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domingo, 12 de agosto de 2012

CHAPADA DIAMANTINA EM 2000

DIAMANTE NEGRO Não é o famoso chocolate da Lacta, mas sim o precioso mineral que deu o nome de Diamantina à famosa Chapada, bem ali, no coração da Bahia. E não podia mesmo ser um coração mais bonito, grande ou generoso. A Chapada Diamantina é linda e enorme, impossível conhece-la de uma vez. Tanto melhor, volto outra vez. Da primeira, escolhi o roteiro turístico padrão, de oito dias. Vôo direto de Congonhas para Lençóis, num bizarro mas confortável avião a hélice da Pantanal. Ótimo serviço e comida melhor do que as nossas gigantes da aviação. As três horas e meia de vôo são plenamente compensadas pelo conforto do único cinco estrelas de Lençóis, o hotel Portal Lençóis. Os quartos são confortáveis, a TV pequena demais, mas a vista do terraço é melhor do que qualquer programa de televisão, de qualquer maneira. A vista da ótima piscina é que é mesmo sensacional, uma espécie de prenúncio do que está por vir. Recomendo o hotel, pois é um verdadeiro oásis, um porto seguro para seus pés e traseiro que ficarão na certa moídos de tanto caminhar e ficar sentados nos longos trajetos de carro. Só não recomendo o regime de meia-pensão vendido pelas agências de turismo. O tal sistema não inclui sobremesa e muitas vezes é gostoso comer na cidade, que oferece restaurantes interessantes e não muito caros (ver meu artigo Comendo Bem na Chapada Diamantina). Recomendo, para quem gosta de massagem, a do canadense Jacques Gagnon, que vai até o hotel e te proporciona uma hora e meia de deliciosa terapia crânio-sacral. Uma viagem de sonho à luz de velas, incenso e óleos perfumados e terapêuticos. Ele é um profissional de primeira linha e faz os músculos doloridos de tanto andar ficarem relaxados e fortes para mais caminhadas que virão! Observações importantes: a Chapada Diamantina não é programa para crianças com menos de 10 anos e para gente fora de forma. Quem não aprecia muita natureza e é avesso a exercícios físicos, é melhor procurar outro destino. A Chapada Diamantina, entre as duas outras, Guimarães e Veadeiros, é a que exige mais esforço físico, mais tempo e mais paciência com os trajetos. Em compensação é a mais bonita. Bem, nada é perfeito na vida... Muitas agências vendem pacotes para lá, todos em geral muito parecidos. O diferencial está no público que os compra. Prefira sempre empresas especializadas em eco-turismo, como a Venturas e Aventuras ou a Ambiental. Apesar do preço ser o mesmo e o roteiro também, as pessoas que procuram as agências acima citadas e similares, estão interessadas em trekking, cultura e natureza. As outras fornecem serviços à turma do axé com cerveja, a turma da farra e da gritaria. Se não é sua praia, fuja como o diabo da cruz. Motivo? Você vai passar oito dias na mesma confortável van com as odiosas criaturas, pelo menos 6 horas de cada um dos oito dias! Quer mais? Outra dica importante: não vá na conversa de que um simples tênis resolve a questão calçado. Nada mais longe da verdade. As caminhadas são muito duras e o terreno é extremamente perigoso e acidentado. Pedras e mais pedras. Invista numa bota de trekking, cano alto mesmo. Para os que não suportam botas, compre na casa Bayard um dos calçados para todo-terreno da francesa Solomon. São meio caros mas valem a pena. Procure materiais à prova d’água ou de rápida secagem, os melhores para as condições do local. Tudo providenciado, espírito preparado, lá vamos nós. Talvez fosse melhor uma triagem preliminar dos passeios: Imperdíveis, vá mesmo se estiver doente: Poço Encantado. É a mais linda caverna que seus olhos já viram ou vão ver. Imensa e difícil de negociar, mas vá em frente. Quando você para de andar e chega no ponto em que os guias terminam o sofrimento da descida, não é óbvio que há um lago ali. Há uma coisa muito azul, mas só com calma e observando o suave movimento da água é que se enxerga o deslumbrante lago e seu fundo tétrico. O guia local é ótimo e conta coisas muito interessantes. É, no mínimo, uma experiência emocionante. Xique-Xique do Igatú. Pode ir, mesmo com esse nome. O trajeto de carro é duro, mas plenamente compensado pelas paradas na bonitinha cidade de Mucugê e seu cemitério bizantino, pelo cenário espetacular do vale do Pati e pelo curioso projeto Sempre Viva. É o dia em que mais se anda de van, mas tudo vale a pena quando se chega à cidade-fantasma de Igatú. As vibrações dos pobres garimpeiros que ali moraram e ali sonharam com a fortuna proporcionada pelos diamantes negros, de uso industrial, ainda pairam no ar. Suas casas de pedra, em ruínas e abandonadas, conferem ao lugar uma atmosfera meio Machu Pichu. Ao mesmo tempo, as casas da minúscula vila habitada, são alegres e coloridas e a região perto da bonita igreja parece um pouco a Toscana. Itália e Peru na Bahia? Pois é, só indo lá mesmo para conferir. Cachoeira da Fumaça e Riachinho. Longa e bela caminhada, só mesmo para os que gostam de andar. O resultado de tanto esforço é um enorme buraco com uma estranha cachoeira que se vê de cima, deitado à beira de um precipício. Outra caminhada mais bonita ainda, dentro de um cânion de enormes pedras cor de rosa e no fim, uma cachoeira espetacular; é a Cachoeira do Sossego. É mesmo o melhor trekking do roteiro, mas extremamente perigoso pela altura das pedras que se tem que pular como uma cabra de montanha. Para quem aprecia caminhadas e vai à Chapada para isso, não é possível perder esses dois dias com Fumaça e Sossego, que ainda têm de quebra as cachoeiras bonitas do Riachinho e a alegria do escorrega do Ribeirão do Meio; esse último um tobogã natural, com vários furos nas pedras servindo de mini-piscinas de hidromassagem com cor de Coca-Cola! Para quem não quer andar tanto, é possível ir até o início da trilha do escorrega de carro e andar uma hora a pé até chegar na cachoeira, por trilha suave e bem marcada. Os passeios acima citados, mesmo não sendo para todos, são a cara da Chapada e os considero muito importantes. A famosa vista do Morro do Pai Inácio também, por ser o cartão-postal do lugar, aquela foto que é a estampa da Chapada. A subida de 40 minutos é forte, mas não impossível. Lugar ótimo para gastar filme. Agora vamos aos passeios bons, mas não imprescindíveis. Perde-los não mata ninguém, mas eles completam muito bem a grande experiência que é a Chapada Diamantina, na certa um dos dez lugares mais bonitos do Brasil. O rio Serrano e o salão das areias coloridas, mais cachoeira da primavera é um passeio light, bem perto da cidade e uma boa oportunidade para observar o material rochoso que compõe as pedras vermelhas e rosadas da região, ali transformados num mostruário de areias que vão do roxo ao rosa claro. A gruta da Lapa Doce e da Torrinha são duas das principais cavernas da região, muito interessantes. A última é especial por suas formações únicas e possibilidade de passeios variando entre uma hora e meia e três horas e meia. O Poço do Diabo é um lugar lindo, uma cachoeira com cenário tipo filmes do Indiana Jones, cheia de orquídeas, ótimo lugar para descansar e tomar sol. Infelizmente, não posso opinar sobre a famosa Pratinha, mistura de rio, gruta e lago, outro cartão-postal da Chapada. Nas fotos ela é linda, verde, azul, transparente. No dia que eu fui era um barro só e nem nadar pudemos. Outro passeio fraco, o único, aliás: rio Mucugezinho. Uma cachoeira sem nada demais e uma lanchonete horrorosa. Ponto. Na maioria dos passeios, um lanche é fornecido; bom, por sinal. Acho que para compensar a total falta de infra-estrutura da Chapada. Os banheiros são horríveis e lanchonetes de chorar. Levar barras de cereais e água mineral não é má idéia, além de papel higiênico e protetores de assento para vasos sanitários. E, com certeza, uma das melhores coisas da região é a própria cidade de Lençóis. Um charme, construções antigas razoavelmente preservadas, um astral especial. Gente nas portas das casas, tudo aberto como antigamente, a vida acontecendo na rua. Pessoas alegre, simpáticas, hospitaleiras. Interessantes lojinhas e restaurantes, bares e doceiras. Mas talvez mesmo o melhor seja a roda de capoeira que acontece na área do mercado municipal, ás sextas feiras, de 18 até 20.30. É a alma da cidade e da Bahia, brancos e negros juntos, homens e mulheres ensinando mais de 80 crianças a antiga arte vinda da África. É um balé impressionante pela mistura segura de leveza e violência, ninguém se machuca. É diferente da capoeira para turistas de Salvador. É uma experiência emocionante, um Brasil diferente, mas nem por isso menos Brasil. Assim como a Chapada Diamantina. Nem quente, nem fria, verde forte da mata ciliar misturado a partes de caatinga, muita pedra e muita água cercados por regiões ultra-secas e planas. Uma beleza sem paralelo. Da próxima vez vou e recomendo o seguinte roteiro: três dias em Lençóis no mesmo hotel Portal, três em Mucugê no hotel Alpina e uma noite na pousada da Pedra em Xique-Xique do Igatú. É um roteiro perfeito para as trilhas sensacionais do vale do Paty, para apreciar paisagem diferente do primeiro roteiro e também para conhecer o povo e as cidadezinhas das outras partes da gigantesca Chapada Diamantina.

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