison Du Jouir (literalmente: casa do gozo).
Baseados na suposta magia do arquipélago e já tendo estado no Taiti e Ilha de Páscoa (com planos em breve para viagem ao Hawaii), resolvemos conhecer as Marquesas para extender nossa perspectiva sobre o fascínio de tais povos e lugares. Assim sendo, optamos pelo cruzeiro de 13 noites no acima citado navio. E não podia ser pior escolha. Ruim e caro.
O navio em si é quase tão famoso quanto as ilhas e o que o ótimo guia Lonely Planet chama de “viagem-ícone” às Marquesas. Embalados nisso tudo, lá fomos nós, tragados e cegos pelo marketing e mistério de tal aventura. O que caracteriza a viagem como “aventura” é a distancia e o fato de se viajar em cargueiro. De fato, o procedimento de mover carga para dentro e para fora do navio é muito interessante e surpreende que um navio possa transportar tanta coisa. De enormes containeres a barcos e motos. Sem contar o material de construção, as geladeiras e por aí vai. Desde o primeiro momento no Aranui, antes do navio zarpar, é possível acompanhar tais procedimentos. Parece bobagem? Pois é um dos pontos altos do cruzeiro.
Vocês então, podem imaginar o resto...
Optar pela melhor suíte do navio foi decisão muito acertada, pois o trajeto é longo, as áreas comuns do Aranui bem feias e pequenas, o bar não é digno do nome. A sala de reuniões e conferencias cheira mal e muitos europeus e americanos porcalhões se movem sem sapatos por todos os lados e põe os nojentos pés descalços nas poltronas, mesas e até nos 2 computadores que deveriam prover acesso à internet umas 5 vezes durante o cruzeiro e não o fazem.
Tudo no Aranui é confuso: paga-se 40 dólares por acesso ilimitado à internet, mas os responsáveis abrem o lento sinal e todos podem usar! E que se dane quem já havia pago os tais 40. Eu, por exemplo...
A comida só não é francamente péssima, pois estamos na Polinésia que é francesa e portanto, os padrões comestíveis são bons. No entanto, porções minúsculas e o mesmo molho de salada durante quase 2 semanas faz pensar em como o conservam por tanto tempo. Fora a cor amarronzada, nem um pouco convidativa. A sala de refeições é pequena e desconfortável, suja e também cheira mal. Casais são forçados a sentar-se em grandes mesas comunitárias para refeições, numa Babel de línguas que incluem frances, alemão, inglês, italiano, espanhol, taitiano e também linguagem típica das Marquesas. Com gente comendo de boca aberta, velhos caquéticos dormindo e roncando, crianças ruidosas, franceses que não tomam banho há dias, serviço péssimo. Uma confusão tediosa...
Não há absolutamente NADA o que comer fora das 3 refeições. NADA! Não há serviço de cabine, não existe lanchonete e se o viajante perde uma das refeições, problema dele, pois ficará sem comer até a próxima ocasião. Umas 5 ou 6 vezes há almoços patrocinados pelos navio em restaurantes “típicos” nas ilhas. Pior ainda! É uma meleca total de buchada de bode, (não é piada, falo sério), leitão assado em imundo forno de barro, peixe cru, arroz grudento, fruta pão asquerosa e bananas defumadas. Conseguimos escapar de 2 e comemos muito bem em restaurante simples em Ua Pou e em pousada chique na ilha do Paul Gaugin, Hiva Oa. De resto, compramos batatas chips, frutas secas, nozes e bolachas para termos o que comer nas muitas vezes em que ignoramos jantar e café da manhã, assim evitando o rebanho de gente feia, suada e mal vestida e a comida indigna do nome.
Os horários das refeições são militares. O freguês paga uma fortuna para café da manhã entre 7 e 8 30, almoço de 12 a 1 30 e jantar de 7 a 8 30. Estamos em férias ou servindo o exército????? Não mencionando o fato de que o restaurante comportaria no máximo 80 pessoas com conforto e os malditos chineses espremem 170 pagantes como sardinhas em lata.
As camareiras entram em sua cabine quando querem, em total desrespeito à privacidade alheia. A vantagem é que são muito simpáticas e alegres, característica que compartilham com a maior parte dos polinésios.
Bom, visto que o navio além de sujo e fedorento, desconfortável – a piscina é uma piada de água doce trocada a cada 2 dias, muito pequena e repleta de crianças barulhentas. O bar serve bebidas caras e semi-intragáveis e as áreas comuns são poucas e totalmente desprovidas de charme, o jeito é escapar delas o máximo possível.
Eu , até o meio da viagem não sabia que o Aranui pertence a chineses e foi feito na Romênia, famosa por mão de obra péssima e ainda mais barata do que a semi-escrava e baratíssima mão de obra chinesa. Vim contando com navio frances e saí levando uma horrível operação chinesa! Como os chineses não respeitam direitos humanos, também não respeitam os direitos dos turistas. Pagamos 10 000 euros pela cabine-salvação, mas fomos obrigados a comer pouco e mal, gastar dinheiro (8 dólares por um saco de batata frita, 10 por latinha de castanha de caju) na loja com as parcas opções acima citadas e a beber vinho frances de qualidade duvidosa e a enfrentar longas e tediosas filas para embarcar ou sair do navio nas ilhas. Cento e setenta turistas, em sua grande maioria idiotas europeus de classe média, para quem sol e calor já é o suficiente. Não se importam em levar gato por lebre, pagam para estar nos “exóticos trópicos”. E os espertos chineses aproveitam isso!
Portanto meus queridos leitores brasileiros, fujam do Aranui rapidinho e jamais considerem tal cruzeiro. Para nós tupiniquins, acostumados a sol, calor, vegetação tropical e boa comida, a coisa toda é uma mega mico!
E as ilhas? O Paul Gaugin tinha razão em ser tão feliz nelas? Bom, como dizem sabiamente os ingleses, “é um gosto adquirido”.
As ilhas são montanhosas, secas, faz lá um calor do cão, a comida é ruim, não há nada que comprar. Ás vezes umas pérolas, estátuas bizarras em pedra e madeira. Tudo caríssimo e de gosto questionável. A geografia de Ua Pou e Fatu Hiva, esta última a mais isolada entre as ilhas, com acesso apenas por barco, é bonita, com picos de granito que lembram as Torres Del Paine no Chile e nosso querido Pão de Açúcar no Rio. Fora disso, NADA. Não são lugares agradáveis, não há boa comida ou comércio interessante, os pequenos museus são um tédio, as caminhadas por florestas de coqueiros, bambus e bananeiras, não são especiais para nós brasileiros; são paisagem batida e muito parecida com nossa vegetação. Caminhar pelas áreas mais verdes requer calça comprida e camisa de mangas compridas também, para não sermos devorados vivos pelos inúmeros mosquitos letais das ilhas. Com direito a dengue e tudo mais.
Pode-se cavalgar por quase toda parte, mas nas mesmas condições de calor e sol a pino. O mar às vezes apresenta cores bonitas, mas perde de longe, muito longe para o deslumbramento do arquipélago do Taiti e da beleza das ilhas Tuamotu. Mais fáceis de chegar e bastante mais interessantes.
Quase não existem praias e as poucas acessíveis são de areia preta e grudenta, repletas de pedras perigosas, outro NADA absoluto.
Vale a pena voar 15 horas, navegar por 14 ida e volta (percurso marítimo em total de 3500 quilômetros) para ver isso????? Para brasileiros que tem um costa gigantesca de praias lindas, com serviços (milho, caipirinha e raspadinha), conforto, alegria e bom custo benefício, certamente não.
E o intrigante povo das ilhas Marquesas?
NADA há de especial com eles, gordos e feios hoje em dia, totalmente subsidiados pelos cofres generosos do governo frances, num festival interminável de carros enormes e caríssimos, tudo patrocinado por Monsieur Sarkozy e comparsas, na certa com a consciência pesada pelos medonhos testes nucleares que perpetraram na região. Das interessantes tradições polinésias das Marquesas nada restou. Só show folclóricos para turistas cretinos. Não se vestem com cangas e flores nos cabelos o tempo todo, mais uma vez, só para a turistada imbecilizada pelo “mito” local. Todos tem celular e internet em casa, não há nem meio mendigo e tem orgulho de serem franceses. Creio que bem mais do que serem polinésios. Também pudera! Quase não trabalham ou estudam e vivem vidas de reis. Financiados a grande pelo pobre contribuinte frances.
E os famosos sítios arqueológicos? Outra decepção. No meio de florestas e árvores imensas que engoliram quase tudo, uns punhados de pedras fazem as honras da casa, como “importantes resquícios arqueológicos”. Outro NADA. Apenas em Fatu Hiva se encontra o vestígio interessante de civilizações antigas, com grandes estátuas chamadas tiki e uma história verdadeiramente importante. Só.
O museu dedicado a Gaugin, em Hiva Ao, é absurdamente ridículo, pois TODAS as valiosas pinturas deste magnífico artista, estão espalhadas pelos principais museus da França e Estados Unidos. Sem contar as maravilhas que hoje estão no deslumbrante Hermitage, São Petersburgo, na Rússia. Em Hiva Ova, o turista paga para ver cópias de sétima categoria. Há uma réplica da pecaminosa Maison Du Jouir. Só. No cemitério local, sua simples tumba, bem perto de outro fanático pelas Marquesas, o cantor e poeta Jacques Brel.
Resumindo: o navio é caro e ruim, o percurso longo demais, as ilhas um tédio sem grandes belezas naturais, os locais gordos e sem charme.
Os dois pontos altos: duas breves paradas nas fabulosas Fakarava e Rangiroa. Ironicamente situadas na parte da Polinésia Francesa que é REALMENTE um paraíso. De beleza natural à sofisticação francesa, com direito a história e gente que vive vidas e costumes genuinamente polinésios. O navio ancora perto delas como um “bônus” aos turistas, pois o Aranui não transporta carga para tais ilhas. Paradas de apenas 2 ou 3 horas ...
Fiquem com o Taiti e as Tuamotu e esqueçam para sempre que existe um péssimo navio chamado Aranui e umas ilhas sem atrativos especiais chamadas de Marquesas. Ou Les Marquises para os franceses. O nome em frances reflete um suposto charme que não existe.
Sofrendo nos últimos dias da infernal banheira flutuante chamada Aranui, rumo sul – 14 de abril de 2010

Um comentário:

  1. Acabei se visitar as Marquesas e quero dizer aos leitores que vale sim visitar as Marquesas. Talvez o cruzeiro nao seja mesmo a melhor opção. De avião acredito ser bem melhor. Quanto ao cruzeiro nao posso opinar. Mas dizer que nao há nada a fazer nas ilhas é um desrespeito a cultura local. Há apenas que se saber o que se vai fazer lá. É um local para se distanciar das grandes badalacoes. Aproveitar a natureza e o povo local. Para mim, exatamente o povo dessas ilhas fazem a diferença! Conversar com eles foi o que mais me enriqueceu. Se tiver tempo, vá sim as marquesas! E se puder, vá a Fatuhiva, um verdadeiro vale encantado.

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