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sexta-feira, 6 de maio de 2011

PASCOA NA NEVE
SAAS FEE SUÍÇA

Já passei Pascoa na China, andando pela Grande Muralha, nas chatas e longínquas Ilhas Marquesas, em Bariloche, em lugares variados pelo Brasil e o mundo. Mas nunca em uma estação de esqui; nem sequer na Suíça, país que visito todos os anos há 12 anos seguidos.
Já estive em Saas Fee três outras vezes, sempre no inverno. Nossa decisão de encarar a primavera e Pascoa por lá foi de ultima hora, uma coisa meio sentimental, pois nosso querido e adorável hotel Honegg foi vendido, será transformado em estabelecimento de luxo e só reabrirá em 2013. Já pensamos em comemorar nosso 15 anos de relacionamento, em 2015, por lá.
Há lugares no mundo que são especiais para umas pessoas e não para outras, locais para onde se quer sempre voltar. Por quê? Mistério. Tenho uma amiga que adora Santorini, na Grécia, e já esteve por lá umas 10 vezes. Eu fui uma e está mais do que bom! O que atrai pessoas a lugares? Creio que é um conjunto de coisas, de fatores, de cenários. Para nós, Saas Fee encanta pela localização, uma vilazinha pequena e charmosa encravada entre montanhas de mais de 4000 metros de altura. Há vários lugares assim pelo mundo, mas Saas Fee encanta pela arquitetura e seus telhados de pesada ardósia cinza-claro; pelos restaurantes ótimos, pelo clima, pelo fato de não permitir a circulação de carros, pelas lojinhas charmosas, pelas trilhas desafiadoras. Não esquiamos, fator-chave para a maioria dos turistas que frequenta a região, mas mesmo assim adoramos o lugar.
E Pascoa por lá foi uma delícia de neve, gelo, início do verde da primavera e os ovos maravilhosos feitos com o melhor chocolate do mundo, claro, o suíço. Uma festa de coelhos de todos os tipos, pintinhos, ovos abertos e fechados, cobertos com drágeas de amêndoas, de nougat caramelado e crocante por fora e pingando deliciosa mousse de gianduia por dentro. Os sofisticados de chocolate super amargo, os cobertos com fatias de torrone de pistache e cerejas. Confeitos de licor em forma até de ovo frito e bichos de marzipã que vão dos óbvios coelhos a porquinhos gordos e rosados! Um primor de confecção e imaginação. Delícia de ver e, é claro, degustar. Calorias a mil, somadas aos acepipes oferecidos por nossos queridos e tradicionais restaurantes: La Ferme para fondue de queijo precedido de presuntos e nozes locais, Schäferstube para carnes de caça, Fletschhorn para refeições gourmet estreladas pelo Guia Michelin, Honhegg para a melhor batata rösti do universo. Tudo regado a vinhos brancos da uva Heida, produzidos nas vinícolas situadas em maior altitude do mundo.
Fora a tradição milenar de quebrar ovos cozidos, com cascas coloridas, no café da manha da Pascoa e ver com quem fica o ovo intacto. Coisas simples, mas especiais de um feriado passado em cenário de sonho, as geleiras muito azuis iluminadas por um sol já bem forte, o branco da neve brilhando, o verde da grama despontando, o granito austero e escuro das imponentes montanhas desnudado pelo degelo.
Uma Pascoa feliz, cama, abençoada. E gastro-alcoolica, pois ninguém é de ferro...

Zurique, 26 de abril de 2011. Para meu marido Urs que teve a gentileza e sensibilidade de me proporcionar dias tão especiais.
MORRO DE SÃO PAULO REVISITADA

Há cinco anos estive na famosa ilha baiana e odiei. Jurei nunca mais voltar.
Não é que voltei e gostei?! Lá estive por 3 dias no começo de abril, 2011 e adorei. Gostei tanto que planejo voltar em dezembro para o Ano Novo. O que mudou? A ilha está diferente?
Nada mudou. O que mudou foi a maneira de chegar à ilha e a praia escolhida.
Morro de São Paulo, como natureza, é uma belíssima ilha, coberta por vegetação nativa e milhares de altos coqueiros que balançam o tempo todo com a agradável brisa do mar. Seus grandes mangues fornecem deliciosos siris e caranguejos para saborosas preparações locais. As praias são lindas e o mar é manso e claro. Vale a pena conhecer? Muito. Mas tem que ser de avião. Sem esnobismo ou pressa. De avião, um percurso de 20 minutos de belo voo pelo Recôncavo Baiano, direto do aeroporto internacional de Salvador.
Uma paulista como eu, por exemplo, pega um voo, de Congonhas para Salvador, e ali mesmo, no piso de desembarque, se dirige à companhia aérea que faz tais percursos em aviões bimotores – a melhor é a Aerostar. Espera alguns minutos confortavelmente sentada no escritório da empresa, é levada em van da propria empresa para outro terminal e ali embarca para Morro. Tudo correto e civilizado. A chegada em Morro é em pista de pouso asfaltada, atrás das duas melhores pousadas da ilha, a Anima e a Villa dos Orixás, na Quinta Praia. A grande vantagem deste procedimento é evitar os longos, tediosos e frequentemente nauseantes trajetos de barco, de Salvador ate lá. Sem falar na horrenda e tumultuada chegada no “porto” de Morro; que está mais para atracadouro de favela do que para píer decente. O problema, é que a vila de Morro de São Paulo é, de fato, uma favela pavorosa e muito desagradável. Como não há carros ou estradas na ilha (só uma, péssima, de terra, que vai da quinta à segunda praia), os turistas-vitimas chegam ao porto e tem que caminhar muito, sol a pino, pelas fedorentas ruas da vila para chegarem à suas pousadas. Que podem estar localizadas na própria vila-favela ou perigosamente perto delas. Acreditem se quiser, mas o lugar é lotados de estrangeiros. Adoram. Devem se sentir numa espécie de Índia sul americana.
Repito: Morro só presta de avião, longe do povoado-terror. A pousada Vila dos Corais, considerada a melhor da ilha pelo Guia 4 Rodas, possui pista de pouso atrás de suas instalações e por estar na fronteira entre a Terceira e Quarta praias, também pode ser boa opção de hospedagem. La fiquei há cinco anos, mas..... A comida e o serviço são péssimos e é cheia de ruidosas crianças. Os quartos são muito bons. Eu só vou a Morro para a Anima ou Villa dos Orixás. Por quê? Calma, silencio, paz, beleza, tranquilidade, bom gosto, boa comida, boas instalações, mais gringos do que detestáveis famílias com crianças.
Nos hospedamos na Anima, a convite de um dos donos franceses.
É um charme, pé na areia, com pequena piscina e deck super agradável. A área social é pequena, mas charmosa e adequada ao numero limitado de quartos, apenas 10. Restaurante bom, petiscos como o camarão picante e a mandioca-aperitivo melhores ainda. Correto café da manha. Os quartos são espalhados pela floresta atrás da recepção, alegres bangalôs coloridos, com bons terraços e amenidades variadas. A praia é linda, o mar é raso e a maré parece rescender quilômetros na baixa e a paz é total. Bons preços.
Para quem quer mais luxo e mais espaço nos bangalôs, o Villa dos Orixás, de proprietários espanhóis, pode ser boa opção. Visitei as áreas externas, não comi no restaurante, mas percorri em detalhe um dos 3 melhores bangalôs, com dois andares e jacuzzi no térreo. Ótimos. A piscina, linda é perfeita para exercício, pois é comprida e retangular, fica na parte de trás do hotel, próxima aos bangalôs mais simples. Ótima ideia para separar “bagunça de piscina” do restaurante e do extenso jardim frente ao mar.
E visitar Morro, no bom esquema acima citado, não vale a pena se Boipeba, a ilha vizinha também não for prestigiada. De difícil acesso, vale a “aventura” pela beleza incrível das praias de areia rosada, desertas, mar transparente, um sonho....
A minúscula vila é simpática e nada tem da confusão indesculpável de Morro. Pode-se chegar a Boipeba de avião, numa combinação de trajeto rápido por barco. Será a minha próxima tentativa, 2 noites em Boipeba na Vila Sereia e 5 em Morro. Sempre voando, claro!
Resta fazer a importante ressalva de que tanto Morro de São Paulo quanto Boipeba, são lugares maravilhosos apenas para os fanáticos por praias, sossego, paz total. Romance, leitura, andar de barco, nadar, mergulhar, apreciar o toque sensual de boas massagens, comer siri, prazeres simples e exclusivos num mundo de loucura, agito e confusão. Para quem quer alta gastronomia, vida noturna, sofisticação, gente famosa, as 2 ilhas não são boas pedidas. Para a turma cafona do axé, Morro “downtown” , o centropodre e fedorento, é o paraíso.
E por fim, a pergunta que não quer calar: ir a Morro e não visitar o centro?
Bem, pode-se visitar como experimento antropológico, com os olhos de cientistas sociais ou planejadores urbanos. O lugar é tão bizarro que se torna interessante por esta ótica. E para não dizer que NADA lá vale a pena, um jantar a luz de velas ou um almoço ensolarado podem e devem ocorrer na caprichada pousada, infelizmente localizada na Terceira Praia, Minha Louca Paixão. Sim, o nome é indizivelmente brega, mas a comida e lugar bons e simpáticos.
Só.

Saas Fee, Suica, 22 de abril de 2011

Para Jean Pierre Trouve, um amigo que me fez “redescobrir” Morro de São Paulo e querer voltar. Um milagre. Salut!