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sábado, 17 de junho de 2023

MALTA - MAIO E JUNHO 2023

MALTA - MAIO E JUNHO 2023 Por que visitar um país minúsculo, umas ilhotas perdidas no Mediterrâneo, perto da Sicília e longe de tudo mais? Praias de sonho? Não tem. Cor do mar especial? Não é. O que é mesmo tem a ver com a importância histórica de Malta, um país invadido por tudo e por todos ao longo de sua longa, conturbada e interessantíssima história; sofrendo nas mãos de árabes, franceses e ingleses, hoje totalmente independente e feliz. Mas custou milhares de anos para chegarem a este ponto. Para se ter uma ideia, a grosso modo, é como se a guerra na Ucrânia durasse mais de quatro mil anos e tivesse, depois deste larguíssimo período, um final feliz. Em Malta teve. E tem. Para os fanáticos por história, como eu, um paraíso. Com clima seco e ensolarado, membro civilizado da União Europeia, limpo, organizado, seguro e divertido. Malta não é só museu ao ar livre, ruínas, forte e castelos, não é só arquitetura singular, mas também oferece bons hotéis, ótima culinária, povo hospitaleiro, todos falando várias línguas além da própria. Vida noturna e cultural bem agitada, muitas escolas de inglês para quem aprender esta língua tão importante num lugar pra lá de bacana e divertido. Tudo leva a Malta e os preços são mais amenos do que em vários países europeus tipo França, Inglaterra, Suíça e Escandinávia. Concertos de rock bacanas por 20 euros o ingresso, balé moderno no lindo teatro Manoel, o clássico preservado do pedaço, por 25. Nos vizinhos europeus, acima citados, cultura não sai menos do que 100 euros por um luar semi-decente. A capital Valletta, é bonita, cenário de episódios de Game of Thrones e de mais de 100 documentários e longa metragens. Seu clima e charme, além das construções históricas muito bem preservadas, encorajam a indústria cinematográfica a se instalar ali. Há várias cidades vizinhas, mas como é tudo tão diminuto, parecem mais bairros da capital do que lugares independentes. Um passeio de barco pelos diferentes portos de Valletta dá uma impressão completa do complexo traçado de um lugar bem antigo, conturbado, destruído e várias vezes reconstruído. Vibrante é o adjetivo mais ameno para a cidade; talvez resiliente e admirável se apliquem também. A catedral de São João é uma das igrejas mais impressionantes que já vi, fora do Vaticano e a capela cujo altar é uma enorme pintura escura de Caravaggio, emocionante. Vale a visita, só por ela. O Forte de São Elmo, junto com o Hospital do Templários e o informativo filme Experience Malta, são fundamentais para entender o desenvolvimento de Malta a partir da ocupação dos Cavaleiros da Ordem de São João, que estabeleceram definitivamente o cristianismo no país. Em Malta se tem perfeitamente a dimensão do conflito eterno entre muçulmanos e cristãos. Malta é uma sala de aula viva, vibrante, colorida, onde até os centros de comando britânicos durantes a Segunda Guerra Mundial estão muito bem preservados para ensinar ao mundo a devastação de guerras em grande escala, da coragem dos malteses, da luta eterna da humanidade pela paz. Em Malta se entende a guerra e a situação atual do país, próspero e pacífico, é a que toda a humanidade devia aspirar. Vou mais longe em meu entusiasmo pelo país e digo que deveria ser viagem fundamental para todos os adolescentes do globo, para entenderem os mecanismos de conflitos e sofrida história da humanidade. Na tentativa, quiçá inglória, de melhorar nosso perdido e solitário planeta azul... No setor gastronômico, destaque para o Beef, Guzé, Trattoria da Pipo. Taproom, 59 e Streat, na mesma rua, também não fazem feio, mas estão longe dos três primeiros mencionados. Beef é modernoso/maravilhoso, Guzé é típico e caprichado, Tratoria teve bis e seus macarrões com frutos do mar são celestiais. A cozinha maltesa é coelho e caramujos, mas não se assustem com estas iguarias, pois a Sicília é bem pertinho de Malta e fornece tudo de melhor que a culinária italiana, soberana, pode prover. Comida e bebida não são problemas em Malta e até seus vinhos locais são muito bons. Por ser uma espécie de encruzilhada histórica do mundo, Malta tem de tudo para todos. Fora da capital, exploramos as lindas cidades de Medina e Rabat, famosas pelas histórias bíblicas do apóstolo Paulo que naufragou perto dali e passou uns meses no local. Além de visitantes pra lá de ilustres, os dois lugares têm ruazinhas lindas, floridas, mais igrejas perfeitas e restaurantes de frutos do mar, como o Step, excepcionais. Fizemos tours de dois dias quase inteiros com aqueles ônibus vermelhos Hop on HOP OFF, muito interessante. Sítios arqueológicos, vilarejos de pescadores, o lay out da ilha principal esclarecido, tudo bem explicado e sem esforço .Dá para se ter uma boa ideia das possibilidades do país. Infelizmente, alguns sítios arqueológicos, muito importantes, requerem agendamento da visita, difícil de conseguir. Vale um planejamento antecipado para não perder nada. Em sete dias de Malta não vimos tudo e perdemos Gozo, a segunda maior ilha do minúsculo arquipélago que compõe o país. Só ouvi coisas boas sobre o lugar. Mais um motivo para voltar... Zurich, 17 de junho de 2023

BELA SICÍLIA - MAIO 2023

BELA SICÍLIA - MAIO 2023 Lá fui parar, no fim da Itália, onde a bota chuta uma ilha bem grande e bem perto do continente africano. Foi por acaso, num lugar bem fora de mão e bem longe do que os brazucas consideram Itália (para nossos limitados compatriotas, Roma, Milão e Veneza). Uma dessas oportunidades que a vida nos oferece e que devemos agarrar sem pensar, pois dificilmente terei outra. Do alto de meus 67 anos bem vividos e mais de 200 voos pelo mundo nos últimos cinco anos, conhecer a Sicília era, no máximo, uma curiosidade, jamais prioridade. Mas estando em Malta, a 90 quilômetros dali e com serviço de balsa eficiente e rápido, lá fui eu arrastando minha relutante irmã na aventura. Gostei tanto que voltei 3 vezes. Pozallo, Noto, Ragusa, Taormina, Etna, Marzamemi, Siracusa e Donnafugata. Em barco, ônibus, trem, taxi, deliciosas aventuras por terras mafiosas onde, da Máfia, só se vê suvenires do filme O Poderoso Chefão. A Sicília é a região mais pobre e árida da Itália, mas como Deus deve ser italiano, sua agricultura é vibrante e a ilha é, basicamente, uma fazenda gigante. Oliveiras, limoeiros, amendoeiras, árvores de pistache, trigo, morangos, muito verde e fértil apesar da pouca chuva e do calor. Vinhos maravilhosas e comida incrível, fazem da ilha o lugar onde se encontram os homens mais longevos do planeta. As mulheres, em Okinawa, Japão. Na Sicília o forte são peixes, grãos, frutas e verduras. Pouca carne vermelha e pouco açúcar (exceção para os sorvetes, canolis e mil variações de marzipan – mesmo assim, doces com pouco açúcar). Gente amável, simpática e eficiente, bem acostumados a turistas chatos que não falam italiano, tornando tudo fácil mesmo em situações bizarras como trens parados no meio do nada, ajudando a encontrar táxi em lugares sem Uber, dando informações a criaturas perdidas como eu e minha irmã. No fim de maio, o clima ameno e ensolarado iluminou ainda mais a beleza do mar Mediterrâneo, das construções lindas e amarelas de Noto, do magnífico vulcão Etna, do singelo porto de Pozzallo. Dos lugares visitados, amei Ragusa e Noto e voltaria sem piscar as duas cidades. Tudo o que Noto é fácil e óbvia de navegar, Ragusa é difícil e misteriosa, mas fascinante, uma espécie de Veneza nas montanhas, construções improváveis em meio a penhascos, desfiladeiros, precipícios vertiginosos e encostas. As duas cidades valem uma semana de estadia entre elas, para conhecer bem os inúmeros monumentos, igrejas, teatros e principalmente perder-se pelas ruas alucinantes de Ragusa. Para mim, os pontos altos da visita, não me esquecendo do Castelo de Donnafugata (ali perto), imponente no topo de uma colina, jardins maravilhosos, Museu da Moda, palácio de família nobre em outros tempos. Imperdível. Como não gosto de lugares muito turísticos, Taormina decepcionou. Sua localização geográfica e entorno é magnífica, montanha, mar, florestas, vulcão com topo nevado, tem de tudo. Mas as praias são pequenas, pedregosas, cinzentas e lotadas. Só há uma rua legal e um anfiteatro antigo dignos de respeito, o resto é sem graça. É lugar, na temporada e só nela, de verão chique; há hotéis caríssimos. Fomos pela curiosidade de onde foi filmada a fantástica série The White Lotus da HBO. A série é melhor do que Taormina. Não perca tempo e dinheiro. Se precisar, visite curto e delicie-se com os canolis não doces do Roberto, na rua principal. A região do vulcão Etna e sua base são interessantes e pela altitude, bem mais frias do que o rest. Só vale como curiosidade e para quem gosta de caminhadas sérias vulcão acima. Boas compras de produtos alimentícios por lá, pois o solo vulcânico enriquece a agricultura e os resultados são espetaculares: de alho doce a mousses de pistache, nozes ou amêndoa, vinhos tintos super diferentes, azeites de oliva incríveis. Siracusa é história pura e vale fácil três dias inteiros, além de ser plana, delícia de caminhar, agradável a beira mar, passeios em barcos pequenos, bons restaurantes como o estrelado Al Mazari, catedral fabulosa, lojas intensas, arquitetura belíssima. Até Museu do Papiro tem. Marzamemi é uma vilazinha singela com prainha agradável, de areia branca, mar quentinho. Lojinhas legais de roupas de praia, muito gelatto gostoso, bares pé-na-areia. Um toque primitivo, mais tipo Bahia, na vetusta Itália. Outro toque a la baiana, é o paradisíaco restaurante beira-mar-pé-na-areia, grudado ao porto de Pozzallo, o Barú. Barraca de praia sofisticada, sem cardápio. Vinhos divinos, massas frescas com atum idem, muito tomate e alcaparras, sendo que estes três ingredientes são carros-chefes da culinária siciliana. Bom e barato, boa música, brisa do mar, melhor impossível. Nossa experiencia se concentrou na costa leste da ilha, um pouco do interior deste lado e ainda assim vimos pouco da Sicília. Vale o longo voo de Zurique a Sicília, por exemplo. Longo, mais de duas horas para padrões europeus, é do outro lado do planeta. Recomendo, se houver tempo e dinheiro, Itália de carro de Milão a Sicília. Em um mês você se deleita com tudo de melhor que a bota tem a oferecer e volta com dez quilos de sobrepeso. Mas feliz! E como destino único, avião e carro, é um programão. Duas semanas na Sicília são diversão garantida. E mais barata do que o resto da Itália. Zurich, 17 de junho de 2023