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terça-feira, 19 de julho de 2022
SUÍÇA E LICHTENSTEIN - VERÃO FUMEGANTE EM JULHO DE 2022
SUÍÇA E LICHTENSTEIN
VERÃO TÓRRIDO EUROPEU – JULHO 2022
Neste verão de temperaturas infernais, mas muito sol, céu azulíssimo sem nuvens e chuva, alegria, confusão, baladas e malas perdidas, os dois países do título deste artigo oferecem refúgio das temperaturas extremas, da multidão infernal e das preocupações com incêndios devastadores.
Com temperaturas mais amenas e a proteção imponente dos Alpes, a Suíça é uma delícia cara e sofisticada, começando por Genève, onde passei um dia delicioso de ópera, caminhadas, bons drinques no hotel Four Seasons e um almoço modernoso e agradável no chiquérrimo hotel The Woodward, que abriga a nova e póstuma casa de Joel Robüchon (que só abre para jantar). O Le Jardinier, no terraço com vista premium do lago e montanhas, é um vegetariano sofisticado, com belas opções de pratos que mugem ou cacarejam também.
Outro dia em Basel, escapando do calor na Fondation Beyeler e viajando com Mondrian nesta espetacular e exclusiva mostra. No Kunsthalle e Kunstmuseum, mais cultura e opções importantes, a da primeira instituição, resenhada pela The Economist, coisa rara e valiosa. Cinema no Kult Kino, que além de ser um dos cinemas mais confortáveis e agradáveis do mundo, abriga um café com sandubas maravilhosos e muita champanhe. Tudo pode ser levado e desgustado nas várias salas de espetáculos. Com ar condicionado e sem multidões.
No dia de Lucerna, a fantástica mostra de David Hockney no KKL, um espaço multicultural beira-lago, onde o lago entra em partes do edifício e o telhado negro espelha tudo em efeito mágico. Ali mesmo, o restaurante Lucide, muito bem avaliado pelos guias Michelin e Gault Millau. Vista surreal de lago e montanhas, ainda mais bonita que a de Genève, se é que isto é possível. Vai de gosto. Como no verão, as sobremesas suíças são levinhas demais para meu gosto chocólatra, me dirigi à nova loja do Max Chocolatier e me dei ao luxo de pagar 240 reais por 16 pequenos bombons, que, na certa, são os mesmos que se comem no Paraíso.
Um fim de semana mais fresco em Bad Ragaz, que abriga um dos hotéis mais luxuosos do mundo, o Quellenhof. Campo de golfe e SPA enorme, suas águas termais e parques muito verdes, árvores centenárias e montanhas escarpadas, são um belo par para a cidadezinha linda e divertida, onde há ótimas opções de bares de tapas, restaurantes típicos, confeitarias e uma caminhada radical para queimar tantas calorias, nove quilômetros ida e volta até a fonte de águas termais que movem o SPA público e o do hotel de luxo. Mais uns nove quilômetros até o vilarejo antigo e adorável de Maienfeld e suas minúsculas vinícolas. A Salenegg é digna da visita e o restaurante Alter Torkel é um show de comida moderna, vinhos brancos do outro mundo, vistas adoráveis e preços mais módicos. Serviço entre os melhores do país. Relax, gastronomia e exercício são os pontos fortes da região de Bad Ragaz. E se der tempo e houver “espaço” digestível, não perder a torta de morango da única e escondida padaria de Maienfeld. É um sonho de mousse e fruta geladinhas adornando um bolo fofinho...
Na outra semana, um dia em Lenzburg, para visitar o belo castelo, enfrentar a caminhada até o topo e admirar o estado de perfeita conservação desta antiga fortaleza dos idos de 1300. Após o esforço, um almoço top no Rosmarin e o cardápio verão com sopa de tomate fria, risoto com morangos e sobremesa de damasco.
Na volta a Zurich, vindos de Bad Ragaz, paramos na capital do Lichtenstein, um dos menores países do mundo. Vaduz é minúscula, repleta de bancos, tem dois museus de arte moderna interessantes, belas igrejas, mas não muito mais. Em quatro horas preguiçosas, com almoço, já vimos o principal deste paiseco bilionário, regido com mão de ferro por um príncipe controverso e misterioso.
Zurich, 19 de julho de 2022
quarta-feira, 6 de julho de 2022
INVERNO EM BUENOS AIRES - JUNHO 2022 - PARTE UM
BUENOS AIRES NO INVERNO – 2022
PARTE UM
Tento sempre evitar o inverno na cidade, pois como ela é perfeita para longas e prazerosas caminhadas, para curtir os muitos parques verdes e floridos, penso que o frio, o vento e a chuva do meio de maio até meio de setembro prejudicam muito a experiência. No entanto, lá fui parar no começo de junho deste ano e frio ou não, aproveitei muito esta cidade que amo. E fazia bastante frio, apesar do sol constante e da absoluta ausência de chuva. O vento congela tudo e é onipresente nesta época do ano.
Por isso justifiquei a comilança como escudo no combate ao frio e provei pela primeira vez um típico prato argentino, na certa herança italiana que nunca vi na Itália por sinal, a famosa fugazzetta. É uma espécie de pizza com MUITO queijo e muita cebola, na receita clássica. Experimentei tal maravilha no Pizza Cero, restaurante alegre, movimentado e agradável na Avenida Del Libertador, perto do Museu de Artes Decorativas. Ambientes internos e externos confortáveis e bem servidos. No restaurante clássico Edelweiss, a fugazzetta se junta a impecável carne argentina e vem fumegando por cima de um bife a milanesa perfeito.
Mais que perfeitos continuam também o célebre Don Julio e seu primo pobre, El Preferido de Palermo, bem como o Elena e o Lima Nikkei. Agora com a grande vantagem de ser possível fazer reserva online para as primeiras duas casas e não é mais necessário fazer filas enormes e primitivas na calçada. Preços altos para o triste cenário econômico argentino. Para brasileiros, preço de casas de nível médio a semi-alto em São Paulo.
E por falar em custos, Buenos Aires não está mais a barganha divina que encontrei nos últimos três anos . A inflação está altíssima e o dólar não acompanha. Ainda é em conta , pero no mucho... Melhor não esperar milagres.
A cena cultural continua estonteante, com a volta plena dos espetáculos no meu amado Teatro Colón. Lá vi a versão da opera Nabucco, uma espetacular produção italiana, com os cenários mais deslumbrantes possíveis, uma coisa caríssima num país totalmente falido. Assisti a versão argentina do musical americano Kinky Boots, melhor do que em Nova York, estrelada pelo gênio musical de Martín Bossi, por ele mesmo um one-man-show. Como é possível? Como a Argentina continua muito a frente do Brasil em termos culturais? Como financiam teatro, cinema, música, museus? Como os ingressos podem ser tão baratos, ou até mesmo de graça???? Mistérios insondáveis...
Para mim a resposta é que cultura e educação são prioridades, não importa o cenário econômico ou o nível de endividamento do país. Os argentinos preferem livros a carros, ópera a roupas de marca, concertos a Botox e por aí vai. Já no Brasil, país que tem Anita como ícone, um boçal como Neymar como semi-Deus , o Jair como presidente e o energúmeno do Lula como futuro, a coisa é sem esperança. Pena...
Volto no começo de agosto pra enfrentar o frio portenho de novo, pois Buenos Aires está melhor do que nunca e é diversão certa. Mais barata e mais perto do que a Europa. E ainda continua sendo, culturalmente, mais europeia do que nosso triste Brasil jamais será. Apesar de não gostar do atual presidente argentino, Alberto Fernandez, mais um peronista tentando arrasar nosso lindo país vizinho, concordo com ele quando disse no ano passado: o Brasil vem da selva e a Argentina dos barcos europeus. Nós destruímos a selva e eles, pelo menos, valorizam a cultura da qual descendem.
Zurich, 06 de julho de 2022
segunda-feira, 4 de julho de 2022
CROÁCIA - VERÃO 2022
CROÁCIA – VERÃO 2022
Eis aqui um país que encanta os brasileiros pelas praias (bonitas, mas nada de areia, só pedras ferventes), mar muito azul, cruzeiros luxuosos, barcos espetaculares. Na verdade, a Croácia é uma Grécia mais em conta e bem mais interessante. Sacrilégio? Não. Os tesouros históricos da Croácia são infinitamente melhor preservados do que os gregos e há muito mais que ver.
Começando por Zagreb, a capital, que nem no mar é e sim localizada no centro do país. Cidade linda, barata, muito que fazer numa infinidade de museus, teatros, espetáculos grátis no verão, muitos shows de música por toda parte, comércio atraente, ótimos restaurantes e bons hotéis. Tudo em espaço compacto, caminhável, delicioso. A culinária, além dos óbvios frutos do mar da ampla costa do Mar Adriático, sofre forte influencia das ótimas cozinhas austríacas e húngaras. No belo Kavkaz, este mix é bem apresentado, o ambiente é descolado e os preços muito camaradas. No Boban, o carpaccio de camarão brilha e o steak tartare do Bistrot, restaurante casual do chique hotel Esplanade é definitivo. O Hotel Dubrovnik, super bem localizado, oferece significativo custo beneficio em seus quartos maiores do que a média minúscula europeia e um café da manhã farto. É hotel business, sem charme, mas profissional, central e espaçoso.
De Zagreb, fui de trem até a costa, até Split. Sete horas e meia de puro deleite com as interessantes paisagens do caminho que leva até o mar. Como o trem é bem lento, pudemos aproveitar os detalhes de povoados pitorescos e minúsculos, lagos, escarpas, desfiladeiros e florestas. O trem é decente e confortável, mas é aconselhado levar comes e bebes, pois não há nada o que deglutir a bordo.
Split, a segunda maior cidade da Croácia, é um show de história no Palácio de Deoclésio, um antigo imperador romano que construiu lugar de tal magnitude para ter onde aposentar-se com conforto. Isso nos idos de 350 depois de Cristo. Hoje em dia o palácio abriga uma cidade inteira, que através dos séculos foi ali se desenvolvendo. Uma coisa bem diferente, uma espécie de Veneza croata, a beira mar, mas sem os canais. Há de tudo dentro das muralhas, de lojas a igrejas, museus, sorveterias, cartórios, gente morando, uma festa! Mas desaconselho a hospedagem dentro da parte antiga, pois os espaços são minúsculos e o barulho é muito. Fora das muralhas, encontram-se hotéis de várias categorias e apartamentos ou quartos em casas particulares, muito típicos do país. Tudo funciona bastante bem. Destaque gastronômico em Split para o restaurante Portofino, comida italiana e a Konoba Korta, bem em frente, comida croata típica, maravilhosa. Polvo fumegante de entrada e risoto de mariscos com queijo local, de babar...
Os vinhos brancos da Croácia são outra maravilha inaudita, com destaque aos produzidos na ilha de Korcula, com a uva bem seca e dourada, chamada posip.
De Split fizemos um passeio de meio dia a Trogir, ilha minúscula com igreja maravilhosa e ruazinhas resplandecentes ao sol do meio dia, no lindo branco do mármores nativos que dominam o litoral do país. O trajeto em pequeno e eficiente barco de linha regular, é bem agradável.
Com ótimos e baratos catamarãs se faz o trajeto até outras ilhas, como Hvar, lugar de moçada bonita e muita balada, encimada por um forte antigo com vistas sensacionais. O restaurante Paradise Garden tem comida italiana perfeita (burratta celestial e canelone de camarão) e vinhos estonteantes. Em Hvar a Croácia começa a ficar cara. Até este ponto da viagem, custos bem razoáveis para países europeus. De Hvar ao sul, a coisa muda de figura e a força de um turismo intenso pressiona os preços. Pesquise bem hotéis e apartamentos, pois o custo-benefício em Hvar pode ser inexistente.
Já o custo-benefício da próxima e acanhada ilha, Korcula, vale super a pena. A ilha é linda, a cidadezinha de mesmo nome é um charme total, as pessoa são simpáticas e a parte antiga da cidade é belíssima, uma mini Dubrovnik, uma espécie de trailer da cidade seguinte, a famosíssima vila fortificada que se tornou ainda mais famosa por ter sido cenário de Game of Thrones, a série inesquecível da HBO. Mas tudo o que Dubrovnik tem de turística e agitada, Korkula tem de calma, idílica, genuína e maravilhosamente preservada. Vale duas noites só para curtir a atmosfera de sonho do lugar. Afinal, é lá que nasceu meu herói viageiro, o inesquecível Marco Polo. Sua casa e a torre que o emprisionaram por alguns anos ainda permanecem, nos lembrando do espírito aventureiro e das histórias da China, do impagável Marco Miglione, assim apelidado por exagerar um pouco seus feitos.
Ultima parada, Dubrovnik, aonde cheguei desanimada por relatos de super lotação, lugar fake, turístico, hordas de gente feia cuspida sem parar dos inúmeros navios de cruzeiro que por lá atracam diariamente. Escolhi um hotel 3 quilômetros longe do centro antigo para me esconder da turba ignara. O Hotel Adria tem quartos honestos, vistas belíssimas do porto da cidade, um lugar bem agradável. Mas só. O resto, é fora de mão, comida ruim, atmosfera impessoal, funcionários um tanto desleixados. A grande desvantagem é não ser na rota da excelente linha de ônibus que compõe um transporte publico impecável e portanto o turista gasta muito com táxis e Uber. Para quem puder gastar, fique com certeza no Hilton Imperial, ao lado da cidade antiga, mas fora das muralhas e da muvuca. Maravilhoso.
Assim como, maravilhosa é Dubrovnik, sem adjetivos fortes o suficiente para descrever esta maravilha de cidade murada a beira mar. Cenário perfeito para Game of Thrones que atrai milhares de idiotas querendo encontrar King’s Landing. Os tontos encontram Dubrovnik, cuja história é bem mais interessante do que qualquer seriado de TV.
O melhor da festa é caminhar pelas muralhas, assistir um filme com pipoca caseira no cinema ao ar livre, uma ópera no pequeno e antiguinho teatro da cidade. Caminhar por ruazinhas improváveis de tão pequenas, por escadarias infinitas, ser cegado pelo branco forte do sol idem do verão croata. Lindas igrejas e a segunda sinagoga sefardita mais antiga da Europa, museus variados, sorveterias pecaminosas, comida divina. Tudo caro, mas valendo cada centavo, um prazer gastar. Gaste com uma refeição no Proto, de longe o restaurante não turístico mais legal da cidade. Amoret, também pouco turístico, perfeito, com vista para a catedral. Pizza é no simpático Oliva. Gaste comprando produtos locais feitos de figo, especialmente geleias com chili, mistura bombástica. Invista nos vinhos, azeites de oliva, cremes de corpo, especialmente os feitos com uma delicada rosa local. Belas lojas de outros artigos não-comestíveis também, passeios de barco, fortalezas variadas, shows grátis na rua a qualquer hora e um teleférico caro que descortina a beleza e majestade do Mar Adriático.
Dubrovnik é uma das cidades-museu, como Veneza, imperdíveis no mundo. Voltaria muitas vezes e com certeza, descobriria cantos e contos diferentes a cada vez. Fecho de ouro para uma viagem feliz, 12 dias de clima perfeito, de ócio criativo que plenamente justificam minha opção pessoal pelo trabalho remoto, visto que sou nômade digital há quase 7 anos.
E países como a Croácia justificam e engrandecem minha escolha.
Para Eileen e Luiz Fernando, que tão bem representaram o Brasil na Croácia em anos melhores...
Zurich, 04 de julho de 2022.
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