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terça-feira, 30 de junho de 2020

VIAJANDO NA PANDEMIA

VIAJANDO DURANTE A PANDEMIA Cinco meses de muita luta, tentando manter um hábito viageiro que me é caro há muitos anos. Confesso que, apesar de prazeroso, viajar no primeiro semestre de 2020, este ano interminável e amaldiçoado, tem sido tarefa árdua. Das primeiras máscaras em aeroportos e aviões até medição de temperatura em toda parte, distanciamento físico em aeronaves lotadas, luvas e muito medo. Valeu a pena? Na certa. O prazer de mudar de ares ainda vale o cancelamento em série dos voos, as incertezas do abre e fecha nos lugares de destino e as estranhezas que este vírus provocou. Curitiba foi o primeiro lugar com restaurantes abertos em vários meses, uma delícia de experiencia, que apesar de tão comum, transformou-se em ocasião especial. Até deu para descobrir uma casa nova, o Sotto, lugar de cozinha impecável e carta de vinhos mais ainda. Meus clássicos e favoritos Terra Madre, Durski e Madero Prime continuam firmes por lá. Já o Nomade, encontrei fechado... Com cinemas e teatros fechados, finalmente conheci o enorme Parque Barigui, linda área verde no centro de Curitiba, três horas deliciosas caminhando em meio a pássaros lindos e enormes capivaras. Eu que não sou muito de shopping, me deliciei no Pátio Batel, como se nunca tivesse estado num centro comercial. Em tempos bicudos, a gente passa a valorizar o “carne-de-vaca” que toma cores de programão. Para quem gosta de roupa esportiva, este shopping tem a loja mais bonita e agradável que já vi, além de bem sortida, da marca americana The North Face. Passei quase três semanas em apartamento alugado na praia do Forte, Bahia. Dias de paz e sol, moqueca delivery, bastante reflexão e harmonia nas caminhadas longas pelas areias infinitas desta região. Não senti falta de lojas, restaurantes ou hotéis. Curti a natureza, silencio e o barulho do mar. Próxima parada, minha amada Gramado, quase duas semanas de sol, frio, chuva, neblina, sapos e vento. Li cinco livros, fui a três restaurantes, comi pinhão bem quente na casca e comprado na beira da estrada, reinventei novas receitas de pratos suíços, caminhei muitas horas em volta do Lago Negro e curti as duas mini casas estilo Hobbits que aluguei num sítio de cogumelos ( Sítio dos Cogumelos Montanhês) indicado por um nativo. Não poderia ter escolhido melhor, bom e barato. A propriedade é linda, um jardim de sonho cheio de colibris, florestas, rios e cachoeiras, a apenas 4 kms do centro de Gramado. Os donos são ótimos e as duas casinhas muito bem equipadas, limpíssimas e cheirosas, flores e mimos por todos os cantos. Ganhei shitake, shimeji e hiratake de graça, aprendi a prepará-los e misturá-los bem, dormi como um anjo e aproveitei o sol no meu sítio sem casa. Em Gramado está quase tudo aberto, mas a natureza e a alegria de estar ali foram tão grandes que nem senti falta dos parques, restaurantes e viagens a cidades vizinhas, além das muitas compras que faço habitualmente. Um dos poucos lados bons da pandemia é poder recriar hábitos e descobrir o simples. Só mesmo esta catástrofe sanitária para mudar, a força e contragosto, prazeres de uma vida inteira. Gramado, 30 de junho 2020.