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domingo, 29 de janeiro de 2023
ESLOVENIA - JANEIRO 2023 - SOBRE CASTELOS E DRAGÕES
ESLOVÊNIA – JANEIRO 2023
No país dos castelos e dos dragões, uma semana passa rápido, mesmo se este pequeno país europeu seja ainda menor do que a pequena Suíça (metade para ser mais exato), meu país de adoção. É incrível a variedade e quantidade de programas turísticos que se pode fazer em território tão pequeno e montanhoso. Meus sete dias por lá foram intensos e felizes, apesar do frio, neve, chuva e bruma do inverno europeu.
Comecei por Liubliana, a capital. Pequena e adorável, surpreendente em sua beleza e preservação do patrimônio histórico, arquitetônico e cultural. Um delícia andar por suas ruas super limpas e bem cuidadas, por suas pontes adoráveis e praças belíssimas. Uma mini Estocolmo com toques austríacos e italianos, encimada por um belo castelo, que foi meu primeiro ponto a ser visitado.
A caminhada até o castelo é puxada e revigorante e o museu que abriga, muito interessante e informativo sobre a história da cidade e do país. Há também experiencias imersivas e interativas, bons restaurantes e uma loja bem sortida com produtos locais e lembranças do castelo. O bom de visitar o lugar já no primeiro dia, é o fato de que a vista total da cidade, dá uma ideia do traçado dela, das montanhas nevadas ao redor, das pequenas e produtivas fazendas por toda parte. Uma boa maneira de se situar e admirar a arquitetura que faz de Liubliana uma das capitais da Europa mais encantadoras e charmosas. Bons museus também ajudam a entender o lugar, sua rica história, conflitada política e legado artístico de peso. A Biblioteca Nacional apresenta arquitetura monumental e singular e exposições chocantes sobre guerra e política.
Me hospedei no chamado Centro, área colada ao centro histórico, mas com opções de hotéis e comércio mais modernos e confortáveis. O hotel Best Western Premier Slon é perto do Intercontinental, em frente a Zara, a um quarteirão da ópera da Eslovênia, na mesma rua dos excelentes restaurantes Figovec e Gostlina Sestica. O primeiro, modernoso e descolado, só comida típica do país, sem concessões aos turistas. O segundo, apresenta uma mescla de pratos locais e internacionais. No Figovec, o filé com batatas a moda da casa é maravilhoso e o strudel de blueberries é intrigante. Já no Sestica, a estrela é o monumental carpaccio de pato, inesquecivelmente bom.
Outras estrelas gastronômicas da cidade estão na rua mais bonita, a Stari Trieg. Desde o novo, caro e descolado The Restaurant, ao popular Julia até o mencionado no Guia Michelin, candidato certo a estrela, o Valvasor. O primeiro tem lareira divina, comida boa e modernosa, serviço fraco e gente bonita. O segundo parece um bistrô francês e tem massas ótimas e o Valvasor tem serviço perfeito, ambiente bem decorado e comida seriamente boa, meu favorito em Liubliana. Os preços na Eslovênia são mais camaradas do que no resto da Europa, formidável custo-benefício. Dos hotéis aos museus, dos restaurantes aos trens e espetáculos de teatro de qualidade impressionante. Eficiência e gentileza do povo, uma bem-vinda marca registrada.
O resto do país percorri a moda europeia, de trem. Até Maribor, segunda maior cidade da Eslovênia, bom transporte. Como todos falam inglês, é fácil locomover-se de modo independente. No entanto, nem todas as linhas de trem são boas e as vezes o ônibus é mais confiável, moderno e confortável. Todos os motoristas também falam inglês e paga-se as baratíssimas passagens já no embarque.
Maribor é sem graça, só vale a pena como cidade-dormitório para uma inesquecível refeição do restaurante estrelado Hisa Denk, a 25kms de lá. Um almoço de cinco passos, acompanhados pelos bons vinhos do país. Não há cardápio. Escolhe-se, na reserva por email, quantos pratos se quer comer – reservei 3 e saboreei 5. Todos maravilhosos. Na chegada, o garçom pergunta suas preferencias alimentares e alergias. Só. O que se segue é uma delícia, por um preço ótimo, lugar lindo, serviço perfeito. A Opera Ballet de Maribor, apresenta diariamente programas diversos e baratos, bom programa numa cidade chata e cinzenta. Um ponto de razoável interesse é o Castelo de Maribor, na verdade um palácio no meio da cidade e o minúsculo Museu do Vinho e suas degustações. Ali se pode ver a parreira em produção mais antiga do mundo, verificada e certificada pelo Livro de Recordes Guiness.
Ali perto, a pequena vila chamada Ptuj, que deve ser visitada por seus magnífico e imponente castelo, a exposição no próprio, de fantasias do curioso carnaval local, a loja interessante, a bela galeria de arte que surpreende por estar num lugar tão diminuto e o sério restaurante Amadeus e seus inovadores pratos que usam trigo sarraceno em vez de arroz nos risotos e cujo rocambole sem açúcar, mas com calda de chocolate, tornam tudo uma festa.
Ptuj é historicamente tão importante como a capital eslovena, muito antiga e cenário de vários episódios fundamentais na narrativa local. Vale a visita e é facilmente alcançável, vindo de Maribor.
No lado oposto do país, a paisagem cartão-postal, capa do guia Lonely Planet, o lago Bled, na cidadezinha de mesmo nome. Centro náutico no verão e centro de esportes de neve no inverno, o lugar é incrivelmente bonito, montanhoso, verde, nevado, animado e agitado. A caminhada de seis quilômetros ao redor do lago é imperdível, primeira coisa a ser feita ao chegar, para se ter uma ideia completa do lugar. E de uma das margens do lindo lago tomar um barquinho até uma ilhazinha bonita, com igrejinha fofa no meio, coisa de sonhos, de contos de fada. De volta a terra firme, visita a imponente igreja principal, toda reformada, lugar cercado por muito verde, mais construções históricas e ruazinhas pitorescas. E haja folego para subir até o Castelo Bled, no alto de uma pedra tipo Corcovado. Em dia claro, vista surreal dos alpes julianos da região. Hospedar-se em Bled só compensa se o objetivo for esportivo, verão ou inverno. Se esta não é a praia do visitante, o melhor é o bate-volta, saindo cedo de Liubliana, passando o dia movimentado em Bled e voltando a noite.
Como a Eslovênia é pequena, tudo super viável e sem a dor de cabeça eterna da bagagem. Que não combina com trens e ônibus. Quartel-general Liubliana e o resto, day-trips. Só Maribor e Ptuj, mais distantes, valem uma noite (deixando a bagagem no hotel em Liubliana), para aproveitar as atrações acima descritas com calma.
Chave de ouro do penúltimo dia foi a região de Postojna, suas cavernas embasbacantes e o castelo mais interessante, genuíno e convincente que já visitei, o Castelo Predjama. As cavernas são um conjunto enorme de 24 kms de extensão a muitos metros abaixo da superfície, muito bem iluminado e com trenzinho rápido para ajudar. Mas, como estamos na Europa, continente das escadas onipresentes e caminhadas infinitas, o tour cavernas necessita pernas e bom preparo físico para acompanhar o guia-atleta caverna abaixo e não se separar do grupo, má ideia em lugar enorme e desorientador. Portanto, folego e boa vontade para ver muitas formações de estalactites, estalagmites, cristais e morcegos nunca dantes imaginados.
Sou experiente em cavernas, que já visitei no Brasil e mundo afora, mas as de Postojna são na certa as mais bonitas, com excelente infraestrutura e segurança. Atração imperdível, bem como o castelo a nove quilômetros dali.
Mais castelo depois de cinco dias deles?
Sim, sim, sim. Este castelo é uma construção bem antiga dentro de uma caverna, de uma singularidade e imponência únicas, coisa difícil de habitar e visitar devido ao frio infernal que faz lá dentro e a localização tipo estrada-sem-saída, que liga um vilarejo de meia dúzia de casinhas á montanha imponente e ao castelo fantasmagórico embutido nela. Tudo enfrentando muita escada molhada pelo constante gotejar da humidade da semi-caverna, uma semiescuridão com as explicações e música apropriadas nos áudio-guias em vários idiomas. Há câmara de tortura, com gritos dos presos e tudo, passagens secretas, janelinhas e buracos por onde os soldados jogavam óleo quente nos invasores e por aí vai. Genuíno, atmosférico, uma boa ideia do que deve ter sido a vida ali nos idos de 1200. A Disney adoraria ter uma atração destas, seria o Castelo Assombrado, em vez da casa de mesmo nome, com almas penadas verdadeiras e guerras idem.
Nem na região das cavernas e nem em Bled, prestigiei restaurantes. Existem, claro, mas as atrações são tantas que preferi comer em Liubliana, cidade de restaurantes excelentes. Aliás, a comida na Eslovênia está na minha lista das sete melhores do mundo, a saber:
1 França
2 Itália
3 Argentina
4 Brasil
5 Suíça
6 Áustria
7 Eslovênia
Asia e Oriente Médio não fazem minha “cabeça gastronômica”, desde criança e por influência forte de minha avó paterna, altamente europeizada.
Santé!
Zurich, 29 de janeiro de 2023.
sexta-feira, 6 de janeiro de 2023
REVEILLON NA ISLANDIA - 2023
ANO NOVO GELADO 2022/2023 NA ISLANDIA
Destino pouco comum para uma festa “quente” para nós brasileiros, muita praia, sol e mar. Em Reykjavík, capital da linda Islândia, tem mar também, mas sem praia, sem roupa branca e com temperaturas entre -12 e -20 graus centígrados. O branco mesmo fica por conta da neve que cobre absolutamente tudo, um manto invernal espetacular.
Em 2021, há pouco mais de um ano, eu e minha irmã estivemos na Islândia pela primeira vez e adoramos. Temperaturas mais amenas, pouca neve. No entanto, estava devendo ao meu marido uma volta ao país no inverno, para vermos cachoeiras congeladas e tudo petrificado. Foi o que encontramos, superando em muito nossas expectativas, pois viajar a esta ilha perto da remota Groenlândia, em qualquer época do ano, é maravilhoso. E já começa no avião, que se aproxima da ilha toda branca, parecendo um enorme navio gigante a deriva, tudo de um branco espectral, fantasmagórico, bem “ice wall” da série Game of Thrones.
Saindo do aeroporto quentinho, o primeiro embate com a realidade, as temperaturas baixas e o vento incansável. Sim, é duro. Mas vale o desconforto pela beleza única do lugar, que muito me lembrou a Antártica, onde estive em 1994. Na Islândia, o silencio absoluto e a magnitude branca das paisagens remete ao remoto Polo Sul, sensação que nunca tive de novo, em quase 30 anos de estrada pós cruzeiro ao continente mais frio e desolado do planeta. E olha que eu tenho muita experiencia em lugares frios pois moro parte do ano na Suíça e já acampei perto do Polo Norte (no fim da primavera).
Boas roupas são essenciais, é claro, informação e cuidado idem. Neste país, neve e gelo são normais e quase não limpam as ruas e calçadas, o que significa que dirigir e caminhar requer bom preparo físico, sapatos adequados, muita atenção e carros especiais. Se pode visitar quase tudo no inverno, mas dirigir é coisa para iniciados, pois a neblina branca junto com o gelo da mesma cor torna os trajetos longos pelas estradas geladas algo assustador, bastante desafiador. Uma aventura única, sem preço, especialíssima!
Nossa base, por uma semana foi Reykjavík, cidade que adoro. Restaurantes ótimos, música e teatro vibrantes, bom comércio, bela e sóbria decoração nórdica de Natal e os fogos de artifício mais espetaculares que já vi. Horas deles, começam as 9 horas da noite do dia 31 de dezembro e vão até umas duas da manhã do dia 1 de janeiro, sem parar. Por todos os pontos da cidade, uma festa incrível “aquecendo” o entorno glacial e fazendo a neve brilhar mais ainda, um show exclusivo e inesperado, muita gente nas ruas, animadíssimo. Uma surpresa, pois réveillon fora do Brasil é, em geral, desanimado. Não na capital islandesa, que leva a virada do ano muito a sério.
Talvez pela enorme quantidade de jovens e crianças por toda parte, além de um turismo vibrante focado na aventura, a imagem do país como centro inovador, tecnológico, fora das garras do ditador russo, Putin, nos dias que correm. A Islândia é totalmente auto suficiente em matriz energética, pois seus vulcões garantem tal independência. Nos últimos anos o país se tornou referência em tecnologia geotérmica e várias multinacionais possuem lá filiais de negócios que requerem consumo alto de energia.
Em nossas aventuras dirigindo pelo país, vimos várias cachoeiras congeladas, um show de azul, branco e amarelo, os gêiseres fumegantes cercados por gelo, o contraste da água fervente e o oposto, a água congelada. Os peludos cavalos nativos da ilha, contrastando com a neve, impassíveis no frio e vento, turistas cavalgando alguns, tais resistentes animais não parecem ter abrigo das intempéries meteorológicas. Ficamos com pena deles, mas cada país tem seus costumes e quem somos nós para julgar? Os carneiros que fornecem ótima lã e carne fantástica recebem tratamento VIP e quase não se vê os ditos cujos; coisa que vimos muito no meio do outono. Há pássaros, gansos, patos e cisnes resistentes as temperaturas, que no lago congelado da cidade, se juntam perto de uma fonte de água termal e aproveitam o calor dela para sobreviver. Só na Islândia mesmo...
No lado pratico da viagem, há que se avisar que se trata de roteiro bem caro e acredite se quiser, a semana entre o Natal e o Ano Novo é uma das mais “salgadas” do ano, apesar do frio intenso e os dias curtos. O sol, quando aparece, é lá por 11 da manhã e as 4 da tarde vai embora. Mesmo assim, o lugar é concorrido, hospedagem razoável não sai por menos de 350 dólares ao dia, refeições decentes nunca menos de 100 por cabeça, aluguel de carro ou contratação de excursões são “facadas” inevitáveis. Bebidas alcoólicas, deliciosas e necessárias em tais temperaturas, estão lá por 20 dólares uma taça de vinho vagabundo e por aí vai.
O artesanato criativo e muito especial da Islândia, quase todo ele em espetaculares peças de lã, não oferece preços convidativos e as lojas tentadoras, e há toneladas delas, tornam tudo mais caro ainda. Existe o esquema, comum em alguns países europeus, de reembolso do imposto sobre vendas. Funciona, mas dá um certo trabalho na saída do país, no aeroporto. Que, por sinal, tem lojas ainda mais sedutoras.
Resumindo: réveillon em Reykjavík não é para amadores, pão duros ou mariquinhas. Como o título do filme excelente que deu um Oscar a Javier Bardem, it is “No Country for Old Men”.
Voltaremos a Islândia algum dia desses, pela terceira vez, país que adoramos e admiramos. No verão!
ZURICH, 06 DE JANEIRO DE 2023.
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