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terça-feira, 30 de novembro de 2021
MANAUS CULTURAL - NOVEMBRO 2021
Estava em Manaus quando a Black Friday explodiu pela cidade e tentou a todos os mortais, em sua maioria, residentes. Eu preferi visitar o lindo Teatro Amazonas, cujas concorridas visitas guiadas não podem ser mais interessantes. Está bem conservado e também tive a sorte de assistir a dois concertos de música clássica com grupos locais. Realizei um sonho, pois já estive em Manaus pelo menos seis vezes e nunca consegui adentrar os solenes e imponentes espaços de uma das construções mais ousadas do Brasil.
Minha maior surpresa, no entanto, foi o entorno do teatro, o centro histórico, com casas bem conservadas, centros culturais, galerias de arte, sorveteria maravilhosa, café bem ao estilo português e dois hotéis de primeira. Não esperava por isso numa cidade que sempre considerei, suja, feia e desinteressante.
Além do Teatro e sua praça feericamente decorada para o Natal, o Casarão das Ideias foi meu lugar para ver quatro filmes alternativos, de Bob Cuspe a Oito Presidentes e Um Destino . Este centro cultural é também biblioteca, videoteca, café e loja. Muito charmoso e bem decorado. Há mais dois centros culturais e galerias em volta do Largo de São Sebastião e sua bela igreja e a construção amarela do Palácio da Justiça, atrás do teatro é imponente e conservada.
Comprei artesanato indígena de qualidade na Galeria Amazônica e fui ao cabeleireiro mais barato do Brasil: 50 reais para tingir e fazer escova!
O campo gastronômico foi estrelado pela genial Caxiri, de uma chef paulista. Ela usa só ingredientes locais e transforma os peixões dos mega rios em iguarias celestiais. Ceviches com estes peixes são também frescos e maravilhosos. Sem falar do sorvete de castanha com calda de melaço e cupuaçu. Tudo com serviço rapidíssimo e perfeito no segundo andar de um belo casarão azul que dá para o teatro. A outra refeição foi no Opera, lugar envidraçado, muito bonito, mas serviço amador e comida um tanto sem graça. Deveria ter ido ao FitZCarraldo, perto dali. Fica para outra vez, pois este aspecto da Manaus cultural me encantou.
Também visitei o Palácio Rio Negro e me encantei com o velho palacete Scholz cuja história é das mais bizarras. Um alemão que enriqueceu no ciclo da borracha, perdeu tudo, ficou cego de um olho por uma bicada certeira de garça, caiu de um cavalo e se quebrou todo e teve que entregar o palácio ao um amigo, de graça, voltando a sua Hamburgo natal com uma mão na frente e a outra atrás. Num espaço anexo de exibições vi uma feira esotérica com ciganas, cartomantes, videntes e bruxos vendendo todos os tipos de acessórios para as mais eficazes feitiçarias.
Na próxima visita, volto a floresta, ao MUSA, Museu da Amazônia e ao interessante Museu do Seringal. Desta vez não deu, me encantei demais com o teatro e seus alegres vizinhos.
São Paulo, 30 de novembro de 2021
domingo, 14 de novembro de 2021
ISLANDIA - 2021 - FOGO E GELO
ISLANDIA – O PAÍS DO FOGO E DO GELO
Duas coisas que não temos no Brasil: vulcões e geleiras.
Por isso mesmo é que vale muito a longa viagem a esta ilha maravilhosa, pertinho da Groenlândia, a noroeste da Grã Bretanha, uma hora e meio de voo de Londres. A Islândia é um enorme vulcão, em constante erupção, parando o mundo com elas, como ocorreu em 2010 com a interrupção do trafego aéreo no hemisfério norte. Um dos vulcões que visitamos tinha parado de cuspir a lava brilhante e vermelha em setembro e pude ver, pela primeira vez, lava nova, já negra e sombria, o que é um privilégio. Já estive em vários vulcões pelo mundo, mas nunca havia caminhado por um campo de lava fumegante, ainda morna de uma enorme erupção recente. Aonde mais se pode experimentar tal coisa?
Geleiras acessíveis? A Islândia também tem. É a maior do mundo fora do Ártico e da Antártida e suas enormes línguas de gelo parecem dedos estendidos e brancos agarrando as montanhas. Pode-se caminhar por elas, visitar cavernas muito azuis, sensacionais, experimentar temperaturas baixas, lagoas com icebergs flutuantes, várias atividades neste país diminuto que já é um dos mais visitados do mundo. Sua ótima estrutura de turismo, boas estradas, sinalização, segurança, boa comida e hospedagem, gente simpática, bons hotéis e tudo mais, cativa a todos, em qualquer idade. É programão para famílias, romântico para casais, imbatível para aventureiros e até para quem é mais de cidade, a capital, Reykjavík é uma delícia de cidade compacta, com muito a oferecer.
Passamos seis noites na capital e não vimos tudo. Vida noturna movimentada, restaurantes de primeira como o The Fish Company, o Apotek, o Dill e o Kol, hotéis maravilhosos como o Edition, um teatro embasbacante como o Harpa, que chega a ter quatro ou cinco espetáculos por dia, de ópera a concertos de rock, a instalações ou programação de comédia e espetáculos infantis. O Harpa é um dos teatros mais bonitos do mundo, com arquitetura inovadora e design do artista local, famoso internacionalmente, Oláfur Eliasson. Sua loja é tentadora, os dois restaurantes entre os melhores do país e há espaços variados para festas e eventos. Um lugar sempre aberto ao público, localizado no porto, parte integrante da nova e transada mini-metrópole que Reykjavík é hoje.
Comércio vibrante, belos museus, atividades “Disney” como o Fly Over Iceland, um simulador que leva os turistas aos quatro cantos do país dentro de filmes belíssimos e em total segurança. Há museus dedicados a baleias se não se quiser encarar o frio mortal dos passeios de barco (fomos, encaramos, nos encantamos com os fiordes já nevados e vimos algumas), para quem não teve nossa sorte de ver a aurora boreal duas noites em oito como foi o nosso caso, o deslumbrante planetário Perlan mostra e explica tudo sobre este fenômeno solar que transforma o céu num festival de luzes coloridas, românticas e bailarinas, nos meses mais frios do ano.
Na capital ficamos independentes, mas nos juntamos a uma excursão de cinco noites pelo país para ver atrações mais longínquas. Valeu, mas alugar carro é muito melhor e descobrir tudo por conta própria, no seu tempo e ritmo é o mais legal. O bom é que na Islândia há muita possibilidades de visita e qualquer uma delas é boa, pois o país tem muito a oferecer. Além de geleiras, praias de areias negras e formações rochosas lindas, há os tais vulcões, gêiseres bem ativos, montanhas imponentes, puffins no verão (aquele lindo pássaro que parece maquiado de palhaço de circo), baleias, fiordes, cavernas de gelo, vistas sensacionais e para quem gosta de banhos termais, as piscinas são muito azuis, em meio à neve, uma experiência revigorante. Sem esquecer das divinas cachoeiras e trilhas desafiadoras que levam até elas.
Fomos no outono, finalzinho de outubro e gostamos muito, pois as hordas turísticas já se foram. Eu nunca iria, voltaria, em julho ou agosto, pois o país não tem estrutura para multidões e como está na moda, a coisa chegou a tal ponto que tiveram que impor cota de visitação. O ideal é junho ou setembro. Queremos voltar em fevereiro para ver cachoeiras congeladas, mas é experiência limitada pelas três a cinco horas de fraca luz do dia dos invernos nestas latitudes. Já tivemos esta experiência na Finlândia e foi muito compensadora.
E atenção brazucas, a Islândia é um pais muito caro. Junto com Japão, Rússia, Suíça e Taiti, é uma facada das grandes. Não há como não gastar dinheiro, não existe “opção baratinha”. Compensa? Sim. O país é bastante diferente de tudo o que se pode ver pelo planeta, um microcosmo singular, variado, espetacular. Com conforto e segurança.
Voltaria várias vezes mais. A este país-cenário, pano de fundo de Game of Thrones e Lord of the Rings. Reino mítico dos trolls e duendes que tanto encantam na literatura nórdica.
] Ainda mais porque, em tempos de tanta briga pelo meio ambiente, de tantas resoluções importantes, é sem preço observar geleiras num planeta que só faz ficar mais quente. Os enormes campos de gelo milenar estão derretendo, que tristeza.
Vá antes que acabem!
Zurich, 14 de novembro de 2021.
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