COMENDO BEM NO MÉXICO
Quem pensa que comida mexicana é só tortilla e taco, muito se engana e perde a enorme variedade de uma das cozinhas mais ricas e criativas do mundo.
Vamos começar pela cozinha inovadora e moderna de um restaurante maravilhosamente contemporâneo e ousado na Cidade do México, o Pámpano. Estranha filial de um restaurante mexicano em Nova York, o dono, só agora resolveu investir em sua terra natal e inaugurar um estabelecimento espetacular, tendo como sócio o famoso tenor mexicano, Plácido Domingo. Não posso imaginar lugar melhor para inciar-se nas salsas e moles mexicanos, molhos infernalmente bons e não necessariamente contendo toda a pimenta do mundo. Os níveis de “fogo” variam muito e os sutis sabores das centenas de chilis mexicanos é impressionante.
Para iniciar, três tipos de ceviches: peixe-espada, camarão e atum cru. Tudo pequeno, delicado, perfeito. Vinho branco chardonnay Casa Madero, mexicano; uma bela surpresa. O México produz brancos deliciosos a bom preço. E por que não? São vizinhos da Califórnia, produtora de vinhos ótimos; solo e sol são os mesmos. Não provei tintos, pois na primavera mexicana, o calor não permite, mas tomamos o Misión Cerocahui, também branco e também chardonnay. Um produto de impressionante qualidade, de uma micro vinícola embutida em um dos canions da belíssima Barranca del Cobre. Mas voltando ao restaurante Pámpano : seus tacos de lagosta são maravilhosos na mistura estranha e feliz do crustáceo com pasta de feijão preto e a opção de prato principal, peixe-espada grelhado mas não por isso menos suculento, ilhado em meio a um misterioso mole, não há igual. E no país que inventou o chocolate (palavra de origem asteca, por sinal), o conceito mexicano de petit gateaux é maravilhoso e no Pámpano vem em forma de pirâmide rodeada por molhos de frutas como carambola.
Em Oaxaca, capital gastronômica do país e maior, melhor e mais deliciosa produtora de chocolate, provamos e compramos diversas barras de um produto único, que só o México tem. Bruto, forte, aromático, um tanto amargo Por lá, preferem beber chocolate a mordê-lo, mas as barras são igualmente boas e podem ser suavizadas se derretidas em leite. Sempre em mesclas com canela, nozes, amêndoas e baunilha. Exclusivos e imperdíveis. Ganham seguidamente prêmios na Europa, inclusive no reinado máximo do chocolate, a Suíça. Ganham porque são bons e desafiam paladares convencionais. Não há nada, mas nada remotamente parecido no mundo. Você pode preferir o suíço, o belga ou até o brasileiro. Mas terá que reconhecer que o chocolate mexicano é bastante especial e nenhuma visita ao país é completa sem provar um pouco desta delícia asteca! Que deve ser consumida rápido, o que não é difícil, pois não contendo qualquer espécie de conservante, se deteriora e perde o gosto muito rápido, infelizmente.
Na Cidade do México há comida para todos os gostos e fomos até a um restaurante argentino interessante, o Evita. Bela e moderna decoração, bom serviço, localizado dentro do hotel Embassy Suítes. Mas a carne é norte americana e não sul americana, o que faz TODA a diferença. E é cara, porque carne boa do México é quase tão cara quanto nos EUA. Não sei por quê. O México é um país grande, espaço suficiente para gado,mas a carne dos bovinos custa muito e não é saborosa como a nossa ou a dos vizinhos argentinos.
Tivemos boa indicação do San Angel Inn, uma tradição da cidade, instalado em enorme hacienda do século XVI, mas não pudemos ir. Comida mexicana tradicional-chique. O Águila y Sol é outra pedida certa, mais na linha moderna e inovadora na interpretação da cozinha mexicana, tipo Pámpano e no mesmo bairro chique do mesmo, Polanco.
Mas é em Oaxaca que as delicias e misterioso da cozinha mexicana se desvendam, em ótimos e baratos restaurantes como o La Catrina de Alcalá e no La Casa de la Abuela. A modernidade e charme descolado ficam por conta do Los Danzantes (camarões nadando no molho de manga e mescal, fritos em flocos de coco) e do Temple (pratos de massa com frutos do mar e diversas pimentas locais). Como Oaxaca não fica muito longe do mar, seus frutos estão presentes por todos os estabelecimentos gastronômicos do lugar. Nos dois primeiros acima citados, pratos tradicionais e radicais, como gafanhotos e larvas; acreditem, deliciosamente fritos e fazendo parte de tortas, guisados e puros com um pouco de salsa. Altamente nutritivos e crocantes, valem a aventura de saboreá-los. Cordeiro e veado sempre vêm acompanhados dos riquíssimos moles, molhos mais grossos e consistentes do que as salsas, compostos de dezenas de ingredientes que vem de receitas familiares de centenas de anos. No La Casa de la Abuela as quesadillas fumegantes e seus queijos derretidos são muito especiais, junto com filet de frango fininho, pode ser carne de porco também, acompanhados do suave e sedoso guacamole, pilar irremovível e sagrado da cozinha mexicana.
No setor alcoólico, além dos vinhos surpreendentemente bons e baratos, claro, reina a tequila em primeiríssimo lugar e depois o mescal. São muito fortes e se prestam divinamente a coquetéis com frutas e diversas combinações com vodka, por exemplo. No Los Danzantes há uma espécie de Bellini, aquele divino drinque italiano, feito com pêssego e mescal. No Temple, outras combinações, desta vez envolvendo tequila e tamarindo, por exemplo. Tudo barato e criativo. No México, uma refeição “top” para duas pessoas, em restaurante nível Antiquarius do Rio ou São Paulo, não sai por mais do que 150 dólares, verdadeira pechincha se comparados aos 500 reais que pagamos por dita refeição no Antiquarius de São Paulo há apenas dois meses. Isso sem falar na maluquice que cobra o pretensioso e absurdo Fasano de São Paulo, 900 reais por um jantar. Não vale. Em Oaxaca, por exemplo, um jantar no pátio florido do chique hotel Camino Real, não sai por mais de 80 dólares. Com serviço atencioso, em convento do século 16, um lugar totalmente atmosférico; uma experiência de comer num monumento histórico dos mais importantes do país. Pontos para a salada César e as quesadillas e fajitas super saborosas.
Para quem precisa levar comida aos longos passeios da região de Oaxaca, ou cafés da manhã e refeições rápidas, deve dirigir-se ao Pan & Co e ao Café Brújula. Ambos de um americano apaixonado pelo México e oferecendo pães sensacionais, chocolates quentes e frios de matar de aromáticos e reconfortantes e as foccacias de azeitonas ou cebolas melhores do mundo. Sanduíches típicos da região, com finas lascas de carne, alface, tomate e abacate no pão francês também são opções reforçadas para extensas e fascinantes caminhadas. E ainda assim nos faltou prestigiar o restaurante El Naranjo, na linha México-comtemporaneo. Mais uma razão para voltar ao país e suas delícias gastronômicas.
Tomem cuidado os aventureiros gastronômicos quando pedirem huevos rancheros, um prato forte nos cafés da manhã típicos. São dois ovos fritos nadando numa sopa verde pavorosa e mega-apimentada. Se não faz seu gênero, fuja! E não se deixe enganar pela suposta tortilla que há debaixo dos ovos; ela vem submersa na medonha sopa. Ai, ai ai!
E se, por total azar o turista passar pela infeliz Puerto Vallarta, o Gazebo e o River Café lhe farão esquecer momentaneamente o quanto você é infeliz por estar numa das praias mais babacas do México, uma mescla horripilante de Guarujá, Praia Grande e Piscinão de Ramos. O Gazebo está localizado na Marina, região um pouco mais suportável da chata Vallarta e pertence a Luigi, um italiano legal. Brusquettas e paellas não fazem feio e a comida moderninha do River Café é também um alívio. Esqueça a decoração cafona, a música de elevador e os clientes obesos; Vallarta não fica nunca melhor do que isso. O restaurante “chique” (La Hacienda) do horripilante hotel Fies ta Americana tem comida surpreendentemente boa e os tartars de atum, saladas criativas e boas sobremesas também valem à pena e aliviam o suplício.
Em Mazatlán, outra praia fraca na costa do Pacífico, o destaque é o hotel Pueblo Bonito e seu restaurante Cilantro, literalmente na areia. Envidraçado, ar condicionado, serviço perfeito. Ceviche de camarão e as tradicionais combinações “à americana”, entre filet mignon e camarão ou lagosta, que tão estranhas nos parecem, mas que, em boas casas como o Cilantro, são muito saborosas, estão entre as estrelas do cardápio imaginativo e variado. Frutos do mar são oferecidos a preços acessíveis no país e como já mencionei, caro mesmo é carne bovina. Que se revelou muito boa nos hambúrgueres da cadeia americana Burger King e nestes mesmos sanduíches no restaurante do hotel Palácio del Sol, na capital da carne mexicana, Chihuahua. Nesta interessante cidade do norte do país, as carnes são tão boas e fartas que são vendidas cruas para viagem, embaladas à vácuo, no aeroporto! E também no 624, restaurante magnífico na Baja Califórnia, em San José del Cabo. O filet mignon gigante, acompanhado de batatas crocantes e espesso molho grosso e escuro, deliciosamente apimentado, foi campeão.
Nesta mesma casa, destaque para lagostas e saladas preparadas com a carne deste crustáceo, frutas, penne e coco. A casa é nova, o serviço não poderia ser mais simpático e eficiente, em ambiente mexicano-moderno e boa musica. A comida, na região de Los Cabos, é excelente. Mas bem mais cara do que em qualquer outra parte do México, visto que a Baja Califórnia e mais precisamente a região que engloba as cidades de Cabo San Lucas e San José los Cabos é atualmente a mais “hype” do país. Não só os costumeiros velhos, gordos e feios americanos endinheirados lotam os estupendos hotéis e condomínios, mas ali também os jovens e bonitos gringos, mexicanos “cool” e estrangeiros idem; os mesmos talvez, que costumavam freqüentar Cancun e Acapulco e se transferiram em massa para lá. Consequentemente, os preços “nas nuvens” também para lá se mudaram; jantar para dois variando entre 150 e 250 dólares é comum. Mas vale a pena e vamos ver por que:
Bares e restaurantes nas duas cidades existem quase em numero tão grande quanto os cactos nativos da região e há de tudo para todos os gostos; não para todos os bolsos. Quem quiser comida barata terá que comer nas cadeias de fast-food americanas ou nos carrinhos que vendem tacos nas ruas.
Em San José jantamos divinamente no Voilá que também oferece serviço de buffet para milionários variados da área e suas casas espetaculares. Burritos de nobres frutos do mar, mero chileno, seríssimas saladas César e salsas enlouquecedoras podem ser degustadas ao ar livre, à luz de velas e a céu aberto, pois quase não chove em Baja. No Voilá isto acontece em meio a uma linda e espaçosa loja de decoração; no meio dos vasos e objetos, um ótimo restaurante. Singular...
Cafés da manhã perfeitos podem ser encontrados no Café San José e seu terraço agradável no primeiro andar e em cenário menos idílico, mas com comida sensacional, na French Bakery, de propriedade de chef francês, Jacques Chretien, que também é proprietário de restaurante fino para jantares românticos a beira da praia, na vizinha San Lucas. A padaria francesa nada deixa a dever a qualquer estabelecimento similar na França e os croissants estão com certeza entre os melhores do mundo. Omeletes de queijo e camarão são fascinantes e as muitas opções de crepes doces e salgados deixam qualquer um maluco de dúvida: o que escolher? Como o paraíso não é barato, esplendidos cafés da manhã nãos custam menos do que 25 dólares por pessoa.
Na agitadíssima Cabo San Lucas, na chique Marina, despencando sobre a água azul do mar, o deck do Oyster Bar do Lorenzillo’s. Dito restaurante é filial do mega turístico templo da lagosta de Cancun. Aqui mais chique e exclusivo, sempre oferecendo lagostas suculentas e molhos/acompanhamentos variados. O serviço é um tanto fraco para lugar caro e com pinta de luxuoso, mas comida e localização compensam a falha. Para quem aprecia frutos do mar, o Lorenzillo’s é ideal.
Na pacata Todos Santos, “pueblito” na costa do Pacífico, a 100 kms de San José, uma das jóias da coroa da cozinha da Baja Califórnia, o italianíssimo Café San José. De proprietários genuinamente italianos, o cardápio não faz concessão alguma à comida mexicana e os clássicos do mediterrâneo estão todos lá, com menção honrosa para mariscos e lulas. Ambiente adorável, com jardim muito verde para região tão desértica, vale a distancia percorrida para quem quer experimentar algo diferente em ambiente totalmente zen. Prepare-se para pagar 80 dólares por almoço de um prato por pessoa e uma diminuta taça de vinho.
Mas a “facada” total está mesmo nos restaurantes do hotel 10 estrelas, One and Only Palmilla. Seus três restaurantes são abertos ao publico mediante reserva e são, claro, de alto nível em hotel cujas diárias começam nos 800 dólares. Jantares e almoços não ficam atrás. A estrela é o C, casa assinada pelo ultra-chef de Chicago, Charlie Trotter. Não é nem de longe tão bom quanto a matriz, mas apresenta carta de vinho fabulosa, serviço muito bom, alguns pratos da cozinha japonesa autenticamente preparados, sobremesas intrigantes e ambiente interno e externo bastante bonitos. Isso sem falar do moderníssimo bar e seus bons shows de jazz. Jantar para dois com vinho modesto está na casa dos 400 dólares. Almoços “al fresco” no Breezes, o “baratinho” do hotel vão por 70 dólares o casal para uma salada, um hambúrguer, água pequena (fiji, é claro...) e uma Coca light. Naturalmente, se paga o lugar, a vista, o mar, o status. E os outros comensais chiques, bonitos, interessantes.
Para pombinhos enamorados, o segundo melhor, o Água (auto denominado de “cozinha mexiterranea”), organiza jantares na praia começando em 360 dólares. Bebidas, taxas e gorjetas não incluídas. Nossa passagem pelo estabelecimento nos tornou 660 dolares mais pobres devido à ambientação “especial”: velas, lua cheia, musica ao vivo, 4 pratos, champagne, etc.
É para quem pode...
E para grandes comemorações!
Cabo San Lucas, 03 de maio de 2008
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