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domingo, 24 de dezembro de 2023
BUENOS AIRES - VERÃO 2023/2024 E UPDATES GRAMADO E CURITIBA
CIDADE PEQUENA, MÉDIA E GRANDE
Update final de 2023 sobre minhas amadas Gramado, Curitiba e Buenos Aires.
Cidades onde estive nos meses finais deste conturbado e violento ano que ainda não acabou, lugares tão distintos e tão gostosos.
Começando por minha pequena Gramado, a mais recente e a alegria de suas ensolaradas festas de Natal. Certo que este ano as rachaduras no solo de um bairro deram margem a toda sorte de virulentas fake News, mas pude conferir que a cidade e o que ela oferece, bem como a vizinha Canela, ainda estão lá inteiras, com tudo funcionando normalmente. Sempre novidadeiras, lojas diferentes, restaurantes, atrações de parques infantis e adultos. Me restringi aos roteiros de sempre, fugindo dos turistas no La Braise, no Bistrô da Lu, no Capullo e no meu amado e charmoso Josephina. Única concessão é o Nonno Mio, favorito daqueles leitores de fake news do Facebook. O segredo na Serra Gaúcha, na longa e infinita temporada do Natal Luz, que vai de outubro a janeiro, é ir a restaurantes, parques, atrações, Lago Negro e áreas centrais, de segunda a quinta. Se estiver por lá de sexta a domingo, vá longe, aos cânions, a São Francisco de Paula e prefira, sempre, os restaurantes de Canela. Fujam da Avenida Borges de Medeiros nestes dias!
Exceção honrosa feita ao Josephina, na área central dominada pelas criaturas “genéricas”, típicas do turismo de massa que assola o mundo. Como o restaurante é caro, escondidinho e não está no radar nocivo dos cafonas de plantão, é local seguro para boas refeições, mesmo a dois passos da Borges de Medeiros.
Outra boa ideia é reservar uma tarde a Porto Alegre, visitar o museu Iberê Camargo, pegar um cineminha na Cinemateca Paulo Amorim e almoçar no Bah ou melhor ainda, no Forno. Sem selfies ou influencers.
Aliás, a ausências destas pragas modernas da mídia social fartamente citadas anteriormente, é uma das várias razões por que gosto de Curitiba, minha favorita capital do Brasil. Limpa, organizada, interessante e cultural, minha estadia em dezembro me deleitou com o Festival de Cinema japonês no divino Cine Passeio. Com peças de teatro no Guaíra e refeições memoráveis e impecáveis no Durski, no Madeiro Steakhouse, Nômade e Badia. Desta vez o Pobre Juan e o Terra Madre decepcionaram. Um caro, o outro um tanto decadente e ruim. O Museu Oscar Niemayer sempre interessante, as caminhadas por parques e avenidas largas são um exercício gostoso.
Categorizo Curitiba como cidade média neste artigo, pois a grande será minha encantadora Buenos Aires, que é bem maior. Como sempre, o espaço urbano melhor do mundo para caminhar, principalmente no final da primavera, onde os parques intensamente floridos com jacarandás e primaveras (buganvílias) e a brisa ainda freca do gigantesco Rio de La Plata, deliciam o visual e sensorial, refrescando o já eminente e onipresente verão portenho. A cidade é deliciosa na primeira quinzena de dezembro. Depois, até final de março, um forno horrível.
O clima de alegria e esperança foi o toque diferente desta minha estadia de dez dias em Buenos Aires. Gente alegre, tudo cheio e movimentado pós eleição no novo e cabeludo presidente. No que vai dar, não sei, mas a sensação de alívio e triunfo por terem se librado do estorvo peronista, já vale o esforço. Torço pelos Hermanos e seu lindo país. Que na certa ficará mais caro para nós. Eu peguei o último dia de Free Shop barato, pois na segunda feira o senhor Milei já deu uma mega desvalorização no peso, para tristeza dos brasileiros que faziam a festa nos aeroportos, com tudo convertido ao peso oficial. Pena...
Que seja por uma boa e justa causa e a Argentina se recupere do jugo sindicalista que atrasa o país há quase 80 anos.
Museus fracos desta vez, tudo em clima de Natal e Ano Novo, ou seja: deserto cultural. Não no teatro, onde as produções estão maravilhosas e mais baratas do que nunca. A versão do Teatro San Martín de Cyrano de Bergerac é deslumbrante, a ópera moderna no Colón, Cidade Ausente é super inovadora e ousada, as produções “tabajara” do Picadero divertem muito, até com espetáculos cafonas e bem humorados homenageando clássicos do bolero.
Desta vez, descobri que os restaurantes de Buenos Aires, que não sejam de comida típica, bem local, são mais fracos do que os de São Paulo. Frutos do mar, comida italiana, peruana, bem melhores na capital paulista, em Curitiba, em Porto Alegre, por exemplo. O Brasil é bem mais caro, mas melhor, em menus que fujam da carne, doce de leite, empanadas e vinho tinto, os carros chefes imbatíveis e eternos da argentina. O país sofre muito com o peso desvalorizado e tudo que é importado, mesmo do Mercosul, fica quase inviável.
Concentrem-se nos lugares onde é fácil reservar, ou mesmo ir na cara de pau, sem reserva mesmo, caso do ótimo Mirasol de Porto Madero, por exemplo. Ótimas carnes e serviço, local bem agradável. Tem brazucada feia, mas em níveis razoáveis. Minhas estreias foram La Causa Nikkei, péssimo peruano em Palermo, Cauce (bonito e elegante, oferecendo comida indigna) em Puerto Madero, Parollacia Palermo, agradável, bom e caro italiano e República del Fuego, pequeno e charmoso de carnes modernosas, na Recoleta. Voltaria aos dois últimos, apesar da conta alta do italiano e da escolha errada da carne no descolado típico.
Não consegui reserva no Don Julio e nem sequer no meu querido El Preferido, ambos altamente cotados e prestigiados como melhores na lista 50 top da Restaurant. Pero...
Fui ao show máximo e absoluto de carnes, coisa para quem, como eu, gosta de comer boi mugindo, fanática dos cortes radicais e bem vermelhos, o Corte Comedor. Esta preciosidade foi dica de um argentino e é um restaurante fora de mão e sem nada de especial em termos de ambiente, decoração ou frequência. Serviço ok, nada de especial. Mas as carnes... Meu Deus...
O tal sujeito argentino, da dica acima, me aconselhou a pedir um corte, um prato, chamado “ceja de ojo de bife”. Vi no cardápio, o item mais caro, por sinal e me arrisquei. Primeiro, empanadas de carne fabulosas, temperadas com ají, fumegantes, acompanhadas de bom Malbec – sempre respeito, de cara, casas que oferecem bons vinhos em taça a preços decentes, sinal de respeito aos clientes, é totalmente o caso do Corte Comedor. Que vai logo virar o Don Julio e não dará mais para entrar. Talvez não, pois é numa parte um tanto feiosa, obreira e longínqua de Belgrano, mais para os lados do estádio enorme do River Plate.
Vaux le voyage, como dizem os franceses. Vale a viagem, em bom português. Vale até ir de joelhos, se for o caso. A carne, a tal ceja, é o melhor bovino do mundo, melhor até do que os mugidores do Don Julio. Pedi, como sempre, mal passada: a coisa vem um tição de carvão que parece incomível, mas quando se corta a “proteína” como dizem os chatos woke de hoje em dia, já se vê a cor correta, a textura e o sabor inigualáveis.
Corram e se locupletem! Antes que os brasileiros e o Messi descubram o lugar. A sobremesa também vale as gordas garfadas, um cheesecake de quinotos (laranjinha azeda), portentoso.
Quase ia esquecendo de mencionar o Bis, filial transada e baratinha do Aramburu, o melhor restaurante da Argentina, segundo o Michelin. Comida bem argentina e bem moderna, minha segunda vez alí e volto sempre. Perfeito custo benefício, maravilhosamente calórico na fartura de creme e manteiga na confecção dos pratos.
Mí Buenos Aires querida...
Minha quinta vez este ano na cidade fechou o ciclo 2023 com chave de ouro.
Volto em julho de 2024. Antes de ir a Gramado de novo. Combo equilibrado entre cidade grande e pequena.
São Paulo, 24 de dezembro de 2024. Feliz Natal!
quarta-feira, 1 de novembro de 2023
NOVA YORK CARA, DECADENTE E PERIGOSA - OUTUBRO DE 2023
Nova York – outubro de 2023 – ascensão e queda
Minha amada Big Apple vive uma fase difícil nos últimos tempos, resultado da pandemia e de administrações desastrosas dos últimos dois prefeitos. Fazia quase dois anos que não voltava e o que vi me chocou. Ruas imundas, sem-teto andrajosos e repugnantes, loucos gritando agressivos, uma fauna pavorosa, além de hotéis centenários que faliram e se tornaram abrigos de migrantes da América Central. Wellington, Roosevelt e até o venerável hospital Belevue, entre outros. Previsivelmente, os índices de violência na cidade, só crescem.
Fora o custo, a cidade é hoje em dia mais cara do que Tóquio ou Zurich. Não vale o que cobra, pois a comida pode ser boa, mas o serviço é péssimo e há a quase obrigatoriedade de se dar, no mínimo e lá vem cara feia, 20% de gorjeta. A Broadway, razão principal pela qual sempre frequentei a cidade, tem poucas produções novas e nenhum nome de peso. Perde, de longe, para o West End londrino; onde se paga menos pelas entradas e a qualidade é insuperável.
Museus seguem lutando, mas cenário deprimente no finado Met Breuer, que hoje abriga algumas obras da Frick Collection, mas o restaurante, que já foi o maravilhoso Flora Bar, está abandonado. Bem como o restaurante do Whitney, dando uma impressão de decadência e tristeza extremas. Fora as centenas de lojas fechadas, há anos, nunca se recuperaram da pandemia.
Como nem tudo é sombra e se o viajante insistir em ir a Nova York, aqui vão as dicas positivas:
1- Hudson Park – local lindo beira-rio, em fase de finalização. A Little Island é deliciosa.
2 - Wolfgang’s – restaurante que continua bom e cujos crab cakes e torta de pecans são itens veneráveis.
3 - Lincoln Center e Carnegie Hall, mantendo a qualidade da programação
4 - PJ Clark’s e Fiorello’s sobreviveram com bravura e comida ótima. Idem para o estiloso Bar Room do The Modern, dentro do MOMA. Tudo caro, mas com serviço eficiente e amigável.
5 – Musicais, Some Like It Hot e Neil Diamond. Delícias retrô.
6 - Guggenheim, New Museum e Dia Beacon lutam por boas exposições e conseguem resultados expressivos.
7 - Cinema resistindo a onda de fechamento de todos os outros nas regiões legais de Manhattan: AMC Lincoln Centre.
8 - Cookies campeões da Levain Bakery
Só.
Nova York, que já foi minha cidade do coração, não me pega tão cedo.
São Paulo, 01 de novembro de 2023
sábado, 21 de outubro de 2023
JAPÃO EMOCIONAL - OUTONO 2023
JAPÃO – BUCKET LIST – OUTUBRO 2023
Sempre quis conhecer este pequeno, forte e distante país asiático, mas nunca deu certo, tudo conspirava contra. No início de 2020, a pandemia destruiu nossos planos. No entanto, no conceito americano de bucket list, ou traduzindo livremente: coisas que se quer muito fazer antes de bater as botas, ou chutar o balde, o Japão era o que faltava em minha longa e feliz trajetória viageira de mais de 50 anos.
No outono deste ano, consegui e com grande alegria enfrentei as muitas horas que levam ao dito país do sol nascente e adorei. Vale o jet lag, os aviões nojentamente lotados, aeroportos fedorentos, o Japão é único, especial, diferente e muito agradável. Começando por Tóquio, a maior cidade do mundo; em tamanho e em interesse, pois apesar de enorme, é um fascinante-amigável e fica-se a vontade deste o primeiro momento.
Desde o ótimo trem que liga o aeroporto ao centro, tudo funciona. As pessoas são educadas e gentis e nem a barreira da língua é tão grande. Os japoneses fazem de tudo para agradar e são, de longe, o grande diferencial do país. Nunca vi gente tão educada, com tanto espírito comunitário, tão organizados.
Em Tóquio, passei o segundo dia em três roteiros diferentes daqueles ônibus turísticos de Hop On, Hop Off, para ter uma vaga ideia do lugar tão grande. Compensou e nos intervalos eu ficava horas me maravilhando com os gigantescos jardins do Palácio do Imperador e a limpeza das ruas, a perfeição dos gramados, as artes de jardinagem que transformam um simples pinheiro numa árvore onde as folhas parecem mais conjuntos de nuvens, de tão bem podadas e cuidadas.
Como eu já sabia que a culinária não me agradava e não seria o ponto forte da viagem, procurei restaurantes ocidentais; há vários e me deliciei com italianos de primeira linha, onde a fusão de sabores e ingredientes é genial. Ragu de carne Wagyu, maravilhosa bovina local, com espaguete e burrata, foi o prato inesquecível. Como me juntei a um grupo turístico no quarto dia, tive oportunidades variadas de provar a verdadeira comida japonesa; que não é minha praia e é bastante diferente da japonesa-adaptada que comemos no Brasil. Sempre de qualidade, mas um sem fim de sopas, caldos e arroz grudento, sempre acompanhados de coisas que deveriam se quentes e são servidas frias, tempura, entre outros. Não importa. Foi uma experiencia interessantíssima, um laboratório multicolorido de texturas e sabores. Lá descobri que a cerveja japonesa é ótima, que eu gosto de saque e o cachorro-quente é delicioso!
Toquio é um enorme shopping center em formato de cidade e nunca vi lojas tão bonitas, tão interessantes, tão luxuosas. Nem mesmo para quem não aprecia tanto assim as compras, Tóquio decepciona. As vitrines são um show e o Japão não é tão caro como se imagina. Mais barato do que os grandes centros europeus ou Nova York. Tomei 19 táxis em menos de três semanas e não achei nada do outro mundo de caro. Bem melhor do que se estressar com lotados e indecifráveis metros e trens. Que adoro, por sinal, mas no Japão queria ver a rua, os jardins, a arquitetura. Com o grupo viajamos no trem-bala, simples e eficiente e em trens comuns também. São bons, mas perdem dos suíços, por exemplo.
Além do esplendor de Tóquio, visitei Osaka, última cidade da viajem. Feia, mas intrigante, valeu pela arquitetura, a impressionante infra estrutura, o aquário, museus, parques, castelo e tour num galeão tipo espanhol pela baía da cidade. Também fomos a Nagoya e Kanazawa, bem como Toba, Nachi Katsuura, Kyoto e a linda Hiroshima. Que superou o trágico passado com arquitetura moderna, belos parques, rios limpos. O memorial da Bomba Atômica é imperdível e faz pensar na desesperança que é a guerra, mal do qual não nos livramos desde que existimos.
Cidades menores, muitos templos budistas e xintoístas, praia e montanha, contrastes geográficos belíssimos, não deixei de aproveitar nada. Até peça de teatro em japonês fui ver, cinema francês com legendas em japonês, um parque tipo High Line nova iorquino bem descolado. Foi uma salada turística bem montada e complementar, pois o país é preparadíssimo para os viajantes desavisados e ocidentais. Só não vá se não falar pelo menos inglês básico, pois o idioma local é indecifrável. Com inglês é possível se virar de maneira independente por lá. Muitos brasileiros ou vão em grupo ou contratam guias locais. Eu tive a experiencia de uma semana totalmente independente pelo Japão e quase duas com um grupo da Freeway, excelente agência paulistana. Foi bom e o roteiro sugerido mesclou o urbano e o antigo, menor, mais intimista, de maneira perfeita.
Eu voltaria ao Japão, numa próxima para conhecer Okinawa e Hokkaido, dois extremos norte e sul, um praia outro neve e voltaria a Tóquio sempre, pois amei a cidade. Naoshima também seria incluída nesta segunda exploração japonesa. Gostaria de ter visto mais de Nagoya, Kyoto e Kanazawa. O Japão é aquele tipo de pais que tem tanto a oferecer, que o tempo mínimo, mesmo assim insuficiente, são três semanas.
Mitos desfeitos:
O país não é caro e dá bem para fazer compras, tomar muitos táxis e comer bem.
Pode-se viajar de maneira independente.
O Monte Fuji é bonito, mas os vulcões chilenos e equatorianos são mais esplendorosos. Mantenha as expectativas mais para baixo quando pensar na foto cartão-postal do país.
Hakone é bárbara, mas Inhotim não fica atrás. Não glorifique o estrangeiro, pois o produto nacional equivalente é poderoso.
Os hotéis não têm só quartos minúsculos, tipo capsulas. São bem normais, de bom tamanho.
O Japão não é a festa do sushi, prato encontrado em apenas alguns restaurantes, especialmente os localizados perto ou dentro dos famosos e limpíssimos mercados de peixes.
A limpeza das ruas é impressionante e as 120 milhões de pessoas espremidas num território muitas vezes menor do que o Brasil, se comportam e levam seu lixo para casa. Não há lixeiras nas ruas, cada um é responsável por sua poluição pessoal.
As privadas japonesas são uma atração à parte e algumas até falam! Bem como caixas eletrônicos e outras invencionices nipônicas. O Japão é um país de tecnologia de ponta, mas o charme do antigo que sobreviveu a tantas guerras e bombas, a doçura do povo e seu espírito solidário é o grande charme do país.
Vá antes que mais guerras, bombas e conflitos de nosso conturbado mundo acabem com um dos países mais justos, civilizados, interessantes e perfeitos deste nosso solitário Planeta Azul. E, enfim, este artigo não é um relato de viagem, um roteiro de dicas. É um relato do coração, fruto de emoção e experiencia. Jornada que coroa uma série de experiencias complementares, que por fim me levaram ao Japão-pessoal. Minha vivência sem filtros ou sugestões; uma porta aberta ao seu Japão!
São Paulo, 21 de outubro de 2023.
terça-feira, 26 de setembro de 2023
GRAMADO COM CRIANÇAS SETEMBRO 2023
GRAMADO COM CRIANÇAS – SETEMBRO 2023
Há tantos anos vou a Gramado, tenho planos de morar lá, mas nunca havia feito programação infantil na Gramado moderna, vibrante, repleta de atrações infantis. Levei minhas filhas há mais de 25 anos, quando o máximo do legal era o Mini Mundo. E olhe lá. Voltei há cinco anos com minha neta, então um bebê de nove meses. Agora, a caminho dos seis anos, Flora e eu aproveitamos muito a farra de quatro dias que nos deixou exaustas. E felizes!!
O Mini Mundo continua lá firme, mas expandido, bem mais bonito e interessante, lojas excelentes, serviço dos funcionários super bem treinados, uma delícia. E estão construindo mais uma extensão que deve ficar pronta já no final do ano. Hospedar-se ali ao lado, no hotel Ritta Höppner, dos mesmos donos, é uma farra para a criançada, um combo mais do que perfeito. Caro, no entanto. Aliás, divertir-se em Gramado não é barato devido ao fluxo constante de turistas vindos dos cantos mais ermos do Brasil e também do Uruguai – país que não tem nada remotamente parecido com esta Disney gaúcha-tupiniquim.
Na estrada entre Porto Alegre e Gramado já vale a pena parar no mega complexo Alles Blau, comer ótimos sanduíches e sorvetes no Madero, entreter as crianças no Kinderpark, no trenzinho e então seguir viagem. Uma vez lá, a festa não tem fim.
Neve de verdade no Snowland, onde nossas kids tropicais podem brincar, rolar e tirar fotos com o Yeti, o abominável homem do gelo. Há até esqui e snowboarding para os mais ousados. A dica é agasalhar-se bem e não confiar nas roupas vagabundas que o parque fornece, pois a temperatura dentro é menos cinco negativos e em 15 minutos já vai estar todo mundo congelado. A área de patinação no gelo é mais confortável e tem lojinhas bem legais. É um programa exótico, coisa de uma vez e está visto, não fideliza. O legal mesmo para os pequenos é a singela Aldeia do Papai Noel instalada no magnífico Parque Knorr, suas árvores centenárias e construções tombadas pelo patrimônio histórico da cidade. Adultos e pequenos se encantam com os jardins, a vista, o bom velhinho vestido de Noel e a vista maravilhosa dos cânions do Rio Grande do Sul.
Talvez uma das atrações mais loucas seja mesmo a Terra Mágica Florybal, do chocolate de mesmo nome. É um “samba do crioulo doido” envolvendo dinossauros, animais selvagens, estátuas religiosas e outras bizarrices. Tudo gigante, de plástico pintado em cores fosforescentes, uma doideira. Mas as crianças se divertem e os adultos admiram a beleza da floresta de araucárias gigantes da região de Canela. Tem até cinema 7D, daqueles que chacoalham cadeira e jogam água no público, um simulador de corrida no gelo dos mais radicais. Eu saí verde no lugar, Flora nem se abalou, adorou e reclamou que tinha acabado muito rápido! Nada como a juventude...
Caminhar pela avenida principal de Gramado já é bem legal para os pequenos, que se deliciam com as vitrines, lojas de chocolates, fábricas de confeitos e principalmente, com as 3 casas da Criar Amigos, onde se escolhe um bicho de pelúcia sem enchimento, a própria criança decide quão macio será seu pet fake e batiza o dito cujo. Isso sem dizer o ritual bem original da coisa toda,
os vendedores charmosos e convincentes, os acessórios para os bichos e um clima de encantamento total.
Flora, eu e Theo (ainda pequeno para a intensidade do lugar) na certa voltaremos e iremos a inúmeras outras atrações existentes e por inaugurar. Porque Gramado não para . Haja saúde, disposição e saldo bancário.
Para Flora, a rainha absoluta do coração da vovó.
São Paulo, 26 de setembro de 2023.
segunda-feira, 11 de setembro de 2023
PARQUE NACIONAL DA SERRA DA CAPIVARA - E VIVA O PIAUÍ!
PARQUE NACIONAL DA SERRA DA CAPIVARA –
PIAUÍ -SURPRESA 2023
Sempre admirei a história bem antiga e poderosa da China, India, Europa, da riqueza de histórias, de legados imemoriais, de tradição, preservação, conservação. Brasil tão novo, pobre, antigo é pouco mais de 500 anos, que micharia...
Não mais, após minha recente visita patriótica, feriado 7 de setembro, a belíssima Serra da Capivara e arredores. Primeira vez no Piauí, primeira vez na caatinga, surpresa total com a beleza e majestade das enormes paisagens de cânions coloridos e tortuosos, florestas que parecem secas e mortas, mas estão vibrantes em seus disfarces naturais contra o sol implacável e as parcas chuvas de poucos meses ao ano. Um deslumbre de vistas e um parque nacional bem conservado, bom acesso, orientação, sinalização. Pássaros lindos gorjeando por toda parte, brisa agradável e incessantes, sol muito azul e até a presença infalível dos divertidos mocós, uma mistura local de esquilo e capivara miniatura.
Um lugar para se apreciar as muitas pinturas rupestres datando dos idos de quase 30.000 anos atrás. Pintadas em cavernas, paredões, quase sempre em belos tons ocre, numa explosão de alegria, nas cenas de dança, sexo, caça, adoração e um sem número de animais misteriosos, alguns óbvios, outros nem tanto. O clima seco preservou as pinturas e a descoberta das mesmas pela admirável cientista Niéde Guidon pôs o Brasil na rota da pré-história, das origens do homem das Américas, do passado remoto. Uma linguagem pictórica, um legado artístico, um relato de vidas curtas e nômades, um patrimônio histórico brasileiro sem igual, sem paralelo num país sem cultura, sem educação de qualidade, sem memória.
Um exemplo de projeto bem sucedido que envolveu as comunidades das pequeninas cidades vizinhas, população engajada no cultual, no turístico que beneficia a todos e ilumina o futuro dos jovens locais. A fábrica de cerâmica ali instalada oferece emprego e renda a região e as peças criadas reproduzem as pinturas dos paredões e cavernas, as cores da natureza, as técnicas japonesas que deram certo com a argila do sertão. Até itens normalmente genéricos como camisetas e suvenires, são de bom gosto ao retratar de maneira delicada a beleza e originalidade das pinturas de nossos antepassados.
Como quase tudo em nosso país, o parque é longe e caro. Mas para gente que visita Europa e Estados Unidos e enfrenta a distância, por que não investir no Brasil e passar três ou quatro dias inteiros explorando o parque, os dois maravilhosos museus da área: o da Natureza e o do Homem Americano? Muito bem curados, didáticos, contundentes, fundamentais. Museus em total sintonia com nossos tempos de altas e urgentes preocupações ambientais.
A maneira mais conveniente de atingir tais maravilhas é voar até São Raimundo Nonato e se hospedar por lá. Mais distante do parque, mas mais confortável. A única opção de alojamento perto das belezas e surpresas que aguardam os visitantes, é péssima: mistura de albergue com pousada, comida indecente, fuja! Mas isso não vai durar muito, pois a região é tão importante e interessante, que logo construirão pousadas decentes e charmosas, haverá oferta de comida gostosa e outras comodidades que já acontecem em outras regiões do Brasil. É apenas questão de tempo.
Se não conseguir voo até São Raimundo, o jeito é Petrolina, feia cidade as margens do rio São Francisco. A única coisa que vale a pena é a etílica visita a vinícola Terranova, orgulho nacional, apostando na caatinga como lugar apropriado para uvas e adoráveis espumantes, surpresas tintas como o caro Testardi e até conhaque digno do nome, exportado regularmente a Espanha.
Como a palavra resiliência está na moda, o Piauí, o norte da Bahia e oeste de Pernambuco nos fazem compreender o espírito brasileiro do nunca desistir e do Deus que, incrivelmente, é brasileiro. Até segunda ordem...
São Paulo, 11 de setembro de 2023.
INVERNO EM BUENOS AIRES - 2023
INVERNO 2023 EM BUENOS AIRES
Duas semanas de sol, pouca chuva, muito vento e frio suportável na capital argentina, com direito a volta rápida nos primeiros dias de setembro. Para aproveitar o clima pré-eleitoral que sacode o país antes das presidenciais de outubro vindouro; e os preços, claro. Por enquanto a Argentina é o único país da América do Sul em que reinamos absolutos em termos de poder de compra. O candidato que no momento detém a maioria das intenções de voto, o absurdo Milei, promete dolarizar a economia e nossa festa de compras pode em breve acabar.
Os vinhos continuam a preço de banana e a cadeia Frappé é um ótimo lugar para se esbaldar com eles. A filial da avenida Santa Fé esquina com Libertad é particularmente agradável e bem sortida.
No campo gastronômico continuo viciada nos sorvetes e nem quero mais saber de panquecas de dulce de leche. Também adquiri o nefasto e calórico hábito dos Franui, framboesas cobertas por chocolate e congeladas, da maravilhosa sorveteria Rapa Nui. Recentemente descobri que o supermercado Marché, em São Paulo, importa tais delícias.
Fui a novos restaurantes e aos antigos também. Duas vezes no Preferido, para o bife Mariposa e a milanesa coberta de Fugazzetta. Imperdíveis! Sempre ao Zum Edelweiss, volta ao Lima Nikkei, onde não me lembrei do menu executivo, só disponível no código QR e o esquecimento saiu caro. O a lá carte do Lima é custoso para padrões portenhos e o executivo, de segunda a sexta no almoço, é bom e barato. Os garçons ignoram esta opção, mas os argentinos que conhecem o local, já vão pedindo a pechincha, por saberem que vale a pena.
Novidades: Orno e Bis. O primeiro, péssimo, fuja! O segundo, maravilhoso, em pequeno e aconchegante lugar instalado numa viela chamada Pasaje del Correo, na Recoleta. É em frente ao estrelado Aramburu, do mesmo dono. Cardápios de almoço são incríveis de bons e sensacionalmente baratos para o que oferecem. E os vinhos em taça têm preços honestos, o que tende a ser exceção e não a regra em casas mais respeitáveis na cidade. Como a Argentina está entre os 10 maiores produtores de vinhos do mundo, a tendencia é vender garrafa, portanto taças do líquido divino, tendem a ser raras e caras. Como ocorre no Preferido, onde, além de salgadas, o líquido é reduzido. O Lima não tem vinho a preços razoáveis, mas a taça é generosa. Como assim a é no El Estrebe e Zum Edelweiss. Na Argentina, meia garrafa é raridade.
Volto ao Bis, talvez ao El Milión, cuja localização não poderia ser mais agradável, numa casona antiga na rua Paraná, apesar da comida não ser nada especial. Não sei se voltaria ao badalado e famosíssimo La Carnicería, em Palermo. Pequeno, feio, lotado de brasileiros. No entanto, a comida é estupenda e é tudo feito na grelha na frente dos clientes, sem fumaça. Vinhos caros, bem servidos. No entanto, pelo tamanho, gentarada e o espartano da decoração, desprovido de conforto e um mínimo de charme, não me anima...
No setor teatral priorizei a música e a comédia, onde CCK e Colón brilharam como sempre; ao lado do Bar Picadero e seus performers alternativos. Mas a surpresa da temporada foi o La Biblioteca Café e seus shows musicais intimistas, legais, muito baratos, um charme total num porãozinho disfarçado de biblioteca, quase ao lado do Teatro Coliseo. Há jantar e aperitivos, vinhos decentes. Assisti um grupo de jazz excelente, bebericando um malbec e engolindo umas empanadas mais ou menos dignas do nome.
Afinal, ir a Buenos Aires e não curtir a cena musical, é perder uma das grandes atrações que a cidade oferece. Para todos os públicos, gostos, gêneros e bolsos. Teatro, a não ser musicais, é difícil de entender para a maioria de nossos conterrâneos monoglotas. Mas música é universal e a Argentina é muito boa nisso.
Meses depois, no início de setembro, volto por um final de semana breve, pero gloriosos, a cidade amada. Ainda inverno, ainda frio e ventoso, sempre divino. Hospedada por duas noites no NH Lancaster, ótimo custo-benefício na avenida Cordoba, perto dos teatros, do CCK e de Puerto Madero e Galerias Pacífico. Como voltei especificamente para ver e me maravilhar com a atuação incomparável do ator espanhol José Sacristán, a escolha de hotel foi perfeita pela proximidade ao teatro Astros. Compras, caminhadas, vinhos, restaurantes, cinema para escapar da chuva, rotina portenha que eu amo e venho amando há mais de 13 anos seguidos. Sem museus desta vez e nem muito compromisso com nada, puro deleite hedonista...
Por enquanto viável economicamente, mas em dezembro, quando voltar no verão, a coisa pode estar muito diferente com o novo/a presidente. Por enquanto o peso mega desvalorizado, os artigos quase de graça no Duty Free do Aeroparque, fazendo da Argentina um destino único, uma conjunção feliz e rara de bom e barato. Na verdade, em minha longa carreira de viajante semiprofissional, jamais encontrei um país que oferece tanto, por tão pouco. Sem contar a distância viável entre São Paulo e Buenos Aires e o número de voos que só faz crescer, agora com a ponte aérea da Gol e Aerolineas Argentinas: que pode não durar muito pelo inegável fato de que a companhia argentina está quebrada. Totalmente...
São Paulo, 11 de setembro de 2023.
domingo, 2 de julho de 2023
PRIMAVERA EM LONDRES - JUNHO 2023
PRIMAVERA EM LONDRES – JUNHO 2023
Com pouca chuva, brisa amena, bastante sol; uma cidade alegre e vibrante, sem hordas de turistas, uma delícia. Tão gostosa que pela primeira vez em minha longa vida me arrependi de ter ido tanto a Nova Iorque e tão pouco a Londres. O pouco, é 10 ou 12 vezes. Mas Londres vale 500 e como venho seguido a Europa, três ou quatro vezes por ano nestes últimos 23 anos de relacionamento com um suíço, Londres teria sido muito fácil daqui. Uma hora e meia de voo de Zurique e preços módicos das passagens aéreas, pois há muita competição nesta rota. Por que a comparação? Porque Londres tem tudo o que eu amo em Nova Iorque, só que mais barato e melhor. Sem stress de imigração americana nojenta, das pessoas tremendamente grossas da cidade, das multidões, dos preços absurdos, dos hotéis sujos e péssimos pelos quais se paga uma fortuna.
Teatro na capital inglesa é muito, mas muito melhor, mais barato e as casas de espetáculos são lindas, antigas, bem cuidadas, limpas. Muitos bares para animar tudo e bebedeira geral durante os shows, coisa bastante restrita nos EUA. Em Londres bebe-se tudo na poltrona, assistindo elencos soberbos e produções de altíssimo nível. Como o governo ajuda a cena teatral, ingresso ótimo custa 100 dólares, coisa que em Nova Iorque está para mais de 200. Isso sem falar dos maravilhosos táxis de Londres, carros limpos, motoristas educados. Dá para comparar com os taxis amarelos, fedorentos e motoristas indecentes da Big Apple? Uma corrida até o aeroporto de Heathrow, em bom carro, sai metade do preço de um UBER de mesmo nível na cidade americana. Isso sem falar do Heathrow Express, trem eficiente e rápido dos aeroportos principais até o centro. Em Nova Iorque, zero trem. Fica-se refém dos táxis...
Restaurantes melhores, mais variados, mais baratos, serviço bastante superior em Londres. Fora as ruas lindas, parque e praças, o amor dos ingleses pelos jardins, tudo florido e caprichado. E os bons modos britânicos, a paciência com os turistas chatos, a história, os museus, o comércio, tudo do bom e do melhor. Londres, é fora de qualquer dúvida, minha cidade grande favorita no mundo. Amo Nova Iorque e gosto bastante de Paris. Isso sem falar de minha amada Buenos Aires, mas no geral, o ranking fica assim:
1 Londres
2 Buenos Aires
3 Nova Iorque
4 Viena
5 Paris
Isso considerando cidades de mais de 2 milhões de habitantes. No Brasil, Curitiba é a número um. Para mim, minha cidade natal, São Paulo, não se qualifica em nenhum top 20, pois a qualidade do ar, falta de segurança, transporte público ruim, ruas permanentemente esburacadas e arquitetura horrenda desqualificam a capital paulista.
Voltando a Londres, nos seis dias que lá passei, feliz da vida, me hospedei em lugar ótimo para quem vai ao teatro todas as noites, as vezes a tarde e a noite, dobradinha deliciosa. No Radisson Blu Edwardian Kenilworth, esquina da Bloomsbury com Great Russel, a dois passos do British Museum. Preços razoáveis, lugar bem decorado, bom serviço, local para repetir, com certeza. Restaurantes dignos de menção: Daphne’s, bem descolado, boa comida italiana, em Chelsea. River Terrace dentro da Somerset House para aproveitar o ar livre em dias de tempo estável. Também dentro da Somerset House, o Dipna Anand, fantástico restaurante indiano que leva o nome da chef talentosa, em ambiente lindo. Imperdível. Também dentro do indescritível palácio que é a Somerset House, lugar que já abrigou a Receita Federal londrina e a Marinha inglesa, o restaurante Spring é chiquérrimo e modernoso. Ainda conta com dois cafés e um outro lugar super classudo de comida inglesa.
A Somerset House recebe agora a Bienal de Design, louca e interessante como todas as bienais, o pequeno e superinteressante museu Courtauld (Courtauld Gallery) e o melhor do lugar, a visita guiada ao antigo palácio, completa com visitas a calabouços, passagens secretas e túneis repletos de tumbas assustadoras. Passar um dia na Somerset House e vizinhança repleta de teatro e da fascinante confeitaria O Croquelin é um programão, que une o cultural ao histórico, junto ao gastronômico e a uma vizinhança beira rio, bem perto do London Eye, que é genial. Um dia inesquecível. E como também inesquecível foi, ver uma peça de Agatha Christie, Testemunha de Acusação, dentro do London County Hall, que já abrigou a prefeitura da cidade e é hoje sede de hotéis, centro de entretenimento e de um teatro ultra original, dentro da sala de audiências do lugar. Salão com pé-direito enorme, lindíssimo, uma atmosfera de tribunal antigo, austero, totalmente em sintonia com a história de mistério e suspense da grande autora inglesa.
Só fuja mesmo do The Ivy (o único mico da viagem), restaurante londrino famoso e elegante, que continua as duas coisas, mas cuja comida ruim não vale o preço e a atmosfera. O Fumo, ali perto, é bem melhor. Nada barato, mas a comida semi-italiana, em meio aos teatros onde assisti os incríveis The Pillowman, Patriots e We Will Rock. Pertinho dali, a um passo da bela e agitada Trafalgar Square e da recentemente reinaugurada National Portrait Gallery, o Street Burger, do estrelado chefe local, Gordon Ramsey, não faz feio. Burgers decentes, com acompanhamentos diferentes.
Desta vez, além de infinitas caminhadas, poucas compras, dois cinemas aconchegantes, Odeon e Curzon, na área do Convent Garden, várias livrarias e os restaurantes acima, sem falar dos 8 espetáculos músico/teatrais, só fui mesmo a dois museus: coisa rara para mim. Preferi mesmo aproveitar as ruas londrinas e sua linda arquitetura, a vibração jovem e moderna da cidade, o ar de primavera, com o verão chegando em poucos dias. Oportunidade rara, preciosa, em uma viagem feliz, proveitosa, divina.
Para Fabiana, uma anfitriã companheira e paciente.
Zurique, 02 de julho de 2023.
sábado, 17 de junho de 2023
MALTA - MAIO E JUNHO 2023
MALTA - MAIO E JUNHO 2023
Por que visitar um país minúsculo, umas ilhotas perdidas no Mediterrâneo, perto da Sicília e longe de tudo mais? Praias de sonho? Não tem. Cor do mar especial? Não é. O que é mesmo tem a ver com a importância histórica de Malta, um país invadido por tudo e por todos ao longo de sua longa, conturbada e interessantíssima história; sofrendo nas mãos de árabes, franceses e ingleses, hoje totalmente independente e feliz. Mas custou milhares de anos para chegarem a este ponto. Para se ter uma ideia, a grosso modo, é como se a guerra na Ucrânia durasse mais de quatro mil anos e tivesse, depois deste larguíssimo período, um final feliz. Em Malta teve. E tem.
Para os fanáticos por história, como eu, um paraíso. Com clima seco e ensolarado, membro civilizado da União Europeia, limpo, organizado, seguro e divertido. Malta não é só museu ao ar livre, ruínas, forte e castelos, não é só arquitetura singular, mas também oferece bons hotéis, ótima culinária, povo hospitaleiro, todos falando várias línguas além da própria. Vida noturna e cultural bem agitada, muitas escolas de inglês para quem aprender esta língua tão importante num lugar pra lá de bacana e divertido. Tudo leva a Malta e os preços são mais amenos do que em vários países europeus tipo França, Inglaterra, Suíça e Escandinávia. Concertos de rock bacanas por 20 euros o ingresso, balé moderno no lindo teatro Manoel, o clássico preservado do pedaço, por 25. Nos vizinhos europeus, acima citados, cultura não sai menos do que 100 euros por um luar semi-decente.
A capital Valletta, é bonita, cenário de episódios de Game of Thrones e de mais de 100 documentários e longa metragens. Seu clima e charme, além das construções históricas muito bem preservadas, encorajam a indústria cinematográfica a se instalar ali. Há várias cidades vizinhas, mas como é tudo tão diminuto, parecem mais bairros da capital do que lugares independentes. Um passeio de barco pelos diferentes portos de Valletta dá uma impressão completa do complexo traçado de um lugar bem antigo, conturbado, destruído e várias vezes reconstruído. Vibrante é o adjetivo mais ameno para a cidade; talvez resiliente e admirável se apliquem também.
A catedral de São João é uma das igrejas mais impressionantes que já vi, fora do Vaticano e a capela cujo altar é uma enorme pintura escura de Caravaggio, emocionante. Vale a visita, só por ela. O Forte de São Elmo, junto com o Hospital do Templários e o informativo filme Experience Malta, são fundamentais para entender o desenvolvimento de Malta a partir da ocupação dos Cavaleiros da Ordem de São João, que estabeleceram definitivamente o cristianismo no país. Em Malta se tem perfeitamente a dimensão do conflito eterno entre muçulmanos e cristãos. Malta é uma sala de aula viva, vibrante, colorida, onde até os centros de comando britânicos durantes a Segunda Guerra Mundial estão muito bem preservados para ensinar ao mundo a devastação de guerras em grande escala, da coragem dos malteses, da luta eterna da humanidade pela paz. Em Malta se entende a guerra e a situação atual do país, próspero e pacífico, é a que toda a humanidade devia aspirar. Vou mais longe em meu entusiasmo pelo país e digo que deveria ser viagem fundamental para todos os adolescentes do globo, para entenderem os mecanismos de conflitos e sofrida história da humanidade. Na tentativa, quiçá inglória, de melhorar nosso perdido e solitário planeta azul...
No setor gastronômico, destaque para o Beef, Guzé, Trattoria da Pipo. Taproom, 59 e Streat, na mesma rua, também não fazem feio, mas estão longe dos três primeiros mencionados. Beef é modernoso/maravilhoso, Guzé é típico e caprichado, Tratoria teve bis e seus macarrões com frutos do mar são celestiais. A cozinha maltesa é coelho e caramujos, mas não se assustem com estas iguarias, pois a Sicília é bem pertinho de Malta e fornece tudo de melhor que a culinária italiana, soberana, pode prover. Comida e bebida não são problemas em Malta e até seus vinhos locais são muito bons. Por ser uma espécie de encruzilhada histórica do mundo, Malta tem de tudo para todos.
Fora da capital, exploramos as lindas cidades de Medina e Rabat, famosas pelas histórias bíblicas do apóstolo Paulo que naufragou perto dali e passou uns meses no local. Além de visitantes pra lá de ilustres, os dois lugares têm ruazinhas lindas, floridas, mais igrejas perfeitas e restaurantes de frutos do mar, como o Step, excepcionais.
Fizemos tours de dois dias quase inteiros com aqueles ônibus vermelhos Hop on HOP OFF, muito interessante. Sítios arqueológicos, vilarejos de pescadores, o lay out da ilha principal esclarecido, tudo bem explicado e sem esforço .Dá para se ter uma boa ideia das possibilidades do país. Infelizmente, alguns sítios arqueológicos, muito importantes, requerem agendamento da visita, difícil de conseguir. Vale um planejamento antecipado para não perder nada.
Em sete dias de Malta não vimos tudo e perdemos Gozo, a segunda maior ilha do minúsculo arquipélago que compõe o país. Só ouvi coisas boas sobre o lugar. Mais um motivo para voltar...
Zurich, 17 de junho de 2023
BELA SICÍLIA - MAIO 2023
BELA SICÍLIA - MAIO 2023
Lá fui parar, no fim da Itália, onde a bota chuta uma ilha bem grande e bem perto do continente africano. Foi por acaso, num lugar bem fora de mão e bem longe do que os brazucas consideram Itália (para nossos limitados compatriotas, Roma, Milão e Veneza). Uma dessas oportunidades que a vida nos oferece e que devemos agarrar sem pensar, pois dificilmente terei outra.
Do alto de meus 67 anos bem vividos e mais de 200 voos pelo mundo nos últimos cinco anos, conhecer a Sicília era, no máximo, uma curiosidade, jamais prioridade. Mas estando em Malta, a 90 quilômetros dali e com serviço de balsa eficiente e rápido, lá fui eu arrastando minha relutante irmã na aventura. Gostei tanto que voltei 3 vezes. Pozallo, Noto, Ragusa, Taormina, Etna, Marzamemi, Siracusa e Donnafugata. Em barco, ônibus, trem, taxi, deliciosas aventuras por terras mafiosas onde, da Máfia, só se vê suvenires do filme O Poderoso Chefão.
A Sicília é a região mais pobre e árida da Itália, mas como Deus deve ser italiano, sua agricultura é vibrante e a ilha é, basicamente, uma fazenda gigante. Oliveiras, limoeiros, amendoeiras, árvores de pistache, trigo, morangos, muito verde e fértil apesar da pouca chuva e do calor. Vinhos maravilhosas e comida incrível, fazem da ilha o lugar onde se encontram os homens mais longevos do planeta. As mulheres, em Okinawa, Japão. Na Sicília o forte são peixes, grãos, frutas e verduras. Pouca carne vermelha e pouco açúcar (exceção para os sorvetes, canolis e mil variações de marzipan – mesmo assim, doces com pouco açúcar).
Gente amável, simpática e eficiente, bem acostumados a turistas chatos que não falam italiano, tornando tudo fácil mesmo em situações bizarras como trens parados no meio do nada, ajudando a encontrar táxi em lugares sem Uber, dando informações a criaturas perdidas como eu e minha irmã. No fim de maio, o clima ameno e ensolarado iluminou ainda mais a beleza do mar Mediterrâneo, das construções lindas e amarelas de Noto, do magnífico vulcão Etna, do singelo porto de Pozzallo.
Dos lugares visitados, amei Ragusa e Noto e voltaria sem piscar as duas cidades. Tudo o que Noto é fácil e óbvia de navegar, Ragusa é difícil e misteriosa, mas fascinante, uma espécie de Veneza nas montanhas, construções improváveis em meio a penhascos, desfiladeiros, precipícios vertiginosos e encostas. As duas cidades valem uma semana de estadia entre elas, para conhecer bem os inúmeros monumentos, igrejas, teatros e principalmente perder-se pelas ruas alucinantes de Ragusa. Para mim, os pontos altos da visita, não me esquecendo do Castelo de Donnafugata (ali perto), imponente no topo de uma colina, jardins maravilhosos, Museu da Moda, palácio de família nobre em outros tempos. Imperdível.
Como não gosto de lugares muito turísticos, Taormina decepcionou. Sua localização geográfica e entorno é magnífica, montanha, mar, florestas, vulcão com topo nevado, tem de tudo. Mas as praias são pequenas, pedregosas, cinzentas e lotadas. Só há uma rua legal e um anfiteatro antigo dignos de respeito, o resto é sem graça. É lugar, na temporada e só nela, de verão chique; há hotéis caríssimos. Fomos pela curiosidade de onde foi filmada a fantástica série The White Lotus da HBO. A série é melhor do que Taormina. Não perca tempo e dinheiro. Se precisar, visite curto e delicie-se com os canolis não doces do Roberto, na rua principal.
A região do vulcão Etna e sua base são interessantes e pela altitude, bem mais frias do que o rest. Só vale como curiosidade e para quem gosta de caminhadas sérias vulcão acima. Boas compras de produtos alimentícios por lá, pois o solo vulcânico enriquece a agricultura e os resultados são espetaculares: de alho doce a mousses de pistache, nozes ou amêndoa, vinhos tintos super diferentes, azeites de oliva incríveis.
Siracusa é história pura e vale fácil três dias inteiros, além de ser plana, delícia de caminhar, agradável a beira mar, passeios em barcos pequenos, bons restaurantes como o estrelado Al Mazari, catedral fabulosa, lojas intensas, arquitetura belíssima. Até Museu do Papiro tem.
Marzamemi é uma vilazinha singela com prainha agradável, de areia branca, mar quentinho. Lojinhas legais de roupas de praia, muito gelatto gostoso, bares pé-na-areia. Um toque primitivo, mais tipo Bahia, na vetusta Itália. Outro toque a la baiana, é o paradisíaco restaurante beira-mar-pé-na-areia, grudado ao porto de Pozzallo, o Barú. Barraca de praia sofisticada, sem cardápio. Vinhos divinos, massas frescas com atum idem, muito tomate e alcaparras, sendo que estes três ingredientes são carros-chefes da culinária siciliana. Bom e barato, boa música, brisa do mar, melhor impossível.
Nossa experiencia se concentrou na costa leste da ilha, um pouco do interior deste lado e ainda assim vimos pouco da Sicília. Vale o longo voo de Zurique a Sicília, por exemplo. Longo, mais de duas horas para padrões europeus, é do outro lado do planeta. Recomendo, se houver tempo e dinheiro, Itália de carro de Milão a Sicília. Em um mês você se deleita com tudo de melhor que a bota tem a oferecer e volta com dez quilos de sobrepeso. Mas feliz!
E como destino único, avião e carro, é um programão. Duas semanas na Sicília são diversão garantida. E mais barata do que o resto da Itália.
Zurich, 17 de junho de 2023
sábado, 13 de maio de 2023
SUL DO MUNDO - ABRIL 2023 - CURITIBA, PORTO ALEGRE, GRAMADO E BUENOS AIRES
COISAS DO SUL – ABRIL 2023
CURITIBA, PORTO ALEGRE, GRAMADO E BUENOS AIRES
Estas cidades têm sido parte de minha “área de atuação” nos últimos 17 anos e vou com frequência a elas; sempre alegre e sempre achando que vou “enjoar”. Até agora não aconteceu e continuo descobrindo ou redescobrindo coisas bacanas. Como em Curitiba, durante o último festival de teatro, o famoso Festival de Curitiba. O maior do Brasil, um dos maiores do mundo. Pena que só pude assistir a dois espetáculos, um monologo com Vera Holz e Fúria, dança contemporânea das mais ousadas. Por dois dias o restaurante Nômade me forneceu o gás alimentar para a empreitada, a Passion du Chocolat, o açúcar sempre muito necessário. O Cine Passeio sempre adorável, o Pátio Batel sempre chique. Dois dias perfeitos numa sequência de 35 no sul do mundo.
Na continuação, Porto Alegre, que é um achado relativamente recente que comecei a levar mais a sério no ano passado. Cidade de respeito, majestosa as margens do famoso rio/lago Guaíba, um esplendor de calçadões infinitos beira-rio. Parques por todo lado, novas áreas de lazer junto ao recém-inaugurado Shopping Pontal. Colado ao Barra Shopping. Descobri a graça de ver filmes de qualidade na Cinemateca Paulo Amorim, folhear de novo os livros da pequena e bem sortida livraria do Centro Cultural Mario Quintana; naquele prédio imponente que já abrigou o hotel Majestic. A Rua dos Andradas é o cenário arborizado e perfeito para aproveitar o lado “cabeça” da cidade.
Comer à gaúcha aconteceu no Bah e no Fogo, este último, uma versão confortável e modernosa do bom e velho fogo de chão do Rio Grande do Sul. O Fogo me impressionou pelo diferente da proposta e a qualidade dos alimentos preparados na frente dos clientes, em grelha gigante, sem fumaça, sem mesas, todos sentados num balcão bonito, olhando a preparação e os ingredientes, participando do que se vai comer, do resultado final. Não sou deste tipo de lugar, mas o Fogo é tão especial, que voltaria à casa, sem piscar. Menção honrosa para a carta de vinhos com opções de tannats nacionais, da região da Campanha, fronteira com o Uruguai. Para quem gosta deste líquido forte e roxo, destas uvas poderosas, nossos Ravanello e Guatambu (Rastro dos Pampas) são geniais.
Querendo alimentos asiáticos, o Kho Pee Pee brilha, comida top num ambiente sem graça que vale muito a pena a reserva. E pôr do sol famoso deve ser curtido a bordo do Cisne Branco, um barco antigo que já é tradição na cidade. Ali perto, na Praça da Alfandega, o agito abre alas para o cultural no Farol Santander. Tome um café fumegante ali, dentro de um antigo cofre de banco, bem diferente e interessante. Porto Alegre não é a limpa e inclusiva como Curitiba, mas tem seus encantos, que vou descobrindo aos poucos.
Minha amada Gramado continua “aprontando das suas” e até parque aquático inaugurou; não para de inaugurar atrações e não se inibe quando algumas delas não vão adiante. Abre outras! No campo gastronômico também, mas nos restringimos aos tradicionais: Table D’Or e seu imutável cardápio, as delícias coloniais do Nonno Mio e Di Paolo e as comidinhas chiques do Josephina. O novo que vale ousar está mesmo em Canela. Agora o Capullo é a estrela, da chef local Renata Rech. Estupendo em seu cardápio semi-extenso, brasileiro, gaúcho e italiano. Lindo ambiente em casa antiga, ótimo serviço, bons preços, nota 10! Lu, Galangal, Empório Canela e 1835 seguem muito apetitosos, cada um em sua categoria e diversidade. No quesito cultural, Gramado agora tem pequeno museu relatando sua história. Instalado em casa de madeira, um lugar de grande importância histórica, tombado e reformado, com direito a patrocinador de peso, a fábrica de chocolates Lugano. Que abriu um café-confeitaria no quintal dos fundos do museu, aprazível local para um chá da tarde.
Last but not least, mí Buenos Aires querida, facilmente alcançável de Porto Alegre em eficiente e pontual voo noturno das Aerolineas Argentinas; em uma hora e vinte chega-se triunfante a capital portenha. Que segue caidíssima e fascinante.
Fiquei no hotel DECO Recoleta, retrato das contradições da cidade. Quartos grandes, localização excelente, mas estado de conservação a beira do precipício; espelho do país. Mas para o turista, tudo é farra e me diverti muito nos teatros, nas infinitas caminhadas por parques e avenidas majestosas, com os chocolates viciantes do El Viejo Oso, nos restaurantes sempre celestiais: Preferido, Zum Edelweiss, Pizza Cero, Croque Madame, Piegari, Lima Nikkei, Café PROA. Não inovei em restaurantes desta vez, pois estes são tão bons que não estava com pique de arriscar. Só arrisquei voltando à Boca, longe e cansativa. Valeu a pena, pois não ia ao PROA havia tempo e a exposição que ali vi estava excelente; novas galerias de arte, museus, lojas, entorno reformado e sanitizado, segurança, tudo naquele pedaço pequeno e de grande importância histórica para Buenos Aires. Me encantei com o Fábrica Colón, lindo galpão que abriga cenários e figurinos das produções de opera e dança de meu amado e magnífico teatro de mesmo nome. É um depósito-museu com visitas guiadas super interessantes para os fanáticos das artes cênicas como eu.
Minha única frustração, desta vez, foi, de novo, não conseguir ir ao Don Julio e nem sequer reservar para daqui a 3 meses. Messi estragou a festa ao prestigiar esta estupenda churrascaria recentemente e não dá mais para entrar. O craque do futebol argentino se juntou a hordas de brasileiros cafonas e “genéricos” que entopem tudo e, infelizmente, re-descobriram Buenos Aires. Felizmente esquecida por esta gente horrorosa, turba ignara de mulheres maquiadas demais, com bocas de Pato Donald, cílios de girafa e cabelos de Pequena Sereia Tupiniquim. Seus equivalentes masculinos falam alto, usam correntes de ouro no pescoço e emitem ensurdecedoras gargalhadas. Um horror!
Volto a tentar quando a moda Don Julio passar e os unspeakables acima descobrirem um lugar novo para torturar...
Por enquanto fico com a fugazzetta, invenção magnífica da gente pobre da Boca, pessoal da área portuária que descobriu que pão com queijo barato e muita cebola poderia dar certo. Deu e é hoje, em suas inúmeras variações e sofisticações, o retrato da cara inovadora e lutadora de Buenos Aires.
São Paulo, 13 de maio de 2023.
sábado, 11 de março de 2023
BUENOS AIRES BATE E VOLTA - MARÇO 2023
BUENOS AIRES EM 72 HORAS- MARÇO 2023
Para ver Resurrección, o espetáculo de estreia da temporada 2023 do meu amado Teatro Colón. Que, por sinal, está espetacular, com muito ballet, ópera, concertos, shows para crianças, tudo não só no maravilhoso teatro da avenida 9 de Julio, mas também espalhados por outros pontos da cidade, como foi o caso de Resurrección. Instalado na Sociedade Rural Argentina, o espaço para feiras agrícolas virou teatro, com a enorme e maravilhosa orquestra do Colón, coro gigante, sopranos e no total, cerca de 300 pessoas em cena.
Nada para os fracos de espírito, pois é uma mistura super moderna de performance, teatro, musica clássica, Mahler e ópera; tudo bem louco, com cavalo em cena, terra, ambulâncias e gente desenterrando dezenas de cadáveres e os embrulhando, literalmente, para viagem. O efeito é impressionante, macabro, forte. Só mesmo em Buenos Aires e sua fabulosa cena teatral. Nas outras duas noites, Jauría, no teatro Picadero e ART no Tabaris. Nenhum destes últimos é imperdível, mas nunca chatos ou desinteressantes, devido a suprema qualidade das artes cênicas argentinas, cujos atores e produções, só fazem indicações ao Oscar e vários outros prêmios deste calibre, se multiplicarem.
Nada de museus desta vez, só infindáveis caminhadas pelas divertidas ruas da cidade, compras nas livrarias deliciosas , muitos sorvetes e refeições divinas no El Estrebe, Pizza Cero e Zum Edelweiss. Como estou viciada em helados e fugazzettas, foi uma festa! Filmes no Cine Lorca e uma esticadinha ao eterno Patio Bullrich completaram a estadia.
Os preços continuam ótimos, apesar da inflação galopante na Argentina e agora já dá para usar cartões de crédito novamente, com o chamado dólar tarjeta. A cotação fica abaixo do paralelo, blue, mas evita a chateação de trocar dólares ou reais e andar com montanhas de dinheiro. Funciona muito bem a tal novidade. Veremos até quando, em ano de eleições presidências no país vizinho.
Outra coisa que amo na cidade, são os cabeleireiros e farmácias. A peluquería Aranmedia, por exemplo, ótima e barata, faz de corte, tintura e mão, uma barganha de 28 dólares. As farmácias são muito bem sortidas, no estilo do que costumavam ser as equivalentes norte americanas e os seus produtos muito bem expostos são bem mais baratos do que similares no Brasil. Para os apreciadores de chás, a bizarra lojinha da calle Uruguay 14 tem maravilhosa seleção e a confeitaria Rapanui e seus sorvetes e chocolates ao estilho velho Bariloche está melhor do que nunca. A filial da Montevideo é a melhor. Na mesma rua, El Viejo Oso tem trufas e bombons de morrer. Como se pode ver, Buenos Aires não é só bife de chorizo, alfajores, malbec e dulce de leche; infelizmente, é bem mais do que isso...
Como sempre, bate e volta divertido e em época de oferta de voos melhorada, um ótimo custo-benefício! Mais perto e mais barato do que praias da Bahia ou Gramado.
São Paulo, 11 de março de 2023.
domingo, 26 de fevereiro de 2023
VIENA E O VAMPIRO - PARTE 2 - FEVEREIRO 2023
VIENA E O VAMPIRO – PARTE 2
Fevereiro 2023
Vinte e quatro anos depois de minha primeira visita a capital austríaca, passei uma feliz semana nesta verdadeira Paris que fala alemão. De arquitetura tão grandiosa e magnífica quanto a capital francesa, mas muito mais limpa, justa e ativa culturalmente que Paris. Além do fato incontestável de Viena (número 1, dez vezes) estar sempre na lista ou listas de melhores cidades para se viver no mundo. Paris está bem longe. Viena é justa, muito preocupada com o bem estar social, com vida de qualidade a todos. E por todos, quero dizer todos mesmo, pois há muitos imigrantes e refugiados por lá e todos vivem em condições decentes, com violência mínima e pleno emprego. Isso sem falar de creches públicas, educação de primeira, políticas ambientais das mais modernas e por aí vai.
A cidade me encantou da primeira vez e me deslumbrou da segunda. Idade? Pode ser, mas após 23 anos de Suíça, meu alemão melhorou bastante e minha compreensão dos três países com mais de 100 milhões de habitantes de língua alemã, ajudou a respeitar e admirar o quanto a Áustria tem avançado e o quanto tem feito por justiça social, talvez uma maneira de compensar as atrocidades do nazismo, que ali teve muitos admiradores. Hitler, o expoente máximo, era austríaco. Hoje em dia se vê judeus ortodoxos por toda a parte em Viena e o museu dedicados aos judeus ilustres da cidade conta uma história interessante e sofrida.
Viena já impressiona de cara, pelo número de palácios, monumentos e estátua faraônicas por toda parte. Não visitei os famosos palácios Hoffburg (Sissi) e Schönbrunn (desta vez só enormes caminhadas pelos jardins, que são parques públicos monumentais), mas me encantei com a quantidade de parques e espaços públicos. Mesmo no desfolhado e desolado inverno, os lugares são cheios de jovens e crianças e tudo que a poderosíssima dinastia dos Habsburgos construiu é atualmente acessível e aberto a todos. O que foi residência de luxo é agora museu, teatro, espaço cultural. Os jardins imperiais onde outrora só os nobres caminhavam, são agora de pais e seus bebês, dos idosos, da moçada, do povo. Muito legal.
Mesmo a fantástica Ópera de Viena, onde assisti 4 espetáculos fabulosos, é inclusiva no acesso quase grátis a jovens e pessoas de poder aquisitivo restrito. O governo investe pesado em educação e cultura e nunca vi tanta música, teatros, museus e igrejas de qualidade, de acesso tão fácil, moderno e barato. Viena surpreende e encanta.
Para o visitante de primeira vez, vale fazer um city tour com o Big Bus e se ter uma ideia da majestade e amplidão do lugar. Para quem gosta de parque de diversões o Prater, no bairro de mesmo nome, é uma Disney antiguinha e bem europeia; com direito a uma roda gigante que funciona perfeitamente há quase 150 anos! No quesito igreja, fico com a Peterskirche e a Karlskirche. A primeira com um teto incrível e a segunda um show de simplicidade e luz natural. A catedral eu visitei novamente, mas me pareceu mais bonita no gótico exterior do que no interior, rebuscado demais.
Museus foram o moderníssimo MUMOK, e o chatinho Albertina Modern, o indescritível Albertina, o super Leopold, a apoteose que é o Belvedere e a constatação de que meu preferido, dentro e fora foi o Secession. A linda caixa branca com decoração art-noveau e um domo de folhas e flores douradas é uma pequena joia delicadíssima em meio a tantas construções gigantescas. Os frisos de Klimt, numa sala especial do Secession, enternecem pela beleza e o fascínio da história que contam. Se tiver que escolher pinturas-chave em Viena, o palácio Belvedere e o Secession são suficientes. O resto é secundário de categoria impressionante!
No setor gastronômico, fuja de cafés manjados e populares nas ridículas redes sociais, como o pobre Sacher e o Central, não perca tempo com modismos e coma a mesma famosa torta Sacher, no prédio do hotel de mesmo nome, no café Mozart, por exemplo. Café vienense dos mais autênticos com torta idêntica e sem turistas cretinos. Invista seu tempo, dinheiro e paladar, no Buxbaum, no Figlmüller, no 12 Apostles, na Trattoria Martinelli e no chiquérrimo Vestibüle. Economize nas diárias bem salgadas da cidade no hotel MOOONS, transadinho e bem localizado.
Lembrem-se que a Áustria tem doces tão bons que em francês, a palavra para doces finos de confeitaria é viennoiserie, em homenagem a delicia das confecções austríacas. Os quentinhos Kaiserschmarnn e o Palatschinken que maravilhas reconfortantes nos dias frios. O melhor bife a milanesa do universo, de vitela de preferência, é o inconcebível Wiener Schnitzel, sempre acompanhado de saladas de batatas e molho de maçã delicadíssimo e uma compota de frutas vermelhas que cai muito bem com o salgado da carne.
Redescobri Viena aos 67 anos e cheguei à conclusão de que perdi muito tempo indo a Nova York com tanta frequência e tão pouco a Viena. Menos Paris e Londres e mais Viena. Tem tudo o que eu gosto, toneladas de cultura, boa comida, beleza, limpeza, segurança. E de quebra, se parece muito com Paris!
Paris só ganha no idioma e na gastronomia. Só.
Zurique, 26 de fevereiro de 2023.
24 horas em AMSTERDAM -fevereiro 2023
24 horas em Amsterdam -fevereiro 2023
Estando na bela Viena, cidade intensamente cultural, me inspirei nos museus e tomei um voo curto ( para padrões brasileiros, claro) até Amsterdam para ver a sensacional exposição das 28 obras de Vermeer, aquele pintor misterioso do século 17; aquele mesmo do filme A Moça com Brinco de Pérola, com a bela Scarlet Johanson. Pouco se sabe sobre a vida do genial pintor e estima-se que tenha pintado menos de 40 quadros. Esta exposição no vetusto Ryksmuseum em Amsterdam é um verdadeiro feito histórico, jamais instituição alguma conseguiu reunir tantas obras dele em evento único. Só até 4 de junho. Imperdível. O quadro do filme, um dos mais lindos, volta para Haia em março, então corram para ver os 28 quadros de Vermeer, que em breve serão apenas 27.
Valeu a pena voo, hotel e outras despesas para ver tal mostra? Muito. Curadoria perfeita, enormes espaços dedicados a poucas obras, tudo muito bem explicado, pode-se realmente ver bem os detalhes, maravilhar-se com as técnicas de luz deste grande mestre holandês. DICA PRECIOSA: no site do museu os ingressos estão esgotados, mas no aplicativo de vendas de ingressos internacionais, Tiqets, a coisa é mais fácil.
A noite, concerto de piano da divina Olga Paschenko, jovem russa mega talentosa, ali pertinho do museu, na belíssima sala de espetáculos do Concert Gebouw. As outras horas do dia foram preenchidas com longas caminhadas belos canais da cidade, animadíssima e jovem, maluca no tráfego intenso de bicicletas, muito atual nas inovações hipsters como o De Hallen, centro cultural e gastronômico bem descolado.
Até museu novo descobri, ao lado do Van Gogh, que voltei a visitar e admirar. O museu Stedelijk é outro show de arquitetura, organização e modernidade, mais voltado a arte contemporânea.
Este dia frio, chuvoso e ventoso na capital holandesa foi uma viagem cultural de três museus impactantes, música clássica, novos projetos, comida inovadora no restaurante vegetariano do De Hallen e muita diversão pelas ruas desta cidade europeia tão diferente de qualquer outra, abaixo do nível do mar, multicultural, super antiga, ainda que tão moderna!
Vale bem mais do que minhas míseras 24 horas...
Zurique, 26 de fevereiro de 2023.
domingo, 29 de janeiro de 2023
ESLOVENIA - JANEIRO 2023 - SOBRE CASTELOS E DRAGÕES
ESLOVÊNIA – JANEIRO 2023
No país dos castelos e dos dragões, uma semana passa rápido, mesmo se este pequeno país europeu seja ainda menor do que a pequena Suíça (metade para ser mais exato), meu país de adoção. É incrível a variedade e quantidade de programas turísticos que se pode fazer em território tão pequeno e montanhoso. Meus sete dias por lá foram intensos e felizes, apesar do frio, neve, chuva e bruma do inverno europeu.
Comecei por Liubliana, a capital. Pequena e adorável, surpreendente em sua beleza e preservação do patrimônio histórico, arquitetônico e cultural. Um delícia andar por suas ruas super limpas e bem cuidadas, por suas pontes adoráveis e praças belíssimas. Uma mini Estocolmo com toques austríacos e italianos, encimada por um belo castelo, que foi meu primeiro ponto a ser visitado.
A caminhada até o castelo é puxada e revigorante e o museu que abriga, muito interessante e informativo sobre a história da cidade e do país. Há também experiencias imersivas e interativas, bons restaurantes e uma loja bem sortida com produtos locais e lembranças do castelo. O bom de visitar o lugar já no primeiro dia, é o fato de que a vista total da cidade, dá uma ideia do traçado dela, das montanhas nevadas ao redor, das pequenas e produtivas fazendas por toda parte. Uma boa maneira de se situar e admirar a arquitetura que faz de Liubliana uma das capitais da Europa mais encantadoras e charmosas. Bons museus também ajudam a entender o lugar, sua rica história, conflitada política e legado artístico de peso. A Biblioteca Nacional apresenta arquitetura monumental e singular e exposições chocantes sobre guerra e política.
Me hospedei no chamado Centro, área colada ao centro histórico, mas com opções de hotéis e comércio mais modernos e confortáveis. O hotel Best Western Premier Slon é perto do Intercontinental, em frente a Zara, a um quarteirão da ópera da Eslovênia, na mesma rua dos excelentes restaurantes Figovec e Gostlina Sestica. O primeiro, modernoso e descolado, só comida típica do país, sem concessões aos turistas. O segundo, apresenta uma mescla de pratos locais e internacionais. No Figovec, o filé com batatas a moda da casa é maravilhoso e o strudel de blueberries é intrigante. Já no Sestica, a estrela é o monumental carpaccio de pato, inesquecivelmente bom.
Outras estrelas gastronômicas da cidade estão na rua mais bonita, a Stari Trieg. Desde o novo, caro e descolado The Restaurant, ao popular Julia até o mencionado no Guia Michelin, candidato certo a estrela, o Valvasor. O primeiro tem lareira divina, comida boa e modernosa, serviço fraco e gente bonita. O segundo parece um bistrô francês e tem massas ótimas e o Valvasor tem serviço perfeito, ambiente bem decorado e comida seriamente boa, meu favorito em Liubliana. Os preços na Eslovênia são mais camaradas do que no resto da Europa, formidável custo-benefício. Dos hotéis aos museus, dos restaurantes aos trens e espetáculos de teatro de qualidade impressionante. Eficiência e gentileza do povo, uma bem-vinda marca registrada.
O resto do país percorri a moda europeia, de trem. Até Maribor, segunda maior cidade da Eslovênia, bom transporte. Como todos falam inglês, é fácil locomover-se de modo independente. No entanto, nem todas as linhas de trem são boas e as vezes o ônibus é mais confiável, moderno e confortável. Todos os motoristas também falam inglês e paga-se as baratíssimas passagens já no embarque.
Maribor é sem graça, só vale a pena como cidade-dormitório para uma inesquecível refeição do restaurante estrelado Hisa Denk, a 25kms de lá. Um almoço de cinco passos, acompanhados pelos bons vinhos do país. Não há cardápio. Escolhe-se, na reserva por email, quantos pratos se quer comer – reservei 3 e saboreei 5. Todos maravilhosos. Na chegada, o garçom pergunta suas preferencias alimentares e alergias. Só. O que se segue é uma delícia, por um preço ótimo, lugar lindo, serviço perfeito. A Opera Ballet de Maribor, apresenta diariamente programas diversos e baratos, bom programa numa cidade chata e cinzenta. Um ponto de razoável interesse é o Castelo de Maribor, na verdade um palácio no meio da cidade e o minúsculo Museu do Vinho e suas degustações. Ali se pode ver a parreira em produção mais antiga do mundo, verificada e certificada pelo Livro de Recordes Guiness.
Ali perto, a pequena vila chamada Ptuj, que deve ser visitada por seus magnífico e imponente castelo, a exposição no próprio, de fantasias do curioso carnaval local, a loja interessante, a bela galeria de arte que surpreende por estar num lugar tão diminuto e o sério restaurante Amadeus e seus inovadores pratos que usam trigo sarraceno em vez de arroz nos risotos e cujo rocambole sem açúcar, mas com calda de chocolate, tornam tudo uma festa.
Ptuj é historicamente tão importante como a capital eslovena, muito antiga e cenário de vários episódios fundamentais na narrativa local. Vale a visita e é facilmente alcançável, vindo de Maribor.
No lado oposto do país, a paisagem cartão-postal, capa do guia Lonely Planet, o lago Bled, na cidadezinha de mesmo nome. Centro náutico no verão e centro de esportes de neve no inverno, o lugar é incrivelmente bonito, montanhoso, verde, nevado, animado e agitado. A caminhada de seis quilômetros ao redor do lago é imperdível, primeira coisa a ser feita ao chegar, para se ter uma ideia completa do lugar. E de uma das margens do lindo lago tomar um barquinho até uma ilhazinha bonita, com igrejinha fofa no meio, coisa de sonhos, de contos de fada. De volta a terra firme, visita a imponente igreja principal, toda reformada, lugar cercado por muito verde, mais construções históricas e ruazinhas pitorescas. E haja folego para subir até o Castelo Bled, no alto de uma pedra tipo Corcovado. Em dia claro, vista surreal dos alpes julianos da região. Hospedar-se em Bled só compensa se o objetivo for esportivo, verão ou inverno. Se esta não é a praia do visitante, o melhor é o bate-volta, saindo cedo de Liubliana, passando o dia movimentado em Bled e voltando a noite.
Como a Eslovênia é pequena, tudo super viável e sem a dor de cabeça eterna da bagagem. Que não combina com trens e ônibus. Quartel-general Liubliana e o resto, day-trips. Só Maribor e Ptuj, mais distantes, valem uma noite (deixando a bagagem no hotel em Liubliana), para aproveitar as atrações acima descritas com calma.
Chave de ouro do penúltimo dia foi a região de Postojna, suas cavernas embasbacantes e o castelo mais interessante, genuíno e convincente que já visitei, o Castelo Predjama. As cavernas são um conjunto enorme de 24 kms de extensão a muitos metros abaixo da superfície, muito bem iluminado e com trenzinho rápido para ajudar. Mas, como estamos na Europa, continente das escadas onipresentes e caminhadas infinitas, o tour cavernas necessita pernas e bom preparo físico para acompanhar o guia-atleta caverna abaixo e não se separar do grupo, má ideia em lugar enorme e desorientador. Portanto, folego e boa vontade para ver muitas formações de estalactites, estalagmites, cristais e morcegos nunca dantes imaginados.
Sou experiente em cavernas, que já visitei no Brasil e mundo afora, mas as de Postojna são na certa as mais bonitas, com excelente infraestrutura e segurança. Atração imperdível, bem como o castelo a nove quilômetros dali.
Mais castelo depois de cinco dias deles?
Sim, sim, sim. Este castelo é uma construção bem antiga dentro de uma caverna, de uma singularidade e imponência únicas, coisa difícil de habitar e visitar devido ao frio infernal que faz lá dentro e a localização tipo estrada-sem-saída, que liga um vilarejo de meia dúzia de casinhas á montanha imponente e ao castelo fantasmagórico embutido nela. Tudo enfrentando muita escada molhada pelo constante gotejar da humidade da semi-caverna, uma semiescuridão com as explicações e música apropriadas nos áudio-guias em vários idiomas. Há câmara de tortura, com gritos dos presos e tudo, passagens secretas, janelinhas e buracos por onde os soldados jogavam óleo quente nos invasores e por aí vai. Genuíno, atmosférico, uma boa ideia do que deve ter sido a vida ali nos idos de 1200. A Disney adoraria ter uma atração destas, seria o Castelo Assombrado, em vez da casa de mesmo nome, com almas penadas verdadeiras e guerras idem.
Nem na região das cavernas e nem em Bled, prestigiei restaurantes. Existem, claro, mas as atrações são tantas que preferi comer em Liubliana, cidade de restaurantes excelentes. Aliás, a comida na Eslovênia está na minha lista das sete melhores do mundo, a saber:
1 França
2 Itália
3 Argentina
4 Brasil
5 Suíça
6 Áustria
7 Eslovênia
Asia e Oriente Médio não fazem minha “cabeça gastronômica”, desde criança e por influência forte de minha avó paterna, altamente europeizada.
Santé!
Zurich, 29 de janeiro de 2023.
sexta-feira, 6 de janeiro de 2023
REVEILLON NA ISLANDIA - 2023
ANO NOVO GELADO 2022/2023 NA ISLANDIA
Destino pouco comum para uma festa “quente” para nós brasileiros, muita praia, sol e mar. Em Reykjavík, capital da linda Islândia, tem mar também, mas sem praia, sem roupa branca e com temperaturas entre -12 e -20 graus centígrados. O branco mesmo fica por conta da neve que cobre absolutamente tudo, um manto invernal espetacular.
Em 2021, há pouco mais de um ano, eu e minha irmã estivemos na Islândia pela primeira vez e adoramos. Temperaturas mais amenas, pouca neve. No entanto, estava devendo ao meu marido uma volta ao país no inverno, para vermos cachoeiras congeladas e tudo petrificado. Foi o que encontramos, superando em muito nossas expectativas, pois viajar a esta ilha perto da remota Groenlândia, em qualquer época do ano, é maravilhoso. E já começa no avião, que se aproxima da ilha toda branca, parecendo um enorme navio gigante a deriva, tudo de um branco espectral, fantasmagórico, bem “ice wall” da série Game of Thrones.
Saindo do aeroporto quentinho, o primeiro embate com a realidade, as temperaturas baixas e o vento incansável. Sim, é duro. Mas vale o desconforto pela beleza única do lugar, que muito me lembrou a Antártica, onde estive em 1994. Na Islândia, o silencio absoluto e a magnitude branca das paisagens remete ao remoto Polo Sul, sensação que nunca tive de novo, em quase 30 anos de estrada pós cruzeiro ao continente mais frio e desolado do planeta. E olha que eu tenho muita experiencia em lugares frios pois moro parte do ano na Suíça e já acampei perto do Polo Norte (no fim da primavera).
Boas roupas são essenciais, é claro, informação e cuidado idem. Neste país, neve e gelo são normais e quase não limpam as ruas e calçadas, o que significa que dirigir e caminhar requer bom preparo físico, sapatos adequados, muita atenção e carros especiais. Se pode visitar quase tudo no inverno, mas dirigir é coisa para iniciados, pois a neblina branca junto com o gelo da mesma cor torna os trajetos longos pelas estradas geladas algo assustador, bastante desafiador. Uma aventura única, sem preço, especialíssima!
Nossa base, por uma semana foi Reykjavík, cidade que adoro. Restaurantes ótimos, música e teatro vibrantes, bom comércio, bela e sóbria decoração nórdica de Natal e os fogos de artifício mais espetaculares que já vi. Horas deles, começam as 9 horas da noite do dia 31 de dezembro e vão até umas duas da manhã do dia 1 de janeiro, sem parar. Por todos os pontos da cidade, uma festa incrível “aquecendo” o entorno glacial e fazendo a neve brilhar mais ainda, um show exclusivo e inesperado, muita gente nas ruas, animadíssimo. Uma surpresa, pois réveillon fora do Brasil é, em geral, desanimado. Não na capital islandesa, que leva a virada do ano muito a sério.
Talvez pela enorme quantidade de jovens e crianças por toda parte, além de um turismo vibrante focado na aventura, a imagem do país como centro inovador, tecnológico, fora das garras do ditador russo, Putin, nos dias que correm. A Islândia é totalmente auto suficiente em matriz energética, pois seus vulcões garantem tal independência. Nos últimos anos o país se tornou referência em tecnologia geotérmica e várias multinacionais possuem lá filiais de negócios que requerem consumo alto de energia.
Em nossas aventuras dirigindo pelo país, vimos várias cachoeiras congeladas, um show de azul, branco e amarelo, os gêiseres fumegantes cercados por gelo, o contraste da água fervente e o oposto, a água congelada. Os peludos cavalos nativos da ilha, contrastando com a neve, impassíveis no frio e vento, turistas cavalgando alguns, tais resistentes animais não parecem ter abrigo das intempéries meteorológicas. Ficamos com pena deles, mas cada país tem seus costumes e quem somos nós para julgar? Os carneiros que fornecem ótima lã e carne fantástica recebem tratamento VIP e quase não se vê os ditos cujos; coisa que vimos muito no meio do outono. Há pássaros, gansos, patos e cisnes resistentes as temperaturas, que no lago congelado da cidade, se juntam perto de uma fonte de água termal e aproveitam o calor dela para sobreviver. Só na Islândia mesmo...
No lado pratico da viagem, há que se avisar que se trata de roteiro bem caro e acredite se quiser, a semana entre o Natal e o Ano Novo é uma das mais “salgadas” do ano, apesar do frio intenso e os dias curtos. O sol, quando aparece, é lá por 11 da manhã e as 4 da tarde vai embora. Mesmo assim, o lugar é concorrido, hospedagem razoável não sai por menos de 350 dólares ao dia, refeições decentes nunca menos de 100 por cabeça, aluguel de carro ou contratação de excursões são “facadas” inevitáveis. Bebidas alcoólicas, deliciosas e necessárias em tais temperaturas, estão lá por 20 dólares uma taça de vinho vagabundo e por aí vai.
O artesanato criativo e muito especial da Islândia, quase todo ele em espetaculares peças de lã, não oferece preços convidativos e as lojas tentadoras, e há toneladas delas, tornam tudo mais caro ainda. Existe o esquema, comum em alguns países europeus, de reembolso do imposto sobre vendas. Funciona, mas dá um certo trabalho na saída do país, no aeroporto. Que, por sinal, tem lojas ainda mais sedutoras.
Resumindo: réveillon em Reykjavík não é para amadores, pão duros ou mariquinhas. Como o título do filme excelente que deu um Oscar a Javier Bardem, it is “No Country for Old Men”.
Voltaremos a Islândia algum dia desses, pela terceira vez, país que adoramos e admiramos. No verão!
ZURICH, 06 DE JANEIRO DE 2023.
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