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quinta-feira, 8 de novembro de 2012

NOVA YORK 2012

NOVA YORK – 3 dias depois do FURACAO SANDY Pensei que não poderia voar de Zurique ate a Big Apple, viagem programada há mais de um ano, muito esperada, visto que NYC é a minha cidade grande favorita e estive aqui há quase 2 anos. Mais do que na hora de voltar! E voltei, chegando no dia 01 de novembro de 2012 e partindo no dia 06. Pouco tempo, mas de qualidade. Certo que não pude ir ao Ground Zero ou finalmente aprender a usar o metro, coisas que tinha na lista do que fazer lá. A cidade estava limitada por tuneis e pontes fechadas, falta de combustível, transportes parcialmente suspensos, taxis raros e fornecimento de energia comprometido, ruas fechadas e lojas idem. Mesmo assim, o lugar continua sendo o máximo; feia e suja, louca e interessantíssima. Apesar da volta dos mendigos e sem-teto, coisa que eu não via por ali há mais de 10 anos. Movimentos de gente protestando contra os caciques de Wall Street por toda parte. Uma Nova Iorque sofrida e muito politica. A proliferação de camelôs também anda intensa e o pior mesmo são as inúmeras barracas de cachorro quente e “churrasquinho de gato”, estilo americano, árabe, grego. O cheiro é insuportável, fumaça nauseante, o visual péssimo. Até em frente à Apple, lugar nobre da cidade, as horrendas barracas-trailer enfeiam e emporcalham tudo. Resultado desastroso da recessão americana que já dura mais de 4 anos. Na véspera da eleição presidencial, na mesma semana do furacão cujo impacto foi semelhante ao ataque de 11 de setembro as Torres Gêmeas. Contudo, este “empobrecimento” da metrópole deu espaço a uma espécie de humanização da mesma; na forma de ciclovias, ruas só para pedestres e canteiros com flores. As charretes com cavalos que sempre foram marca da área do Central Park, bem em frente ao Hotel Plaza, se juntaram bizarros riquixas. Sim, isso mesmo. Em vez de bestas de carga, seres humanos pedalando e levando as pessoas pelas gigantescas avenidas. Parece coisa da Ásia, mas não é. Mais uma maluquice nova-iorquina, licenciada pela não menos maluca prefeitura local. Como diz o velho ditado popular, “o mundo gira e a Lusitana roda”, e no rodar o vento levou o luxuoso e tradicional Hotel The Pierre. Continua no mesmo lugar, mas virou indiano, propriedade da cadeia de hotéis Taj. É o terceiro mundo invadindo tudo, do luxo ao lixo e por que não, também humanizando o lugar? Como a cidade é grande e oferece muita coisa, sou da opinião que se deve focar em algo especifico e não ficar tentando fazer tudo, aproveitar cada minuto alucinadamente. Se a sua praia é vida noturna e gastronomia, invista só nisso; se for museu vá fundo na enormidade cultural que a cidade tem a oferecer. Compras? Arraste sacola até morrer! Eu me concentrei nos teatros e cinemas, em casual dining e muitas caminhadas pelas ruas um tanto vazias da metrópole. Cheio mesmo só o Times Square, agora realmente uma praça com transito drasticamente reduzido e uma alucinante mistura de raças e línguas. O centro do mundo está lá, um espaço de convivência alegre e super vibrante. Vários artistas de ruas se exibem por ali e quiosques vendem de bolsas Vuitton falsas a empanadas chilenas. Tudo colorido e organizado e sob os olhos atentos da policia local, a não menos famosa NYPD. A megaloja da Virgin Records foi substituída por Sephora, Disney e Microsoft. Além de McDonald’s e M.A.C. A maratona cancelada um dia antes, a cidade cheia de atletas profissionais e amadores. Os mais otimistas correram mesmo assim e no domingo a cidade ficou colorida de maratonistas que não se deram por vencidos e fizeram metade do percurso pelas ruas e dentro do Central Park. Vitoria da mobilização rapidíssima no Facebook. Pessoalmente, achei a atitude do prefeito Bloomberg muito errada ao cancelar um evento tão importante para a cidade. Dizem ser em respeito às vitimas do Sandy. Então tudo deveria fechar “em respeito” a isso? Decisão politica burra... E os teatros , minha eterna paixão. Nesta temporada, em 5 dias vi 7 espetáculos: Nice Work if you Can Get it, The Book of Mormon e Bring it On na categoria musicais. Não sou grande fá do gênero, mas estes 3 são geniais. O primeiro, é uma perola clássica da Broadway, estrelando o ótimo Mathew Broderick – sim, o marido da feia e chata Sarah Jessica Parker, infinitamente mais talentoso do que sua pretenciosa mulher. O musical é uma festa com a musica celestial dos irmãos Gershwin e brasileiros com pouco inglês podem ir tranquilos. O texto é leve e o que importa mesmo é a musica e a dança. O mesmo já não pode ser dito do FABULOSO The Book of Mormon, um dos espetáculos mais incríveis e inovadores que já vi em minha longa carreira de fã do teatro. Caro (252 dólares por uma entrada comprada direto na bilheteria do teatro – jamais uso cambistas ou serviços-roubo pela internet) mas vale cada segundo da apresentação. É uma historia louca e irreverente, desconstruindo qualquer religião, por completo, com foco nos mórmons e similares. Para quem é religioso, um choque. Para quem gosta de textos brilhantes, geniais e engraçadíssimos, uma festa! Os tresloucados autores são os mesmos da serie televisiva, South Park. Não precisa dizer mais nada... Mas aviso a brasileiros: não vá sem entender muito bem inglês. Apesar de musical, a coisa toda fica perdida no ar sem boa compreensão da língua. O mesmo vale, em menor medida, para o adolescente Bring It On, uma espécie de Glee versão Broadway. Como a dança e acrobacias, piruetas e saltos fabulosos são onipresentes, o inglês já não é tão importante. Muito adequado a jovens adultos e adolescentes. Apesar da temática semi-infantil, o texto é bom no sentido de expor diferenças sócio-racias de maneira inteligente. Boa musica. Teatro pesado, de verdade, atuação de gigantes, ficou por conta do clássico de David Manet, Glengarry Glen Ross. Difícil, denso e brilhante na atuação icônica de Al Pacino, o texto perfeito se concentra na miséria humana do “tudo por dinheiro”. Vou rever o filme, no qual Al Pacino faz um papel diferente do que faz nesta versão teatral. Também pesada e seríssima, a obra-prima do norueguês Ibsen, An Enemy of the People. Atuação perfeita de um elenco coeso e eficiente, no drama de um medico que luta em defesa da verdade quando ela é extremamente inconveniente para políticos e população de uma pequena cidade norueguesa. Faz pensar na solidão de quem defende suas ideias contra tudo e contra todos. Para contrabalançar, a comedia-sátira Forbbiden Broadway. Hilariante ao parodiar e arrasar os grandes êxitos comerciais do teatro local, como Lion King, Mary Poppins e porcarias do gênero. Mas só tem graça para quem, como eu, já viu muitas das peças e musicais da Broadway. Sem esse “histórico” a coisa toda fica sem sentido. Os 4 atores são brilhantes e o texto muito bom. Finalizando a temporada, The Heiress. Chave de ouro maciço, uma joia do teatro clássico, com as interpretações magistrais de David Strathairn, Dan Stevens (o bonitão Mathew de Downton Abbey) e a divina Jessica Chastain, em minha opinião, a próxima Meryl Streep. Inglês de fácil compreensão. O nome da peça deveria ser: “vingança é um prato que dever ser degustado frio”. Museu desta vez só o Guggenheim, que não visitava há muitos anos e com o qual finalmente me reconciliei. Motivo: exposição preto e branca de Picasso. Valeu a caminhada em dia ensolarado e frio, por cerca de 33 quarteirões. Andaria mais 40 que fosse para apreciar esta mostra de curadoria primorosa, em espaço perfeito. A arquitetura bisonha, em espiral, do museu proporciona a chance de observar as obras “ladeira acima e ladeira abaixo”, o que você não viu bem na ida, vê na volta. E o branco total do grande espaço serviu de cenário ideal para as obras do genial pintor espanhol; todas elas em tons de cinza, preto e branco, dai o titulo da mostra. Nunca me canso de admirar a fertilidade e variedade de Picasso. Tantos estilos, tantas obras, tanto talento. Ali mesmo, numa sala que é acervo do museu, mais 30 Picasos, todos coloridos, um contraste interessante com a exibição temporária. Uma rica família alemã que doou os mesmos e mais alguns precisos impressionistas franceses ao museu. Nada como ter grana... Alguns Kandinsys em outra sala especial, para quem gosta um prato cheio. Tudo isso contrasta e reduz a pó a mostra paralela de “arte contemporânea”; que nada mais é do que lixo reciclado se comparado aos Picassos, Monets, Gaugins, Van Goghs e outros fulanos que realmente sabiam pintar e elevar o substantivo “arte” a um alto patamar. As “novas aquisições’ da tal arte contemporânea não valem uma missa. Pensando bem, nem meia... Cinema para fugir do vento gelado e só dei sorte: Argo, genial, The Sessions, lindo e triste, Flight , eletrizante e mais triste ainda e o melhor, um filme sueco, uma poesia visual que emociona incrivelmente, Simon and the Oaks. Gastronomia ficou em segundo plano nesta visita a NY. Só 2 passadas por 2 filiais do Serafina. Uma para brunch e outra para almoço. Ambos ótimos. P.J. Clark’s desta vez decepcionou e perde p o cheeseburger de nosso Ritz paulistano. O DB Bistro Moderne continua correto e serviço perfeito. O mesmo vale para o Benoit. Também pudera, os dois pertencem a dois ícones da cozinha francesa, Daniel Bolud e AlainDucasse. E a besteira brasileira de dizer que os restaurantes de São Paulo são mais caros que os de Nova York continua não colando. O almoço no P.J. Clark’s (o cheeseburger Cadillac de lá, menor do que o da filial paulistana e um copo de vinho estão em 100 reais), por exemplo, sai quase o dobro do Ritz. E a casa paulistana tem serviço melhor. Roupas e eletrônicos, as amadas “compras” dos brasileiros, isso sim, são bem mais baratas do que no Brasil. Mas continuo batendo na velha tecla: somando a cara passagem aérea para Nova York, os hotéis caríssimos e comida idem (sem falar dos preços dos teatros), NÃO vale a pena do ponto de vista financeiro. O que vale é a experiência única de se estar no centro do mundo, da loucura e fascínio das ruas, da gente, dos excessos, brilho, luxo, diversão, cultura. As coisas que fazem da cidade o lugar mais diversificado do planeta, uma São Paulo rica e semi-civilizada, impossível de domar ou definir com precisão. A fênix que se renova e luta contra os malvados de toda espécie, sejam eles terroristas ou climáticos. O resto é falatório... Nova York, 6 de novembro de 2012

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