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sábado, 17 de junho de 2023
BELA SICÍLIA - MAIO 2023
BELA SICÍLIA - MAIO 2023
Lá fui parar, no fim da Itália, onde a bota chuta uma ilha bem grande e bem perto do continente africano. Foi por acaso, num lugar bem fora de mão e bem longe do que os brazucas consideram Itália (para nossos limitados compatriotas, Roma, Milão e Veneza). Uma dessas oportunidades que a vida nos oferece e que devemos agarrar sem pensar, pois dificilmente terei outra.
Do alto de meus 67 anos bem vividos e mais de 200 voos pelo mundo nos últimos cinco anos, conhecer a Sicília era, no máximo, uma curiosidade, jamais prioridade. Mas estando em Malta, a 90 quilômetros dali e com serviço de balsa eficiente e rápido, lá fui eu arrastando minha relutante irmã na aventura. Gostei tanto que voltei 3 vezes. Pozallo, Noto, Ragusa, Taormina, Etna, Marzamemi, Siracusa e Donnafugata. Em barco, ônibus, trem, taxi, deliciosas aventuras por terras mafiosas onde, da Máfia, só se vê suvenires do filme O Poderoso Chefão.
A Sicília é a região mais pobre e árida da Itália, mas como Deus deve ser italiano, sua agricultura é vibrante e a ilha é, basicamente, uma fazenda gigante. Oliveiras, limoeiros, amendoeiras, árvores de pistache, trigo, morangos, muito verde e fértil apesar da pouca chuva e do calor. Vinhos maravilhosas e comida incrível, fazem da ilha o lugar onde se encontram os homens mais longevos do planeta. As mulheres, em Okinawa, Japão. Na Sicília o forte são peixes, grãos, frutas e verduras. Pouca carne vermelha e pouco açúcar (exceção para os sorvetes, canolis e mil variações de marzipan – mesmo assim, doces com pouco açúcar).
Gente amável, simpática e eficiente, bem acostumados a turistas chatos que não falam italiano, tornando tudo fácil mesmo em situações bizarras como trens parados no meio do nada, ajudando a encontrar táxi em lugares sem Uber, dando informações a criaturas perdidas como eu e minha irmã. No fim de maio, o clima ameno e ensolarado iluminou ainda mais a beleza do mar Mediterrâneo, das construções lindas e amarelas de Noto, do magnífico vulcão Etna, do singelo porto de Pozzallo.
Dos lugares visitados, amei Ragusa e Noto e voltaria sem piscar as duas cidades. Tudo o que Noto é fácil e óbvia de navegar, Ragusa é difícil e misteriosa, mas fascinante, uma espécie de Veneza nas montanhas, construções improváveis em meio a penhascos, desfiladeiros, precipícios vertiginosos e encostas. As duas cidades valem uma semana de estadia entre elas, para conhecer bem os inúmeros monumentos, igrejas, teatros e principalmente perder-se pelas ruas alucinantes de Ragusa. Para mim, os pontos altos da visita, não me esquecendo do Castelo de Donnafugata (ali perto), imponente no topo de uma colina, jardins maravilhosos, Museu da Moda, palácio de família nobre em outros tempos. Imperdível.
Como não gosto de lugares muito turísticos, Taormina decepcionou. Sua localização geográfica e entorno é magnífica, montanha, mar, florestas, vulcão com topo nevado, tem de tudo. Mas as praias são pequenas, pedregosas, cinzentas e lotadas. Só há uma rua legal e um anfiteatro antigo dignos de respeito, o resto é sem graça. É lugar, na temporada e só nela, de verão chique; há hotéis caríssimos. Fomos pela curiosidade de onde foi filmada a fantástica série The White Lotus da HBO. A série é melhor do que Taormina. Não perca tempo e dinheiro. Se precisar, visite curto e delicie-se com os canolis não doces do Roberto, na rua principal.
A região do vulcão Etna e sua base são interessantes e pela altitude, bem mais frias do que o rest. Só vale como curiosidade e para quem gosta de caminhadas sérias vulcão acima. Boas compras de produtos alimentícios por lá, pois o solo vulcânico enriquece a agricultura e os resultados são espetaculares: de alho doce a mousses de pistache, nozes ou amêndoa, vinhos tintos super diferentes, azeites de oliva incríveis.
Siracusa é história pura e vale fácil três dias inteiros, além de ser plana, delícia de caminhar, agradável a beira mar, passeios em barcos pequenos, bons restaurantes como o estrelado Al Mazari, catedral fabulosa, lojas intensas, arquitetura belíssima. Até Museu do Papiro tem.
Marzamemi é uma vilazinha singela com prainha agradável, de areia branca, mar quentinho. Lojinhas legais de roupas de praia, muito gelatto gostoso, bares pé-na-areia. Um toque primitivo, mais tipo Bahia, na vetusta Itália. Outro toque a la baiana, é o paradisíaco restaurante beira-mar-pé-na-areia, grudado ao porto de Pozzallo, o Barú. Barraca de praia sofisticada, sem cardápio. Vinhos divinos, massas frescas com atum idem, muito tomate e alcaparras, sendo que estes três ingredientes são carros-chefes da culinária siciliana. Bom e barato, boa música, brisa do mar, melhor impossível.
Nossa experiencia se concentrou na costa leste da ilha, um pouco do interior deste lado e ainda assim vimos pouco da Sicília. Vale o longo voo de Zurique a Sicília, por exemplo. Longo, mais de duas horas para padrões europeus, é do outro lado do planeta. Recomendo, se houver tempo e dinheiro, Itália de carro de Milão a Sicília. Em um mês você se deleita com tudo de melhor que a bota tem a oferecer e volta com dez quilos de sobrepeso. Mas feliz!
E como destino único, avião e carro, é um programão. Duas semanas na Sicília são diversão garantida. E mais barata do que o resto da Itália.
Zurich, 17 de junho de 2023
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Voltaria à Taormina para ficar no San Domenico onde foi filmado a série The White Lotus.
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