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domingo, 16 de junho de 2024

CORRIDA MALUCA PELA ASIA CENTRAL - CAZAQUISTÃO, QUIRGUISTÃO, TAJIQUISTÃO, UZBEQUISTÃO E TURCOMENISTÃO - MAIO E jUNHO 2024

MEMÓRIAS DO ABSURDISTÃO Uma corrida maluca de 21 dias pelo Cazaquistão, Quirguistão, Uzbequistão, Tajiquistão e Turcomenistão. MAIO 2024 Para onde ir quando já se conhece quase o mundo inteiro, mais de 80 países ao longo de 68 anos bem vividos? Ou se volta aos mesmos lugares ou saltamos no abismo do desconhecido e arriscamos estes cinco países da velha União Soviética, o que, romanticamente, chama-se Rota da Seda. Sob olhar histórico foi uma rota comercial importante entre China e Oriente Médio, aqueles cenários das histórias exageradas de Marco Polo e outros viageiros que por lá estiveram. Atiça a imaginação, o mistério. Pois é, não sobrou muito... Há três anos visitei o Irã em busca das glórias de Ciro e Dario e encontrei ruínas deploráveis e Islã radical. Belas mesquitas, pistache sublime e só. Desta vez, a experiência se tornou complementar ao Irã, pois os países da Rota da Seda eram parte do glorioso Império Persa e estranhamente tornou o Irã mais atraente aos meus olhos sempre focados em história. Na Capital do Cazaquistão, Astana, encontrei modernidade e esplendor faraônico de um país enorme e hoje rico por gás e minérios. Foi interessante ver uma cidade tipo Brasília em construção e o Museu de História Nacional e o dedicado ao Futuro da Energia são espetaculares. Astana vale pelo modernismo e a antiga capital do país, Almati, pelo verde dos parques, o nostálgico visual russo, mercados de frutas, um toque europeu e charmoso na Asia Central. Já a capital do país seguinte, o Quirguistão, decepciona, mas ao mesmo tempo intriga, pois parece ter parado no tempo da Guerra Fria. Bishkek é feia e pobre, mas oferece um cenário que poderia estar num dos filmes de James Bond, aqueles em queo glorioso espião britanico vai atrás de malignos espiões na velha Rússia. O legal mesmo deste pequeno e insignificante país, é o parque Chon Kemin e o esplendor do verde intenso e lindas papoulas do fim da primavera; emoldurados por montanhas nevadas e um total ar de paz. Valeu. Mas não valeu o mais pobre dos cinco países, o Tajiquistão, que faz fronteira com o belicoso Afeganistão. Montanhas majestosas e só. Dushanbe, a capital é uma ode a cafoneira e ao ditador da vez, repleta de monumentos dourados e autocongratulatórios. Um absurdo de luxo em meio a pobreza triste da maior parte de seus habitantes. Um país deprimente... O Uzbequistão, por sua vez, de grande importância histórica, se revelou muito interessante. Começando pela sensacional capital, Tashkent, onde o elemento russo é central ainda (Putin visitava a cidade no dia em que lá chegamos), largas avenidas e parques muito verdes embelezam tudo. Boa comida, belos teatros e arquitetura. Talvez, em outra vida, valesse voltar. Como valeria aproveitar melhor Samarcanda, Bukhara e Khiva, cidades muito antigas e reconstruídas várias vezes ao longo dos séculos. São os únicos lugares, dentre os cinco países, em que vimos um fluxo constante de turistas estrangeiros, em sua grande maioria europeus. Cidades que evocam um passado glorioso e onde se caminha imaginando enredos de conquistas, guerras, grandes bazares e concubinas reais. No entanto, a ¨cereja do bolo¨ foi mesmo o Turcomenistão, país improvável e quase desconhecido. Nossa última parada, foi para meus olhos acostumados a mais do mesmo, um lugar totalmente diferente e exótico. Um exagero de mármore branco e limpeza hospitalar ao longo da cidade que é verde em meio ao deserto, um delírio de grandeza de uma dinastia moderna de ditadores bizarros que usam o país e a capital Ashgabat como playground e laboratório de experiencias malucas. O país de apenas seis milhões de habitantes, vive de minérios e gás, os derivados de petróleo que tanto sucesso fazem mundo afora e são grandes amigos e parceiros dos russos, os sempre malvados de plantão. Um destino exclusivo para quem valoriza tais coisas, apenas 900 turistas estrangeiros por ano. É uma espécie de Coréia do Norte turca, com toques asiáticos e eslavos, gente vestida em bonitas e coloridas roupas típicas, só carros brancos, só telhados verdes, voos domésticos que custam cinco dólares para os nativos e hotéis de luxo que cobram simbólicos dez dólares aos residentes da capital. Um país onde existe ministérios para tudo, até para tapetes e passaportes e 70% da população da capital é empregada no inflado setor público. Internet é fechada e controlada, canais de mídia idem. Vale ir e conferir antes que acabe, pois é um país de livro e cinema, ficção e realidade onde se duvida da própria sanidade. Uma viagem alucinógena sem tomar LSD... O resumo da ópera OS CINCO ISTÃOS? Comida sofrível, restrições a álcool aqui e ali, gente simpática, boas compras no artesanato local, custo baixo, trajetos rodoferroviários brutais em trens que mais parecem montanhas russas soviéticas com banheiros imundos, estradas pavorosas através de feios desertos salpicados por camelos desnutridos. Tudo demasiado longo, cansativo e desnecessário. Quem deve ir? Os corajosos, curiosos, fanáticos por história, os viajados e também os entediados. E os masoquistas, claro. Quem não deve ir? Gente ligada a luxo e conforto permanentes, os fracos de espírito e os inúmeros brasileiros que não falam inglês. E gente em são consciência, claro. Minha irmã e eu fomos num grupo, o que ajudou com procedimentos burocráticos e intermináveis em fronteiras e proporciona um pouco mais de segurança a duas senhoras acima dos sessenta. Dá para ir independente, sem excursões em que se perde muito tempo com a chatice alheia, mas a logística é trabalhosa e complicada. Existe um trem de luxo chamado Golden Eagle que percorre os highlights; uma alternativa cara e confortável de bate-e-volta. Roteiros milionários de Volta ao Mundo incluem Samarcanda em suas paradas exóticas. Enfim, há diversas maneiras de explorar os países da Asia Central. Vai de gosto e bolso, de saúde a disposição. Não voltaria. Está visto. Valeu! Zurich, 16 de junho de 2024.

2 comentários:

  1. Viagem muito sofrida embora bastante interessante. Os países da Rota da Seda estão vistos. Para mim, o melhor da viagem foi a companhia da minha irmã Fernie, uma verdadeira e brava aventureira!

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  2. Ranzinza e rabugenta, cujo lema é: never give up!

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