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domingo, 17 de março de 2019
BUTÃO 2019 O PAÍS MAIS FELIZ DO MUNDO?
BUTÃO 2019
O PAÍS MAIS FELIZ DO MUNDO?
Acabamos de voltar de lá, março de 2019 e visitamos o pequeno país encravado no Himalaia, justamente por causa de histórias de belezas inexploradas, de uma espécie de paraíso terreno, um Shangri-lá mítico e misterioso. Ou seria tudo mesmo uma grande jogada de marketing que tem atraído turistas incautos a pagar um mínimo de 250 dólares diários para por seus cansados pezinhos por lá? Nem um e nem outro.
O Butão é um país um pouco menor do que a Suíça, espremido entre o norte da Índia e o sul da China, pertinho do disputado Tibet. O país é lindo e sua gente aparentemente feliz, além de muito amáveis e simpáticos. Seu turismo é recente, muito caro e pouco estruturado. A comida é péssima e os atrativos, além de belezas naturais, se limitam a templos e fortalezas. O país é uma monarquia budista e retratos da família real se encontram por toda parte. Talvez seja a religião e a idolatria a família real que mantenha a tal felicidade que resultou, em vez de PIB, no PFB (produto de felicidade, ao invés de renda) . Pode ser, mas não me convenceu.
Em 12 dias por lá, o que vi de realmente diferente em relação a outros países asiáticos que visitei (China, Índia, Laos, Vietnam, Cambodia, Nepal e Tailândia), foi a ausência de mendigos e vendedores insistentes. A pobreza, sujeira e infraestrutura precária dos outros países não é muito diferente. Na Índia as vacas andam soltas por toda parte: no Butão os cães dominam tudo e latem sem parar noite adentro.
Por que ir então? Por que viajar de São Paulo a Zurique, de lá até Nova Déli e mais uma hora e meia até o único e perigosíssimo aeroporto do Butão? Boa pergunta e só posso responder por mim, meu marido e irmã que me acompanharam na aventura. Sendo os três muito viajados e amantes de lugares exóticos, o Butão nos atraiu pela exclusividade, o marketing da felicidade e o exotismo. Compensou? No nosso caso sim e recomendo a quem já esteve em vários lugares dos planeta e queira e saiba apreciar um lugar pouco explorado, sem McDonald’s e Starbucks. Gostar e entender o Budismo, ter interesse pela Ásia, amar montanhas, flora diversa, fauna abundante e ter paciência com longos trajetos é também muito importante.
Nossa viagem incluiu a capital, Thimbu, Paro (aeroporto), Punakah, o lindo vale Gangtey, Trongsa, Bumtang. Só enfrentamos um hotel bem ruim, o pavoroso Olathang, em Paro. O resto foi de bom a razoável. Como não se viaja de modo independente no Butão, tivemos muita sorte com motorista e guia, gente animada, cortes, sorridente. Fizeram de tudo para tornar nossa aventura uma experiência mais segura e confortável, coisa que não é fácil por estradas mortíferas, curvas sem fim, precipícios e desfiladeiros de alturas inimagináveis. Negociaram tudo com paciência de monges budistas e sorrisos permanentes. A Chuki e Bella, nossa eterna gratidão!
A capital, Thimbu, é bem interessante e há museus, templos e fortes bem interessantes. Sem mencionar o maior Buda do mundo, uma espetacular estátua dourada, sentada numa montanha a seis quilômetros do centro. A caminhada de 3 horas até um templo escondido no meio de uma bonita mata nativa é outro atrativo bacana para os andarilhos em geral. Há bons restaurantes, caros, nos hotéis de cadeias internacionais. O artesanato é bonito e barato, e lenços feitos de lã de iaque bebê são especialmente delicados. Paro, a segunda cidade maior do país, vale pelo centrinho animado, pelo museu de história natural, pelo aeroporto mais tranquilo e charmoso do mundo, pelo espetacular e caríssimo hotel Uma (não nos hospedamos lá, mas jantamos e fizemos massagens, precedidas por um delicioso banho fumegante aquecido com pedras semi-incandescentes). E pela inesquecível e sensacional caminhada ao NINHO DO TIGRE (Tiger’s Nest). O ninho que na verdade é um conjunto de templos encravados numas pedras gigantes, um lugar que se vê muito em fotos e filmes, mas nunca se sonha em alcançar, vale a viagem e se houver apenas uma coisa a recomendar e justificar o sacrifício de se ir até o Butão, este lugar é campeão.
Caminha-se de 5 a 6 horas ida e volta, duro trajeto montanha acima e abaixo, por trilhas, florestas, picos nevados e chega-se aos templos incompreensivelmente construídos nas íngremes encostas das pedras gigantes. Maravilhoso, abençoado...
O vale Gangtey e o bucólico hotel Dewachen seriam nossos segundos favoritos e compensa o longo e tenebroso trajeto de carro até lá. A caminhada pela pradaria que tem um toque levemente escocês, cheia de raras cegonhas brancas e pretas, além de uns bizarros bois/búfalos nativos chamados Takin, é de uma beleza impressionante.
Em Trongsa, uma fortaleza/castelo/monastério gigante, repleta de macacos cor caramelo, pulando em meio aos monges de vermelho escuro, é na certa um lugar bem fotogênico, do tipo que ilustra o país vizinho, Tibete, bastante parecido com o Butão. O museu ali perto, incluído numa bonita torre panorâmica explica os vários deuses, gurus e mestres que são de extrema importância para o budismo tântrico do país. As fortalezas são inúmeras, bonitas e quase sempre incluem templos budistas e suas inúmeras entidades e representações. As vezes, servem como departamentos governamentais. Aliás, esta mistura de governo, realeza e budismo é uma das coisas mais curiosas da região. E parece funcionar muito bem, sem conflitos para uma população de cerca de 800.000 habitantes que dão a impressão agradável de uma fé inabalável e uma aceitação de sua condição pobre e simples, coisa rara no mundo atual. A maioria fala inglês, tem bom acesso a internet e todos os monges estão munidos de celulares de última geração.
Entre Punakha e Paro, existe a cidade “fálica” onde os órgãos sexuais masculinos são a grande atração; nosso moralismo cristão-ocidental vai para o espaço e é muito divertido ver pênis pintados por todas as casas, em várias cores e tamanhos (completos com ejaculações gráficas), vendidos em lojas e esculpidos em madeira pintada, uma celebração da fertilidade que não choca e diverte! Há até um templo dedicado ao patrono de tais artes e práticas, o Divine Madman (o louco divino).
Talvez seja este mesmo o diferencial do Butão: paz. Convivência do antigo e do moderno. Ausência de conflito, aceitação, bom humor, simplicidade.
Até quando vai durar este cenário é outra coisa. Que seja eterno enquanto dure.
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