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segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017

PERU 2017 - RESTAURANTES DE LIMA, AREQUIPA BONITA,COLCA DESLUMBRE

FIESTA PERUANA 2017 Restaurantes estrelados em Lima, a beleza branca de Arequipa e a maravilha que é o Colca Canyon (Cañion del Colca) Programão passar uma semana em Lima curtindo a cidade e os restaurantes famosos. Mas vale a pena voar 5 horas até o Peru, só para isso? Vale, mas o ideal são 15 dias entre Lima, Arequipa e o cânion do Rio Colca. Aqui segue o porquê: 1. Lima tem muito mais do que gastronomia a oferecer. 2. Arequipa é ainda mais interessante do que Cusco, mais barata e menos turística. 3. O Colca Canyon é duas vezes mais profundo do que o Grand Canyon, lindíssimo, verde, cheio de pássaros raros e paisagens deslumbrantes. Pois bem, comecemos por Lima. Grata surpresa, esta escala de vida inteira revelou-se uma metrópole divertida e multifacetada. A começar pelo centro histórico, muito bem preservado e limpo; coisa raríssima na América Latina, onde até o belo centro de Buenos Aires, a ex-Paris dos trópicos, está feio, sujo e caído. Não Lima. Plaza de Armas perfeita, jardins impecáveis, nada de multidões impossíveis travando tudo. A Catedral e o Convento de São Francisco são um show de riqueza e história e a visita guiada às catacumbas do convento é imperdível. Só o centro vale um dia inteiro de roteiros a pé. Uma outra tarde percorrendo museus AMANO E LARCO, compactos e adoráveis. O MALI já é maior e requer mais tempo. Mais uma tarde/noite caminhando por Barranco, a Vila Madalena de Lima. Jovem e descolado, o bairro é um encanto e o museu do famoso fotografo peruano, Mario Testino, o MATE, é vital para quem gosta de moda e fotografia. A alguns passos dali, uma casa antiga e luxuosa que pertenceu a Pedro de Osma dá uma ideia de como viviam bem os milionários de outras eras. O Museu de Arte Contemporânea também está ali por perto, mas não é sempre que exibe peças interessantes. Nos hospedamos em Miraflores, perto do mar. No hotel Dazzler, bom custo benefício. Ficar em Miraflores faz toda a diferença, pois o bairro é repleto de lojas e bons restaurantes e um dos calçadões praianos mais agradáveis do mundo. Lima carece de boas praias e o mar é frio e revolto, só bom mesmo para surfistas empedernidos, mas o enorme calçadão é muito divertido, com jardins, pontes, cafés, estrutura para exercícios, playgrounds, shoppings, cinemas e gente bonita. Miraflores tem até ruínas pré-incaicas e um museu sombrio dedicado aos anos negros e às muitas vítimas do grupo terrorista Sendero Luminoso, nos anos 80. Apesar de tantas atrações e comida fantástica, Lima é uma cidade de 10 milhões de almas num continente violento como o nosso, portanto é bom esquecer as joias em casa, não bobear com celular, bolsa e mochila e usar aplicativos para táxis. Na cidade os ditos não têm taxímetro e há centenas de veículos ilegais. Usei bastante os do hotel, bons, baratos e confiáveis. Lima é enorme, mas o centro e o calçadão de Miraflores são caminháveis e o elegante bairro de San Isidro idem. Sempre alertas, pois o nível de perigo é comparável a São Paulo e Rio de Janeiro. E finalizo Lima com um mini roteiro gastronômico. Meu objetivo principal nesta viagem era a famosa comida peruana e suas casas internacionalmente conceituadas. O resto foi uma incrível e bem-vinda surpresa. Os restaurantes, mais baratos do que os de SP e RJ, são mesmo inovadores e a lista abaixo reflete minhas preferencias: 1- Astrid y Gastón. Perdeu pontos no ranking da Restaurant no ano passado, mas ainda é o melhor pelo ambiente, serviço, preço e comida. Tiraditos de tomate, arroz de mariscos, suspiros com frutas vermelhas e amêndoas, pisco sour.... Tudo em porções fartas, generosas, fumegantes, lindas. Um almoço para dois com bom vinho branco Colomé, argentino, sai cerca de 600 reais. Caro? Nem tanto, pois estamos falando de um dos melhores restaurantes do mundo cujo chef é “O” pai da gastronomia peruana; cujo ambiente é incomparável nas instalações fabulosas de uma casa antiga na cidade. O serviço é eficiente, alegre, informal e raro para uma casa de tão alto nível. Em restaurantes famosos e estrelados, a formalidade, esnobismo e constrangimento são comuns. No Astrid y Gastón não. SÓ este restaurante já vale a visita a Lima. 2- IK. Não está na lista top da Restaurant, mas devia. Perfeito, escurinho, intimista, discreto, cardápio pequeno. Tudo leve, delicado, bonito, cheiroso e supermoderno. Os pescados silvestres, os tiraditos... No entanto, para quem não gosta de peixes e frutos do mar talvez não seja a melhor pedida. Mesma faixa de preço do Astrid. 3- Mais barato e mais alto no ranking da Restaurant, brilha Rafael. O lugar é pequeno, claro, aconchegante, adorável. No entanto, carece da originalidade e peruanice dos outros da minha lista. O cardápio é fortemente europeu, com maquiagem local e execução perfeita. Dos seis da lista, de longe o de comida mais fácil e familiar a paladares paulistanos. 4- La Mar é um restaurante praiano, ótimo, jovem, barulhento, semi ao ar livre, lotado. Também de propriedade e invenção de Gastón Acurio, outra genialidade do mestre. Enormes ceviches, paellas peruanas lá chamadas de arroces, sobremesa super doce, estilo bem brasileiro, o suspiro limenho; uma espécie de torta de limão peruana. Os preços são de restaurante top, apesar do clima “pé na areia”. O serviço é muito bom para o nível constante de lotação e reservas não são necessárias. O restaurante possui uma filial em São Paulo que já foi boa e anda péssima. Não se deixe influenciar por isto, a matriz acima descrita é inigualável. 5- Central. Considerado no ano passado como o quarto melhor restaurante do mundo, nível que nenhuma casa brasileira jamais alcançou, o lugar vale cada centavo e é um modelo de inovação sem espumas suspeitas ou horrenda cozinha molecular. Apesar de alguns ingredientes estranhos, o gosto de tudo é excelente e de estranho não tem nada. Optei por opções vegetarianas e me deliciei com batatas rusticas com abacate, ceviche quente de vegetais, sorvete de cacau 85% com lúcuma e argila! Cogumelo seco e defumado envolto numa bizarra folha, com calda de chocolate, genial. Para acompanhar o café, ovo de argila vede com recheio de cacau radical. Parece exótico demais? Não é e aí está o trunfo do Central: inovar sem amalucar; apresentar sem se exceder, sofisticar sem esnobar. Apesar de ser o mais conceituado, os preços são os praticados pelos outros acima mencionados. Os cardápios que mudam conforme as estações do ano, estão disponíveis no site do restaurante e já se pode escolher antes de chegar. 6- Maído. O último da lista por ser supostamente japonês e eu não sou grande fã da cozinha nipônica. Mas há comida peruana também e o cardápio é um tanto eclético demais meu gosto e para uma casa tão renomada e considerada como o segundo melhor restaurante do Peru. Não é. Tudo hype (fama não merecida, em inglês). O lugar é pequeno, escuro, lotado, bem desconfortável, barulhento, serviço atordoado, tenso. A comida é bem-feita e bem apresentada, escolhi divinices bem típicas como arroz de pato e polvo na soja, belo mix de japo-peruano. Sobremesa de chocolate variando cacau 100 a 60%, muito boa, muito francesa e bastante doce para a suposta modernice do lugar. Cheio de críticos gastronômicos, fotógrafos, turistas embasbacados. Cada cliente que chega é ovacionado a gritos de “Maidô”, uma cafonice total. Pois é, o lugar é uma salada mista que, em minha opinião, deixa muito a desejar. Não me espantaria de ouvir dizer que o restaurante fechou daqui a um tempo, pois carece de bases sólidas. Dicas e observações sobre os restaurantes: O clima escuro e cavernoso prevalece no Central, Maído e IK. Não se esqueça dos óculos e da lanterna. Não se preocupe com roupa, cada um se veste como quer. É ainda mais informal do que o Rio de Janeiro. Visite o Museo de La Gastronomia Peruana, uma ode à comida, identidade nacional. Pequeno e simpático, tudo bem explicado, excelente introdução às tradições e ingredientes que fazem deste país um dos mais ricos e variados para se aproveitar a boa mesa. Ali perto, o Museo del Chocolate onde se prova o aromático e delicioso chá de cacau e aprende-se um pouco mais sobre este fruto celestial e seus admiráveis subprodutos. Ao lado, o Museo del Pisco, bar-escola dedicado à fantástica cachaça peruana e suas múltiplas possibilidades. Preços não variam muito e vinhos são na maioria argentinos e chilenos. Não provei os poucos peruanos. Reservas são essenciais em todos, menos no La Mar. No Central e Maído, muito difíceis de se conseguir. Se o seu horário for o mais cedo, de almoço ou jantar, prepare-se para esperar a abertura do restaurante na calçada. Os espaços são bastante pequenos e restritos e no Peru, esperar na rua é ok e não abrem antes do horário. Só o Astrid y Gastón é espaçoso e confortável. Prepare-se para fazer refeições com vários pratos, complexas e demoradas, nos desconfortáveis banquinhos no balcão do bar. Em Lima isso é comum, em vez de mesa decente e civilizada, cadeirinha-punição no bar. Central, Maído e La Mar nesta base. E lamba os beiços, já é um privilégio conseguir lugar. E como tudo em viagem é divertido e transitório, vale encarar o desconforto para conhecer e provar a surreal comida peruana. Não esquecendo a caipirinha local, o pisco sour. A versão clássica é um bom começo, mas vale o pós-graduação para as versões de maracujá e o desafio total do pisco com grenadilha e maracujá. Composto dos deuses.... E para finalizar, last but not least... Quem tem sensibilidades estomacais pode passar apertado com o exotismo dos temperos, pimentas e ingredientes peruanos e não é coisa para principiantes; sem contar o tamanho avantajado das porções e o atraente das novidades. Os sabores são maravilhosos e especiais, ingredientes de primeira, ultrafrescos, tudo bastante saudável e moderno. Mas a explosão de grãos incomuns, peixes e mariscos crús, frutas intrigantes e festival de coentro podem provocar imprevistos só possíveis quando se é introduzido à comida baiana ou mexicana, por exemplo. O bom de Lima é que tem mais farmácias do que São Paulo. Nunca vi coisa igual! AREQUIPA E COLCA CANYON O Peru ostenta o terceiro maior território da América do Sul e no entanto, nós brasileiros, habitantes do gigante vizinho, só concentramos as visitas a Cusco e Machu Pichu. Lima é escala, mas recentemente tem chamado atenção pela boa cozinha, o modismo da comida peruana. Contudo, a cidade mais bonita é Arequipa e o Colca Canyon é mais acessível e tem mais a oferecer do que Machu Pichu. Heresia? Confira abaixo as razões. Arequipa é a segunda maior cidade peruana e seu centro histórico é belo, elegante, limpo, interessante e preservado; suas construções principais utilizam uma pedra vulcânica branca chamada silhar cujo efeito mármore-rustico é único e peculiar. A catedral é gigante, as praças lindas, lojas bem sortidas e livrarias especiais, um dos melhores restaurantes do Peru e os marzipãs de castanha do Pará mais suculentos do universo. Como se não bastasse, o Monastério de Santa Catalina é uma das construções históricas mais intrigantes do continente Americano. Parece exagero, mas os atrativos múltiplos de Arequipa são facilmente conferíveis em voo de 1.45minutos de Lima; além de tudo, a cidade é o melhor e mais fácil ponto de partida ao magnífico Cañion del Colca. Os preços são mais acessíveis por carecer da fama de Cusco e região e me hospedei no pequeno e confortável Hostal Los Tambos por meros 200 reais – com impecável café da manhã e ótimo serviço, a três passos da praça principal. O cenário natural de Arequipa é de sonho e o pano de fundo são os três vulcões que são a muralha protetora e nevada da cidade natal do grande escritor prêmio Nobel, Mario Vargas Llosa. Para montanhistas, caminhadores, bicicleteiros, esportistas radicais e amantes da natureza em geral, o lugar é um paraíso e as inúmeras agências de viagens oferecem todo o tipo de serviços a quem quer se aventurar e maravilhar. Para os mais sedentários, igrejas, conventos, vistas, alimentos e museus não decepcionam, pelo contrário, surpreendem. Como é o caso do Museo Santuários Andinos, exibindo interessantes múmias congeladas e suas fascinantes histórias, com cineminha para criar o clima-mistério e guia competente. Todas as visitas devem e podem ser guiadas; a rica história de Arequipa vale o pequeno investimento. Mas no Monastério de Santa Catalina, que é, na realidade, uma cidade fortificada, vale perder-se pelas inúmeras ruazinhas coloridas, imergir-se nos idos de 1500 e acompanhar a vida das freiras enclausuradas nos mínimos detalhes. Um túnel do tempo inesperado, difícil de encontrar nos dias que correm, atração cuja importância histórica não me parece valorizada como deveria. Se fosse na Europa ou nos EUA seria considerada top naquelas listas ridículas das 1001 coisas que se deve fazer e ou visitar antes de morrer. Com dizem em inglês, definitivamente “bucket list”. Em frente à entrada principal, do outro lado da rua, o restaurante Chicha, tão bom que fui três vezes e nem sequer quis saber de outros lugares para comestíveis na cidade. Mais uma façanha de Gastón Acurio, há filial que não conheço em Cusco. Lugar lindo, casarão antigo e muito bem decorado, com pátio interno delicioso, em frente a uma cozinha dinâmica, barulhenta e divertida. Exotices como filé de alpaca com batatas roxas e rusticas ao molho de vinho tinto, empanadas recheadas com amostras da cuisine arequipenha e rolinhos fritos e fortificados com pimentões nativos são bombas calóricas maravilhosas. As sobremesas são mais leves e europeias, clássicos como panna cotta e mousses; sempre acompanhadas ou baseadas em ingredientes locais, como o ótimo cacau peruano e frutas vermelhas dos bosques andinos. Nível restaurantes muito bons de Lima e mais barato. E para coroar uma estadia bem sucedida no Peru, depois de toda comilança de Lima e Arequipa, gastamos inúmeras calorias nas alturas radicais do cânions do rio Colca, cuja beleza e majestade não se traduzem em palavras ou fotos: tem que ir para ver. Sentir o vento gelado e poderoso de vulcões e montanhas que batem fácil os 5000 metros, se emocionar com o vulcão Mismi que é a nascente do nosso amado rio Amazonas, conferir o verde, as flores e os condores que enfeitam os terraços de cultivo milenar, florescendo com força total entre novembro e abril, única época de contraste forte de cores. No resto do ano a paisagem já está mais para Grand Canyon americano, seca e marrom. De todo modo, as peludas e fofas alpacas passeiam por lá o tempo inteiro e são bichos que além da lã boa e cara, oferecem também carne suculenta e fotogenia única; primas nobres das comuns lhamas andinas. As mais nobres mesmo são as selvagens vicunhas, correndo pelas montanhas e vales, aparições bem-vindas e ocasionais. Todas estas maravilhas naturais cobram o preço de 4 horas por estrada boa e asfaltada, de Arequipa, mas cujas altitudes de 2300 a 5100 podem ser massacrantes. Chá de coca alivia, aspirina também e parada na cabana beira de estrada lá pelos 3800 metros, ajuda muito com o fumegante chá de 4 ervas que impulsiona os turistas ao Mirador de los Volcanes, a 5100 metros de altura, já bem perto do paraíso terrestre que é o hotel Colca Lodge. É aquele tipo de hotel que você visita o site, não acredita, acha que é exagero, bonito demais, barato demais, deve ter algum truque. Não tem e é ao vivo ainda e bem, bem, mais bonito do que em fotos. Os quartos são enormes, bem decorados, aconchegantes, os jardins são do Éden como descreve a Bíblia, a comida é ótima, o serviço gentil e o spa indizível. Ficamos duas noites, muito pouco. Volto para ficar cinco em abril, época mais seca. Em janeiro chove mais e as nuvens atrapalham o esplendor das vistas surreais. Frio é sempre. Os passeios organizados pelos hotéis e agências locais são um feliz composto de natureza, exercício, culturas indígenas e história. Perto do Colca Lodge há ruínas de muitos anos antes dos Incas, super trilha por fazendas indígenas centenárias, coisa de tempo congelado, nativos vestindo roupas bastante coloridas e cultivando a terra manualmente, carros de boi, harmonia com o meio ambiente imutável. O caminho-desafio sobe uns belos 1000 metros acima do hotel que já se encontra a 3500. Compensa o esforço e a falta de ar por tudo acima e as paisagens de delírio e pelas ruínas de Uyo Uyo, uma cidade fantasma, grande e em razoável estado de conservação. Bem mais antiga do que Machu Pichu, igualmente localizada em cenário deslumbrante e de fácil acesso; como o diferencial-gigante de se estar completamente só entre os fantasmas de outras eras. Sem rebanhos de turistas estragando o clima! Não tem preço e com certeza, tem volta. Já estive duas vezes em Machu Pichu e região e fiz duas espetaculares trilhas incas, a tradicional e a Salkantay. Inesquecíveis. Ao Colca volto mais vezes, por ser mais bonita e mais acessível, por não depender de trem, pela possibilidade de caminhadas por vales enormes e razoavelmente planos, pelo isolamento bendito, pelos vilarejos estacionados no tempo, por um astral raro nos tempos lotados e turbulentos em que vivemos. São Paulo, 06 de fevereiro de 2017.

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