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terça-feira, 28 de outubro de 2025
JAPÃO TROPICAL - OUTUBRO 2025
LUGARES DO CORAÇÃO – JAPÃO TROPICAL
OUTUBRO 2025
Três anos seguidos de idas felizes ao Japão, sempre no começo do outono, sempre interessante e divertido, como é, quase sempre, com o que chamo de “lugares do coração”. Viagens possíveis superando distâncias desanimadoras, aprendendo muito graças a amabilidade, limpeza e organização do povo japonês. Missão impossível para uma senhorinha de quase 70 anos, viajando por conta própria, sem falar o idioma local. Claro, com inglês fluente e experiencia extensa de viagens. Mas sem a ajuda diária dos nativos nas estações de trem, ônibus, barcos, táxis, ruas, hotéis e aeroportos esta adorável jornada não teria ocorrido, não teria sido tão maravilhosamente prazerosa como foi.
Três lugares me motivaram a voltar este ano: Naoshima, Kobe e Okinawa. Com o apelo dos últimos dias da Expo Osaka 2025, primeira parada japonesa.
Comecei por Osaka, cidade que a cada vez gosto mais, apesar de não ser bonita e nem ter grande apelo turístico. Voei Dubai-Osaka, boa ideia com a Emirates e já direto a Expo, sensacional! Tive uma prévia na Japan House em São Paulo, sobre a Exposição Mundial que este ano ocorreu em Osaka, pela segunda vez. Nunca estive até então em tais eventos, em geral caros e difíceis de navegar, tipo Olimpíadas ou Copas do Mundo. Também nunca tive grande interesse por isso, pois não sou adepta de esporte algum. Talvez por isso, a Expo Osaka me atraiu; por ser no Japão, por ser sobre arquitetura sustentável, possível, acolhedora de maneira gigantesca, enfatizando simplicidade, bom senso, tecnologia e nada de luxo.
Os países expositores, em grande maioria, gastam muito dinheiro no marketing de seus potenciais turísticos e econômicos, culturais, gastronômicos, com toque políticos e ufanistas aqui e ali. Tudo muito interessante e grandioso, o pavilhão do Brasil bombando e filas enormes para quase tudo, até para tomar suco Maguary e as óbvias poções de açaí e cafés variados. Porém, para uma pessoa viajada como eu, a visita não seria justificável sob o aspecto de “conhecer outros países sem pisar neles”, pois já estive ao vivo e a cores na maior parte deles. O grande apelo para mim, o que me maravilhou e entusiasmou, foi o enorme círculo da Expo Osaka, o Grand Ring; estrutura de madeira, tipo Lego gigante, de uma simplicidade e sensatez nunca vistas, abraçando todos os pavilhões e possibilitando vistas espetaculares das passarelas superiores, uma espécie de High Line japonesa, mas circular, com circunferência de dois quilômetros. Uma caminhada sensacional, cercada de jardins e efeitos visuais que pareciam flutuar em volta dos pavilhões, do gigantesco porto de Osaka, do mar e das montanhas da região.
Não precisou mais nada, valeu a viagem! O propósito da estrutura foi simbolizar união através da diversidade e os efeitos de luz à noite pareciam coisas de outros planetas. Bem, o Japão é quase um planeta a parte no seu desenvolvimento e sensatez. Coisas que eles aprenderam a duras penas através de guerras e séculos de problemas e duras lições. Aspecto que me levou a Okinawa, o extremo sul do arquipélago japonês.
O Japão é um país pequeno em território, mas bem extenso de norte a sul, indo da Rússia até a China, portanto muito diverso. Estive em Hokkaido, no norte, no ano passado e quis muito visitar o sul, Okinawa, o que ocorreu agora.
Okinawa é o Havaí japonês, quente, úmido, lindas praias, mar azul e vegetação deslumbrante. O povo é mais informal, se vestem mais como cariocas do que como os ascetas elegantes de Toquio, tem um ritmo de vida mais tranquilo do que no resto do país, onde trabalham e correm o tempo todo. Por isso, Okinawa pertence a lista das Blue Zones, onde índices de longevidade são altos como na Sardenha ou Grécia. Vida tranquila, comunitária, boa alimentação e padrão de vida. Não tem segredo. Já estive em todas as Blue Zones e clima quente, brisa do mar, falta de estresse e bons papos fazem as pessoas viverem mais e melhor. Sem luxo, com qualidade e condições sócio econômicas decentes. Coisa que no Brasil, temo, jamais ocorrerá...
O que vi de Okinawa foi a ilha principal de mesmo nome e sua gostosa capital, Naha. Dois tours organizados em ônibus com guia falando praticamente só japonês, de 11 horas cada, em dias consecutivos, me possibilitaram conhecer o resto da ilha e as belas florestas e o aquário que é considerado um dos mais importantes do mundo. Legal, mas não tão incrível como o de Osaka. Há lindas praias de areia clara por toda parte, mas pouca gente nelas. As 160 ilhas do arquipélago do sul têm uma população de cerca de 1.5 milhões de habitantes, deserto perto dos 120 milhões aglomerados no resto do Japão. Em Naha visitei museus de história e arte maravilhosos, me deliciei com as frutas de lá, com o limãozinho pequeno e feio cujo gosto é delicioso e cujos supostos benefícios para a saúde são quase mágicos. Anotem o nome do milagre: shikuwasa.
Mas em termos gastronômicos, o melhor mesmo, para quem gosta, claro, é o sashimi do Fish Market, o pequeno mercado de peixes fresquinhos, a beira mar, similar ao de Tóquio, mas bem menor e super agradável. Vieiras, atum e salmão crus, antes das 9 da manhã e uns golinhos da cerveja icônica de Okinawa, a Orion, são um café da manhã exótico e maravilhoso! Tem louco/a para tudo...
Umas das experiencias mais marcantes em Naha foi a visita ao antigo quartel da marinha japonesa e o memorial triste da Batalha de Okinawa, onde milhares de japoneses perderam suas vidas para a insensatez da guerra com os americanos. O monumento, túneis, museu, vídeos, tudo super interessante. Está instalado em meio a um parque bonito e verde, no topo de uma colina, com vistas belas da ilha. Imperdível. Bem como o castelo Shurijo, o cartão postal do lugar. Foi quase todo destruído na Segunda Guerra Mundial, mas agora está esplendoroso e restaurado, magnífico em seus toques mais chineses e vermelhos do que propriamente japoneses e seus dragões ameaçadores que parecem engolir o telhado principal. O mausoléu de antigos líderes locais, parte do complexo do castelo, é o toque japonês e discreto contraponto ao vigor assertivo do castelo.
Caminhar por Naha é ver tudo isso, todas as atrações acima citadas são caminháveis para quem enfrenta o calor e as colinas. Vale o esforço. Na cidade não há praias e para quem quer aproveitar isso, é necessário sair de lá ou tomar barcos a outras ilhas. O que vi em termos de hotel de praia, não é exatamente a “praia” dos brasileiros. Hotéis muito grandes, sem charme, pequenas praias perto, cheias de gente mais vestida do que em trajes de banho. Para mim não importou, pois eu não iria tão longe para fazer vida praiana. O lado sócio cultural do Japão é bem mais interessante.
Antes das seis noites no sul do país e ainda baseada em Osaka, visitei Kobe e Naoshima. A primeira é relativamente pequena e charmosa, muito agradável e bonita. Comi o famoso Kobe beef no estupendo hotel Oriental, com direito a bolinhos de caranguejo escuro de entrada e o melhor e mais leve cheesecake da minha vida como sobremesa. Compensou o investimento. Kobe é 10 minutos de trem bala, meu amado Shinkansen, de Osaka. Na estação de trem você já pega um ônibus turístico verde e antiguinho e conhece tudo em uma hora de percurso. Depois, caminhadas e show de jazz grátis na praça. Delícia...
Por último, escrevo sobre Naoshima e meu encanto pela ilha das artes, tão famosa no mundo todo. Adorei, quero voltar, pois há várias ilhas na região chamada Inland Sea, mar interior, perto da feia cidade de Okayama. Bom, perto, não é bem o termo, pois Naoshima é uma ilha longe de tudo, parte de um grupo de ilhas que eram bonitas e foram degradadas por poluição industrial de vários tipos. O Grupo Benesse, fundação japonesa de grande porte, recuperou tudo, engajou os poucos gatos pingados que moravam nas ilhas a se interessarem por arte e trabalharem em prol de um turismo que visa única e exclusivamente arte. O resultado é magnífico e há vários museus interessantíssimos, arquitetura do icônico arquiteto japonês, Tadao Ando, com acervos e mostras geniais. É por lá que ficam pairando entre o mar e a terra as abóboras de Yayoi Kusama, os símbolos tão conhecidos de Naoshima.
Mas, apesar de toda minha experiencia percorrendo nosso pequeno planeta, cometi o grave erro de pensar que Naoshima era Hakone ou Inhotim e passei apenas algumas horas ali. Frustrante. A ilha é grande, montanhosa, difícil de percorrer só a pé. Para os bicicleteiros, um paraíso. Não há quase outro tipo de transporte e só pude ver mesmo o New Museum, espetacular, seu ótimo restaurante, vistas lindas e a vilazinha pitoresca e super japonesa, Honmura. Pouco. Mas para ver tudo e as outras ilhas onde também existem várias das obras de arte importantes, é necessário, pelo menos 4 dias.
Ver tudo isso com calma e bom planejamento, voltar a Kanazawa e Takayama, será meu presente de aniversário dos 70 anos que completarei em janeiro. Bem vividos.
E viajados!
São Paulo, 28 de outubro de 2025
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