Uma viagem pelo tempo e pela gastronomia mineira
Depois de uma bem sucedida estadia de cinco dias em Ouro Preto e arredores, em meados de setembro de 2010, dirigimos em dia ensolarado pela estrada que nos levou à adorável Fazenda Santa Marina, propriedade da tradicional família mineira, os Alckmin. O lugar, datando dos idos de 1700, faz parte do circuito de fazendas históricas nas cercanias de Cristiano Otoni, a uns 120 km de Belo Horizonte. O acesso, de Ouro Preto, é fácil e o percurso é todo asfaltado. Os marcos da antiga Estrada Real estão por toda parte e placas explicativas tornam tudo bastante educativo.
A casa-sede, amarelo vivo e azul pavão é bonita e confortável, os poucos quartos um charme. Lareira, flores por toda parte, banheiros modernos, belo mobiliário. Sem falar na comida de fazenda, mas do tipo saudável, pois as quatro irmãs proprietárias fazem a linha zen e a culinária não carrega nos torresmos e outros atentados às artérias dos hóspedes. Boa carta de vinhos, paz e muito romantismo neste lugar especial para descansar e namorar. Os mais ativos podem escolher cavalgadas ou caminhadas e visitas a outras fazendas da área. Mas a piscina e as massagens, inclusive sala de meditação, convidam as pessoas a ali ficarem, aproveitando o silencio só quebrado pelos pássaros multicoloridos ou o raro mugido de uma vaca ou outra.
É uma parada perfeita entre Ouro Preto e Tiradentes. Depois do agito e barulho da primeira, a tranqüilidade esotérica da Santa Marina prepara o viajante para o, muito que fazer em Tiradentes, nosso próximo destino.
Tiradentes, apesar de pequena, preservada e bucólica, oferece grande atividade turística. Começando por bares e restaurantes, caminhadas e passeios às cidades vizinhas. Isso sem falar nas compras maravilhosas nas lojas de móveis e artesanato da cidade. Sua vizinha, Bichinho, é sede da famosa Oficina de Agosto e suas peças impressionantes. Não é barato, mas vale pelo menos a visita. O ateliê da grife, localizado em um sitio fácil de encontrar é o mais bacana e misterioso, com as peças de vanguarda que fizeram o sucesso da marca e a pequena loja no “centro” de Bichinho, exibe as peças mais antigas e óbvias da Oficina. Não há centro, só uma rua principal de terra, onde se encontram a maioria de lojas e ateliês. Tudo muito interessante, pode-se passar uma tarde inteira lá. Mesmo não comprando, só as visitas valem a pena. E no caminho é bom parar no interessante Museu do Automóvel e seus exemplares bem conservados de carros, muitos deles, parte da história automobilística brasileira- com direito a Gurgel e tudo mais.
Para quem está atrás de móveis, Tiradentes é uma festa. Festa da Madeira, isto é. As mais lindas peças e móveis neste material. Os preços são razoáveis mas não baratos. Vale pelo acabamento e originalidade, principalmente no Armazém do Arquiteto, uma “arca do tesouro” contendo maravilhas difíceis de encontrar num só lugar, um enorme “depósito” que impressiona pela classe , qualidade e variedade. De modo geral, nas lojas de móveis da região, há de tudo para todos os bolsos, mas o bom gosto impera em Tiradentes e é difícil encontrar coisa brega.
Presentes, objetos de decoração, algumas peças de vestuário e artesanato são lindos por toda parte e em todos os materiais e cores possíveis. Uma tentação terrível. Bem como a comida, genialmente representada, nesta ordem, pelo Theatro da Vila, Tragaluz e Santo Ofício. O primeiro é uma das casas mais bem decoradas e românticas em que já estive em minha longa carreira de viajante. A comida é maravilhosa e os preços altos não assustam. Vale o que cobram. O serviço é amável e o local é imperdível. Se o turista tem apenas uma noite para jantas em Tiradentes é no Theatro da Vila que deve ir. É experiência gourmet, sofisticada, cardápio enxuto e a carta de vinhos, seriíssima. Estupendo! O famoso Tragaluz é bom, mas nada de excepcional para quem viaja muito e está acostumada às boas casas de Rio e SP, sem falar nas internacionais. Tem ambiente acolhedor, bom serviço, culinária criativa, mas nada de UAU! – como o Theatro da Vila, por exemplo. A fama, injustificada, se deve ao fato da dona ser MUITO bem relacionada em círculos sociais de BH. O Santo Ofício é o melhor custo benefício da cidade, com meigo ambiente à luz de velas e cardápio original. Serviço acima da média e preços camaradas. Altamente recomendado.
Para quem é fã da pesadíssima cozinha-mineira-tijolo, o Estalagem do Sabor é o destino ideal. O Mexidão (o nome já diz tudo) é muito, muito saboroso e te agrega umas 5000 calorias na cintura e arredores. Ambiente simples mas confortável e no verão, mesas no bonito gramado. Tiradentes tem mais duas opções estreladas de comida mineira, mas como não somos fanáticos, só fomos ao estabelecimento acima citado. No quesito petiscos, ninguém é páreo para o Bar Sapore D’ Itália (não confundir com restaurante de mesmo nome), nome infeliz para um lugar ótimo na praça principal, o conhecido Largo das Forras. O lugar se destaca pelas mesas no terraço, bom ponto de observação para a vida na cidade e pelos pastéis de angu; péssimo nome para fabulosos pastéis com recheios distintos que se deveriam chamar “pastéis de polenta”, pois a massa é muito parecida com o famoso item italiano. De chorar de bom! Boas bebidas, bons preços.
E além de comer e comprar? Muita coisa. Caminhar pela cidade é um prazer, descobrir cantinhos adoráveis como o do Chafariz de São José e por trás do dito, a trilha pela floresta que circunda Tiradentes. Tal mata é muito bem preservada, moldura perfeita entre a cidade e as montanhas rochosas. Há trilhas de todos os tipos e dificuldades, mas com guia. A pequena e fácil acima mencionada é muito recomendável e dispensa guias chatos. A igreja matriz de Santo Antonio é minha preferida, aquela mesmo de todas as novelas de época da Globo. Linda, bem preservada, um lugar especial. Para se admirar, rezar e assistir a concertos de órgão. As outras igrejas em Tiradentes perdem muito para as vizinhas em Congonhas do Campo e São João Del Rey. Por falar nas duas cidades, que SÓ valem visitas pelas igrejas, são passeios perfeitos e fáceis pela região de Tiradentes. São João é facilmente alcançada na engraçada Maria Fumaça, aquele trem antigo também muito filmado pela Globo. O trem é confortável, o trajeto é curto e vale a pena. São João é suja, grande e moderna, a parte antiga vale a visita, “pero no mucho”. Se o turista for interessado no finado Tancredo Neves, há museu e cemitério dedicados ao quase-presidente.
Congonhas do Campo é uma cidade feia, mas o Santuário de Bom Jesus do Matozinhos é espetacular. Não tanto a igreja, mas os profetas que rodeiam a mesma. Sofrendo ação do tempo ou poluição, lá se encontram majestosos em toda sua glória de pedra sabão e seus traços finos e delicados. São verdadeiras pinturas em pedra, de um refinamento e delicadeza impressionantes. Aleijadinho foi um gênio e seu legado, incomparável.
Ficar ou não ficar no centro, eis a questão hospedagem em Tiradentes. Ficamos e adoramos o Solar da Ponte, ainda o melhor da cidade e ainda sob o comando magnífico de John Parsons. Mas ele quer vender o Solar, portanto é uma grande duvida se os novos donos manterão a casa da maneira primorosa e com o serviço classudo como o inglês e sua mulher o fazem. Os quartos são grandes e ótimos, bom café da manhã e chá da tarde, boa piscina. O único ponto negativo é o barulho do lugar. Para quem quer calma a pedida são as boas e modernas pousadas fora da cidade. Não são longe e oferecem um silencio que o centro de Tiradentes não tem, infelizmente. Carros e gente impedem a paz. Numa próxima vez eu tentaria Pousada dos Inconfidentes, Villa Paolucci ou Pequena Tiradentes.
Tiradentes não exibe o esplendor arquitetônico de Ouro Preto e muito menos sua grande importância histórica. Mas é um lugar dos mais agradáveis e interessantes, sem falar charmoso, do Brasil histórico. Uma Parati melhorada, sem o mar, mas com o charme dos lugares bem preservados, que pararam no tempo sem serem tediosos.
Prepare o bolso, é o destino mais caro de nossa querida Minas Gerais.
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quarta-feira, 10 de novembro de 2010
São Miguel do Gostoso
Que nome bizarro para uma cidadezinha perdida nos confins do Rio Grande do Norte! Por que Gostoso + nome de santo? Bem, o município é novo, existe há apenas 10 ou 15 anos e seus 10.000 habitantes decidiram mesclar o nome do padroeiro da cidade com o sentimento de se estar em suas praias maravilhosas, com o vento constante amenizando o calor, a delícia de suas águas mornas, a calma do lugar, uma paz só. Gostoso. E é assim, de maneira abreviada, que seus habitantes se referem a este lugar, 100 km ao norte de Natal, que se está tornando rapidamente um destino turístico dos mais agradáveis.
Já era Meca dos kitesurfistas, loucos pelo lugar e seus ventos perfeitos para a prática deste esporte que está virando mania entre os jovens em geral, não apenas os engajados em praticas aquáticas. E é divertido ver dezenas deles “voando” pelo mar. Há escolas (Escola Gostoso, claro) e material de aluguel no lugar. Os estrangeiros, principalmente portugueses e italianos, ajudaram a sofisticar a região, com seus surpreendentemente bons bares e restaurantes.
Gostoso é uma boa e diferente alternativa às praias do sul do estado, a famosa Pipa, por exemplo. Geografia totalmente distinta, dunas em vez de falésias, uma imensidão impressionante de areia sem fim. Particularmente bonita é Tourinhos, um bom passeio a pé, pela praia, seis belos quilômetros pontilhados por formações rochosas, resultando em charmosa baía de águas claras e uma vegetação “entortada” pelo vento, compondo um quadro pitoresco e bucólico. Tudo muito vazio. Ainda. A infra estrutura melhora rapidamente e o acesso de Natal é fácil e confortável por boa estrada de asfalto.
As praias estão entre as mais lindas do Brasil e boas pousadas, como a Só Alegria, são totalmente “pé na areia”. Comandada por um casal de paulistas de Ribeirão Preto, o estabelecimento é bem decorado, confortável e profissional. Por enquanto, a “top” de Gostoso. Seu restaurante, Malagueta, está entre os cinco melhores e o café da manhã, delicioso; criativo em receitas como o waffle de pão de queijo e “sanduíches” de tapioca.
O bar de praia J. Sparrow’s (nome do personagem de Johnny Depp em Piratas do Caribe) oferece pratos sofisticados como ceviche e preparações com polvo das mais descoladas. Além de caipirinhas diferentes, como a de uva preta e saquê. No capítulo comidinhas + boutique transada, o Madame Chita faz as honras com seus crepes voluptuosos e bolsas com a cara estranha da artista mexicana Frida Khalo. O pequeno Esquina do Brasil, na avenida principal, não desaponta no bem temperado arroz de polvo. Mas o melhor mesmo é o Hibiscus, invenção de um mineiro e de uma baiana. Suas reinterpretações de clássicos baianos como a moqueca e o risoto de camarão, são delicados e criativos. Bom serviço, ambiente bonito, opções razoáveis de vinhos. Os preços de toda essa farra ainda são decentes. Caros para a região, mas bem mais baratos do que os praticados no Sudeste.
O que há para fazer em Gostoso? Nada.
Relaxar, comer, dormir bem, andar infinitamente pelas praias gigantescas, nadar, passear de bugue pelas redondezas, ir de praia em praia comparando areias, mar e vegetação. Ler aqueles livros que sempre se deixa para depois, contratar massagem boa e barata, tentar esportes marítimos. E concordar com nativos e turistas: é tudo muito Gostoso!!!
Já era Meca dos kitesurfistas, loucos pelo lugar e seus ventos perfeitos para a prática deste esporte que está virando mania entre os jovens em geral, não apenas os engajados em praticas aquáticas. E é divertido ver dezenas deles “voando” pelo mar. Há escolas (Escola Gostoso, claro) e material de aluguel no lugar. Os estrangeiros, principalmente portugueses e italianos, ajudaram a sofisticar a região, com seus surpreendentemente bons bares e restaurantes.
Gostoso é uma boa e diferente alternativa às praias do sul do estado, a famosa Pipa, por exemplo. Geografia totalmente distinta, dunas em vez de falésias, uma imensidão impressionante de areia sem fim. Particularmente bonita é Tourinhos, um bom passeio a pé, pela praia, seis belos quilômetros pontilhados por formações rochosas, resultando em charmosa baía de águas claras e uma vegetação “entortada” pelo vento, compondo um quadro pitoresco e bucólico. Tudo muito vazio. Ainda. A infra estrutura melhora rapidamente e o acesso de Natal é fácil e confortável por boa estrada de asfalto.
As praias estão entre as mais lindas do Brasil e boas pousadas, como a Só Alegria, são totalmente “pé na areia”. Comandada por um casal de paulistas de Ribeirão Preto, o estabelecimento é bem decorado, confortável e profissional. Por enquanto, a “top” de Gostoso. Seu restaurante, Malagueta, está entre os cinco melhores e o café da manhã, delicioso; criativo em receitas como o waffle de pão de queijo e “sanduíches” de tapioca.
O bar de praia J. Sparrow’s (nome do personagem de Johnny Depp em Piratas do Caribe) oferece pratos sofisticados como ceviche e preparações com polvo das mais descoladas. Além de caipirinhas diferentes, como a de uva preta e saquê. No capítulo comidinhas + boutique transada, o Madame Chita faz as honras com seus crepes voluptuosos e bolsas com a cara estranha da artista mexicana Frida Khalo. O pequeno Esquina do Brasil, na avenida principal, não desaponta no bem temperado arroz de polvo. Mas o melhor mesmo é o Hibiscus, invenção de um mineiro e de uma baiana. Suas reinterpretações de clássicos baianos como a moqueca e o risoto de camarão, são delicados e criativos. Bom serviço, ambiente bonito, opções razoáveis de vinhos. Os preços de toda essa farra ainda são decentes. Caros para a região, mas bem mais baratos do que os praticados no Sudeste.
O que há para fazer em Gostoso? Nada.
Relaxar, comer, dormir bem, andar infinitamente pelas praias gigantescas, nadar, passear de bugue pelas redondezas, ir de praia em praia comparando areias, mar e vegetação. Ler aqueles livros que sempre se deixa para depois, contratar massagem boa e barata, tentar esportes marítimos. E concordar com nativos e turistas: é tudo muito Gostoso!!!
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