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sábado, 25 de fevereiro de 2012

SALVADOR, MORRO DE SAO PAULO E GRAMADO

O MELHOR DE DOIS MUNDOS

Férias de verão na praia e na montanha? Pela manhã nadando no mar, calorão, muito sol e a noite, dormindo quentinha debaixo de um fofo edredom? Perfeitamente possível no Brasil entre dezembro e janeiro. Foi o que fizemos, escolhendo a Bahia para o fim do ano e começando 2012 em Gramado; um projeto caríssimo, mas feliz.
Infelizmente, contudo, viajar bem no Brasil muito, muito caro. Nosso projeto saiu o mesmo ou mais do que gastaríamos no igual numero de dias em Paris, por exemplo.
Saímos de São Paulo, via Congonhas, para Salvador no dia 25 de dezembro. Qualquer passagem via Congonhas custa quase o dobro de uma via Guarulhos. Em Salvador nos hospedamos no luxuoso e péssimo Convento do Carmo. O prédio antigo e lindo, bem restaurado, os quartos magníficos e localização ótima – para quem quer curtir o Pelourinho. No entanto, o serviço péssimo e o restaurante idem. O café da manha muito bom, contrastando com o jantar a preços de São Paulo, horas de espera pela comida – fraca - e garçons que nada sabem. Como também nada sabe o pessoal da recepção, um deles um italiano idiota que não sabia informar onde era o Solar do Unhão (um dos principais museus da cidade) e não reservou o taxi que pedimos. Uma vergonha, solido exemplo da cretinice da administradora portuguesa, a bisonha cadeia Pestana.
Mas os problemas com o hotel não atrapalharam nossa estadia feliz em Salvador, uma cidade sempre alegre e interessante. Caminhadas pelo centro histórico e visitas as lindas igrejas principais foram acrescidas de um longo passeio com o ônibus turístico de dois andares, cópia dos que existem na Europa e África do Sul. O roteiro em Salvador muito extenso e quem não quer ficar no ônibus por cinco horas, melhor não encarar. Também cara a passagem, como todo o resto, compensa por ter o andar de cima aberto, o veiculo limpo e confortável e uma ótima maneira de se ter uma ideia do que Salvador. Como toda cidade grande, difícil de conhecer de uma vez, em única visita. Mas com o ônibus de dois andares e todas as explicações, em três idiomas, a coisa fica mais fácil. Visita-se a infalível igreja do Bonfim, bairros residências modernos, lagoa do Abaete, praias, Mercado Modelo. O ônibus para em alguns destes locais e fica cerca de meia hora em cada um. Terminamos o passeio com um magnífico almoço/jantar no Amado, restaurante versão-baiana do Manacá de Camburi. Lugar bonito, beira mar, bom serviço, comida de primeira. Também preços paulistas.
Depois de Salvador, encaramos a avioneta-terror para Morro de São Paulo. Vale o medo, pois nosso hotel, Villa dos Orixás, não podia ter sido escolha melhor. Foram 5 noites perfeitas em praia de sonho, com serviço e comida maravilhosos. O tempo ajudou, só sol e mar transparente, pontilhado de peixes coloridos, morninho. Uma delicia! Na paz e beleza da praia do Encanto, bem longe da cafonice e barulheira que destruíram o centro e praias de 1 a 4 em Morro. A festa de Réveillon foi animada, ótima ceia com direito a champanhe espanhol, a cava, em homenagem aos donos que são de Barcelona. O jovem casal faz ali um belo trabalho de hotelaria e treinamento dos toscos nativos, gente com pouca escolaridade, mas com simpatia e boa vontade de sobra. O resultado um hotel-boutique digno do nome, um coqueiral belíssimo polvilhado por 10 bangalôs bem montados e confortáveis. Salva de palmas para a moqueca de polvo com banana e outras delícias que enfeitam um cardápio criativo e bem bolado. As caipirinhas são igualmente criativas e algumas delas usam a erva capim-santo em sua composição.
No dia 1 de janeiro, encaramos 3 voos para chegar até Gramado. A avioneta de volta a Salvador, um para Guarulhos e outro para Porto Alegre. Tempo péssimo, muita turbulência e os preços das passagens, literalmente, nas nuvens. A parte aérea de nossa viagem nos custou em torno de R$ 8000,00 para duas pessoas. Mais caro que Europa! Os hotéis no final de ano brasileiro estão, como diria minha avó, “pela hora da morte”. Não nos hospedamos nos extorsivos resorts que cobram fortunas inimagináveis, mas nossos 3 nesta viagem eram níveis de 4 a 5 estrelas e preços foram de 500 a 700 dólares por dia. Só com café da manha. Por estas quantias fica-se bem em Paris...
Carro alugado (coisa longe de ser barata em nosso país), lá fomos serra acima até nossa querida Gramado, justamente eleita pelos leitores de Viagem e Turismo como o melhor destino de viagens no Brasil. Sem falar que é o melhor destino de inverno. Há muito tempo.
Com amigos suíços nos visitando lá, fomos de novo ao lindo espetáculo de música, o Nativitaten. O Natal em Gramado dura mais de dois meses e vai de meados de novembro a meados de janeiro. É bem estranho ouvir canções natalinas em janeiro, Papai Noel desfilando por toda parte em janeiro, mas a cidade organiza tudo tão bem, que funciona. O clima é de alegria e animação, mesmo que fora de época. Revisitamos também o zoológico que agora conta com mais bichos e uma loja bem sortida e fizemos longas caminhadas pelo Parque Ferradura. Curtimos como sempre a hospedagem perfeita no La Hacienda e nos deliciamos com a cozinha do hotel, cada vez melhor e variada.
O contraste entre o clima ameno e as noites friazinhas de Gramado no verão com a fornalha baiana é intenso, mas não deixa de ser interessante. Aproveita-se a incomparável baianidade das praias do meu estado nordestino preferido, a culinária única da angelicais moquecas, a simpatia sempre presente dos baianos, a costa deslumbrante e a grande importância histórica de Salvador. Cultural e contemporânea, os museus de arte moderna não param de despontar por suas ruas arborizadas e gostosas de caminhar.
Em Gramado, limpeza, organização e ótima estrutura turística; na Bahia, sujeira e pouco treinamento dos profissionais que recebem os visitantes. São contrastes ainda mais fortes se vistos e sentidos nas mesma viagem, 16 dias entre os dois estados. Uma boa lição de Brasil. De nossas virtudes e de nossos desafios. E um destes desafios transformar os custos em somas pagáveis, os aeroportos em locais eficientes e a educação da população, prioridade. Máxima.

Martigny, Suíça, 20 de fevereiro de 2012

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