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segunda-feira, 30 de abril de 2012

VIVA A BICICLETA!

AMSTERDAM E A BICICLETA Capital de um dos países mais civilizados do mundo, cerca de 800.000 habitantes. Lugar onde o carro e os bondes cedem passo às milhares de bicicletas que circulam pela divertidíssima Amsterdam, uma das cidades mais gostosas e descoladas do globo. O lindo povo alto e louro, sem capacetes em sua grande maioria, circula com ou sem pimpolhos em bicicletas velhas e pretas, enferrujadas, descascadas e com aquelas bizarras buzinas do “pén pén” de antigamente. Chamam as mesmas, carinhosamente, de “bicicletas da vovó”. São roubadas rotineiramente e deixadas ás vezes caídas pelas calçadas, mas não importa; compra-se outra de fontes duvidosas, por preço de banana. O importante é bicicletar. E ao inferno os pedestres também. Os bikers estão com tudo e não abrem mão de seus espaços conquistados com muita luta, a duras penas, há séculos. Isso e outras coisas fazem da cidade um lugar descontraído e jovem, apesar do envelhecimento geral do continente europeu. Em Amsterdam os velhos são jovens em suas atitudes e modo de vestir. Nada de gente chique e arrumada. Impera o tênis e a camiseta. Terno só para os homens de negócio que operam nas maravilhosas casas de tijolos escuros que margeiam os muitos canais da “Veneza holandesa”. Vida noturna agitada, restaurantes modernosos mas de comida fraca, não importa. A cerveja holandesa é ótima e a Heineken tem até museu; como também as bebidas Bols, matéria prima de drinques vanguardistas. E museu é o que não falta por lá. Há uma enorme praça com os três principais e o “Municipal” de lá, o Concert Gebow: o gigantesco e imponente Rijksmuseum, o Van Gogh e o de Arte Moderna e sua arquitetura espacial. Uma festa! Entre as 10 principais atrações da cidade, de acordo com o guia inglês Eyewitness (aqui chamado de Guia da Folha), 5 são museus. Infelizmente, só pude ver 2, pois o de arte moderna estava fechado. Além do mais, 2 dias inteiros por lá não dá para quase nada. A cidade é muito rica em possibilidades culturais. O Rijksmuseum, um mamute comparável aos imensos Louvre, British e Metropolitan, leva dias para ser corretamente apreciado. Como ele está em reforma e só estará aberto no ano que vem, pode-se apreciar algumas de suas obras principais, como belos e importantes quadros de Rembrant, Vermeer e Frans Hals no pequeno Philips Hall, um anexo que a poderosa firma holandesa de eletrônicos, Philips, patrocinou para que o museu não ficasse sem visitantes por tanto tempo. Lá estão quadros, móveis e objetos importantes da história do país, bem como obras de arte e, é claro, loja. Como os holandeses são e sempre foram espertíssimos para comércio, montaram temporariamente uma outra loja do museu na grande praça em frente, bem como restaurante e banheiros. Tudo moderno, limpo e organizado. No meio, a frase local, tipo I Love New York, que por ali transformaram em “I AMsterdam”. Genial! Mas o máximo em termos de pintura está guardado no Van Gogh Museum, ali ao lado. Vale enfrentar as enormes filas para ver os 200 óleos e mais centenas de gravuras que o museu exibe do famoso e louco pintor holandês. Ele só pintou por 10 anos, produzindo cerca de 900 trabalhos, mas que obras primas! Os 200 do museu são no mínimo espetaculares, tudo bem exposto e explicado. Com o luxo incomparável de, quando Van Gogh se inspirava em outro pintor, por exemplo, seu amigo Paul Gaugin, há um quadro do próprio Gaugin (original, nada de cópia ou foto) ao lado para que o público possa realmente ver as técnicas e influencias principalmente no uso da cor. Os holandeses, grandes pintores, não usavam cores fortes em seus quadros e Van Gogh foi o primeira a fazer isso, pois aprendeu com os impressionistas franceses, seus contemporâneos, vivendo na França e lá morrendo, por vários anos. Sua vida foi uma tragédia indescritível, mas seu legado é emocionante e toda sua tortura interna e o deslumbramento que sentia pela arte japonesa estão expostos em sua obra. A influência japonesa deu frutos e o Japão financiou uma ala nova do museu, em estilo moderno japonês, para exibições temporárias. Havia quando visitei uma sobre Simbolismo, muito interessante. De novo, com as comparações didáticas entre pintores e mais um show de obras originais para se analisar influencias. O museu Van Gogh é permanentemente lotado e isso pode ser um tanto irritante. No entanto, o conteúdo e a maneira como tudo é organizado e bem explicado minimiza a turba ignara. Há um bom café para descanso das longas caminhadas museológicas. Aliás, caminhar é o melhor para se conhecer a cidade. É fácil alugar bicicletas, mas os detalhes da arquitetura e estilo de vida local são melhores observados a pé. Ou de barco, nos bons passeios oferecidos pela empresa Blue Boat. Até mesmo numa roda-gigante, coisa que fizemos na praça principal, a Dam, pois ali montaram um parque de diversões para a comemoração do dia mais baladeiro de Amsterdam, o Dia da Rainha. É só festa e a Dam, onde estão importantes monumentos como igrejas e Palácio Real, fica totalmente lotada e obscurecida pelo tal parque. Mas ideal mesmo é voltar numa época sem a tal festa para observar e curtir a praça sem os barulhentos brinquedos do parque. A Oude Kerk, a mais importante e antiga igreja da cidade, fica ali perto, no famoso Red Light District. Famoso pelas prostitutas expostas em vitrines, como se fossem peças de carne em açougue. Interessante e diferente, mas um tanto deprimente. Visita imperdível pois só em Amsterdam se pode ver isso e o tal comércio é setorizado: moças asiáticas numa rua, negras em outra, velhas mais ali adiante, gordas acolá, russas na esquina e por aí vai. Junto com as lojas de maconha e outros que tais. O que torna o cenário ainda mais intrigante é o fato de tudo ser legalizado, seguro e pelo menos aparentemente, encarado com naturalidade pelos holandeses; que estão sempre entre os povos mais liberais e tolerantes do mundo. Para um pouco de paz do barulho e agitação das ruas e canais, uma visita a Begijnhof, uma pracinha central, ajardinada e florida, mas escondida, é recomendada. Lá está a casa mais antiga da cidade e a arquitetura das casinhas é adorável. Vibrações do filme baseado na vida do genial pintor holandês Vermeer, “Garota com o Brinco de Pérola”, estrelado por Scarlet Johansson. Há lojas para todos os gostos e bolsos, o comércio é ebuliente e bem distribuído, tendo a P C Hoofstraat como centro chique, com todas as marcas luxuosas ali representadas. O que não impede que lugares como o café Maxime, bem simples e francês, lá se estabeleça, oferecendo pratos simples e bem feitos. Mas gastronomia não é o forte da cidade. Além do Maxime fomos ao descolado George e ao Zinc e nada agradou muito. Fuja das vária churrascarias argentinas abertas no rastro da popularidade da princesa Máxima, argentina plebéia casada com o príncipe herdeiro holandês.Tampouco arrisque a comida típica, um festival de itens fritos que tem nas “bitterbalen” sua estrela máxima. São horríveis croquetes super engordurados, grandes. Quando a vítima-turista morde um deles, esperando um croquete, digamos, depara-se com um líquido cinzento, de procedência duvidosa e pavorosa consistência. Horrível... Como Amsterdam tem muito a oferecer, esqueça a comida e aproveite o resto. Boa maneira de perder peso. Bem, nem tanto. A torta de maçã típica é ótima e o Café Sucre oferece mini docinhos deliciosos. E a cerveja... Voltarei no ano que vem para conferir a reabertura do Rijksmuseum, a glória do de arte moderna, para curtir mais os canais, as tulipas e a alegria do povo holandês, que depois de mexicanos e brasileiros é, seguramente, o mais simpático e bem-humorado do planeta. Zurique, 30 de abril de 2012

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