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sábado, 24 de fevereiro de 2024
CARNAVAL EM ROMA - FEVEREIRO 2024
CARNAVAL EM ROMA – INVERNO 2024
De Carnaval não vi nada e nem precisou; Roma é uma festa em qualquer época do ano e no alívio do inverno que cobre quase todo o resto do Velho Continente em um manto branco de gelo. Mais sol, menos chuva, temperaturas menos congelantes, dias um pouco mais longos na luz da Cidade Eterna. Voltei após 8 anos de ausência e gostei mais ainda. Começando pelo hotel bem escolhido, por localização, preço e conforto, o Princeps Boutique Hotel, no ponto mais alto de Roma, a Piazza del Esquilino e pelo fato de que na primeira quinzena de fevereiro, o número de turistas é razoável (nunca pouco, infelizmente) e pude visitar o museu do Vaticano e a Capela Sistina, coisa jamais alcançada em tentativas anteriores. Vale a fila e as multidões. Pelo menos uma vez na vida compensa encarar a maratona.
É um museu enorme, tipo Metropolitan ou Louvre, que abre o acesso de seus vários setores por partes. Tive a sorte de visitar o setor egípcio e o de arte contemporânea, ambos ricos, inusitados e bastante interessantes. Peças e obras lindas em ambos e a grata surpresa de admirar um pequeno Van Gogh retratando a Pietá e um portentoso Botero retratando um cardeal gorducho em solitário passeio pelo campo. Claro, a joia da coroa, entre tantos estonteantes tesouros, é a Capela Sistina. Grande sala adornada pelas famosas obras de Michelangelo, que de igreja ou capela, não tem nada. É um quadro gigante, um mural precioso, teto espetacular. Mas atmosfera religiosoa, espiritual, vibrações especiais de um lugar santo, não. Impressão muito pessoal, para mim não convida a rezar e refletir. Apenas admirar o artístico, sem o divino.
Para introspecção e oração, voto na Basílica de Santa Maria Maggiore, uma ode a Deus e na Basílica de Santa Maria em Trastevere, ainda mais convidativa a meditação. Além de arquitetônica e artisticamente relevantes, tem ambas uma conexão maravilhosa com Roma e a história rica do Cristianismo. Na Santa Maria Maggiore, a visita a loggia é recomendável e dá uma dimensão mais humana e urbana da grandiosa igreja. No templo em Trastevere, um dos bairros mais deliciosos da cidade, dá para subir depois num dos pontos mais altos da cidade, o Janículo e regalar-se com vistas de cinema. Além de um bom exercício para queimar as calorias de um portentoso almoço no Vanda, um sorvete cremoso no Lucciano’s. Todas estas experiencias ficam na memória do viajante para sempre, bem como o brilho dos mosaicos perfeitos da Santa Maria em Trastevere contrastando com o escuro cavernoso deste marco de Roma.
Mais arte nos afrescos de Rafael e arquitetura na bela Villa Farnesina, também em Trastevere. Lugar bonito e pequeno, jogo rápido numa cidade que tem tanto a oferecer. Inclusive em áreas afastadas do centro, como a do Parco della Música Ennio Morricone, onde assisti a belos ballets coreografados por Benjamin Millepied. Perto dali um dos museus de arte contemporânea mais descolados da Europa, o MAXXI. A finada arquiteta Zaha Hadid criou um espaço único em terreno apertado e o edifício dos museus, mesmo que fosse vazio, valeria a visita. Recheado de exposições magistrais então é show de bola. O restaurante do museu, o Mediterrâneo, com sua área externa super convidativa, completa o programão. Comida italiana moderna, ambiente alegre, repleto de jovens que estudam arquitetura ali perto. Programão melhor ainda se a volta ao centro for caminhando por uma avenida que dá direto na Piazza dei Popolo e une no trajeto o moderno de Roma ao eterno de Roma. Melhor, impossível.
E Roma não é só cultura e história, sendo também o legado ímpar da comida italiana, patrimônio gastronômico da humanidade. Que pode ser almondegas de vitela e mortadela com pesto de pistache, precedidas de raviólis de ricota na manteiga e sálvia, no acima mencionado Vanda, em Trastevere. Pequeno, aconchegante, divino. Acompanhado de um belo tinto Etna Rosso. Pode ser atum com verduras no Mediterrâneo, rigattoni com rabada de boi no Matriciana (em frente a Opera de Roma), docinhos e biscoitos fofinhos da linda confeitaria Te ou marrons glacés da vetusta e importante confeitaria Moriondo e Gariglio (a preferida do poeta Trilussa). Também vale o cardápio sólido e confiável do Trilussa, não o poeta, claro, mas sim uma casa bonita e mais chiquezinha em Trastevere. Pode ainda ser um pote de dulce de leche na gelatteria Lucciano’s, para entender de onde vem esta tradição na Argentina, por exemplo. E também é válido turistar no Il Vero Alfredo e comer o maravilhoso fettuccine Alfredo (deixando espaço para o tiramissu), aquele sempre impossivelmente lotado do Epcot Center, na versão original.
Tudo na harmonia do colorido urbano de mais bom gosto do universo, nos tons de bege, ocre, terra, rosa claro, exclusivos de Roma. Na música dos concertos de Vivaldi na igreja de São Paulo (a dentro dos Muros), na alegria das ruas, nos barulhos das Vespas, nas elegantes apresentações de ópera do Teatro Della Ópera de Roma.
Voltaria sempre. Se não em presença física, mas repetidamente, no meu coração.
Zurich, 24 de fevereiro de 2024
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