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sábado, 27 de outubro de 2018

PAISES BALTICOS -- SETEMBRO 2018

PAISES BALTICOS – SETEMBRO 2018 No final do verão europeu, uma grata surpresa em minha vida viageira: a beleza, alegria e magia da Lituânia, Letônia e Estônia. Sempre sufocados pela Rússia, estes países situados tão ao norte do mundo, tão perto dos países escandinavos, são de fácil acesso, todo mundo fala inglês por lá e os custos são bem razoáveis se comparados aos de outros países europeus. Para quem, como eu, adora história, estes países são verdadeiros tesouros, já tendo passado por inúmeras guerras, reis, comunismo, ditaduras e revoluções. Em setembro, época perfeita para ir, nem frio e nem calor, bastante sol e pouca chuva, raridade na maior parte do ano nesta área do globo. Fui com tudo organizado do Brasil, ótimos guias locais falando português, bons carros e aeroportos, além de estradas de primeira. A companhia aérea que serve os três países, a Air Baltic, é de invejável pontualidade e conforto e voa para os principais aeroportos da Europa. Se eu soubesse que era tão fácil viajar por lá, nem teria ido com tudo pago; não compensa, pela facilidade do excelente inglês falado por toda parte, pela oferta de hotéis muito bons, pela infra turística digna de países de primeiro mundo (apesar destes 3 países estarem entre os PIBs mais baixos da Europa), pela segurança impressionante, tranquilidade, silencio, civilização, calma e simpatia destas populações que nem parecem ter sofrido tanto por quase toda sua história. Na Lituânia, são quase brasileiros de tão falantes e expansivos e foi por lá que iniciei minha viagem, na bela capital, Vilnius. Me hospedei no centro histórico, no Pacai, novíssimo e estupendo hotel 5 estrelas que já foi palácio em outros tempos. Tudo é lindo, decoração arrojada, mistura de antigo e moderno genial. Seu restaurante, o 14 Horses, é de longe o melhor da cidade, com fortes tendências da cozinha roots/orgânica do Noma da Dinamarca. Com este hotel colado ao antigo bairro judeu e seus restaurantes e ruazinhas pitorescas, aproveitei para conferir a barata e forte cozinha típica. O petisco-base é um palito frito de pão e alho para ser completado com molho grosso de queijo; delicioso e bastante calórico. Já o prato nacional, o cepellin, não caiu bem. Um bolinho grande e massudo, com gosto e aparência de cola, nadando num caldo suspeito e recheado por linguiça salgada demais. Como a Lituânia não produz vinho de uva devido ao frio, testei o rosé de framboesa, bem gelado. Não está mal... Perto dali, em praça movimentada perto da prefeitura e do centro cultural, o descolado Zuvine. Frutos do mar perfeitos com vieiras no creme de abóbora e bastante prosecco para alegrar uma tarde de domingo ensolarada e movimentada. Vilnius, em sua parte moderna, exibe avenidas largas e verdes, tudo limpo e cuidado. Praças numerosas e muita música compõe uma vida de rua rica e divertida. Para os visitantes, o Palácio do Grão Duque é imperdível, um enorme museu sobre a história da Lituânia. Completo com igreja gigante, movimentada praça com eventos mil e teatro bastante ativo. Ali, a preço de banana, 30 euros, assisti a uma ópera italiana de Puccitelli, que há mais de 350 anos não havia sido encenada no país: O Rapto de Helena. Numa das imensas salas do Palácio, com cantores internacionais misturados aos locais, muito bom mesmo. Espetáculo de primeira. Outros museus, bastante deprimente, mas não menos interessante, é o da KGB, que conta a história deste infame departamento de espionagem russa, que matou e torturou tantos lituanos. Caminha-se pelas antigas celas da prisão, coisa assustadora, mas parte integrante da história recente do país. Fora de Vilnius, o castelo Trakai e seu lindo bairro de lagos e ilhas, vale a visita. Parque ao redor é ótimo para caminhadas e passeios de barco, observando-se as antigas casas de madeira com beirais que mais parecem tecidos de renda de tão bem trabalhados. Com fui num sábado, pude observar grandes famílias passeando com crianças por ali, parecendo felizes e descontraídos. Vilnius, com seus 600.000 habitantes espalhados em verde área de 400 km2, merece pelo menos 4 dias inteiros de visita. Próxima parada: Riga, capital da Letônia e cidade natal do maravilhoso bailarino russo Mikhail Barishnikov. Fui de Vilnius a Riga de carro, boa ideia para se conhecer as enormes planícies, fazendas e lagos entre os dois países. Parada na Colina das Cruzes, bizarro santuário católico contendo centenas de cruzes, em todos os formatos, matérias e cores possíveis. Não é terrivelmente interessante, mas o entorno é bonito e é uma parada estratégica nas muitas horas de estrada que separam os dois países. Nem se compara à beleza e magnitude do Palácio Rundale e seus monumentais 85 hectares de área total, já mais perto de Riga. Um show de construção, projeto do mesmo italiano talentoso que desenhou o Hermitage e o Palácio de Verão em São Petersburgo. Rundale é um lugar de sonho, com uma história embasbacante e jardins fabulosos, perfeitamente mantidos. Como inúmeras guerras, nazistas e russos destruíram quase tudo, foi necessária uma tremenda reconstrução e hoje em dia o lugar tine de novo e acolhe muito bem os visitantes. Os restaurantes oferecem saborosa comida típica em salas acolhedoras. Rundale é a porta de entrada para uma das capitais mais charmosas e diferentes da Europa, minha querida Riga. Se Vilnius vale 4 dias, Riga vale 8. Para os amantes da arquitetura, nem um mês inteiro chega para admirar o verdadeiro museu a céu aberto que compõe um sem número de edificações estilo Art-Noveau espalhados por toda a cidade. Há bairros inteiros, museus dedicados a isso, detalhes estonteantes, não é possível parar de tirar fotos! Isso sem falar da praia perto dali, do cais do porto, da cidade antiga, da vida cultural, de bares e restaurantes e por aí vai... Fiquei no Gran Palace Hotel, na cidade histórica e parte dos Leading Hotels of the World. Bem restaurado, muito confortável, ótimo café da manhã. Também me hospedei por uma noite no Dome, da cadeia Relais Chateaux a uns passos dali. Toneladas de charme, indescritível. Seu restaurante de mesmo nome é o melhor, como em Vilnius, da cidade e sua especialidade são os peixes e por isso se chama, singelamente: Fish. Um charme... E os preços então.... Um almoço de três passos, preço fixo, sem bebidas, sai por meros 20 euros! O normal, com 6 pratos e bebidas, 60. Uma pechincha para restaurante estrelado Michelin. O restaurante Riviera, divino, tem ambiente modernosos e descolado, repleto de gente bonita, perto da rua Alberta e seus prédios Art Nouveau. Meros 40 euros por delícias como terrine de foie gras, risoto de cogumelos chanterelle, proseccos mil e bolo de marzipan surreal. Vale conferir também os chocolates exóticos do Emils Gustavs, localizado em bairro interessante e alternativo de Riga. Tudo feito ali na loja-fábrica pelos donos que deixam os fregueses provarem tudo de graça. Riga é famosa pelos chocolates e os da confeitaria-café em frente ao Hotel Kempinski são igualmente apetitosos. E saindo da gastronomia vamos aos museus, ballets, operas, concertos em igrejas, caminhadas e a praia de Jürmala.Isso sem nos esquecermos da incomparável Biblioteca Nacional, de arquitetura ousada e dimensões continentais. Na Opera da Letônia me deliciei com uma versão moderníssima de Peer Gynt, balé com música maravilhosa do norueguês Edward Grieg. O nível dos bailarinos é russo, portanto o espetáculo é impecável. Como também o é o concerto de música clássica na Catedral da cidade, no centro antigo. Tudo com preços variando entre 20 e 30 euros, que delícia! Eu acostumada aos preços salgados, medonhos, dos teatros de Nova York e a Opera de Zurich, ai, ai, ai! Riga é também uma festa de caminhadas longas e interessantes, museus de todos os tipos e tamanhos com destaque para a casa dos Blackheads e sua arquitetura holandesa. O Museu de Arte localizado em parque de sonho não fica atrás e um passeio pela areia clara e fininha que margeia o escuro e frio mar Báltico em Jürmala completa a série desta cidade tão perto de Estocolmo. Com tanta influência russa, mas sem perder o caráter único e tipicamente letão que transpira por toda parte. Com o toque internacional que um dos portos mais importantes da Europa pode conferir. E por fim, mas não por menos, Tallinn. A bela e misteriosa capital da Estônia não fica atrás das outras duas e brilha de maneira diferente. Se Vilnius é um charme alegre e tranquilo, Riga uma potência marítima, Tallin é de natureza e alma escandinavas, com uma leve pitada russa e um idioma nacional parecido ao finlandês. Também porto importante, Tallinn é bem medieval e sua cidade antiga, cercada de bem preservadas muralhas, é um encanto de vielas e igrejas maravilhosamente preservadas. Com gastronomia internacional, com o parque público mais bonito do que qualquer Central Park, Hyde Park ou parques de Paris, oferta cultural riquíssima cercada por castelos e mansões campestres que são uma festa de passeios. Palmse é uma destas antigas mansões/fazendas senhoriais que é hoje museu e centro de eventos, perto da cidade. Perto também o principal Parque Nacional do país, onde a vegetação de pântanos gelados e seus pinheiros brancos e compridos completam o encantamento; para nós brasileiros, um conto de fadas na diversidade e contraste com nossas florestas tropicais. O Teatro Nacional da Estônia é uma construção imponente e confortável onde assisti um balé muito interessante, Kraat, baseado em lenda local e uma opera de Donizetti, O Elixir do Amor. Como na Lituânia e na Letônia, o nível técnico de artistas e produções é maravilhoso e não se cansa de admirar o pool de talentos destes países. Gastronomia internacional farta, Tallinn tem turismo forte e se os viajantes não quiserem se aventurar pelos muitos peixes e criaturas marítimas da comida típica, podem escolher singela cantina italiana oferecendo porções gigantes, gostosas e fumegantes perto do megaparque Kadriorg. O típico-modernoso Ribe mistura tendências internacionais com as estônicas e o resultado é barato e ótimo na sala espartana e bem escandinava perto do meu excelente hotel Telegraaf. Não se intimidem pelos macarrons salgados de beterraba recheados de patê de fígado e nem por sobremesas bizarramente desconstruídas. Tudo é apetitoso e bem executado e o serviço muito bom. O toque de luxo e sofisticação ficou nas mãos hábeis do restaurante Tchaikovsky e seus veludos negros, candelabros de prata e lustres de cristal. Cozinha russa moderna com viés local. Preços já mais para Moscou do que para Tallinn. Os custos em Tallinn são mais altos, mas não parisienses e o parque Kadriorg, seu palácio e museu de arte moderna são atrações praticamente grátis e fenomenais. Nunca vi um parque tão lindo, coisa bem digna de Pedro o Grande, da Rússia, que o ofereceu à cidade, visto que não usava muito o palácio meio acanhado – para padrão dos tzares russos, claro – que ali mandou construir e hoje é um aconchegante museu de decoração e costumes locais. Kadriorg é também o bairro mais chique e caro de Tallinn, suas ruas são um deleite de verde e árvores centenárias, flores abundantemente coloridas e um dos museus de arte mais bacanas do planeta, o Kumu. Sua arquitetura arrojada, exposições fantásticas e boa cafeteria são na certa um dos pontos altos de Tallinn se não considerarmos o centro histórico. Voltaria aos 3 países muitas vezes e por bem mais tempo. Amei tudo: a segurança que te permite andar por tudo sem pestanejar, a alegria das pessoas, a beleza física destes povos muito louros e altos, a história, a estrutura de turismo, o inglês fluente de quase todos, a oferta de boa comida, os preços que te permitem se hospedar em hotéis 5 estrelas por preço de casas 2 estrelas, os espetáculos cênicos e musicais de altíssimo nível, vegetação diferente, abundante e preservada, ar puro e fresco, facilidade de acesso, transporte público de qualidade, vida de rua, animação. E por aí vai... São Paulo, 27 de outubro de 2018

sábado, 6 de janeiro de 2018

ANDALUZÍA 2017/2018 NATAL E REVEILLON ESPANHA DELÍCIA

Réveillon Andaluz 2017/2018 Espanha, sol, touradas, sangría, flamengo, tapas e muita animação é a imagem clássica que temos deste país europeu tão simpático aos brasileiros, tão próximo culturalmente, ainda que tão longínquo no mapa... Como escolha para celebrar o Ano Novo, a opção é mais cultural e de descanso do que propriamente festa. O rigoroso inverno europeu não permite muitas atividades ao ar livre, mesmo na Andaluzia, a região mais ao sul da Espanha e, portanto, mais quente. Começando por Granada, cidade com vida de rua animadíssima e o maravilhoso palácio-fortaleza La Alhambra, imperdível. A cidade não é bonita, mas é muito alegre, comida ótima, boa infra turística e esqui há uma hora dali no inverno. Por ser região montanhosa, o inverno é rigoroso e nem mesmo o sol livra o turista de temperaturas abaixo de zero. Em Málaga, cidade a beira mar onde Picasso e Antônio Banderas nasceram, as temperaturas são mais camaradas, mas o vento e a chuva dão pouco descanso. Córdoba e sua cidade murada são muito interessantes, mas não chega aos pés de Sevilha, não muito longe dali. O trajeto de carro pela Andaluzia é um dos pontos altos, montes cobertos por oliveiras e cidadezinhas brancas e simpáticas, como é o caso de Ronda e sua importante arena de touros. As estradas são excelentes, sinalização perfeita. Os custos estão entre os mais baixos da União Europeia, o que explica o grande numero de turistas brasileiros por toda parte. Sempre reclamando do frio, pois esperam verão ameno mesmo no inverno do hemisfério norte! Para os realistas munidos de boas roupas de lã, as cidades andaluzas são perfeita opção de viagem de fim de ano civilizada, alegre e sem muvuca. A arquitetura é um dos pontos fortes da região, dominada por árabes durante quase 800 anos da história espanhola. Palácios e fortalezas deslumbram na riqueza de detalhes e esculturas de uma leveza em pedra impressionante. A maravilha dos jardins completa o quadra sensacional da arquitetura mudéjar, mescla perfeita de influencias cristãs e muçulmanas. O ápice é o La Alhambra em Granada, seguido de perto pelo Alcázar em Sevilha e a mesquita de Córdoba. Estas três edificações, mais a catedral de Sevilha, valem a viagem. Mesmo para quem não é ligado à história ou arquitetura, é totalmente impossível ficar indiferente às belezas destes lugares. Alguns requerem reservas prévias ou paciência com longas filas, mas tudo compensa. Modernismos arquitetônicos explodem fora de controle no Setas de Sevilla, um imenso conjunto de passarelas e coberturas de madeira que de tão diferentes e inovadores, revitalizaram uma região esquecida do centro. Do mesmo modo que o museu Guggenheim em Bilbao deu vida nova aquela cidade. Museus de tudo, de touradas a todos os tipos de arte e as belíssimas igrejas e praças completam o riquíssimo quadro cultural andaluz. A cozinha espanhola brilha nos presuntos crus, nos vinhos, nos doces de ovos, nas azeitonas, nas frutas, na criatividade que faz de seus chefs os mais estrelados dos últimos 10 anos. Em Málaga nos deliciamos com os modernismos criativos do JCG, com uma estrela do guia Michelin, na certa a caminho de mais. Ambiente moderno em madeira e muito verde, cozinha molecular no mais puro estilo de Ferran Adriá. O steak tartare coberto por farofa de azeite de oliva, ou uma azeitona desconstruída numa gelatina marrom que explode na boca numa profusão de sabores divinos não tem igual. No Alacena de las Monjas, em Granada, ambiente subterrâneo muito romântico, velas e arrozes caramelados com cogumelos da estação numa cave de vinhos adaptada. No bar da entrada, muita animação para quem quer só tapas. Os croquetes de jamón ibérico são do outro mundo! Em Córdoba seguimos as dicas de dois cordobeses amigos e fomos parar no Caballo Rojo e no Bodegas Campos, ambos clássicos da cidade. No primeiro, berinjelas fritas carameladas com mel e no segundo, uma profusão de cozidos fumegantes, típicos da região. Nos dois restaurantes predominam espanhóis, quase nenhum turista por ali. Em Sevilha, o bar do hotel Alfonso XIII não decepciona, o Parador de Carmona ali perto tem um restaurante ótimo e barato além de vistas deslumbrantes em meio a ruínas de outra fortaleza árabe. E para quem sentir falta de junk food americana o Hard Rock Café preenche a lacuna. Todas as quatro cidades principais, mais Ronda e Carmona são muito ricas em vida e cenas de rua, principalmente após as 4 da tarde. Não importa frio, vento ou chuva. Todos festejam tudo o tempo todo e não se importam em comer e beber em pé, apertados em minúsculos bares, ou congelando em mesas nas calçadas. O importante é socializar. Para quem gosta de natureza e caminhadas, a região de Ardales, perto de Málaga, oferece muitas opções ao redor de uma linda repesa de águas muito azuis, ou o desafiador Caminito del Rey, passarelas por barrancos e desfiladeiros sensacionais. Toda esta riqueza de oferta turística aliada à simpatia dos andaluzes, na certa as pessoas mais acolhedoras, amáveis, sorridentes e pacientes da Espanha. Lidam com muita calma com as hordas de turistas asiáticos, alemães e britânicos que invadem tudo em qualquer época do ano. Talvez seja a experiência de toureadores natos; afinal enfrentar touros é ainda mais difícil do que turistas! Zurique, 06 de janeiro de 2018