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quarta-feira, 25 de janeiro de 2017
EQUADOR 2017 - SHOW DE VULCÕES
EQUADOR – 2017
POR QUE IR?
Boa pergunta.... Ah! Pelas ilhas Galápagos e seus extraordinários ecossistemas.
Não só por isso, viagem que já tinha feito há muitos anos e adorei. Mês passado, voltamos ao Equador para conhecer o continente, o país de verdade e não apenas ilhas de exceção. Fomos para conhecer o normal, o dia a dia, a vida neste pequeno país de nossa imensa América do Sul, um dos poucos não conectados por voos diretos do Brasil. Uma pena, um trampo para chegar à capital, Quito, via Lima. Demora tanto quanto um voo direto a Miami e a diferença de fuso, no verão, é a mesma. Mas para os dispostos, como eu e meu marido, valeu o sacrifício.
Começamos por Quito, a interessante e montanhosa capital. Uma cidade agradável, de clima fresco e ameno, 2800 metros acima do nível do mar; bom treino para o resto do país, onde se chega fácil aos 5000. Nos hospedamos no hotel da cadeia espanhola NH, em bairro residencial, ótimo custo benefício. Uma longa caminhada ou um táxi barato, chegamos ao belo e preservado centro histórico da cidade. As belíssimas igrejas e conventos se unem a praças, teatros, lojas e ao colorido das vestimentas típicas dos povos indígenas andinos. Segura e tranquila, visita de dia todo e almoço correto no bom restaurante do Hotel Plaza Grande. Comida clássica equatoriana, que é fortemente baseada em frutos do mar, grãos e as frutas melhores e mais frescas que já experimentei em minha vida. Alimentos super saudáveis e bem preparados por toda parte. Os sucos de frutas mais portentosos e saborosos que já bebi, cada um vale por uma refeição. O mais típico é de amora, maravilhoso. O de tomate arbóreo é delicioso também. Provar os chocolates politicamente corretos da Pacari é também recomendável, considerando-se que o país é um dos grandes exportadores de cacau de alta qualidade.
Infelizmente, o Equador já não é mais um país barato desde que adotou o dólar americano como moeda corrente e quinze dias viajando por lá sai tão caro quanto ir aos EUA. Compras devem ser deixadas para serem feitas no Peru ou Bolívia, lugares com belo artesanato e preços bem mais camaradas. Exemplo: uma toalha de mesa linda, que comprei no famoso mercado de Otavalo, ao norte de Quito, saiu por 80 dólares. A mesma, no Peru, sai por 80 soles (valor equivalente a 80 reais). Bom vinho argentino custa 50 dólares no Equador e 50 soles no Peru. E por aí vai... Aliás, para aproveitar distância e troca de voo obrigatório em Lima, esticar a viagem ao Peru é uma boa ideia.
Nosso objetivo no Equador foi, primordialmente, percorrer a denominada Avenida dos Vulcões, um trecho do país pontilhado por enormes montanhas fumegantes, algumas delas cobertas de neve. São sensacionais e o trajeto é muito bonito. A começar pelo melhor, a hospedagem em fazendas centenárias, preparadas para receber turistas, como é o caso da Hacienda Zuleta; um misto ótimo de luxo, conforto e vida campestre. É uma fazenda de verdade, enorme, num vale muito verde cercado por montanhas e vulcões altíssimos, um lugar muito especial, com bastante gado leiteiro, fábrica de queijos e o carinho pessoal dos donos, que faz toda a diferença. Os quartos são espaçosos e bem decorados, com lareira, flores frescas o tempo todo, jardins privativos e outros mimos. A comida é maravilhosa, de fazenda mesmo, servida à francesa em baixela de prata em todas as refeições. O único inconveniente é ter que, obrigatoriamente, sentar-se na mesma mesa com outros hóspedes, coisa que detesto. Como está expandindo as áreas comuns, é possível que já no próximo ano haja mais espaço para acomodar refeições em mesas menores, individuais.
A Zuleta também abriga um projeto para reintrodução de condores na natureza. Esta enorme ave andina está altamente ameaçada por desmatamento e perda de seus habitats nativos. Uma das atrações do lugar é caminhada/cavalgada até a sede do projeto, interessante explicação dos biólogos e visita a algumas das aves-gigante em cativeiro. Também trabalham com pesquisa sobre o urso andino, espécie única no continente. Perto dali misteriosas ruínas em forma de pirâmide, que remontam a 700 anos depois de Cristo. Com o tamanho gigante da fazenda, é possível fazer várias caminhadas autoguiadas e percursos em bicicleta também. Os cavalos, para quem monta, são excelentes e o lugar é tão bonito e agradável, que foi até matéria de capa da revista americana National Geographic, minha inspiração para fazer esta viagem. Nos hospedamos apenas 2 noites ali, mas 4 seria o ideal. O lugar é mesmo idílico e muito representativo do país em si. A cara do Equador!
Próxima parada: Otavalo e seu famoso mercado de artesanato e a deliciosa Hacienda Cusin, que já foi fazenda e agora, de propriedade de um inglês de muito bom gosto, um hotel-museu divertidíssimo. Aliás, o hotel vale mais a pena do que o mercado; este último, uma praça cheia de quinquilharias, algumas bem interessantes, mas nada muito barato. É o maior mercado indígena da América do Sul e bastante respeitado no quesito autenticidade. Para quem gosta de feirinhas e mercados de pulgas, um prato cheio. Nós já preferimos a maluquice, a comida, os drinques e a decoração totalmente bizarra da Hacienda Cusin; além de suas lojas, bem melhores do que o próprio mercado.
Hospedar-se na Hacienda Cusin é como dormir dentro de um museu de arte sacra, cercado de estátuas de santos, anjos, dragões, cruzes, rosários, altares e toda a parafernália católica que se possa imaginar. Nos quartos, corredores, salões, restaurante, tudo. Quadros com cenas de santos degolados e guerras sangrentas são lugar comum, ao lado de prataria intensa, espelhos monumentais e flores em profusão. O Equador, com a Colômbia, são os maiores exportadores de rosas do mundo e elas, enormes e lindíssimas, estão por toda parte, colorindo e perfumando o mofo das velharias cristãs da Hacienda Cusin. O hotel pode parecer lúgubre, mas não é. Muitos jovens se hospedam por lá, gringos mil, há vários espaços e bares animados, comida bem boa. Por ser um lugar grande e abrigar várias casas, os preços dos apartamentos variam bastante e tornam a experiência acessível a jovens, maioria americanos e europeus, que querem ter uma experiência única e bem típica do país.
No caminho até Otavalo e a Cusin fizemos uma parada na cratera e lago do vulcão Cotacachi. Caminhamos pela borda do lago por várias horas, boa oportunidade para ver as lindas e únicas flores desta área. Tudo no Equador é único e especial, por estar na “metade do mundo”, país literalmente “sentado” na linha do Equador; pela altitude das áreas e proximidade do mar, pela quantidade e atividade dos vulcões, que mudam clima e paisagem constantemente e influenciam o surgimento de espécies vegetais que não se vem em outro país. A parte amazônica também influencia na extrema diversidade das espécies e microclimas.
O furo da viagem foi as duas noites desperdiçadas na horrível Hosteria Guaytara, na reserva natural Antisana, frente ao vulcão Cayambe. Lugar sujo, comida péssima, um frio terrível, sem calefação. O único ponto positivo foi a espetacular caminhada pelo páramo andino (pradarias de altitude) e sua vegetação totalmente diferente e o avistamento de muitos condores, o que é, hoje em dia, algo como ganhar a Mega Sena sozinho; prêmio polpudo. Em nossos sofridos dois dias na Guaytara, várias destas aves monumentais, voavam por muitas horas, e pousavam, perto de nós. É como se estar num barco, em alto mar, cercado de baleias. Coisa rara e para poucos. Valeu o sacrifício de um lugar remoto e desconfortável. Vimos também coelhos e veados pululando pelas encostas. Já a 3500 metros de altitude, condições ideais para que os condores vivam e sobrevivam, em paz.
No primeiro dia de 2017, sacudimos a poeira, literalmente e partimos rumo ao embasbacante Parque Nacional Cotopaxi, completo com vulcão de mesmo nome. Muitos e belos pássaros pelo trajeto, uma lagoa cercada de flores silvestres e o Cotopaxi, um vulcão para chamar de seu. E temer, pois, ele é ativo, vermelho, com neve e não tem sido escalado recentemente, devido à fúria de suas erupções. Lugar muito especial, merece mais tempo e a dica é ficar no único hotel do próprio parque para aproveitar melhor a experiência. Perto dali, almoçamos na vetusta Hacienda La Ciénega, lugar antigo e repleto de fantasmas. É de propriedade da mesma família da Zuleta, mas não vale a pena hospedar-se lá pois a área é restrita e no meio de um vilarejo sem graça. Aliás, fora Quito, Guayaquil e Cuenca, todas as áreas urbanas no Equador são sem graça e muito pobres, por isso o item fundamental de hospedar-se em lugares especiais, fora dos povoados e cidadezinhas. Áreas que tenham seus próprios encantos, independentes de atrativos urbanos.
Que a foi a sorte da feliz escolha do hotel Luna Runtun, na feia Baños. O lugar é meca de esportes radicais e a única ocasião em que vimos brasileiros; fazendo tirolesa maluca pelos penhascos locais. A região é repleta de paisagens estonteantes, cânions, florestas tropicais, uma infinidade de enormes e barulhentas cachoeiras, colibris multicoloridos. O Luna Runtun, aos pés de outro vulcão impossível, não pode ser lugar mais romântico nos seus jardins babilônicos, vistas infinitas e chalés muito confortáveis e bem decorados. A comida é fraca, mas o resto compensa. Antes de Baños, uma caminhada show ao longo da cratera do vulcão Quilotoa, há muito extinto. Sua cratera tem hoje em dia uma lagoa azulíssima, maravilhosa. O trajeto por esta região é um dos mais bonitos da viagem e deve ser apreciado devagar, parando para múltiplas fotos, curtindo.
E também devagar e muito! O quilometro mais duro do planeta vulcão Chimborazo acima, ma majestade dos seus 6 300 metros. O passeio não é para os fracos de espírito; ou pulmão. A subida dos 4 000 metros do primeiro refúgio de escalada até os 5 100 do segundo, onde chegamos é linda, mas um enorme esforço de luta contra o ar rarefeito e os males da altitude. A base do Chimborazo tem cerca de 30 quilômetros de extensão e o tamanho deste monstro vulcânico é acachapante. Naquelas alturas se tem a sensação de estar dentro das nuvens, sem estar dentro de um avião. Indescritível! O trajeto até o ponto inicial da caminhada brinda aos visitantes com a companhia de enormes rebanhos de vicunhas; na certa os mini-camelos mais charmosos do planeta.
Passamos a noite na interessante Hosteria Andaluza e seguimos até Alausí para embarcarmos no trem que dá uma volta estonteante ao longo da montanha conhecida como Nariz do Diabo. Vale mais pelas paisagens e pela admiração que causa esta obra altamente tecnológica do início do século passado, onde centenas de trabalhadores perderam a vida lutando contra mau tempo e despenhadeiros. Engenharia britânica de primeira, que hoje em dia sustenta o pequeno povoado de Alausí como atração turística. De lá, outro bonito roteiro de carro até a Posada Ingapirca, colada às ruínas incas de mesmo nome. A pousada é um charme de jardins, lareiras, frio terrível, cobertores pesados e comida saborosa. As ruínas estão em belo estado de preservação e a visita guiada tem o sabor de uma Machu Pichu em miniatura.
Nossa parada e duas noites finais foram passadas em Cuenca, importante cidade no sul do Equador, com charmosa arquitetura colonial e a melhor comida da viagem no restaurante/loja/padaria/boutique El Mercado. A cidade é um encanto de ruas e casas coloridas, igrejas poderosas, museus desafiadores e muita alegria pelas múltiplas praças. De novo e escolha acertada, ficamos fora do centro, no moderno hotel Oro Verde. Como em Quito, fugindo dos preços e ruído do centro histórico. Para quem prefere hospedagem chique e cara, bem central, a Mansión Alcázar é perfeita. Parece cenário de filme, super bem decorada por um americano excêntrico. O restaurante é um dos melhores de Cuenca, só perdendo mesmo para o acima citado El Mercado.
No dia seguinte, o trajeto até Guayaquil onde tomamos o avião de volta a Lima, surpreendeu pela beleza do Parque Nacional El Cajas, uma verdadeira paisagem escocesa na linha do Equador!
Depois de tanto tempo, trajetos e voos, nos perguntamos se a parte não-Galápagos do Equador vale a pena, mesmo sendo cara e difícil. Vale e muito, pelo inusitado e especial das paisagens, fauna e flora, pela simpatia do povo, pelas frutas, sucos e frutos do mar, pelos vulcões, pela história, pelas fazendas, pelas ruínas. Eu repetiria o mesmo, em outra época do ano, de preferência de maio a novembro, para fugir da chuva e das nuvens que comprometem a visibilidade das montanhas. Frio sempre é, portanto não há como escapar das temperaturas de altitude. Alugaria carro, o que diminui bem o custo. Nós tivemos motoristas e guias o tempo todo; confortável, mas chato na convivência e falação intensa destes profissionais do turismo. Preços cairiam em cerca de 40% se nós mesmos tivéssemos dirigido e dispensado guias.
Faria o mesmo trajeto, com hospedagem única e exclusivamente em fazendas, pousadas e hotéis como, anteriormente citado, com seus próprios atrativos e ainda passaria uns 10 dias fazendo cruzeiro pelas Galápagos. Eternas e deslumbrantes.
São Paulo, 25 de janeiro de 2017.
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