Translate

quarta-feira, 25 de junho de 2014

NEW YORK - VERÃO 2014

New York – verão 2014 Verão só é minha praia na praia mesmo e há muitos anos não retorno à minha amada Nova Iorque nesta horrível estação quente, cheia de gente cafona. Sim, não é ranzincise e sim fato: as férias americanas começam e com ela vem as horadas de obesos, crianças e adolescentes mal vestidos, barulhentos e cretinos. Como esta cidade é incrivelmente interessante, dá para superar o incomodo em um dia. O primeiro impacto do calor de 32 graus do primeiro dia, o fedor pavoroso das ruas, as multidões e o transito impossíveis, se foi logo que reaprendi a não andar pela 7 e Broadway para ir aos teatros, evitando a plebe ignara. A temperatura amenizou no segundo dia e agora é tudo sol e variações prazenteiras entre 27 e 16 graus. Civilizado. Na área cênica vi Bryan Cranston, o infame e famoso Mr. White da serie Breaking Bad, em atuação magistral na peça All The Way. Ele faz o papel do ex-presidente americano Lyndon Johnson e brilha por quase 3 horas no palco. Fala com perfeito sotaque texano e parece incorporar o politico. Nunca vi atuação igual. De certa forma, estragou um pouco minha grande expectativa de ver Michael C. Hall na ótima peca The Realistic Joneses. Ele é divino, mas empalidece perto de Bryan Cranston. Mençãohonrosa a Casa Valentina e seu texto extremamente inteligente. Nada como ver a historia baseada em fatos verídicos, de 7 homens que gostavam de se vestir de mulher, nos idos dos anos 60, negando que eram homossexuais. A maior parte deles, casados. Filmes magistrais como Words and Pictures e o ultimo, denso e absolutamente sensacional Polanski, Vênus in Fur, serviram de introdução à obra-prima de Clint Eastwood, Jersey Boys. Do divertido, mas brega musical de mesmo nome, o genial diretor fez um filme delicado, sensível, com fotografia em tons de sépia. E ao mesmo tempo violento, focando a relação de Frankie Valli e seu grupo Four Seasons com a Máfia. Uma espécie de Good Fellas com musica e coração! E o estomago fica por conta do divertido, delicioso filme francês, Le Chef. Nos 3 cinemas que adoro na cidade: o Paris, colado ao Plaza, o Ziegfeld majestoso perto do MoMa e o pulgueiro em frente ao Lincoln Center. Gastronomia em alta e preços em baixa. Há alguns anos decidi não investir em restaurantes caros em Nova Iorque, pois vou muito a Europa e nada se compara. Sem mencionar o serviço americano, sempre apressado e estressado, com os garçons sempre querendo enxotar os fregueses, trazendo a conta antes da hora e pronunciando a suprema inanidade: ready when you are. Traduzindo: estou pronto para você pagar e se mandar daqui! Por essa e por muitas outras continuo indo ao P.J. Clarkes’s do Lincoln Centre, ao Benoit e agora voltarei ao Bar Bolud. Nunca havia estado neste ultimo e comida + atendimento me impressionaram. Com gorjeta generosa você come 3 maravilhosos pratos com couvert e dois copos de bom Beaujollais Village (perfeito tinto para dias quentes) por 80 dólares. Com cappuccino para arrematar. Ambiente alegre, Luísa Brunet sentada na mesa ao lado. É um dos poucos restaurantes da cidade que conta com mesas agradáveis na calcada. Com o Benoit, finalmente Alain Ducasse acertou na mosca difícil de alvejar no cenário gastronômico da Big Apple. Bom, bonito e barato. Comida francesa clássica, sem frescura. Muitos franceses genuínos no serviço e na clientela. Bom sinal. P.J’s continuo indo pelo melhor cheeseburger do mundo, mas o “zoológico” nova iorquino do verão não poupa o lugar, bastante barulhento. Não afeta os gracos muito simpáticos e experientes. O croque monsieur do Cognac continua leve e delicioso e o China Grill brilha na adaptação de clássicos americanos aos toques asiáticos: Caesar’s Salada com castanhas de caju e molho picante, crab cakes com ovos Benedictine com toques fortes de mostarda acompanhado de arroz frito e cinco vegetais. Arrematando, a monstro-sobremesa The Great Wall; maravilha imensa de sorvete, banana e caramelo. Bom demais... Novidade para mim foi o pequeno e charmoso Caffe Grazie,na 84, perto do Metropolitan e quase esquina com a Madison. Fritata de aspargos deliciosa e o melhor tiramisu que já comi na minha vida. O lugar existe desde 1993 e vive lotado. Mas o serviço gentil não discrimina e aceita comensais sem reserva numa boa. Coisa que nesta região chique de Nova Iorque não é tão comum. Serafina Broadway lotado, muita gente interessada no telão mostrando o jogo Italia VS Uruguay. Para os amantes dos musicais, dois deles brilham de forma muito especial: Lady Day at Emerson’s Bar and Grill e A Gentleman’s Guide do Love and Murder. O primeiro é sobre a grande cantora Billie Holiday e o desempenho de Audra McDonald é sensacional. Para quem gosta de jazz, um prato cheio. O outro, uma espécie de Downton Abbey amalucada, divertidíssima e com elenco e figurinos espetaculares. O ator principal, Jefferson Mays, desempenha oito papeis e é incrivelmente perfeito, engraçadíssimo, em todos eles. As duas cantoras são lindas e suas vozes, celestiais. O toque histórico cultural ficou com a NeueGalerie e sua exposição sobre Arte Degenerada, ou o que o infame Adolf Hitler considerava depravado. O que não o impediu de saquear museus e confiscar tudo em beneficio próprio. Parte do confisco é o que vi nesta imponente exposição na belíssima casa que já foi de uma Vanderbuilt e agora virou museu especializado em arte alemão do inicio do século 20. Bonita e chique, a NeueGalerie é um capricho do dono da multimilionária marca de cosméticos, Estée Lauder. Interessado em arte, Ronald Lauder comprou esta linda mansão na Quinta Avenida e lá exibe arte que lhe apetece. Deve ser muito bom ter tanta grana para se dar a estes luxos e contribuir para o patrimônio cultural de onde se vive. MoMa sempre, desta vez com mega retrospectiva sobre nossa Lygia Clark. A outra visita, que venho adiando há mais de 12 anos, foi ao Ground Zero, lugar das finadas Torres Gêmeas. Como eram minha referencia do aeroporto até Manhattan, eu sempre sabia que estava chegando à minha amada cidade ao avista-las. Pela ultima vez em abril de 2001. Nunca mais. Alguns anos antes, com meu ex-marido e filhas pequenas, visitamos as torres por fora e “deixamos para depois” um jantar no Windows on the World e uma visita ao observatório. Afinal, ”eles sempre estariam lá” e não faltaria oportunidade. Pois faltou. Dentro do museu, extremamente comovida, vi a placa do restaurante. Foi o que sobrou.... O memorial e o museu são belos e tristes. Fontes negras nos buracos dos dois edifícios e os nomes das quase 3000 pessoas que ali morreram. Chorei do começo ao fim da visita. O museu é acachapante e está muito bem montado. O pouco que sobrou esta lá, vídeos, fotos e mapas contam a historia da tragédia americana que matou gente de 90 países. Pague os 24 dólares do ingresso, encare as longas filas, se emocione com o lugar e a maravilhosa torre futurista, quase pronta do One World Trade Center e lembre-se de que Nova York não é só compras e gastronomia. É antes de tudo o centro do mundo, um vértice de culturas e o reflexo alucinado de um país poderoso e complexo como os meus queridos Estados Unidos da América. New York, 24 de junho de 2014.

Nenhum comentário:

Postar um comentário