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sábado, 2 de março de 2024

NAPOLI - FEVEREIRO 2024

NAPOLI – FEVEREIRO 2024 Muita gente vai a famosa Capri e pula Napoli, porto de chegada e conexão para a ilha descolada. Turistas lotam as maravilhosas ruínas de Pompéia e ignoram, injustamente, uma das cidades italianas mais fascinantes que já conheci. Sempre tive curiosidade de conhecer aquele lugar cujas varandas são varais e os moradores secam suas roupas al fresco, com impunidade. Também queria ver os lugares mencionados por Elena Ferrante em seus ótimos livros, queria ver os cenários escabrosos da série Gomorra. Para mim Napoli era um lugar de medo e mistério, perigo em toda a esquina. Na verdade, adorei Napoli e nem tanto a badalada Capri, que não se compara a similar, Taormina, na Sicília. Tenho uma grande implicância com estes lugares de fama injustificada, só porque um punhado de gente rica e entediada considera legal. Capri é uma ilha bonita, pequena, íngreme, só. O vilarejo é mediano, tudo caríssimo. O mar é bonito, mas a área do golfo de Nápoles, é que é, realmente, espetacular e o todo, o conjunto, é o que torna tudo muito especial. Cercado de vulcões, o furioso Vesúvio comandando tudo, os outros, coadjuvantes, sempre ameaçando a área com terremotos e tsunamis. Não é só a Camorra, (nome da máfia local) que torna o lugar potencialmente explosivo. Os vulcões são os vilões naturais. A cidade é grande, barulhenta, caótica, suja e divertida. Tem uma arquitetura singular, mais para espanhola do que italiana e o burburinho e alegria das ruas é contagiante. Pessoas falam alto, gritam, gesticulam, ali a Itália é mais Itália. Se Roma é história, Napoli é o verdadeiro, genuíno e real estereotipo dos nativos barulhentos, da gritaria, das motos e vespas temerárias; coisa dos velhos filmes de Totó e Sophia Loren. Uma delícia... Tem a fama de perigosa, há uns tipos mau encarados zanzando pela cidade, mas não tive problema algum ao caminhar longamente por toda parte. Inclusive a noite, voltando tarde de um magnífico espetáculo de ópera no belíssimo Teatro di San Carlo. A casa de espetáculos no estilo clássico dourado, tipo Teatro Municipal de São Paulo, mais bonita que já vi. Engasgo ao admitir que o teatro é até mais bonito do que meu adorado Colón, em Buenos Aires. Aliás, Napoli é um paraíso teatral, há muitas casas de espetáculos, todas ativas, abertas, vibrantes, 365 dias ao ano. Vida noturna, vida de rua, é fundamental para os napolitanos, bem como o é a fabulosa culinária local. Começando pela pizza napolitana, sem igual. Roma tem o que eu chamo de pizza-focaccia; Napoli tem pizza com cara de pizza, mas com centro mole, bordas alta e deliciosamente borrachentas. Muito recheio. É bem diferente da pizza paulista e em Canela, há um restaurante que a prepara de maneira idêntica. Ou quase, pois os ingredientes napolitanos são especiais, inigualáveis. Como também o é a berinjela a parmegiana, o calzone de búfala especial, a mozzarella campeã. No capítulo doce, as tortas com fragoline (mini morangos silvestres) são um sonho... Só fui a restaurantes simples (Mattozi, um clássico), inclusive em Capri (da Pascuale), todos excelentes. Queria comida real, nada de turístico ou sofisticado. Fiquei hospedada na chique região de Chiaia, escolha acertada por ser mais limpa, mais bonita e um pouco mais tranquila. Não há nada calmo ou quieto por lá. O agito é o sobrenome de Napoli, se ela tivesse um. Passeios ensolarados no espaçoso e bem conservado calçadão da orla, são sempre pontilhados por esportistas bufando, gente papeando, pescadores trazendo seus frutos do mar fresquinhos para os curiosos observarem. E Napoli é também muita história e cultura. Nas igrejas sublimes, no museu Arqueológico que é um complemento perfeito da visita as ruínas de Pompéia, que por elas mesmo, já valem a viagem. Que é facilmente realizável, com o trem rápido de Roma até a estação Central; apenas uma hora e 15 minutos de conforto e relaxamento. E como Pompéia é espetacular e vale várias visitas, pelo tamanha e importância do sítio arqueológico, vale um bate-volta da capital italiana. Cansativo, mas totalmente viável. Mas eu não quero coisa rápida, pois há muito o que ver em Nápoles (não gosto do nome da cidade em português) e voltarei num futuro próximo para mais tempo nas ruínas, na orla, nas igrejas, nos museus. Arriscarei peças em napolitano, muito diferente do italiano, comprarei mais roupas nas lojas lindas e baratas da cidade, voltarei a ver o belo quadro de Caravaggio que é carro chefe das igrejas. Sem medo das ruas, só aproveitando os ares loucos e interessantes do berço da pizza. Uma dica prática que faz toda a diferença para os turistas temerosos e inseguros: fazer os dois roteiros do Hop On Hop Off que partem em frente ao gigantesco Castelo Novo. Para os que não gostam de trem, tomar a van da mesma empresa e passar horas divinas em Pompéia. Tudo para se ter uma ideia vaga da grandeza e beleza do local. De forma segura, confortável e... turística! Zurich, 02 de março de 2024.

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