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sábado, 18 de novembro de 2017
ISRAEL 2017
ISRAEL 2017
Minha primeira vez a um país que amei desde meus primeiros passos ali, no aeroporto de Tel Aviv, onde fui muito bem recebida. E de onde saí triste por deixar um lugar tão rico, intrigante, interessante, misterioso e improvável como este minúsculo país do Oriente Médio. É a Terra Prometida. E muito mais! Berço das religiões mais importantes da terra, lugar disputado, ferido, sofrido e apoteótico. Hoje em dia um mix fantástico de tecnologia digital, agricultura moderníssima no deserto e suas resultantes frutas maravilhosas. A luta de um povo que habita a região há mais de 3000 anos. Um país onde se deve ficar por, no mínimo 15 dias. Jerusalém reza, Haifa trabalha e Tel Aviv se diverte; a essência das principais cidades do país.
Um país onde Deus “se sente em casa”.
Amei Tel Aviv, a luz do deserto mesclada à do Mediterrâneo muito azul e as praias de areia branca. Uma cidade divertida, informal, de arquitetura indefinida e deliciosa para se caminhar. Junto com sua parte antiga, Yafo, é uma cidade praiana das mais agradáveis. O Museu de Arte é maravilhoso, bem como seu restaurante, o Pastel. O bizarro nome esconde sofisticadíssima comida mediterrânea. De Haifa só vi grandiosas vistas dos jardins Bai’Hai e a beleza do pouco que sobrou de Caesarea, a cidade dos Césares romanos a beira mar. Acre, perto dali, dá um show de fortaleza bem preservada e contínuas escavações fabulosas. Cenário do filme clássico de Hollywood, Exodus.
Em Nazaré começou nossa parte cristã escondida em feia vizinhança árabe e pobre, uma bagunça suja e bem diferente dos lugares anteriormente mencionados e de certa maneira uma “preparação” para a feiura e pobreza de Belém, esta última localizada em território legalmente palestino hoje em dia. Não importa, pois estes dois lugares são vitais para a história cristã e suas igrejas são locais sagrados de peregrinação. E filas, longas filas. Que podem ser evitadas pela contratação de guias competentes que sabem os horários e dias de menos movimento. Para quem quer rezar em paz, um recurso dos mais importantes. As duas igrejas foram construídas sobre os lugares sagrados que menciona a Bíblia e servem de monumento às singelas cavernas onde Jesus nasceu e onde o anjo Gabriel falou à Virgem Maria que ela teria Jesus, filho de Deus. Mais importante, impossível. Para os peregrinos dispostos a caminhar a Trilha de Jesus, 65 km de Nazaré a Cafarnaum, a Basílica da Anunciação é o ponto de partida. Assim com é a cidade de Nazaré para os lugares mágicos que margeiam o Mar da Galileia.
Que na Bíblia era mar, mas é de fato um lago belíssimo, de águas azuis e transparentes. Um lugar de paz e contemplação, onde Jesus fez o Sermão da Montanha, multiplicou pães e peixes e a casa de São Pedro está escondida em uma feia igreja moderna, cercada de belas ruínas de uma sinagoga bastante antiga. O Monte Tabor, aquele mesmo da transfiguração de Cristo, domina a região e dá um toque solene á paisagem. As ruinas romanas de Beit She’an valem horas de visita e as possibilidades de trekking e vistas impactantes são imperdíveis. Como Tiberíades tem as melhores opções de hospedagem na área, um pernoite ali é quase obrigatório, mas ignore a cidade que nada de interessante parece oferecer.
Passear de barco por ali é uma delícia e se ganha até certificado cafona de se ter navegado no “barco de Jesus”. Coisas bobas de lugares que atraem turistas, aos milhões, dos quatro cantos do planeta. Para mim, fora o lago lindo e cheio de boas vibrações, os dois lugares onde pude orar cercada de verde, austeridade e paz, foi no mosteiro beneditino em Tabga, lugar que preserva o sagrado da pedra onde Jesus multiplicou comida e o Monte das Beatitudes, onde uma igreja administrada por sérias freiras franciscanas faz toda a diferença com seu jardim, vistas e muito respeito à lugares de oração. De certos pontos do lago, avista-se as colinas de Golã, do lado sírio e libanês. Fronteiras proibidas, guerra por todos os lados. A apenas 100 km da paz do lago, lutam ferozmente os conflitos da Síria e pensar no quão somos abençoados de estarmos do lado “certo” das montanhas, é seguramente um bom ponto de reflexão.
Minha excursão não visitou mesquitas e nem sinagogas, foi um tour mais focado nos lugares cristãos. Há opções para todos os gostos e bolsos e entender Israel, é, antes de tudo, entender este sincretismo religioso e a importância politica do país. A história de Israel está bem representada na noite em que passamos em um kibutz, lugares de fazendas coletivas, onde os fundadores deste jovem país tão antigo inventaram a improbabilidade e sucesso deste pequeno gigante do Oriente Médio.
Contudo, não há nada mais representativo deste país do que a eterna e universal Jerusalém. O Reino dos Céus tem ali seu conturbado quartel-general e uma visita de pelo menos uma semana é apenas um auspicioso começo de uma aventura pela história muito rica dos seres humanos. Um lugar de onde saíram pessoas e histórias que mudaram totalmente o destino da humanidade. Jerusalém foi destruída e reconstruída várias vezes e a Cidade Antiga e seu famoso Monte do Templo são a melhor síntese desta febre de reconstrução e afirmação de poder e crença. Andar por suas vielas e mercados é fascinante, visitar e rezar no Muro das Lamentações e caminhar por seus túneis subterrâneos e milenares são apenas o começo de uma aventura que leva o visitante ás inúmeras colinas sobre as quais a velha-moderna Jerusalém está edificada. Museus incríveis em tamanho, diversidade e qualidade como o Museu de Israel, concorrem com as vistas infinitas da Universidade de Jerusalém, pela pompa de sua sede de governo, o famoso, Knesset e suas ruas parecem, em certos pontos, viagens no tempo, por cidades e guetos do leste da Europa, na seriedade e conservadorismo da vestimenta dos judeus ortodoxos, que hoje já são mais de 400 000 pelo país. Aqueles mesmos dos casacos pretos e quentes, dos chapelões negros, dos chalés de oração, das mulheres de perucas e muito filhos por família.
A tristeza e magnitude do Yad Vashem, memorial do Holocausto consegue ser mais tocante do que uma visita a Auschwitz ou ao Centro de Documentação do Nacional Socialismo na Alemanha. A única vela refletida por inúmeros espelhos no memorial as mais de um milhão e meio de crianças mortas em campos de concentração nazistas, fala mais do que mil palavras.
A Igreja do Santo Sepulcro foi o ponto do circuito cristão que mais me impressionou, pela força de sua história, beleza e sisudez da igreja ortodoxa grega que domina o lugar e riqueza de experiências, como a tumba de Jesus, o lugar onde seu corpo foi lavado, a Pedra do Gólgota, lugar da crucificação e a capela de Santa Helena, onde a cruz ficou guardada por algum tempo. Tudo isso parede a parede com uma mesquita, com uma igreja ortodoxa russa, com o mercado, com o suco de romã fresco preparado na hora, com os mercadores árabes, com os passos da Via Crucis. Não dá para dormir à noite com tanta informação e estímulo e nem parar para pensar no que se está vendo, testemunhando, sentindo, cheirando. A intensidade da experiência é sem paralelo, mesmo para turistas muito experientes como eu.
Volto a Israel um dia, me divertirei com a alegria de Tel Aviv, do Mar Morto, hei de me impressionar com Massada, mas é em Jerusalém que ficarei mais. Para tentar entender o emaranhado fascinante de civilizações e crenças. E por que não, os rumos futuros dos israelenses?
Shalom!
Zurique, 18 de novembro de 2017
JORDANIA E PETRA - 2017
JORDANIA E PETRA – 2017
A Jordânia tem bem mais a oferecer do que Petra, mas é para lá que os turistas se dirigem, atraídos como moscas ao mel por um dos sítios arqueológicos mais fascinantes do planeta. A capital Amã é bem interessante, uma maneira light de conhecer um país árabe que, até agora, tem conseguido conviver mais ou menos pacificamente com seus turbulentos vizinhos no Oriente Médio. Meu conselho seria evitar cruzar as fronteiras entre Israel e Jordânia, como eu fiz há uns dias. É tudo extremamente burocrático, tenso e demorado. E pelo o que a Jordânia tem a oferecer em termos de história e tradição, vale uma visita exclusiva, de no mínimo 10 dias. Das principais capitais europeias é um voo de 3 a 4 horas e também pode ser alcançado dos EUA. Portanto, faça as malas e passe três dias na região de Amã, visitando Madaba e Jaresh, para começar.
A primeira é uma pequena cidade nos subúrbios de Amã e conta com o único mapa da Terra Santa propriamente dita, O resto são relatos bíblicos e os dos Pergaminhos do Mar Morto. Os antigos mosaicos no chão da singela igreja mostram o que foi a região há séculos, com o único mapa pictórico de Jerusalém. Vale a visita ao pequeno museu, bastante claro e didático. Perto dali, a maravilhosa igreja franciscana, moderna e sensacional, plantada em cima do importantíssimo Monte Nebo, encantando pela luz fabulosa do deserto e importância religiosa e histórica. É a Basílica de Moisés, construída em cima de ruínas bizantinas no local em que Moisés viu a Terra Prometida e logo depois morreu. O maravilhoso é que, em pleno século 21 também podemos avistar o que ele viu, em paz e segurança. Dentro da igreja, importantes mosaicos e colunas da construção antiga são parte integral da decoração. Segundo a bíblia católica, é lá que estaria a famosa Arca da Aliança.
No dia seguinte a cidade de Jaresh, um pouco mais longe de Amã, mas passeio bate e volta sensacional por exóticas montanhas cobertas por oliveiras, onde estão as ruinas romanas de Jaresh. Enorme cidade romana que impressiona pelo tamanho e estado de conservação. Anda-se horas e maravilha-se com este sitio arqueológico tão pouco conhecido, comparável aos mais importantes da Itália. Só 30% da cidade está escavada. O resto coberto por areia e terra, coisa que o país não tem dinheiro para empreender.
No sul do país, uma das Sete Maravilhas do Mundo, Petra. Uma cidade gigante que os Nabateus, cerca de 100 anos antes de Cristo construíram no mesmo deserto que o inglês Lawrence da Arábia tornou famoso. As formações rochosas que são a muralha natural da cidade, lembram muito a dos parque do Arizona, nos EUA. As cavernas onde viviam e enterravam seus mortos são versões das que encantam na Capadócia, Turquia, mas em rochas vermelhas e rosadas na Jordânia. Os monumentos são comparáveis aos do Egito, portanto o custo-benefício é imbatível: três países na Jordânia! Formações rochosas do Bryce Canyon e da Capadócia, mescladas a templos do nível Luxor e Abu Sibel no Egito.
É indescritivelmente bonito e foto alguma faz jus à importância e beleza únicas do lugar. Para quem gosta de natureza, trekking e história, é o paraíso! Pode-se passar fácil quatro dias caminhando por tudo e hospedando-se em bons hotéis da cidadezinha que dá suporte ao local. Imperdível o programa turístico Petra by Night, onde se caminha os dois quilômetros à luz de velas, que levam ao Tesouro, monumento-cartão-postal de Petra. Show singelo de som e luz, tudo autentico e simples, uma energia mágica sob as estrelas e o céu abençoado do deserto.
Ver para crer . E voltar sempre. Se não em presença física, eternamente na memória. E no coração...
Zurique, 18 de novembro de 2017
domingo, 8 de outubro de 2017
BUENOS AIRES REVISITADA - E AMADA - EM 2017
BUENOS AIRES – FIM DE INVERNO 2017
Fria, muito vento, depois chuva torrencial. Nada que prejudique o prazer de 6 dias na capital argentina; mais limpa, mais otimista, alegre. Até o velho Caminito, a Boca, está sendo renovada e o museu PROA estará assim mais bem localizado. As exposições do PROA continuam ótimas e uma série de 13 vídeos-protesto, estrelada por Cate Blanchett foi uma experiencia única, diferente e sensacional.
Também sensacional continua a comida argentina, principalmente para doceiros, vinheiros e carnívoros como eu. Os clássicos Cabaña e Tomo I seguem imbatíveis, bem como os cafés Tortoni e Biela, além do agradável café-resto Croque Madame, do museu Amália de Fortabat em Puerto Madero. O ambiente, cozinha e serviço do Elena estão melhores do que nunca e a novidade ficou por conta do Lalo de Buenos Aires, tradicional e autentiquíssima churrascaria portenha. O Lalo foi dica de um nativo sempre em busca de autenticidade. Segundo ele, a velha casa foi resgatada pela comunidade teatral da região da avenida Corrientes, que achava uma lástima o Lalo fechar as portas e dar espaço a cadeias de fast food e porcarias do gênero. Para quem quer comida verdadeiramente local, este restaurante é o legítimo herdeiro do bom Arturito, cujas portas se fecharam definitivamente no ano passado. O Lalo também conta com os garçons mau humorados e a clientela quase toda argentina, como o Arturito.
Por acaso, descobri um alfajor ainda melhor do que o Cachafaz; Honnecker. Num quiosquinho do Pátio Bullrich. Os conitos e biscoitos de limão desta biboca-chique são também divinos.
No campo cultural, a grande novidade está na abertura definitiva este ano, do magnífico CCK, um gigantesco e estarrecedor centro cultural, na antiga sede dos correios. O prédio é belíssimo, está muito bem restaurado e oferece vários espetáculos musicais gratuitos. Vi um lindo concerto vespertino ali, sem pagar nada. Há biblioteca, espaços variados de exposição, cursos, café. Imperdível.
Assisti peças interessantes e até teatro alternativo desta vez. Mas o divertido mesmo foi Sugar, versão argentina do musical americano e Rock of Ages com elenco muito jovem e animado valeu o arriscado da proposta. Meu fanatismo por teatro é tanto que justifica a hospedagem no centro de Buenos Aires, longe da minha amada Recoleta e das atrações de Palermo e bairros mais descolados da cidade. Desta vez fiquei no grande e movimentado Hotel Panamericano, excelente custo-benefício na avenida Nueve de Julio. Foi a única coisa “barata” em Buenos Aires. O real está bem cotado em relação ao pesa, mas…. Nossa velha e bem conhecida inflação aumentou bastante até os preços dos baratíssimos táxis da cidade. Compras bem caras, restaurantes mais caros ainda; Buenos Aires não é nenhuma pechincha. Infelizmente. Trocar dinheiro, no entanto, ficou bem mais fácil e civilizado e não há mais o longo drama de copiosos formulários e documentos.
O único prazer não-pago a peso de ouro continua sendo caminhar pelas ruas prazerosas da cidade e seus inúmeros parques. ” Para o ano”, veremos, a prefeitura promete total reforma da avenida Corrientes, com bastante espaço para pedestres e menos para veículos. Ver para crer.... Os aeroportos continuam péssimos. Maldição latino-americana!
São Paulo, 08 de outubro de 2017
domingo, 3 de setembro de 2017
PRAIA DA PIPA 2017
PRAIA DA PIPA – 2017
Nada melhor do que uma escapada de 9 dias, em pleno escuro, frio e garoento inverno paulista, rumo a gloria ensolarada do Rio Grande do Norte. Região de Tibau do Sul, um paraíso de sol e vento, temperatura perfeita para curtir praia e nem sequer precisar ligar o ar condicionado para dormir. A brisa do mar se encarrega da ecológica refrigeração.
Por indicação de amigos nos hospedamos no Hotel Ponta do Madeiro, na praia de mesmo nome. A dica é maravilhosa, pois o hotel, pertinho da agitada Pipa, conta com uma praia particular, super preservada. O agito fica num canto e a praia do Madeiro, bem longe. Numa linda mistura de falésias, vegetação protegida por uma reserva ecológica particular, dunas enormes, areia fofinha. Mar agitado em frente ao hotel, mais calmo e verdinho uns poucos passos em ambas direções. Golfinhos mergulhando por toda parte.
O Ponta do Madeiro é um hotel simples, sem luxos, preços honestos e bons apartamentos. Piscina ampla, lugares charmosos para massagens, um restaurante bastante profissional e um serviço nota 10, completam a moldura de férias muito tranquilas. Compensa as 5 horas de viagem de São Paulo até lá. Alugar carro para os múltiplos passeios que a região oferece pode ser boa ideia para os muito agitados, mas para quem pede descanso, o hotel tem boas vans para transferes ao moderno e bonito aeroporto de Natal. Também oferece transporte regular à Pipa e a Tibau do Sul. O único ponto negativo do hotel é não ter acesso fácil a praia. Infelizmente, é necessário encarar 196 degraus até o mar...
A equipe muito bem treinada do Madeiro, faz tudo para minimizar o esforço, mas só mesmo a instalação de um elevador funcionaria. Não há como cavar uma estrada com acesso a carros até as praias; tudo é área de preservação ecológica. E a reserva privada de um investidor francês, ali pertinho, pode ser visitada e oferece trilhas lindas em meio à vegetação exuberante, macaquinhos pululantes, lagartos enormes e pássaros coloridos.
A vila de Pipa é um lugar interessante, com aquela arquitetura bem brasileira e desordenada que domina os povoados turísticos de boa parte do Nordeste. Oferece muitas lojas, mercados, serviços, agências de turismo, bares e restaurantes; além de pousadas em vários graus de preço e conforto. Boa parte dos lugares para hospedagem mais caros, espaçosos, modernos, confortáveis e exclusivos, estão longe dali, como é o caso do hotel Ponta do Madeiro, cerca de 3 quilômetros do burburinho. Pipa serve mesmo para compras e restaurantes, caso do Tapas, excelente custo-benefício em comida transadinha asiática. O restaurante do caro e charmosos hotel Toca da Coruja é muito romântico, mas o preço em relação à comida deixa a desejar. Querendo gastar mais de R$ 150,00 por pessoa, o melhor mesmo é o delicioso Ú Bistrô localizado no ultra bem decorado e escondido hotel Marlin’s. Cozinha caprichada e delicada, ambiente acolhedor.
Passeios imperdíveis: de bugue até Sibaúma e arredores (o restaurante Solimar é fraco e o melhor é fazer o passeio e voltar para comer em Pipa) e a estrela da coroa, a lagoa-show, Guaraíra e o “barco da francesa” que faz toda a diferença. Este último é uma embarcação singela, mas limpa e super bem organizada, que leva os turistas em 6 horas de puro deleite, às múltiplas belezas da maior lagoa do Nordeste. Visuais incríveis, open bar com caipirinhas divinas, comida ótima e fartíssima. Tudo a R$ 200,00 por pessoa. Vale cada centavo.
A praia da vila de Tibau do Sul é linda, bem na lagoa Guaraíra e as honestas lagostas e cocadas com doce de leite da singela Barraca Arco íris completam o dia. Estas praias ao norte de Pipa podem ser caminhadas da praia do Madeiro, na maré baixa. Um desfile de maravilhas que só mesmo nossa imbatível costa brasileira pode oferecer!
E para quem quiser mais da costa e dispor de tempo e caixa, a viagem de 2 horas por boa estrada até João Pessoa, é uma boa opção. Minha capital nordestina preferida; limpa e organizada, tem um centro histórico organizado e o Centro Cultural São Francisco é um dos pontos principais. Bastante história e boa comida na capital paraibana. Uma das casas-estrela é o restaurante Roccia e sua cozinha bem diferente e variada. Nos locupletamos com raviólis de caranguejo e carne de sol, picadinhos fumegantes e sobremesas que mesclam chocolates a frutas locais e farofa de coco. Para comensais mais ousados, várias versões de carne do bode estão disponíveis. Tudo chique e bem apresentado.
O tempo foi pouco para explorar a beleza do Rio Grande do Norte. Mais uma razão para voltar em breve...
São Paulo, 03 de setembro de 2017
Para Alcyr Alcantara. A quem devemos o prazer da descoberta “MADEIRO”.
segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017
PERU 2017 - RESTAURANTES DE LIMA, AREQUIPA BONITA,COLCA DESLUMBRE
FIESTA PERUANA 2017
Restaurantes estrelados em Lima, a beleza branca de Arequipa e a maravilha que é o Colca Canyon (Cañion del Colca)
Programão passar uma semana em Lima curtindo a cidade e os restaurantes famosos. Mas vale a pena voar 5 horas até o Peru, só para isso? Vale, mas o ideal são 15 dias entre Lima, Arequipa e o cânion do Rio Colca. Aqui segue o porquê:
1. Lima tem muito mais do que gastronomia a oferecer.
2. Arequipa é ainda mais interessante do que Cusco, mais barata e menos turística.
3. O Colca Canyon é duas vezes mais profundo do que o Grand Canyon, lindíssimo, verde, cheio de pássaros raros e paisagens deslumbrantes.
Pois bem, comecemos por Lima.
Grata surpresa, esta escala de vida inteira revelou-se uma metrópole divertida e multifacetada. A começar pelo centro histórico, muito bem preservado e limpo; coisa raríssima na América Latina, onde até o belo centro de Buenos Aires, a ex-Paris dos trópicos, está feio, sujo e caído. Não Lima. Plaza de Armas perfeita, jardins impecáveis, nada de multidões impossíveis travando tudo. A Catedral e o Convento de São Francisco são um show de riqueza e história e a visita guiada às catacumbas do convento é imperdível. Só o centro vale um dia inteiro de roteiros a pé. Uma outra tarde percorrendo museus AMANO E LARCO, compactos e adoráveis. O MALI já é maior e requer mais tempo. Mais uma tarde/noite caminhando por Barranco, a Vila Madalena de Lima. Jovem e descolado, o bairro é um encanto e o museu do famoso fotografo peruano, Mario Testino, o MATE, é vital para quem gosta de moda e fotografia. A alguns passos dali, uma casa antiga e luxuosa que pertenceu a Pedro de Osma dá uma ideia de como viviam bem os milionários de outras eras. O Museu de Arte Contemporânea também está ali por perto, mas não é sempre que exibe peças interessantes.
Nos hospedamos em Miraflores, perto do mar. No hotel Dazzler, bom custo benefício. Ficar em Miraflores faz toda a diferença, pois o bairro é repleto de lojas e bons restaurantes e um dos calçadões praianos mais agradáveis do mundo. Lima carece de boas praias e o mar é frio e revolto, só bom mesmo para surfistas empedernidos, mas o enorme calçadão é muito divertido, com jardins, pontes, cafés, estrutura para exercícios, playgrounds, shoppings, cinemas e gente bonita. Miraflores tem até ruínas pré-incaicas e um museu sombrio dedicado aos anos negros e às muitas vítimas do grupo terrorista Sendero Luminoso, nos anos 80.
Apesar de tantas atrações e comida fantástica, Lima é uma cidade de 10 milhões de almas num continente violento como o nosso, portanto é bom esquecer as joias em casa, não bobear com celular, bolsa e mochila e usar aplicativos para táxis. Na cidade os ditos não têm taxímetro e há centenas de veículos ilegais. Usei bastante os do hotel, bons, baratos e confiáveis. Lima é enorme, mas o centro e o calçadão de Miraflores são caminháveis e o elegante bairro de San Isidro idem. Sempre alertas, pois o nível de perigo é comparável a São Paulo e Rio de Janeiro.
E finalizo Lima com um mini roteiro gastronômico.
Meu objetivo principal nesta viagem era a famosa comida peruana e suas casas internacionalmente conceituadas. O resto foi uma incrível e bem-vinda surpresa. Os restaurantes, mais baratos do que os de SP e RJ, são mesmo inovadores e a lista abaixo reflete minhas preferencias:
1- Astrid y Gastón. Perdeu pontos no ranking da Restaurant no ano passado, mas ainda é o melhor pelo ambiente, serviço, preço e comida. Tiraditos de tomate, arroz de mariscos, suspiros com frutas vermelhas e amêndoas, pisco sour.... Tudo em porções fartas, generosas, fumegantes, lindas. Um almoço para dois com bom vinho branco Colomé, argentino, sai cerca de 600 reais. Caro? Nem tanto, pois estamos falando de um dos melhores restaurantes do mundo cujo chef é “O” pai da gastronomia peruana; cujo ambiente é incomparável nas instalações fabulosas de uma casa antiga na cidade. O serviço é eficiente, alegre, informal e raro para uma casa de tão alto nível. Em restaurantes famosos e estrelados, a formalidade, esnobismo e constrangimento são comuns. No Astrid y Gastón não. SÓ este restaurante já vale a visita a Lima.
2- IK. Não está na lista top da Restaurant, mas devia. Perfeito, escurinho, intimista, discreto, cardápio pequeno. Tudo leve, delicado, bonito, cheiroso e supermoderno. Os pescados silvestres, os tiraditos... No entanto, para quem não gosta de peixes e frutos do mar talvez não seja a melhor pedida. Mesma faixa de preço do Astrid.
3- Mais barato e mais alto no ranking da Restaurant, brilha Rafael. O lugar é pequeno, claro, aconchegante, adorável. No entanto, carece da originalidade e peruanice dos outros da minha lista. O cardápio é fortemente europeu, com maquiagem local e execução perfeita. Dos seis da lista, de longe o de comida mais fácil e familiar a paladares paulistanos.
4- La Mar é um restaurante praiano, ótimo, jovem, barulhento, semi ao ar livre, lotado. Também de propriedade e invenção de Gastón Acurio, outra genialidade do mestre. Enormes ceviches, paellas peruanas lá chamadas de arroces, sobremesa super doce, estilo bem brasileiro, o suspiro limenho; uma espécie de torta de limão peruana. Os preços são de restaurante top, apesar do clima “pé na areia”. O serviço é muito bom para o nível constante de lotação e reservas não são necessárias. O restaurante possui uma filial em São Paulo que já foi boa e anda péssima. Não se deixe influenciar por isto, a matriz acima descrita é inigualável.
5- Central. Considerado no ano passado como o quarto melhor restaurante do mundo, nível que nenhuma casa brasileira jamais alcançou, o lugar vale cada centavo e é um modelo de inovação sem espumas suspeitas ou horrenda cozinha molecular. Apesar de alguns ingredientes estranhos, o gosto de tudo é excelente e de estranho não tem nada. Optei por opções vegetarianas e me deliciei com batatas rusticas com abacate, ceviche quente de vegetais, sorvete de cacau 85% com lúcuma e argila! Cogumelo seco e defumado envolto numa bizarra folha, com calda de chocolate, genial. Para acompanhar o café, ovo de argila vede com recheio de cacau radical. Parece exótico demais? Não é e aí está o trunfo do Central: inovar sem amalucar; apresentar sem se exceder, sofisticar sem esnobar. Apesar de ser o mais conceituado, os preços são os praticados pelos outros acima mencionados. Os cardápios que mudam conforme as estações do ano, estão disponíveis no site do restaurante e já se pode escolher antes de chegar.
6- Maído. O último da lista por ser supostamente japonês e eu não sou grande fã da cozinha nipônica. Mas há comida peruana também e o cardápio é um tanto eclético demais meu gosto e para uma casa tão renomada e considerada como o segundo melhor restaurante do Peru. Não é. Tudo hype (fama não merecida, em inglês). O lugar é pequeno, escuro, lotado, bem desconfortável, barulhento, serviço atordoado, tenso. A comida é bem-feita e bem apresentada, escolhi divinices bem típicas como arroz de pato e polvo na soja, belo mix de japo-peruano. Sobremesa de chocolate variando cacau 100 a 60%, muito boa, muito francesa e bastante doce para a suposta modernice do lugar. Cheio de críticos gastronômicos, fotógrafos, turistas embasbacados. Cada cliente que chega é ovacionado a gritos de “Maidô”, uma cafonice total. Pois é, o lugar é uma salada mista que, em minha opinião, deixa muito a desejar. Não me espantaria de ouvir dizer que o restaurante fechou daqui a um tempo, pois carece de bases sólidas.
Dicas e observações sobre os restaurantes:
O clima escuro e cavernoso prevalece no Central, Maído e IK. Não se esqueça dos óculos e da lanterna.
Não se preocupe com roupa, cada um se veste como quer. É ainda mais informal do que o Rio de Janeiro.
Visite o Museo de La Gastronomia Peruana, uma ode à comida, identidade nacional. Pequeno e simpático, tudo bem explicado, excelente introdução às tradições e ingredientes que fazem deste país um dos mais ricos e variados para se aproveitar a boa mesa. Ali perto, o Museo del Chocolate onde se prova o aromático e delicioso chá de cacau e aprende-se um pouco mais sobre este fruto celestial e seus admiráveis subprodutos. Ao lado, o Museo del Pisco, bar-escola dedicado à fantástica cachaça peruana e suas múltiplas possibilidades.
Preços não variam muito e vinhos são na maioria argentinos e chilenos. Não provei os poucos peruanos.
Reservas são essenciais em todos, menos no La Mar. No Central e Maído, muito difíceis de se conseguir. Se o seu horário for o mais cedo, de almoço ou jantar, prepare-se para esperar a abertura do restaurante na calçada. Os espaços são bastante pequenos e restritos e no Peru, esperar na rua é ok e não abrem antes do horário. Só o Astrid y Gastón é espaçoso e confortável.
Prepare-se para fazer refeições com vários pratos, complexas e demoradas, nos desconfortáveis banquinhos no balcão do bar. Em Lima isso é comum, em vez de mesa decente e civilizada, cadeirinha-punição no bar. Central, Maído e La Mar nesta base. E lamba os beiços, já é um privilégio conseguir lugar.
E como tudo em viagem é divertido e transitório, vale encarar o desconforto para conhecer e provar a surreal comida peruana. Não esquecendo a caipirinha local, o pisco sour. A versão clássica é um bom começo, mas vale o pós-graduação para as versões de maracujá e o desafio total do pisco com grenadilha e maracujá. Composto dos deuses....
E para finalizar, last but not least...
Quem tem sensibilidades estomacais pode passar apertado com o exotismo dos temperos, pimentas e ingredientes peruanos e não é coisa para principiantes; sem contar o tamanho avantajado das porções e o atraente das novidades. Os sabores são maravilhosos e especiais, ingredientes de primeira, ultrafrescos, tudo bastante saudável e moderno. Mas a explosão de grãos incomuns, peixes e mariscos crús, frutas intrigantes e festival de coentro podem provocar imprevistos só possíveis quando se é introduzido à comida baiana ou mexicana, por exemplo. O bom de Lima é que tem mais farmácias do que São Paulo. Nunca vi coisa igual!
AREQUIPA E COLCA CANYON
O Peru ostenta o terceiro maior território da América do Sul e no entanto, nós brasileiros, habitantes do gigante vizinho, só concentramos as visitas a Cusco e Machu Pichu. Lima é escala, mas recentemente tem chamado atenção pela boa cozinha, o modismo da comida peruana. Contudo, a cidade mais bonita é Arequipa e o Colca Canyon é mais acessível e tem mais a oferecer do que Machu Pichu. Heresia? Confira abaixo as razões.
Arequipa é a segunda maior cidade peruana e seu centro histórico é belo, elegante, limpo, interessante e preservado; suas construções principais utilizam uma pedra vulcânica branca chamada silhar cujo efeito mármore-rustico é único e peculiar. A catedral é gigante, as praças lindas, lojas bem sortidas e livrarias especiais, um dos melhores restaurantes do Peru e os marzipãs de castanha do Pará mais suculentos do universo. Como se não bastasse, o Monastério de Santa Catalina é uma das construções históricas mais intrigantes do continente Americano. Parece exagero, mas os atrativos múltiplos de Arequipa são facilmente conferíveis em voo de 1.45minutos de Lima; além de tudo, a cidade é o melhor e mais fácil ponto de partida ao magnífico Cañion del Colca. Os preços são mais acessíveis por carecer da fama de Cusco e região e me hospedei no pequeno e confortável Hostal Los Tambos por meros 200 reais – com impecável café da manhã e ótimo serviço, a três passos da praça principal.
O cenário natural de Arequipa é de sonho e o pano de fundo são os três vulcões que são a muralha protetora e nevada da cidade natal do grande escritor prêmio Nobel, Mario Vargas Llosa. Para montanhistas, caminhadores, bicicleteiros, esportistas radicais e amantes da natureza em geral, o lugar é um paraíso e as inúmeras agências de viagens oferecem todo o tipo de serviços a quem quer se aventurar e maravilhar. Para os mais sedentários, igrejas, conventos, vistas, alimentos e museus não decepcionam, pelo contrário, surpreendem. Como é o caso do Museo Santuários Andinos, exibindo interessantes múmias congeladas e suas fascinantes histórias, com cineminha para criar o clima-mistério e guia competente. Todas as visitas devem e podem ser guiadas; a rica história de Arequipa vale o pequeno investimento. Mas no Monastério de Santa Catalina, que é, na realidade, uma cidade fortificada, vale perder-se pelas inúmeras ruazinhas coloridas, imergir-se nos idos de 1500 e acompanhar a vida das freiras enclausuradas nos mínimos detalhes. Um túnel do tempo inesperado, difícil de encontrar nos dias que correm, atração cuja importância histórica não me parece valorizada como deveria. Se fosse na Europa ou nos EUA seria considerada top naquelas listas ridículas das 1001 coisas que se deve fazer e ou visitar antes de morrer. Com dizem em inglês, definitivamente “bucket list”. Em frente à entrada principal, do outro lado da rua, o restaurante Chicha, tão bom que fui três vezes e nem sequer quis saber de outros lugares para comestíveis na cidade.
Mais uma façanha de Gastón Acurio, há filial que não conheço em Cusco. Lugar lindo, casarão antigo e muito bem decorado, com pátio interno delicioso, em frente a uma cozinha dinâmica, barulhenta e divertida. Exotices como filé de alpaca com batatas roxas e rusticas ao molho de vinho tinto, empanadas recheadas com amostras da cuisine arequipenha e rolinhos fritos e fortificados com pimentões nativos são bombas calóricas maravilhosas. As sobremesas são mais leves e europeias, clássicos como panna cotta e mousses; sempre acompanhadas ou baseadas em ingredientes locais, como o ótimo cacau peruano e frutas vermelhas dos bosques andinos. Nível restaurantes muito bons de Lima e mais barato.
E para coroar uma estadia bem sucedida no Peru, depois de toda comilança de Lima e Arequipa, gastamos inúmeras calorias nas alturas radicais do cânions do rio Colca, cuja beleza e majestade não se traduzem em palavras ou fotos: tem que ir para ver. Sentir o vento gelado e poderoso de vulcões e montanhas que batem fácil os 5000 metros, se emocionar com o vulcão Mismi que é a nascente do nosso amado rio Amazonas, conferir o verde, as flores e os condores que enfeitam os terraços de cultivo milenar, florescendo com força total entre novembro e abril, única época de contraste forte de cores. No resto do ano a paisagem já está mais para Grand Canyon americano, seca e marrom. De todo modo, as peludas e fofas alpacas passeiam por lá o tempo inteiro e são bichos que além da lã boa e cara, oferecem também carne suculenta e fotogenia única; primas nobres das comuns lhamas andinas. As mais nobres mesmo são as selvagens vicunhas, correndo pelas montanhas e vales, aparições bem-vindas e ocasionais.
Todas estas maravilhas naturais cobram o preço de 4 horas por estrada boa e asfaltada, de Arequipa, mas cujas altitudes de 2300 a 5100 podem ser massacrantes. Chá de coca alivia, aspirina também e parada na cabana beira de estrada lá pelos 3800 metros, ajuda muito com o fumegante chá de 4 ervas que impulsiona os turistas ao Mirador de los Volcanes, a 5100 metros de altura, já bem perto do paraíso terrestre que é o hotel Colca Lodge. É aquele tipo de hotel que você visita o site, não acredita, acha que é exagero, bonito demais, barato demais, deve ter algum truque. Não tem e é ao vivo ainda e bem, bem, mais bonito do que em fotos. Os quartos são enormes, bem decorados, aconchegantes, os jardins são do Éden como descreve a Bíblia, a comida é ótima, o serviço gentil e o spa indizível. Ficamos duas noites, muito pouco. Volto para ficar cinco em abril, época mais seca. Em janeiro chove mais e as nuvens atrapalham o esplendor das vistas surreais. Frio é sempre.
Os passeios organizados pelos hotéis e agências locais são um feliz composto de natureza, exercício, culturas indígenas e história. Perto do Colca Lodge há ruínas de muitos anos antes dos Incas, super trilha por fazendas indígenas centenárias, coisa de tempo congelado, nativos vestindo roupas bastante coloridas e cultivando a terra manualmente, carros de boi, harmonia com o meio ambiente imutável. O caminho-desafio sobe uns belos 1000 metros acima do hotel que já se encontra a 3500. Compensa o esforço e a falta de ar por tudo acima e as paisagens de delírio e pelas ruínas de Uyo Uyo, uma cidade fantasma, grande e em razoável estado de conservação. Bem mais antiga do que Machu Pichu, igualmente localizada em cenário deslumbrante e de fácil acesso; como o diferencial-gigante de se estar completamente só entre os fantasmas de outras eras. Sem rebanhos de turistas estragando o clima!
Não tem preço e com certeza, tem volta.
Já estive duas vezes em Machu Pichu e região e fiz duas espetaculares trilhas incas, a tradicional e a Salkantay. Inesquecíveis. Ao Colca volto mais vezes, por ser mais bonita e mais acessível, por não depender de trem, pela possibilidade de caminhadas por vales enormes e razoavelmente planos, pelo isolamento bendito, pelos vilarejos estacionados no tempo, por um astral raro nos tempos lotados e turbulentos em que vivemos.
São Paulo, 06 de fevereiro de 2017.
quarta-feira, 25 de janeiro de 2017
EQUADOR 2017 - SHOW DE VULCÕES
EQUADOR – 2017
POR QUE IR?
Boa pergunta.... Ah! Pelas ilhas Galápagos e seus extraordinários ecossistemas.
Não só por isso, viagem que já tinha feito há muitos anos e adorei. Mês passado, voltamos ao Equador para conhecer o continente, o país de verdade e não apenas ilhas de exceção. Fomos para conhecer o normal, o dia a dia, a vida neste pequeno país de nossa imensa América do Sul, um dos poucos não conectados por voos diretos do Brasil. Uma pena, um trampo para chegar à capital, Quito, via Lima. Demora tanto quanto um voo direto a Miami e a diferença de fuso, no verão, é a mesma. Mas para os dispostos, como eu e meu marido, valeu o sacrifício.
Começamos por Quito, a interessante e montanhosa capital. Uma cidade agradável, de clima fresco e ameno, 2800 metros acima do nível do mar; bom treino para o resto do país, onde se chega fácil aos 5000. Nos hospedamos no hotel da cadeia espanhola NH, em bairro residencial, ótimo custo benefício. Uma longa caminhada ou um táxi barato, chegamos ao belo e preservado centro histórico da cidade. As belíssimas igrejas e conventos se unem a praças, teatros, lojas e ao colorido das vestimentas típicas dos povos indígenas andinos. Segura e tranquila, visita de dia todo e almoço correto no bom restaurante do Hotel Plaza Grande. Comida clássica equatoriana, que é fortemente baseada em frutos do mar, grãos e as frutas melhores e mais frescas que já experimentei em minha vida. Alimentos super saudáveis e bem preparados por toda parte. Os sucos de frutas mais portentosos e saborosos que já bebi, cada um vale por uma refeição. O mais típico é de amora, maravilhoso. O de tomate arbóreo é delicioso também. Provar os chocolates politicamente corretos da Pacari é também recomendável, considerando-se que o país é um dos grandes exportadores de cacau de alta qualidade.
Infelizmente, o Equador já não é mais um país barato desde que adotou o dólar americano como moeda corrente e quinze dias viajando por lá sai tão caro quanto ir aos EUA. Compras devem ser deixadas para serem feitas no Peru ou Bolívia, lugares com belo artesanato e preços bem mais camaradas. Exemplo: uma toalha de mesa linda, que comprei no famoso mercado de Otavalo, ao norte de Quito, saiu por 80 dólares. A mesma, no Peru, sai por 80 soles (valor equivalente a 80 reais). Bom vinho argentino custa 50 dólares no Equador e 50 soles no Peru. E por aí vai... Aliás, para aproveitar distância e troca de voo obrigatório em Lima, esticar a viagem ao Peru é uma boa ideia.
Nosso objetivo no Equador foi, primordialmente, percorrer a denominada Avenida dos Vulcões, um trecho do país pontilhado por enormes montanhas fumegantes, algumas delas cobertas de neve. São sensacionais e o trajeto é muito bonito. A começar pelo melhor, a hospedagem em fazendas centenárias, preparadas para receber turistas, como é o caso da Hacienda Zuleta; um misto ótimo de luxo, conforto e vida campestre. É uma fazenda de verdade, enorme, num vale muito verde cercado por montanhas e vulcões altíssimos, um lugar muito especial, com bastante gado leiteiro, fábrica de queijos e o carinho pessoal dos donos, que faz toda a diferença. Os quartos são espaçosos e bem decorados, com lareira, flores frescas o tempo todo, jardins privativos e outros mimos. A comida é maravilhosa, de fazenda mesmo, servida à francesa em baixela de prata em todas as refeições. O único inconveniente é ter que, obrigatoriamente, sentar-se na mesma mesa com outros hóspedes, coisa que detesto. Como está expandindo as áreas comuns, é possível que já no próximo ano haja mais espaço para acomodar refeições em mesas menores, individuais.
A Zuleta também abriga um projeto para reintrodução de condores na natureza. Esta enorme ave andina está altamente ameaçada por desmatamento e perda de seus habitats nativos. Uma das atrações do lugar é caminhada/cavalgada até a sede do projeto, interessante explicação dos biólogos e visita a algumas das aves-gigante em cativeiro. Também trabalham com pesquisa sobre o urso andino, espécie única no continente. Perto dali misteriosas ruínas em forma de pirâmide, que remontam a 700 anos depois de Cristo. Com o tamanho gigante da fazenda, é possível fazer várias caminhadas autoguiadas e percursos em bicicleta também. Os cavalos, para quem monta, são excelentes e o lugar é tão bonito e agradável, que foi até matéria de capa da revista americana National Geographic, minha inspiração para fazer esta viagem. Nos hospedamos apenas 2 noites ali, mas 4 seria o ideal. O lugar é mesmo idílico e muito representativo do país em si. A cara do Equador!
Próxima parada: Otavalo e seu famoso mercado de artesanato e a deliciosa Hacienda Cusin, que já foi fazenda e agora, de propriedade de um inglês de muito bom gosto, um hotel-museu divertidíssimo. Aliás, o hotel vale mais a pena do que o mercado; este último, uma praça cheia de quinquilharias, algumas bem interessantes, mas nada muito barato. É o maior mercado indígena da América do Sul e bastante respeitado no quesito autenticidade. Para quem gosta de feirinhas e mercados de pulgas, um prato cheio. Nós já preferimos a maluquice, a comida, os drinques e a decoração totalmente bizarra da Hacienda Cusin; além de suas lojas, bem melhores do que o próprio mercado.
Hospedar-se na Hacienda Cusin é como dormir dentro de um museu de arte sacra, cercado de estátuas de santos, anjos, dragões, cruzes, rosários, altares e toda a parafernália católica que se possa imaginar. Nos quartos, corredores, salões, restaurante, tudo. Quadros com cenas de santos degolados e guerras sangrentas são lugar comum, ao lado de prataria intensa, espelhos monumentais e flores em profusão. O Equador, com a Colômbia, são os maiores exportadores de rosas do mundo e elas, enormes e lindíssimas, estão por toda parte, colorindo e perfumando o mofo das velharias cristãs da Hacienda Cusin. O hotel pode parecer lúgubre, mas não é. Muitos jovens se hospedam por lá, gringos mil, há vários espaços e bares animados, comida bem boa. Por ser um lugar grande e abrigar várias casas, os preços dos apartamentos variam bastante e tornam a experiência acessível a jovens, maioria americanos e europeus, que querem ter uma experiência única e bem típica do país.
No caminho até Otavalo e a Cusin fizemos uma parada na cratera e lago do vulcão Cotacachi. Caminhamos pela borda do lago por várias horas, boa oportunidade para ver as lindas e únicas flores desta área. Tudo no Equador é único e especial, por estar na “metade do mundo”, país literalmente “sentado” na linha do Equador; pela altitude das áreas e proximidade do mar, pela quantidade e atividade dos vulcões, que mudam clima e paisagem constantemente e influenciam o surgimento de espécies vegetais que não se vem em outro país. A parte amazônica também influencia na extrema diversidade das espécies e microclimas.
O furo da viagem foi as duas noites desperdiçadas na horrível Hosteria Guaytara, na reserva natural Antisana, frente ao vulcão Cayambe. Lugar sujo, comida péssima, um frio terrível, sem calefação. O único ponto positivo foi a espetacular caminhada pelo páramo andino (pradarias de altitude) e sua vegetação totalmente diferente e o avistamento de muitos condores, o que é, hoje em dia, algo como ganhar a Mega Sena sozinho; prêmio polpudo. Em nossos sofridos dois dias na Guaytara, várias destas aves monumentais, voavam por muitas horas, e pousavam, perto de nós. É como se estar num barco, em alto mar, cercado de baleias. Coisa rara e para poucos. Valeu o sacrifício de um lugar remoto e desconfortável. Vimos também coelhos e veados pululando pelas encostas. Já a 3500 metros de altitude, condições ideais para que os condores vivam e sobrevivam, em paz.
No primeiro dia de 2017, sacudimos a poeira, literalmente e partimos rumo ao embasbacante Parque Nacional Cotopaxi, completo com vulcão de mesmo nome. Muitos e belos pássaros pelo trajeto, uma lagoa cercada de flores silvestres e o Cotopaxi, um vulcão para chamar de seu. E temer, pois, ele é ativo, vermelho, com neve e não tem sido escalado recentemente, devido à fúria de suas erupções. Lugar muito especial, merece mais tempo e a dica é ficar no único hotel do próprio parque para aproveitar melhor a experiência. Perto dali, almoçamos na vetusta Hacienda La Ciénega, lugar antigo e repleto de fantasmas. É de propriedade da mesma família da Zuleta, mas não vale a pena hospedar-se lá pois a área é restrita e no meio de um vilarejo sem graça. Aliás, fora Quito, Guayaquil e Cuenca, todas as áreas urbanas no Equador são sem graça e muito pobres, por isso o item fundamental de hospedar-se em lugares especiais, fora dos povoados e cidadezinhas. Áreas que tenham seus próprios encantos, independentes de atrativos urbanos.
Que a foi a sorte da feliz escolha do hotel Luna Runtun, na feia Baños. O lugar é meca de esportes radicais e a única ocasião em que vimos brasileiros; fazendo tirolesa maluca pelos penhascos locais. A região é repleta de paisagens estonteantes, cânions, florestas tropicais, uma infinidade de enormes e barulhentas cachoeiras, colibris multicoloridos. O Luna Runtun, aos pés de outro vulcão impossível, não pode ser lugar mais romântico nos seus jardins babilônicos, vistas infinitas e chalés muito confortáveis e bem decorados. A comida é fraca, mas o resto compensa. Antes de Baños, uma caminhada show ao longo da cratera do vulcão Quilotoa, há muito extinto. Sua cratera tem hoje em dia uma lagoa azulíssima, maravilhosa. O trajeto por esta região é um dos mais bonitos da viagem e deve ser apreciado devagar, parando para múltiplas fotos, curtindo.
E também devagar e muito! O quilometro mais duro do planeta vulcão Chimborazo acima, ma majestade dos seus 6 300 metros. O passeio não é para os fracos de espírito; ou pulmão. A subida dos 4 000 metros do primeiro refúgio de escalada até os 5 100 do segundo, onde chegamos é linda, mas um enorme esforço de luta contra o ar rarefeito e os males da altitude. A base do Chimborazo tem cerca de 30 quilômetros de extensão e o tamanho deste monstro vulcânico é acachapante. Naquelas alturas se tem a sensação de estar dentro das nuvens, sem estar dentro de um avião. Indescritível! O trajeto até o ponto inicial da caminhada brinda aos visitantes com a companhia de enormes rebanhos de vicunhas; na certa os mini-camelos mais charmosos do planeta.
Passamos a noite na interessante Hosteria Andaluza e seguimos até Alausí para embarcarmos no trem que dá uma volta estonteante ao longo da montanha conhecida como Nariz do Diabo. Vale mais pelas paisagens e pela admiração que causa esta obra altamente tecnológica do início do século passado, onde centenas de trabalhadores perderam a vida lutando contra mau tempo e despenhadeiros. Engenharia britânica de primeira, que hoje em dia sustenta o pequeno povoado de Alausí como atração turística. De lá, outro bonito roteiro de carro até a Posada Ingapirca, colada às ruínas incas de mesmo nome. A pousada é um charme de jardins, lareiras, frio terrível, cobertores pesados e comida saborosa. As ruínas estão em belo estado de preservação e a visita guiada tem o sabor de uma Machu Pichu em miniatura.
Nossa parada e duas noites finais foram passadas em Cuenca, importante cidade no sul do Equador, com charmosa arquitetura colonial e a melhor comida da viagem no restaurante/loja/padaria/boutique El Mercado. A cidade é um encanto de ruas e casas coloridas, igrejas poderosas, museus desafiadores e muita alegria pelas múltiplas praças. De novo e escolha acertada, ficamos fora do centro, no moderno hotel Oro Verde. Como em Quito, fugindo dos preços e ruído do centro histórico. Para quem prefere hospedagem chique e cara, bem central, a Mansión Alcázar é perfeita. Parece cenário de filme, super bem decorada por um americano excêntrico. O restaurante é um dos melhores de Cuenca, só perdendo mesmo para o acima citado El Mercado.
No dia seguinte, o trajeto até Guayaquil onde tomamos o avião de volta a Lima, surpreendeu pela beleza do Parque Nacional El Cajas, uma verdadeira paisagem escocesa na linha do Equador!
Depois de tanto tempo, trajetos e voos, nos perguntamos se a parte não-Galápagos do Equador vale a pena, mesmo sendo cara e difícil. Vale e muito, pelo inusitado e especial das paisagens, fauna e flora, pela simpatia do povo, pelas frutas, sucos e frutos do mar, pelos vulcões, pela história, pelas fazendas, pelas ruínas. Eu repetiria o mesmo, em outra época do ano, de preferência de maio a novembro, para fugir da chuva e das nuvens que comprometem a visibilidade das montanhas. Frio sempre é, portanto não há como escapar das temperaturas de altitude. Alugaria carro, o que diminui bem o custo. Nós tivemos motoristas e guias o tempo todo; confortável, mas chato na convivência e falação intensa destes profissionais do turismo. Preços cairiam em cerca de 40% se nós mesmos tivéssemos dirigido e dispensado guias.
Faria o mesmo trajeto, com hospedagem única e exclusivamente em fazendas, pousadas e hotéis como, anteriormente citado, com seus próprios atrativos e ainda passaria uns 10 dias fazendo cruzeiro pelas Galápagos. Eternas e deslumbrantes.
São Paulo, 25 de janeiro de 2017.
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