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domingo, 29 de junho de 2025
SARDENHA MAIO 2025
SARDENHA - MAIO 2025
Demorei mais de um mês após minha volta da Itália, para escrever sobre esta ilha italiana tão bonita. Por que será? Na certa gostei muito do lugar, mas não o percorri da maneira adequada. Fui numa excursão que apesar de divertida, não é o modo correto de se conhecer um lugar tão rico em história e natureza, pois a Sardenha é um paraíso de paisagens e relaxamento, de vegetação harmoniosa, de um mar deslumbrante que não combinam com as chatices de horários e correria de grupos. Também fui em maio, mês ainda frio para aproveitar mar e praias. Portanto minha experiencia foi uma mistura de encantamento e certeza de que em outra época do ano e de outro modo, minha viagem teria sido bem melhor.
O percurso ideal é de carro, sem pressa, com pelo menos duas semanas para ir parando em praias e cidades históricas. Também não concordo com a maioria dos turistas de qualquer nacionalidade, que só quer ir a Porto Cervo e arredores, lagartear ao sol e ignorar todo o resto. É o que fazem os alemães, por exemplo. Nem balneário e nem pacote turístico na minha opinião. A Sardenha deve ser conhecida e percorrida de maneira independente, como fizemos na Sicília no último inverno. Na Sicília, existem trechos que se pode visitar de trem, o que ajuda muito. Na Sardenha, esta opção é inviável. Só carro ou ônibus. Começando pela capital, Cagliari.
Pequena, compacta, bonita, verde, histórica e caminhável, Cagliari é muito agradável e seus museus, especialmente o de Arqueologia, são uma perfeita vitrine e introdução ao povo nurágico que ali viveu, muitos e muitos anos antes de Cristo. Pouco se sabe sobre eles, mas suas interessantes construções, os nuragues, espalhados por toda a ilha, são torres misteriosas e intrigantes. Suas pequenas esculturas dão uma ideia do nível de refinamento deste povo tão antigo. E pouco conhecido. Começar por Cagliari introduz a ideia de que há muito mais para ver e conhecer na ilha. E há mesmo. Tudo misturado a praias lindas, ao mar que está mais para Tahiti do que Itália, de rochas e picos estonteantes, tudo cercado de civilização e boa mesa.
Outros pontos históricos importantes e interessantes: Alghero, Santa Teresa Gallura, Nora, Olbia, Palau.
O vinho Canonau é bom e estranho, bem como a massa típica que é uma espécie de minhoca borrachenta (nhoque sardo) envolta em poderosos molhos com bastante carne. Os sardos são bastante carnívoros e seus carboidratos são todos feitos de um trigo duro e muito saudável. Com altas taxas de longevidade, principalmente entre os homens, a Sardenha é conhecida como uma das Blue Zones. Bobagem inventada por um americano e viralizando por todo mundo, tentam explicar o inexplicável fator da longevidade. Para mim, que já estive em todas as Blue Zones, só vejo uma coisa em comum: vida simples e falta de preocupações. Não esquentar a cabeça é o melhor remédio.
Na Sardenha a vida é uma tartaruga e se move só o necessário. Tudo fecha, impreterivelmente entre 13:00 e 17:00 (saco máximo para os turistas) e vender e fazer caixa parecem ter importância secundária. Bem secundária...
O queijo pecorino, maravilha feita com o leite das ovelhas locais, está em doces e salgados por toda parte, o tempo todo. Bem como biscoitos de laranja e outros docinhos interessantes. Vi poucas frutas e verduras, quase nada de saladas. Os hábitos sardos são bem diferentes do resto da Itália e a comida e vinhos, que adorei, não são consenso entre os turistas. Não é coisa fácil e atraente como na Sicília, por exemplo.
Para mim, fiquei com a impressão de que a Sardenha é uma mistura de natureza esplendida e mistérios históricos, de vida tranquila e de um povo que está totalmente na deles, sem qualquer preocupação de marketing ou consumo. Visitar na mesma vibração é garantia de um passeio lindo e bem diferente. Para mim não é um lugar típico italiano.
É sardo. Com sua língua que é idioma e não dialeto, com uma atitude própria e exclusiva. Não parece Grécia ou Malta, nem Itália ou Sicília.
É Sardenha.
São Paulo, 29 de junho de 2025
sábado, 28 de junho de 2025
PERU AVENTURA PERIGOSA - JUNHO 2025
PERU AVENTURA PERIGOSA – JUNHO 2025
Minha quinta vez no país não decepcionou, mas cansou, pois o Peru não é para amadores. Interessante, vibrante, colorido e cheio de história muito antiga e movimentada. Sem dúvida, o país sul-americano com os sítios arqueológicos mais importantes e um dos berços civilizatórios da humanidade, junto com México, Mesopotâmia, Egito, Grécia, Índia e China. E não é só a Machu Pichu e arredores a que me refiro e sim a todo um magnífico conjunto de cidades que representaram civilizações perdidas, como Chavín de Huántar, Caral, Chan Chan e várias outras.
Desta vez fui seguindo os passos de meu amado escritor Mario Vargas Llosa pela costa peruana que desconhecia, inspirada por seu bom humor e conhecimento de seu país natal e fui conhecer a cidade mais antiga das Américas, com cerca de 5000 anos de idade, sítio ainda mais antigo dos que os egípcios, impressionante. Através de um dos últimos livros de Vargas Llosa soube a existência de Caral e como foi descoberta, há apenas 31 anos, por Ruth Shady, uma arqueóloga peruana. Mulher de coragem, lutou por financiamento e contra espúrios interesses imobiliários e o que se pode visitar hoje são incríveis pirâmides, praças, residências, uma cidade inteira, bem como nas areias egípcias, preservada por lugar seco e isolado.
Tudo está bem preparado ao turismo, guias locais integrando as populações da região com a rica história dos arredores, boa infraestrutura. Como tudo no Peru, o acesso não é fácil. Estradas ruins e perigosas não ajudam. Distancias brutais idem. Aliás, viajar no Peru é um massacrante sacrifício de voos pela madrugada, acessos péssimos, violência pairando por todo lado, banheiros nojentos e total irresponsabilidade de operadores turísticos aliados a governos absurdos. Tudo bem pior do que no Brasil...
Mas vale arriscar sua sanidade mental e integridade física para conhecer maravilhas únicas, que não podem ser vistas em qualquer outro lugar do mundo pois só existem lá. Made in Peru. O melhor, sempre, é tentar contratar transfer confiáveis, operadores de maior preço e reputação, hotéis idem. Fazer economia no Peru é furada e extremamente perigoso. E nem se informando bem e gastando dinheiro a coisa é garantida. É só examinar a história dos últimos governos do país, do Sendero Luminoso, do Fujimori, do suicídio de Alan García e episódios do gênero.
Vamos lá nos detalhes do périplo:
1- Em uma semana enfrentei 3 voos de madrugada, o trânsito pior do mundo em Lima e suas costas norte e sul (São Paulo e Nova York perdem para o pavor dos congestionamentos peruanos).
2- Dois passeios em dois dias consecutivos, um partindo do hotel as 04:45 e voltando as 22:30 e o outro partindo as 05:00 e voltando as 18:30. Tudo por causa do trânsito, clima, acidentes variados.
3- Também encarei um terremoto em Lima, o mais forte desde 2007. Nenhuma orientação ou ajuda, a vida que segue...
4- Na sequência, não pude caminhar pelo belo e interessante centro de Lima, tive que fugir correndo e chamar o Uber Black pior da minha vida dentro de um bar fedorento; repleto de policiais furiosos fechando todas as ruas por causa de protestos violentos; protestos que dois dias depois me forçaram a sair da cidade para o passeio a Caral as 5 da manhã para evitar a violência. No trajeto, sob neblina intensa, tivemos que parar no meio da estrada para ajudar as vítimas de um medonho acidente rodoviário entre 3 ônibus. Com vários mortos e feridos. Um horror...
5- Horror máximo nos perigosíssimos passeios pelas dunas monumentais em volta do Oásis de Huacachina. O lugar é lindo, mas os passeios são montanha russa real, com carros em questionável estado de manutenção, enferrujados, motoristas loucos, tudo sem o menor critério e total irresponsabilidade. É tipo o balão de Santa Catarina, em que várias pessoas recentemente morreram porque o “piloto” não tinha licença ou qualificação para voar e a Anac não certifica tais operações. Os turistas-vítimas não sabiam disso.
6- Huacachina e os buggies-mortais são a verdadeira “jabuticaba” peruana!
7- Em Huacachina é a mesma loucura e falta de juízo de operadores e governo, tudo para fazer dinheiro, pagar salários de fome aos motoristas e expor os turistas a uma atividade perigosa, extrema e sem qualquer consequência ou punição aos organizadores que ganham muito com isso.
8- E com Booking.com, Get Your Guide e Trip Advisor vendendo tais belezuras.
E para coroar a sequência, um tempo péssimo em que só vi o sol por algumas horas nos oito dias no país, pois as nuvens cinzentas, ventos gelados, chuva fina e bruma sufocante prejudicaram muito minha experiencia. Como também o recém reformado aeroporto de Lima, condizendo com o tresloucado país, onde há inúmeras lojas interessantes, bons banheiros, várias opções gastronômicas, mas pasmem: não há lugar suficiente para sentar e os passageiros se sentam e se deitam por corredores e áreas de trânsito, ao estilo “moradores de rua”, pois a Frankfurt Airport “olvidou-se” das cadeiras. Bem peruano, favelão total.
Mesmo assim, me deliciei com a maravilhosa comida peruana em Lima, desta vez no Kauza, no Awicha e no elegante restaurante do melhor museu peruano, o Larco. Só comi bem em Lima, pois Trujillo que não conhecia, é uma cidade horrorosa e brega, perigosa e com comida idem. O resto foi bem genérico nas excursões a Paracas e Chan Chan. Com exceção da vinícola Cultur Pisco que tem um restaurante que faz jus a tradição peruana de boa comida. E boa bebida!
Não volto ao Peru, já vi tudo que queria ver, já caminhei duas trilhas inca inesquecivelmente bonitas, já vi os principais sítios arqueológicos, vários deles mais de uma vez, já aproveitei as delícias gastronômicas de Lima e já comprei todos os livros de Vargas Llosa que queria. In loco e no idioma original.
Como se diz em espanhol: Ya está! Nunca Jamás!
São Paulo, 28 de junho de 2025
quarta-feira, 11 de junho de 2025
ALEMANHA - MAIO 2025 - FRANKFURT,BERLIM,COLONIA E LEIPZIG
PODEROSA ALEMANHA – MAIO 2025
Voltei a Berlim, onde iniciei o ano me embasbacando com a capital alemã. Agora, na primavera, com um clima um pouco menos rigoroso, admirei ainda mais a arquitetura e a história desta magnifica capital europeia. Especialmente no Gendarmenmarkt, uma das praças mais bonitas do mundo, recém reformada. O amplo espaço que abriga três edifícios espetaculares, com a Opera no meio, é uma ode ao estilo clássico francês que apesar da grandiosidade, não intimida, convida. A aproveitar vistas e espaços cercados pelo meu restaurante favorito, Lutte & Wenger, pelo Newton Bar e por uma sorveteria semi-deliciosa. Os dois hotéis localizados no entorno são os melhores lugares para se aproveitar Berlim de ângulos menos turísticos e estrategicamente localizados para compras no agradável Berlin Mall e acesso confortável ao centro cultural mais sensacional da Europa, que é o novo Humbolt Forum.
O lugar já foi um palácio poderoso, quase totalmente destruído na Segunda Guerra e recentemente reaberto como centro cultural. A fachada principal é deslumbrante em seu esplendor Versailles e o “recheio” é 100% moderno, abrigando vários museus etnográficos, com exibições permanentes e temporárias maravilhosas. Há cinemas, teatros, quase tudo grátis, inclusive os porões lúgubres que têm 800 anos de existência, a única parte antiga que sobrou da construção original. Paguei 7 euros para ver uma mostra de arte e não paguei para ir ao rooftop que tem a vista mais linda de Berlim, pois dá de cara com os museus fenomenais da Museum Insel. Em dia de sol, imperdível. Fica a dica de almoçar no caro e elegante restaurante, deliciar-se com as iguarias bem modernosas, a vista única sem multidão e entrada livre, pois clientes gastronômicos não pagam.
A Alemanha, com poucas exceções, não é destino gourmet e a comida local básica é fraca e o serviço é aquela “luta” de país rico europeu que emprega muito pouca gente. Como há bastante o que ver e fazer, não importa muito. É uma cidade para várias visitas e infinitas descobertas. E caminhadas super interessantes, pois a cidade é plana, fácil e segura.
Estive também por um dia na chata Köln (Colônia), que de legal só tem a divina catedral e o Museum Ludwig (ótimo restaurante) ao lado. Bate e volta de Frankfurt, fácil. Imperdível pela mega igreja que é mesmo uma das mais lindas do mundo, um show de harmonia, sobriedade e bom gosto. Com direito a vitrais icônicos do artista vivo mais valioso do mundo, Gehard Richter. A igreja, apesar de católica, não tem aquele espetáculo brega de santos coloridos e macabros de quase todas as outras. É um lugar de paz, meditação e oração. Grandiosa, mas intimista...
A curta estadia em Frankfurt valeu bastante para quem já esteve no enorme aeroporto tantas vezes e nunca havia, até então, saído dele. Moderna e elegante, é mais para Nova York do que Londres, repleta de engravatados e poucos turistas. Vi um concerto na Opernhaus, como sempre na Alemanha, de qualidade imbatível e preços camaradas. Música é parte da cultura germânica e foi com este espírito que escolhi visitar a terra de Bach, Leipzig.
Leipzig tem história conturbada e sofrida com tantas guerras e dominação soviética, mas é uma fênix oriental, estilo miniatura de Berlim. Acessível, repleta de parques e lagos, música todos os dias nas igrejas e teatros, tudo referenciando Bach e esta cidade onde viveu por tantos anos. Há um museu interessante sobre este grande compositor e ele está enterrado numa bonita igreja ali perto. Sua lápide espartana é parte do altar, uma bonita homenagem a quem compôs músicas celestiais como ele. Claro que concertos ali são uma experiencia de vida, custando nada, ou quase.
A reconstrução de Leipzig é uma das coisas mais impressionantes dali, ora moderno, ora antigo, sempre harmoniosa e de bom gosto. A grandiosa Opera da cidade é outra maravilha antiga-moderna que funciona muito bem. Até o zoológico vale a pena! A cidade é fora de mão, mas se estando em Berlim o trem ameniza a distância e é perto de Dresden também.
Como nada é perfeito, muito menos em viagens, não custa lembrar a incautos brasileiros que o clima, como Berlim, é péssimo 10 meses ao ano. Superando isso, prepare o guarda-chuva, as galochas e casacos e divirtam-se!
Não esquecendo também que o povo da ex-Alemanha Oriental é ainda menos “fofinho” do que todo o resto do país...
São Paulo, 11 de junho de 2025
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