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terça-feira, 27 de abril de 2010

ILHA DE PÁSCOA

Revisitada após 15 anos e definitivamente o lugar mais louco do mundo!
Estive na ilha em 1995 e adorei. Tudo.
Os moais imponentes, o povo, o clima “Machu Pichu” ou “Eram os Deuses Astronautas?” do lugar. O mar azul-pavão e a praia de areia cor de rosa. Os mistérios insondáveis de sua história, a primeira vez que vi o oceano Pacífico, que me deparei com um ser polinésio. Uma ilhota perdida no meio do nada, distante 3700 km do Chile a mais de 4000 do Taiti. Isolamento total. Do topo de um de seus 3 principais e extintos vulcões, só se vê mar. Por toda parte.
Não há para onde ir, não tem como escapar.
Só uma empresa aérea voa para lá, navios cargueiros, vez e outra; cruzeiros raríssimos.
Por que quase 5000 habitantes moram na ilhazinha? Por que viver em lugar tão difícil de chegar, tão solitário? Água potável só de chuva, quase todos os alimentos são importados, as terras pertencem 70% ao governo chileno e o resto sobra pouco para cultivo e gado. Tudo vem de fora, nada é feito lá. Por que viver assim?
E se vive há séculos, desde que, provavelmente, uns polinésios doidos cruzaram milhares de quilômetros em botes, talvez vindos das Ilhas Marquesas e lá aportaram há uns 4 ou 5 séculos após o nascimento de Jesus Cristo. A ilha, em seu apogeu, chegou a ter 15 000 pessoas, os pirados que construíram aquelas fabulosas e enormes estátuas chamadas moais, que fazem mais de 50 000 turistas a cada ano, ficarem embasbacados. Até o ator Kevin Kostner arriscou uma mega produção em 1994 sobra a ilha maluca. Deu o nome polinésio da ilha, Rapa Nui. Fracasso total de crítica e bilheteria.
Dos pioneiros sobrou pouco, pois através dos séculos, lutas, escassez de alimentos, doenças e invasões estrangeiras dizimaram os nativos. Dos que restaram, triste figura: não querem ser chilenos (a quem pertence a ilha faz tempo), querem ser independentes. Como? Tem orgulho de suas origens, mas não há certeza delas; é apenas especulação.” Acho que...” “Há estudos que dizem”...
Vivem do nada, no meio do nada, para nada...
Para os turistas, é tudo divertido, claro. Interessantíssimo sob o ponto de vista histórico e atualmente os sítios arqueológicos e monumentos principais estão muito bem preservados pelas autoridades chilenas. O vulcão onde os tais povos desmiolados esculpiam os moais continua sendo o ponto alto em matéria de atração histórico-turística, pois se pode observar a “linha de montagem” dos enigmáticos gigantes de pedra. A única praia da ilha é uma das mais bonitas do mundo. Mar azul pavão e turquesa, areia rosada, coqueiral com gramado, dunas, lugares bons e simples para se comer. Até limpos banheiros públicos. A praia é recinto histórico pois é decorada com moais que dão as costas às belezas naturais e parecem ignorar os banhistas. São os únicos com chapéu na ilha. Bizarros “sombreros” avermelhados. Ver para crer.
Além de caminhadas, cavalgadas e a dita praia, há interessantes possibilidades em mergulho autônomo. Para os menos esportivos e energéticos, atualmente bons hotéis e restaurantes interessantes.
A desvantagem de tal lugar fascinante: o custo.
A LAN detém o monopólio absoluto dos vôos e cobra de acordo. Cinco horas e meia na ida e quatro de quarenta e cinco na volta. Longinho...
Por enquanto só há dois hotéis dignos do nome: Explora e Altiplánico. O primeiro é ótimo, all inclusive, aquela mesma mini-cadeia da Patagônia de do Atacama. É coisa de mais de 1000 dólares por dia, por pessoa. O outro é legalzinho, vistas para o mar, descolado, 350 dólares o casal. Só café da manhã. O resto é composto de pensões , hotéis simples e casas de aluguel. Tudo MUITO BÁSICO. Ficamos no Cabañas Mana Ora, indicação “especial” do Lonely Planet. Uma porcaria que não valeu um centavo sequer dos 150 dólares diários que pagamos pela tal “cabana”. Sem café da manhã, claro. As únicas casas de aluguel que valem a pena, pertencem a um francês ( www.hevapropiedades.cl) que foi membro da equipe do explorador oceanográfico, Jacques Cousteau. Variando entre 350 3 450 dólares por dia, com 170 m2 de área, bem construídas, equipadas, vistas para o mar e belos jardins. O antigo hotel Hanga Roa sofre mega reforma e no próximo ano deve virar a atração da ilha. Na certa, será o maior e de localização mais central. Bom para grupos.
Quem quiser algo mais central, na avenida Atamu Tekena, o “hot spot” da vila, o pequeno hotel australiano-chileno Taura’a, com apenas 10 quartos é bastante decente. Meu marido hospedou-se lá há 5 anos e gostou. Não é barato. No mínimo 140 dólares por quarto. Com café da manhã. Entre este hotel e o charmoso café resto Aloha, existe um restaurante com cozinha aberta, raridade no local, bastante bom. Massas, saladas e frutos do mar são bem feitos e apresentados e o lugar é ajeitado e romântico (infelizmente não me lembro do nome da casa). Outra raridade...
Se eu voltasse amanhã, escolheria o hotel Altiplánico para ficar, cópia mais barata e bem sucedida do Explora. Segue os passos do “mentor” na Patagônia e no Atacama, com lugares bem interessantes. O Alitplánico fica fora da cidade mas não impossivelmente longe (caso do Explora), não é mortalmente caro, vistas lindas para o mar e para um moai triste, sério e solitário; exibe nível decente de conforto e possibilita aos que gostam de caminhar, bom exercício até à “cidade”.
Hanga Roa é o centro da ilha, uma vilazinha doida e feia, com toques de Trancoso e Monte Verde, numa mescla de cães e cavalos soltos por todo o lado, ruas esburacadas, lojas capengas, uma igreja e museu que valem as visitas e alguns restaurantes bons e bizarros como Au Bout Du Monde, Ariki (só pelas empanadas) e La Taverne Du Pecheur. Comida internacional com toques franceses e bastante peixe cru; bem preparada. Cara. Nenhum casal come decentemente por menos de 100 dólares. Em lugares que estão mais para “barraco-chique” do que para restaurantes. Onde à noite com freqüência acaba a luz e a espera pelos pratos pode ser longa.
A vantagem etílica é o bom vinho chileno e os refrescantes piscos sours.
Do ponto de vistas das compras, economia total! Não há zero para comprar. O artesanato é horrendo, roupas nem pensar.
Por que ir à tal lugar? Caro e longe?
Porque não há NADA igual no mundo. A ilha é única e o que se vê por lá não se vê em lugar algum. Sua história é distinta de todas as ilhas por todos os oceanos de nosso planeta, o povo é uma mistura estranhíssima de chileno com os semi-polinésios acima citados, seu estilo de vida é ímpar e conversar come eles é inesquecível. Cada um tem uma razão para viver e gostar de tal maluqueira e isolamento. Um fugindo do caos urbano de Santiago, um suíço que se apaixonou por uma nativa, comissária de bordo da LAN, um dentista chileno que virou uma espécie de Paul Gaugin da ilha, “enlouquecido” pelas mulheres e a “magia e sedução” dos trópicos. E por aí vai...
Seu povo, vulcões, moais, centenas de cavalos selvagens, ruínas, cavernas , lendas, suposições, mistérios e a moldura fabulosa do azul profundo do Pacífico valem o investimento.
E com tanto tsunami, terremoto e vulcões furiosos atualmente, vá antes que acabe!

Viña Santa Rita – 24 de abril de 2010

O TAITI É AQUI

Volta ao paraíso da Polinésia Francesa após 5 anos

Em nossa primeira visita (2005), gostamos tanto das ilhas que resolvemos voltar para celebrar 10 anos de relacionamento. Escolhemos outro hotel em Papeete, optamos erroneamente por um cruzeiro tedioso e caro pelas Ilhas Marquesas e elegemos Moorea para os dias finais de nossa volta à Polinésia Francesa.
Infelizmente, o hotel Manava, em zona residencial de Papeete é uma porcaria, mas o entorno tão lindo e divertido, que compensou o quarto escuro dando para o estacionamento do hotel. Sem falar nos encanamentos fedorentos do banheiro...
E o café da manhã fraquinho custando 50 dólares!
Mas não importa. O Taiti é um deslumbramento e as 3 noites em Papeete acabaram sendo felizes e relaxantes. Visitamos também Fakarava e Rangiroa, no arquipélago vizinho, Tuamotu. Lindas e primitivas, as ilhas são um show de paz e cores. A primeira, pequena e primitiva, a segunda, um dos maiores atóis do mundo, uma sensação de ilhas de todos os tamanhos e formatos e o mar mais azul que se possa imaginar. Com os peixes de todas as cores imaginávrisd ou não. Rangiroa, junto com Bora Bora é uma Meca do mergulho, autônomo ou não e o clima é totalmente zen. É o que Moorea e Bora Bora devem ter sido há 50 anos. Poucos hotéis, povo super simpático, restaurantes simples, bons e baratos, o que é total raridade na Polinésia Francesa. Por 40 dólares almoçamos um magnífico tartar de atum com fritas e o prato nacional do Taiti, o poisson cru. Delicioso peixe cru nadando em leite de coco e marinado no limão. Porções generosas.
Nas Marquesas e Tuamotus ainda é possível comer bem e razoavelmente barato. Nas Ilhas da Sociedade, que compreendem as mais famosas – Taiti, Bora Bora, Moorea, Tahaa, Raiatea, Huahine, Maupiti e outras, isso já é quase missão impossível.
Infelizmente, o delicioso hotel Kia Ora, o melhor de Rangiroa, fechou as portas. Espero que temporariamente, pois o lugar é lindo e a piscina lançada sobre o mar parece um barco de tom de azul um tanto diferente dos fabulosos do mar local. O efeito é deslumbrante.
A crise financeira mundial iniciada pelos EUA (depois da França, o país que mais envia turistas à região) em 2008 afetou tremendamente o turismo local. Em toda a Polinésia. Mas Rangiroa, por ser remota e um tanto desconhecida, sofreu mais. Fechou seu melhor hotel. Uma pena...
O Kiaroa da Bahia é uma cópia fraca do original acima citado. Não há como rivalizar o mar e os peixes.
Terminamos nossa segunda e longa jornada pela Polinésia Francesa em Moorea. Muito acertadamente no Pearl Beach Hotel. O bangalô na praia ajudou muito, amplo, romântico e muito confortável. O total pé na areia, com o mar quase entrando no quarto é sensacional. Continuo achando que os famosos e cobiçados bangalôs sobre a água, além de caros acabam sendo inconvenientes. Vários deles recebem sol fortíssimo praticamente o dia inteiro e ficar no terraço é uma tortura. Para que pagar mais de 1000 dólares para ficar trancado no ar condicionado ou na piscina?
O restaurante do Pearl é excelente e o serviço muito simpático e charmoso. É um hotel 4 estrelas, não é nada barato, mas é uma boa opção na linda Moorea. O SPA é celestial e a loja bem original, vendendo produtos completamente diferentes do que a mesmice encontrada nas cadeias conhecidas.
Ficar em Moorea e ignorar Papeete é fundamental para fazer da experiência Polinésia a melhor possível. Como escrevi em meu primeiro artigo, há cinco anos, sobre a região, Papeete não exibe grandes encantos. Para nós brasileiros, voando com a Lan via Chile, uma noite em Papeete é inevitável, pois o vôo chega à meia noite em Papeete e não é possível chegar à charmosa vizinha Moorea a tal hora. Mas só. Há vôos curtos e balsas eficientes e perfeitas o dia todo, com apenas meia hora de trajeto.
E Moorea continua sendo, como ilha-vulcanica-verde-e-florida, minha total favorita.
Quero voltar e ela e a Rangiroa. Nem que seja só em sonhos...

sábado, 17 de abril de 2010

ARMADILHA ARANUI - Cruzeiro chato pelas mais chatas ainda Ilhas Marquesas

Consultem o mapa, pois não há muita gente que sabe onde estão as tais ilhas. Não há vergonha nisso, pois elas fazem parte da Polinésia Francesa, e são um pequeno arquipélago, extremamente isolado no Pacífico Sul. Tão distantes, que apesar de pertencerem ao conjunto de arquipélagos que compõe a maravilhosa Polinésia Francesa (mais conhecida por Taiti), poucos turistas chegam ali. Em navio, quase 3 dias inteiros de navegação entre Papeete, a capital do Taiti e Nuku Hiva, a capital das Marquesas. De avião é possível conhecer algumas delas que possuem aterradores “aeroportos” que só comportam avionetas minúsculas. Caro e arriscado.
O cargueiro Aranui é o único navio que faz transporte de passageiros de forma regular, há mais de 20 anos, entre as 6 ilhas habitadas do arquipélago. As vezes, um ou outro cruzeiro de luxo arrisca uma ou duas viagens por ano. Nada mais.
As Marquesas são importantes do ponto de vista histórico e arqueológico, pois estão entre as primeiras ilhas habitadas da Polinésia e os sítios arqueológicos lá existentes são muitos e muito antigos, alguns com datas antes de Cristo. A geografia das ilhas é montanhosa e verde, um verdadeiro “paraíso tropical”, tendo em volta o azul-violeta do Pacífico. Uma maravilha, não? Quem não gostaria de conhecer tais lugares? História, tradições preservadas pela pequena população das ilhas, costumes exóticos, museus, igrejas, artesanato, pérolas negras, tatuagens exóticas e exclusivas. E por aí vai a mística que faz das Marquesas um destino de fascínio para todos os turistas mais viajados e informados, dos amantes da natureza aos eco-chatos, de historiadores a antropólogos e também àqueles casais em lua de mel que procuram alongar a sofrida e caríssima visita ao Taiti com algo de mais peso antropológico-cultural. Aquela sensação gostosa de contar aos amigos que estiveram nos confins do planeta, em ilhas mágicas habitadas por seres inteiramente tatuados e seminus, sexo livre, lugar onde o fabuloso pintor francês Paul Gaugin morreu e escolheu viver cercado de garotas de 14 anos, suas voluntárias “escravas sexuais” na famosa Maison Du Jouir (literalmente: casa do gozo).
Baseados na suposta magia do arquipélago e já tendo estado no Taiti e Ilha de Páscoa (com planos em breve para viagem ao Hawaii), resolvemos conhecer as Marquesas para extender nossa perspectiva sobre o fascínio de tais povos e lugares. Assim sendo, optamos pelo cruzeiro de 13 noites no acima citado navio. E não podia ser pior escolha. Ruim e caro.
O navio em si é quase tão famoso quanto as ilhas e o que o ótimo guia Lonely Planet chama de “viagem-ícone” às Marquesas. Embalados nisso tudo, lá fomos nós, tragados e cegos pelo marketing e mistério de tal aventura. O que caracteriza a viagem como “aventura” é a distancia e o fato de se viajar em cargueiro. De fato, o procedimento de mover carga para dentro e para fora do navio é muito interessante e surpreende que um navio possa transportar tanta coisa. De enormes containeres a barcos e motos. Sem contar o material de construção, as geladeiras e por aí vai. Desde o primeiro momento no Aranui, antes do navio zarpar, é possível acompanhar tais procedimentos. Parece bobagem? Pois é um dos pontos altos do cruzeiro.
Vocês então, podem imaginar o resto...
Optar pela melhor suíte do navio foi decisão muito acertada, pois o trajeto é longo, as áreas comuns do Aranui bem feias e pequenas, o bar não é digno do nome. A sala de reuniões e conferencias cheira mal e muitos europeus e americanos porcalhões se movem sem sapatos por todos os lados e põe os nojentos pés descalços nas poltronas, mesas e até nos 2 computadores que deveriam prover acesso à internet umas 5 vezes durante o cruzeiro e não o fazem.
Tudo no Aranui é confuso: paga-se 40 dólares por acesso ilimitado à internet, mas os responsáveis abrem o lento sinal e todos podem usar! E que se dane quem já havia pago os tais 40. Eu, por exemplo...
A comida só não é francamente péssima, pois estamos na Polinésia que é francesa e portanto, os padrões comestíveis são bons. No entanto, porções minúsculas e o mesmo molho de salada durante quase 2 semanas faz pensar em como o conservam por tanto tempo. Fora a cor amarronzada, nem um pouco convidativa. A sala de refeições é pequena e desconfortável, suja e também cheira mal. Casais são forçados a sentar-se em grandes mesas comunitárias para refeições, numa Babel de línguas que incluem frances, alemão, inglês, italiano, espanhol, taitiano e também linguagem típica das Marquesas. Com gente comendo de boca aberta, velhos caquéticos dormindo e roncando, crianças ruidosas, franceses que não tomam banho há dias, serviço péssimo. Uma confusão tediosa...
Não há absolutamente NADA o que comer fora das 3 refeições. NADA! Não há serviço de cabine, não existe lanchonete e se o viajante perde uma das refeições, problema dele, pois ficará sem comer até a próxima ocasião. Umas 5 ou 6 vezes há almoços patrocinados pelos navio em restaurantes “típicos” nas ilhas. Pior ainda! É uma meleca total de buchada de bode, (não é piada, falo sério), leitão assado em imundo forno de barro, peixe cru, arroz grudento, fruta pão asquerosa e bananas defumadas. Conseguimos escapar de 2 e comemos muito bem em restaurante simples em Ua Pou e em pousada chique na ilha do Paul Gaugin, Hiva Oa. De resto, compramos batatas chips, frutas secas, nozes e bolachas para termos o que comer nas muitas vezes em que ignoramos jantar e café da manhã, assim evitando o rebanho de gente feia, suada e mal vestida e a comida indigna do nome.
Os horários das refeições são militares. O freguês paga uma fortuna para café da manhã entre 7 e 8 30, almoço de 12 a 1 30 e jantar de 7 a 8 30. Estamos em férias ou servindo o exército????? Não mencionando o fato de que o restaurante comportaria no máximo 80 pessoas com conforto e os malditos chineses espremem 170 pagantes como sardinhas em lata.
As camareiras entram em sua cabine quando querem, em total desrespeito à privacidade alheia. A vantagem é que são muito simpáticas e alegres, característica que compartilham com a maior parte dos polinésios.
Bom, visto que o navio além de sujo e fedorento, desconfortável – a piscina é uma piada de água doce trocada a cada 2 dias, muito pequena e repleta de crianças barulhentas. O bar serve bebidas caras e semi-intragáveis e as áreas comuns são poucas e totalmente desprovidas de charme, o jeito é escapar delas o máximo possível.
Eu , até o meio da viagem não sabia que o Aranui pertence a chineses e foi feito na Romênia, famosa por mão de obra péssima e ainda mais barata do que a semi-escrava e baratíssima mão de obra chinesa. Vim contando com navio frances e saí levando uma horrível operação chinesa! Como os chineses não respeitam direitos humanos, também não respeitam os direitos dos turistas. Pagamos 10 000 euros pela cabine-salvação, mas fomos obrigados a comer pouco e mal, gastar dinheiro (8 dólares por um saco de batata frita, 10 por latinha de castanha de caju) na loja com as parcas opções acima citadas e a beber vinho frances de qualidade duvidosa e a enfrentar longas e tediosas filas para embarcar ou sair do navio nas ilhas. Cento e setenta turistas, em sua grande maioria idiotas europeus de classe média, para quem sol e calor já é o suficiente. Não se importam em levar gato por lebre, pagam para estar nos “exóticos trópicos”. E os espertos chineses aproveitam isso!
Portanto meus queridos leitores brasileiros, fujam do Aranui rapidinho e jamais considerem tal cruzeiro. Para nós tupiniquins, acostumados a sol, calor, vegetação tropical e boa comida, a coisa toda é uma mega mico!
E as ilhas? O Paul Gaugin tinha razão em ser tão feliz nelas? Bom, como dizem sabiamente os ingleses, “é um gosto adquirido”.
As ilhas são montanhosas, secas, faz lá um calor do cão, a comida é ruim, não há nada que comprar. Ás vezes umas pérolas, estátuas bizarras em pedra e madeira. Tudo caríssimo e de gosto questionável. A geografia de Ua Pou e Fatu Hiva, esta última a mais isolada entre as ilhas, com acesso apenas por barco, é bonita, com picos de granito que lembram as Torres Del Paine no Chile e nosso querido Pão de Açúcar no Rio. Fora disso, NADA. Não são lugares agradáveis, não há boa comida ou comércio interessante, os pequenos museus são um tédio, as caminhadas por florestas de coqueiros, bambus e bananeiras, não são especiais para nós brasileiros; são paisagem batida e muito parecida com nossa vegetação. Caminhar pelas áreas mais verdes requer calça comprida e camisa de mangas compridas também, para não sermos devorados vivos pelos inúmeros mosquitos letais das ilhas. Com direito a dengue e tudo mais.
Pode-se cavalgar por quase toda parte, mas nas mesmas condições de calor e sol a pino. O mar às vezes apresenta cores bonitas, mas perde de longe, muito longe para o deslumbramento do arquipélago do Taiti e da beleza das ilhas Tuamotu. Mais fáceis de chegar e bastante mais interessantes.
Quase não existem praias e as poucas acessíveis são de areia preta e grudenta, repletas de pedras perigosas, outro NADA absoluto.
Vale a pena voar 15 horas, navegar por 14 ida e volta (percurso marítimo em total de 3500 quilômetros) para ver isso????? Para brasileiros que tem um costa gigantesca de praias lindas, com serviços (milho, caipirinha e raspadinha), conforto, alegria e bom custo benefício, certamente não.
E o intrigante povo das ilhas Marquesas?
NADA há de especial com eles, gordos e feios hoje em dia, totalmente subsidiados pelos cofres generosos do governo frances, num festival interminável de carros enormes e caríssimos, tudo patrocinado por Monsieur Sarkozy e comparsas, na certa com a consciência pesada pelos medonhos testes nucleares que perpetraram na região. Das interessantes tradições polinésias das Marquesas nada restou. Só show folclóricos para turistas cretinos. Não se vestem com cangas e flores nos cabelos o tempo todo, mais uma vez, só para a turistada imbecilizada pelo “mito” local. Todos tem celular e internet em casa, não há nem meio mendigo e tem orgulho de serem franceses. Creio que bem mais do que serem polinésios. Também pudera! Quase não trabalham ou estudam e vivem vidas de reis. Financiados a grande pelo pobre contribuinte frances.
E os famosos sítios arqueológicos? Outra decepção. No meio de florestas e árvores imensas que engoliram quase tudo, uns punhados de pedras fazem as honras da casa, como “importantes resquícios arqueológicos”. Outro NADA. Apenas em Fatu Hiva se encontra o vestígio interessante de civilizações antigas, com grandes estátuas chamadas tiki e uma história verdadeiramente importante. Só.
O museu dedicado a Gaugin, em Hiva Ao, é absurdamente ridículo, pois TODAS as valiosas pinturas deste magnífico artista, estão espalhadas pelos principais museus da França e Estados Unidos. Sem contar as maravilhas que hoje estão no deslumbrante Hermitage, São Petersburgo, na Rússia. Em Hiva Ova, o turista paga para ver cópias de sétima categoria. Há uma réplica da pecaminosa Maison Du Jouir. Só. No cemitério local, sua simples tumba, bem perto de outro fanático pelas Marquesas, o cantor e poeta Jacques Brel.
Resumindo: o navio é caro e ruim, o percurso longo demais, as ilhas um tédio sem grandes belezas naturais, os locais gordos e sem charme.
Os dois pontos altos: duas breves paradas nas fabulosas Fakarava e Rangiroa. Ironicamente situadas na parte da Polinésia Francesa que é REALMENTE um paraíso. De beleza natural à sofisticação francesa, com direito a história e gente que vive vidas e costumes genuinamente polinésios. O navio ancora perto delas como um “bônus” aos turistas, pois o Aranui não transporta carga para tais ilhas. Paradas de apenas 2 ou 3 horas ...
Fiquem com o Taiti e as Tuamotu e esqueçam para sempre que existe um péssimo navio chamado Aranui e umas ilhas sem atrativos especiais chamadas de Marquesas. Ou Les Marquises para os franceses. O nome em frances reflete um suposto charme que não existe.
Sofrendo nos últimos dias da infernal banheira flutuante chamada Aranui, rumo sul – 14 de abril de 2010

CHILE PÓS TERREMOTO – 2010

Já estive no Chile umas 13 vezes e adoro o país. Portanto, foi com grande tristeza que soube do terremoto fortíssimo que abalou o país em fins de fevereiro. E apreensão, pois passei Natal e Ano Novo ali e poderia ter vivenciado o que, creio eu, deve ser uma das experiências mais apavorantes em termos de desastres naturais. Mais medo ainda, pois em fins de março tínhamos viagem marcada para o Chile; uma noite apenas, mas...
Nada vi. Em nossas 24 horas em Santiago, hospedados no bairro alegre e movimentado que é Providencia, no dia 31 de março de 2010, não vimos qualquer vestígio da tragédia. O povo alegre e ocupado pelas ruas, bares e cafés. Tudo aparentemente normal, não vimos nada rachado ou destruído.
Almoçamos magnificamente no Astrid y Gastón, casa do famoso chefe peruano, Gastón Acura, sócio também da cadeia La Mar, com uma filial em São Paulo. O La Mar é bom e o Astrid y Gastón consegue ser ainda melhor. Numa casa antiga, em rua arborizada e tranqüila, o estilo espanhol de lajotas no chão e pátios internos oferece refúgio fresco ao calorão da capital chilena nos meses de verão.
O pisco sour é mais que perfeito. Uma feliz combinação chileno-peruana da bebida cuja origem é disputada por ambos os países.
Frutos do mar em criativas receitas, boa carta de vinhos, serviço amável, até cordeiro patagônico e sobremesas elaboradas são dignos de crédito. O preço é equivalente ao La Mar de São Paulo. A diferença é que o cardápio é bem mais extenso, variado e caprichado do que o do restaurante paulista. E a carta de vinhos, incomparável.
O aeroporto foi o único lugar que apresentou danos causados pelo terremoto. Mas se não se sabe do dito, pode-se facilmente pensar que há obras de remodelação do mesmo. Nada fora de reparos e reformas normais. Na loja Duty Free, talvez o único vestígio da catástrofe: muitas garrafas de vinho à venda, com seus rótulos manchados.
Voltaremos lá em meados/fim de abril e nos hospedaremos na Vinícola Santa Rita, no famoso Valle Del Maipo, arredores de Santiago. Os experts já prevêem mais abalos sísmicos. Veremos...