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segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Praia Mexicana vale a pena?

_ Primavera 2008 em Puerto Vallarta, Mazatlán e Baja Califórnia com algumas considerações sobre Cancun e outras sobre o “primo pobre” mexicano do Grand Canyon norte americano _


A respeito do lado histórico do México todos já ouviram falar pelo menos um pouco e é mesmo magnífico. Praias e mega-balneários, pelo Brasil se popularizaram com Acapulco nos anos 60 e Cancun nos anos 90. Mas vale a pena sair da nossa “praia” de mais de 8000 kms de extensão para enfrentar as muitas horas de vôo até o México? Bom, depende...
Comecemos por Cancun, que me encantou em 1992 e em 1996. Tudo novinho, serviço ótimo, fiquei maravilhada com o luxo e esplendor dos hotéis, coisa rara, na época, no Brasil. Que, pobrezinho, só possuía o resort Transamérica da Bahia e olhe lá. Voltaria a Cancun por ser Caribe e seu belo mar de águas quentes e claras e pela parte das ruínas maias que são fabulosas. Não sei o que é Cancun agora, 12 anos depois e explico em seguida meu pessimismo.
Não fui a Acapulco, mas ouvi falar que está péssima. Acredito, pois em abril de 2008 estive em Puerto Vallarta e Mazatlán, ambas na costa do Pacífico e odiei. Dois Guarujás tremendamente decadentes, lugares que foram muito sofisticados e/ou paradisíacos não muitas décadas atrás. Pena...
Desenvolvimento mal planejado, prédios enormes, degradação total. A freqüência é só de mexicanos gordos e feios e americanos e canadenses mais gordos e feios ainda. É aquele tipo de lugar cuja maioria dos bares oferece “conga com tequila” . Tal atividade absurda consiste em gente dançando o tal ritmo conga, enfileirados e de bocas abertas, com um palhaço qualquer despejando tequila em suas gargantas. Patético...
Isso sem contar que as praias são feias. Em Mazatlán, triste e mais decadente ainda, pelo menos as prais são um pouco mais bonitas. Gostaria de ter visitado Zihuatanejo, perto dali, mas o que vi em Puerto Vallarta, a ex-favorita dos astros de Hollywood, me desanimou muito.
Nesta mesma viagem recente, tentamos conferir as belezas naturais da Barranca del Cobre, ou Copper Canyon, quatro vezes maior do que o similar americano, o glamuroso Grand Canyon. Revelou-se 100 vezes mais feio e 100 vezes menos glamuroso. É mesmo enorme e impressionante, mas como o México é um país, em sua maior parte muito seco, a vegetação dos cânion é feia. Seca, esparsa. Não é nem o esplendor dos tons de vermelho e ocre do Grand Canyon e nem o lindo verde de nossos pequenos cânion brasileiros do sul, o Itaimbezinho e o Fortaleza. É uma coisa majestosa mas sem graça, em opacos tons de cinza. O tal famoso trem, CHEPE, que percorre os 600 kms que separam a horrenda cidade de Los Mochis da bem mais interessante Chihuahua, é fraco. Partes do percurso são interessantes, mas o trem é sujo, lento e as estações indescritivelmente pobre e mal equipadas. É tudo uma enorme perda de tempo, pontilhada de hotéis fracos, único lugar de comida ruim que visitamos em várias semanas no México e muito pouco para se fazer. Evite e não se deixe enganar por fotos que mostram o cânion verde e glorioso. É um pouco mais colorido três meses, máximo quatro por ano.
Mas, voltando, às praias, a Baja Califórnia pode ser uma escolha acertada. O estado é parte de um dos desertos mais ricos em termos de recursos naturais, o deserto de Sonora. Cactos e árvores que parecem secas mas não são, primos menores dos majestosos baobás africanos, altas montanhas, cânion verdes correndo pelos leitos semi-secos de rios variados. Pássaros multicores, esquilos, lagartos, pelicanos, gaivotas. É uma festa de natureza em um cenário inusitado, com o esplendor e a glória do azulíssimo Mar de Cortés emoldurando tudo. O encontro de tal mar com o oceano Pacífico é também muito bonito.
O ideal é alugar um carro e percorrer a região por 2 semanas, visitando suas inúmeras cidades e vilas, suas belas praias e nas estações do ano apropriadas, observar baleias e nadar com os mansos tubarões-baleia. Boas estradas facilitam tudo isso e aluguel de carro oferece preços razoáveis. Varias agencias organizam passeios e atividades radicais. Há de tudo para todos. Isso sem contar os shoppings e cinemas na região de Los Cabos, a mais descolada. Restaurantes divinos, bares animados, galerias de arte, uma festa. O que se chama Los Cabos compreende as cidades de Cabo San Lucas e San José de los Cabos, distantes cerca de 30 kms uma da outra. Uma é super turística, para quem gosta de bastante agito, a outra, pequena, pacata e zen, ideal para quem procura paz. Prós e contras nas duas. Em San Lucas, mais hotéis na ou perto da praia; em San José, distante 1 km da praia, opções mais em conta e super charmosas, como o El Encanto Inn. Mais para pousada do que hotel, o lugar oferece quartos bem decorados e espaçosos, piscina e jardins agradáveis a preços razoáveis em região. Pagamos 240 dólares a diária por uma suíte com dois quartos, dois banheiros, magnífica!
Nas duas ultimas noites no México, numa feliz viagem de 23 dias pelo país, decidimos fechar com chave de ouro (diamantes) nosso percurso, com 2 noites à beira mar no fabuloso hotel One and Only Palmilla, pertencente à cadeia de estabelecimentos de luxo sul africana, One and Only.
É um lugar de sonho, com todas as amenidades possíveis, serviço “adivinham” o que o hóspede quer e coisas do gênero. Nos custou 2800 dólares por um fim de semana, que incluiu quarto mega-confortável (vista chapante para o mar e um terraço de onde não se tem vontade de sair) com serviço de mordomo 24 horas por dia e dois jantares luxuosos.
Este tipo de hotel não existe no Brasil e é uma tradição mexicana financiada por grana norte americana, que já se iniciou nos anos 60 com o Las Brisas de Acapulco. Em Cabo San Lucas o Palmilla só perde para o vizinho Las Ventanas – que consegue ser ainda melhor e mais caro.
E então? Vale mesmo a pena veranear nas praias mexicanas? Só vale em dois casos: vontade de misturar história, cultura, natureza totalmente diferente da brasileira e praias ou sede de luxo acoplada ou não a celebrações especiais e praias. No primeiro quesito, Cancun, ainda, (uso a palavra “ainda” por temer, nestes 12 anos de ausência, que Cancun tenha se tornado a medonha Puerto Vallarta) deve ser imbatível. No segundo, Cabo San Lucas reina sem competição na América Latina.
Nos dois lugares, praias e mar são muito bonitos e apresentam boa estrutura para esportes aquáticos.
Mas sair do Brasil só pelas praias? Não.

Como diz a velha música dos “baianos”: I don’t want to stay here, I want to go back to Bahia...
BARCELONA REVISITADA – FEVEREIRO DE 2008

A luz da Espanha, a famosa luz...
Não há nada igual e creio que este é um dos fatores determinantes na alegria congênita dos espanhóis. Vinda de outros países europeus mais ao norte, os dias ensolarados do inverno maneiro de Barcelona são um alívio.
Barcelona cresce em mim a cada vez que volto. Primeira vez não gostei muito, a segunda outros olhos e agora positivamente aprecio com carinho esta que é uma das grandes cidades mais agradáveis do Velho Continente. Um tanto suja, muito barulhenta, feia em seus becos e construções não muito bem conservados; lado a lado com belíssimos edifícios de construção preciosa, com largas e majestosas avenidas, com ruazinhas medievais e toda a sorte de praças e cantinhos singulares.
Me hospedei no Banys Orientals, hotelzinho-chique no igualmente chique Born, uma parte do bairro La Ribera. É uma extensão mais transada do Bairro Gótico. Quando fiz a reserva, temia pela barulheira dos muitos bares e restaurantes da região, das motos, da moçada “borracha”. Nada disso, aprazivelmente tranqüilo à noite, a calle Argenteria é muito bem localizada perto a uma grande avenida, portanto a não circulação de carros em frente ao hotel não é problema com bagagem e ajuda muito na diminuição do barulho.
Barcelona não é cidade barata, infelizmente. Como “está de moda”, como se diz em espanhol, os preços seguem a corrente ascendente. Daí o Banys ser uma pechincha a 100 euros por dia. Modernosamente bem decorado e contando com um dos restaurantes melhor custo-benefício de Barcelona, é uma escolha acertada, que eu facilmente repetiria. Os quartos são bacaninhas, mas pequenos, o que não é novidade na Europa, a campeã máxima dos armários para vassouras que eles chamam de quartos! Mas é um “vassoureiro” honesto. Pelo menos não se paga centenas de euros por total falta de espaço. O hotel é ideal para pessoas a negócios na cidade ou turistas do tipo (como eu), que não param no hotel. Não é lugar para casaizinhos em lua de mel e coisas do gênero.
O restaurante é o famoso Senyor Parellada, bonito, bom e barato. Parece impossível? Não é: duas pessoas com vinho e três pratos cada resulta em almoço de 60 euros com gorjeta. Para a Europa atual? Pechincha total!!! Não é lugar turisteba, os nativos o freqüentam em massa, o serviço é bom e o cardápio mescla comida catalã moderna e os tradicionais pratos espanhóis, como a paella, em porções generosas e bem preparadas. Um achado.
Também na linha custo-benefíco, o Mercado Santa Catarina brilha. Ambiente jovem, gente bonita, comida de vanguarda. Porções pequenas. Destaque para a “fondue espanhola” de provolone com tomate e pesto e para o tartare de atum com guacamole. Na linha ultra moderna, decidimos visitar o mega-minimalista Hisop. Fuja! Bizarrices como azeitonas doces acompanhando o café, bombons de cogumelos em cima de fatias de atum cru caramelado são patéticas. Caro e ruim. Aliás, este é o ponto: há muitos copiadores das experiências inovadoras do chef Ferran Adriá, dono do restaurante El Bulli, não muito longe de Barcelona. Infelizmente, os resultados são o que se vê e come no Hisop: 150 euros para duas pessoas fazerem cara de horror ante as propostas malucas do lugar. Sou arrojada em termos gastronômicos e gosto de checar tendências, mas o Hisop é apenas uma grande perda de tempo. Ganhe tempo com as magníficas tapas do Taller de Tapas, filial Rambla de Catalunya (há uma menor e menos charmosa na calle Argenteria) ou as bombadíssimas da Cervecería Catalana, possivelmente o estabelecimento bar/restaurante mais popular da cidade. Não se deixe desaminar pelas filas; o serviço é eficiente e as tapas valem a pena. É uma experiência emblemática da cidade, tipo Sagrada Família gastronômica! Vá ao Taller anteriormente citado para “tapear” com tranqüilidade...
Em termos turísticos, desta vez: Casa Batló, visita guiada ao Palau de la Musica e Museu de Arte da Catalunha. A primeira completa a trilogia casas-Gaudí e é, como sempre, interessantíssima em seus motivos marinhos. O Palau com guia é ainda mais curioso e os detalhes, bem explicados são realmente inusitados. O ultimo, sensacional, com um acervo de arte que engloba 1000 anos, de embasbacar. Em prédio igualmente embasbacante, um palácio soberbo no topo do complexo de Monjuic. Tudo bem iluminado, bem explicado, exposto, genial. Assim como genial é o restaurante do museu,Oleum, possivelmente ostentando a melhor vista da cidade. Menu do almoço preço fixo 25 euros por pessoa. Três pratos, água, café e vinho. Comida caprichada, moderna, porções decentes, tudo servido em ambiente com teto altíssimo, paredes decoradas com murais de arte moderna e gigantescos espelhos. Imperdível até mesmo para quem não gosta de museus. Mas adora restaurantes...
E para quem, como eu, ama o presunto crú espanhol, nada mais adequado que uma visita à Botifarrería de Santa Maria, uma loja de frios e queijos perto da igreja Santa Maria del Mar. É simplesmente perfeita.
Os espetáculos de Barcelona são muitos e optamos pelo musical Mamma Mia, que de espanhol não tem nada. Mas cantado e falado em castelhano transforma a já bem divertida cantoria em episódio engraçadíssimo, com elenco talentoso e montagem muito bonita. Tudo isso no grande teatro BTM em Monjuic, pertinho do centro de convenções da cidade.
E para quem gosta de compras, lá pelo dia 10 de janeiro a meados de fevereiro é a época das “rebajas”, as liquidações mais camaradas do planeta. Atenção meninas: na Zara de Barcelona há jeans por 6 euros, blusinhas idem e sapatos por 14. Corram!!!


Barcelona, 08 de fevereiro de 2008.

Em comemoração aos 25 anos de Paola e seu tempo feliz em Barcelona.
A MELHOR BATATA RÖSTI DO MUNDO – SAAS FEE (SUÍÇA)

Apesar de não esquiar, sempre fui fascinada por regiões que se prestam a tal esporte e outros mais relacionados à neve. A natureza é tão linda neste mundo silencioso, coberto por um manto branco natural, ora parecendo um cobertor gigantesco e brilhante, ora açúcar de confeiteiro polvilhando as arvores e telhados. A neve, ao contrário da chuva, não faz barulho; não se sabe que está acontecendo a não ser que se olhe pela janela. Uma linda surpresa gelada que enfeita até os lugares mais sem graça; construções sem nada de especial parecem receber uma “pintura” natural que esconde defeitos e imperfeições. Vegetação sem atrativos específicos ganha uma cobertura de mistério e charme; um “upgrade” que só a natureza pode proporcionar. Até as pessoas, disfarçadas ou não de esportistas invernais parecem mais elegantes, suas roupas coloridas contrastando com o branco do cenário e os quilos a mais bem escondidos por belos trajes da estação.
De uma certa maneira é o caso de Saas Fee, vilazinha de 1500 habitantes no sul da Suíça. Apesar da lindíssima localização, encravada em vale estreito em meio a vários picos que ultrapassam os 4000 metros de altura, com um glaciar fabuloso para tornar tudo ainda mais interessante; a vila propriamente dita nada tem de diferente ou arrojado em termos de arquitetura. Sempre as construções de cimento e madeira escura em forma de chalé que são tão características da Suíça. Mas cobertas de neve e cercadas por alguns estábulos muito antigos, equilibrados em pedras tipo “casa dos Flintstones” e seus poderosos telhados de ardósia rústica, tudo muda.
Você pensa que chegou à Aldeia do Papai Noel e não te avisaram! O vilarejo nevado é muito charmoso, à noite um silencio e um aconchego maravilhosos e durante o dia, com o sol brilhando a mil, todas as casas, igrejas e edificações cintilam como cristais e o contraste cinzento, imponente, das gigantescas montanhas com o céu azul, os paredões de gelo milenar do glaciar Allalin e o branco da neve é um espetáculo único. Aquele paraíso de inverno com que todos nós brasileiros sonhamos na infância, um cenário que não possuímos no Brasil mas que povoa nossa imaginação através dos contos de fadas, televisão, cinema. Saas Fee se encaixa à perfeição nesta fantasia com a vantagem de ser real. E com a vantagem de bom acesso, proibição total de carros na vila, segurança, garagem perfeita para estacionamento a longo prazo e transporte feito com os táxis elétricos mais curiosos e coloridos que se possa imaginar.
De Zurique ou Geneva, algumas horas de carro por boas estradas e bonitas paisagens. Chega-se a uma garagem com vários níveis para estacionamento e mais de 1000 vagas. Civilizadamente, descarrega-se a bagagem em plataforma já munida de telefone para que se possa chamar seu hotel e logo um dos pequenos táxis elétricos aparece equipados de alegres e prestativos motoristas. Alugou casa e apartamento e não tem quem chamar? Nenhum problema, é só ligar para o também perfeito serviço de táxis municipais. Perto dali, o Centro de Turismo que possui ótimos folhetos com a programação de eventos, telefones úteis, guias de restaurantes e tudo mais, já dá o tom da temporada relaxante e sem sustos que o turista aproveitará.
Onde hospedar-se não é problema; o site de Saas Fee na internet oferece um leque grande de opções. As mais em conta considerando-se que a Suíça é um país bastante caro, são apartamentos de aluguel; ótimos, equipados, espaçosos. Há hotéis de todo tipo, é claro, mas sofrem do que sempre chamo de “síndrome européia”, o tamanho diminuto e não-humano dos quartos de hotéis; o pior custo-benefício que se possa imaginar. Há exceções, claro, mas em geral na casa dos 400 euros para cima.
Como visito o país regularmente há oito anos, optei pelos apartamentos de aluguel e escolhemos um ótimo, parte de um dos melhores hotéis da cidadezinha, o Hohnegg. A localização é perfeita, fora do centro da vila mas a uma distancia caminhavel; um bom exercício por trilhas e caminhos bem marcados. O hotel tem serviço periódico de transporte, grátis, e excelentes restaurantes para os mais preguiçosos. Não visitei os quartos, oito, mas os apartamentos (localizados em lindos chalés espalhados pela grande propriedade da tradicional família Bumann) que variam de 40 a 110m2 são a escolha certa. O nosso, com 50m2, bonito, completo, confortável, bem decorado, com lareira e um terraço grande debruçado sobre os tais picos de 4000 acima citados, saiu, na altíssima estação, por 330 reais por dia (casal). Na alta estação permanência mínima de sete dias. É fácil ficar o dobro, triplo disso, de tantas opções de lazer por ali.
Para os que esquiam e os snowboarders, as pistas são fantásticas e de facílimo acesso. O cross-country não parece sofrer grandes restrições por ali. Esquia-se até o centro da cidade e até vários hotéis; não há necessidade de transporte especial. Os meios de elevação são dos mais modernos e seguros, tudo funciona muito bem. A prática destes esportes acontece o ano todo em Saas Fee, graças ao glaciar e sua neve eterna que possibilitam uma experiência contínua para os aficionados. Crianças contam com parques de neve e playgrounds especiais para elas e os jovens com bares descolados (o Popcorn é o point total dos snowboarders e o Living Room da geração entre 30 e 40) e discos idem (Metropol, Poison). Além, claro, dos sempre presentes bares aprés-ski, com o Black Bull na dianteira da garotada. Saas Fee é um lugar alegre e jovem, coisa cada vez mais rara em lugarejos pelo interior do que os americanos chamam de Velho Continente. Em Saas Fee vi uma enorme quantidade de famílias com crianças, coisa raríssima na Suíça. Adolescentes e jovens adultos também, descontraídos, em grandes grupos e felizes por estarem num lugar em que podem fazer barulho à vontade, relaxar, sem as restrições comuns às cidades grandes na Europa. Aliás, as atividades noturnas de neve são extremamente encorajadas em Saas Fee: vários eventos regulares como esqui noturno, com tochas, musica, fogos, dias especiais para corridas noturnas de trenó. Perto das pistas, chalezinhos aquecidos e charmosos vendendo todo o tipo de bebidas apropriadas ao frio intenso do lugar. Paradas ideais durante o dia ou a noite, para uma fondue genial, uma raclette fumegante ou uma batata rösti sensacional.
No restaurante ao ar livre – munido de cobertores – do Hohnegg, provamos a melhor das melhores destas batatas, a Walliser Rösti, típica da região. Para os não-iniciados, estas são batatas raladas e depois salteadas na boa manteiga suíça, coradas, com uma espécie de crosta durinha e o interior mole o suficiente para dispensar facas. No Hohnegg, o prato é enorme, a batata achatada em formato arredondado toma todo o poderoso prato; coberta por cebolas cozidas e queijo derretido da região (maravilhoso, parecido com o utilizado nas raclettes, levemente picante), um ovo frito gigante e fatias fininhas de bacon crocante. O máximo do charme e da delícia fica a cargo de uma xícara pequena, ao lado da batata; à primeira vista, parece um cappucino com o creme flutuando na superfície. Claro que não é. Nem sopa. É um levíssimo e celestial creme de cogumelos com os mesmos dentro. Para fazer da rösti, ou parte dela, um tipo stroganoff suíço, sem carne. Uma sensação! Salpicada por um mix típico de pimentas brancas moídas na hora; de morrer de bom!!!! Eleita facilmente a melhor do mundo. Já comi röstis por todo o planeta, ótimas inclusive no Brasil, mas a do Hohnegg é absolutamente inesquecível...
E como se come bem em Saas Fee...
No hotel acima citado o restaurante gourmet (interno e aquecido) é citado pelo venerável Guia Michelin e apesar de caro, apresenta pratos modernos, inovadores, servidos em louça especialmente feita para a casa. Tudo pequeno, leve, bem apresentado. Serviço muito bom e carta de vinhos surpreendente. A fondue fascinante da Fondue Hütte (cabana da fondue), o chalezinho fofo ali pertinho, que pertence ao hotel, é das melhores da Suíça, um verdadeiro creme borbulhante e cheiroso. Mas aviso importante: o chalezinho é minúsculo, só duas mesas coletivas onde os clientes fazem a refeição extremamente apertados, com estranhos. Não faz meu gênero, mas para quem não se importa em jantar ombro-a-ombro com gente desconhecida, tudo bem.
Mas fondue não é difícil de encontrar em Saas Fee, é claro. Tenho boas indicações, mas não provei, do La Ferme, o lindo restaurante do luxuoso hotel Beau Site e do pitoresco chalé (maior) Alp-Hitta. O último é um pouco fora do centro e é a encarnação real da “casa da Branca de Neve”. Comemos muito bem em outro chalé de contos de fada, o Schäferstube. Poderosos filés suínos com presunto local e mais queijo fumegante e saboroso. Na seqüência, mousses brancas e escuras. Tudo regado a vinho fornecido pela vinícola mais alta do mundo, um bom branco gelado chamado Heida.
O restaurante-estrela (literalmente pois conta com uma no Guia Michelin e 18 pontos no Gault Millau) de Saa Fee é incontestavelmente o Fletschhorn, no pequeno hotel Relais & Chateaux de mesmo nome. Treze quartos, bonita localização e vista, no meio de uma floresta a meia hora (do Hohnegg) de agradável caminhada pelo bosque nevado e a trilha que leva até uma das melhores mesas da Suíça. O mesmo chef faz milagres com produtos inusitados e tão distantes do mar: ostras, camarões e lagostas. Como amuse-bouche!!! Nunca vi tão generoso. O tartare bovino é super picante, caro e divino, o frango para duas pessoas na crosta de sal é famoso, filé de cervo vem perfeitamente quase-crú e o fígado de pato gordo com manga é delicioso e suave. Isso sem mencionar clássicos como späzli nadando em queijos especiais e cebolas ou Wiener Schnitzel (bife a milanesa) acompanhado por batatinhas gratinadas. Mais mousses bicolores utilizando o chocolate da casa, suíço claro e o melhor do mundo; outras com 70% de cacau na formula e frutas do bosque para adoçar. Os vinhos tintos do cantão (espécie de estado suíço) são surpreendentes e de alta qualidade. A carta do Fletschorn é premiada, por sinal. O serviço e preço estão alinhados com o que se espera deste nível de casa. Mas há uma característica que jamais vi em minha longa peregrinação pelos restaurantes europeus estrelados: de 2 a 5 da tarde há um cardápio reduzido gourmet para quem gosta de almoçar tarde. As sobremesas, as mesmas do magnífico à la carte. Raridade...
Um famoso crítico de gastronomia, suíço, escreveu sabiamente que não há O melhor restaurante e sim o restaurante ideal. Ideal para a época, a hora, o lugar, o bolso, as vibrações, o estado de espírito. O Fletschorn é um desses. A casa certa no lugar certo.
Para os não esquiadores e munidos de transporte automotivo, há a possibilidade sempre adorável de visitar Zermatt, a vizinha mais famosa de Saas Fee, sede da montanha mais fotogênica do universo, o Matterhorn. Passeio ótimo de dia inteiro. Outros vilarejos bucólicos e ali perto valem a visita, como Saas Almagell e Saas Grund – todos adequadamente providos de boas lojas e restaurantes. Compras em toda região são focadas em belas roupas de inverno/esportivas, calçados idem, comidas típicas e imperdíveis e artesanato curioso. A Cabane du Fromage, além de queijos incríveis vende também todo tipo de equipamento para fondues e raclettes. Sofisticados e originais utensílios de cozinhas, excelentes presentes de casamento, por exemplo. Vale a pena e os preços são uma bela e razoável surpresa.
Deslizar em trenós é sempre uma delícia e não necessariamente uma experiência aterradora. Para mais adrenalina, há um trenó tipo bobsled, em trilhos; uma espécie de montanha-russa alpina. Utilizar os ótimos teleféricos e o metrô mais alto do mundo (Alpine Metro – escalando brava e poderosamente o nível de 3000 a 3500 metros de altitude) para alcançar o topo do glaciar Allalin é outro passeio agradabilíssimo, praticamente de dia inteiro. Em dias ensolarados a vista é previsivelmente estupenda e os bares e restaurantes disponíveis, muito agradáveis. Com a vantagem de se visitar uma caverna de gelo enorme e interessantíssima. É uma espécie de Ice Hotel permanente. A temperatura constante é -3 graus, completa com esculturas bárbaras nas paredes, tetos cujos cristais naturais são jóias de gelo. Existe até uma capela ecumênica emocionante, gnomos, monstros, iglus. Visita obrigatória!
Os spas estão por toda parte e massagens tibetanas parecem ser as preferidas. Há dois pequenos museus e um cineminha gostoso (filmes quase sempre dublados em alemão, legendas em francês). No Carnaval, ski com música carnavalesca (muito diferente da nossa), grupos musicais pelas ruas e eventos à fantasia para crianças. Para os amantes das caminhadas Saas Fee oferece um meio de elevação especial e sem esquis para os trekkers (e para a turma do trenó-emoção), um teleférico silencioso e sem sujeira que leva os caminhadores até o topo das trilhas bem marcadas. Com ou sem aqueles bizarros snowshoes (sapatos tipo pé de pato para suar na neve – cada passo uma cruz...) e em alguns caminhos, iluminação para caminhadas noturnas. Tudo preparado para fazer de sua experiência nevada em Saas Fee, aquele tipo de viagem que deixa saudades e muita vontade de voltar.


Saas Fee, 31 de janeiro de 2008.
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Gramado - 2008Data: 04/11/2008


Por: Fernanda Caiuby


Há lugares, como o sul da Bahia, para onde vou com freqüência e sempre escrevo "updates" sobre estas localidades especiais. Elas continuam especiais, como é o caso também de Gramado, mas como o universo está em permanente mudança, também está o turismo mundial, o que diríamos então do brasileiro. Por isso a grande importância das atualizações constantes sobre os pontos turísticos mais visitados do Brasil. Gramado é o terceiro destino neste quesito, não só turístico, mas recebendo muitos visitantes que ali vem a negócios, convenções, eventos. Com tanto movimento, de um ano para cá há bastante novidade.
Existem regiões que só mudam para melhor e a Serra Gaúcha é uma delas, assim refletindo o alto padrão de vida e índice de desenvolvimento humano que são comuns naquela parte do Rio Grande do Sul, orgulho nacional e esperança de que um dia o resto de nosso belo país possa chegar lá.
A reforma da avenida principal da cidade, a famosa Borges de Medeiros, ficou ótima. Iluminação mágica à noite, perfeita para tornar a bruma comum que encobre a região numa coisa misteriosa e romântica, luzinhas coloridas que saem da pavimentação de ruas e calçadas. Bancos confortáveis para uma pausa e um papo, plantas e flores por todo lado, a Rua Coberta cada vez mais verde e calçadas largas tornam as caminhadas e compras ainda mais agradáveis. Enfatizando assim um dos pontos fortes de Gramado que são os parques e praças, lugares grátis, públicos, onde as pessoas se encontram ou descansam. Tudo limpo e organizado. Idem para o Lago Bier e o Lago Negro. Infelizmente e inexplicavelmente, o estado de conservação do cinema da cidade, o Palácio dos Festivais, palco eterno do mais importante evento de cinema do país, não é bom. Bonito por fora e com hall de entrada imponente, a sala de exibição necessitaría de uma bela reforma. Tudo está meio velho e cheirando a mofo, cortinas desbotadas e caídas. No entanto, a seleção de filmes é interessante e não exibem só as "comercialidades" e baboseiras americanas, preferindo filmes alternativos, como o inusitado filme uruguaio, O Banheiro do Papa. O setor gastronômico continua melhorando
O setor gastronômico continua melhorando e a nova Cantina di Capo é alegre e bem servida. Nas porções, na qualidade da comida e no serviço. Bom custo benefício. Como também o é a churrascaria El Fuego, em novo endereço, mais central. Ótimas carnes e acompanhamentos. Moscerino e Giuseppe continuam magníficos e no setor chique La Caceria é realmente um estabelecimento de primeira, refletindo perfeitamente a classe e o serviço do hotel Casa da Montanha, um mini-Llao Llao brasileiro. Destaque para o chique-moderno O Lugar, de uma chef bonitona de Porto Alegre, Carol Heckmman. A casa é agradabilíssima, toda de vidro, dentro de uma bela floresta nativa. Comida leve, grande preparo e qualidade, bela apresentação, cardápio super enxuto e boas opções de vinhos. É para quem gosta de comer bem, é flexível e entende de gastronomia. Assim como o Moscerino, foge muito do padrão "serra", bastante restrito a rodízios de fondue e galetos.
Mas o restaurante que mais se diferencia e destaca, atualmente na área, está em Canela e não em Gramado. Na vizinha pobre de Gramado, encontra-se um dos melhores restaurantes de comida de vanguarda do Brasil e em seu primeiro ano de existência já agarrou uma estrela no chatérrimo Guia 4 Rodas 2009. Merecidamente.
O chef é de uma ousadia única, os menus só do tipo degustação, com 6 ou 8 opções. Um leque que se abre e engloba frutos do mar, tendências asiáticas, sobremesas zen. Só abre para 2 jantares e 2 almoços na semana, só fins de semana e reservas são importantes, pois o lugar é pequeno. Vale a pena conhecer o Le Monde antes que acabe, pois sua comida e nível de inovação são bons demais para uma região cuja população local não prestigia novidades descoladas e cuja clientela é majoritariamente composta dos ricos e bonitos de Porto Alegre. Portanto, apesar de ser um restaurante maravilhoso, o futuro do Le Monde, em minha opinião de viajeira experiente e gourmet consumada, é dos mais incertos. Vá rápido!
Na vizinha mais distante, a bucólica cidade de São Francisco de Paula, visite a Pousada do Engenho e seu delicioso restaurante e ignore totalmente o churrasco seco e sem gosto do Pomar Cisne Branco. É, supostamente, pois não se vê nada, o conhecido churrasco na vala, tão típico da região. Não se vê a interessante preparação, o resultado é decepcionante e o lugar pobre, ruim, brega. Fuja! O Guia 4 Rodas recomenda mas eu não. No setor tratamentos de beleza
No setor tratamentos de beleza, é lógico que o famoso SPA Kur reina absoluto. Andam anunciando uma flexibilização dos serviços, um Day SPA para quem não está hospedado no magnífico lugar e só quer uma massagenzinha, aqui, um banhozinho ali, uma limpeza de pele talvez. Liguei para marcar hora, 01 de novembro de 2008. Neca. Ainda não abriram o que será o Kur Estação de Águas. Vamos aguardar e esperar que seja mais acessível em preço e acesso do que o vetusto Kur SPA.
Mas como ninguém e nada tem monopólio sobre coisa alguma no mundo de hoje, Gramado conta com uma clinica dermatológica que possui os tratamentos citados e mais outros como botox e similares, excelente. Centralmente localizada e muito acessível em termos de preço e atendimento, a Clinipel Day Clinic fornece excelentes massagens relaxantes e limpezas de pele das melhores que já experimentei. Nada daquelas limpezinhas frouxas com muito creme e mascara e pouca espremeção dos temíveis e hediondos cravos. Na Clinipel é para valer. Em ambiente alegre, limpissimo, no meio do verde e com belíssimo custo beneficio.
No setor hoteleiro o Rita Hoppner continua fabuloso. Em suas versões chalé e apartamento, experimentei os dois. Desta vez, chalé com piscina. Coberta, grande, quentinha, maravilhosa. Uma coisa de motel em hotel que não pode ser mais simpático e mais família. Os apartamentos são muito bem equipados, banheiros excelentes e ideais, em suas versões mais simples, para pessoas que não ficam muito nos apartamentos. Para casais querendo mais espaço ou famílias os chalés são melhor custo-benefício. E para os apreciadores de feijoada, que não é o meu caso, a do Rita Hoppner é estupenda. Completa, bem servida, saborosa e barata. Em ambiente que não cheira à feijoada, o que é muito importante... E com todos os pés, rabos,línguas e ingredientes nojentos dos suínos totalmente segregados.
E para finalizar, o Gramado Zoo. O que???? Sim, até zoológico Gramado já tem. Agora, só falta praia! Sem brincadeira, um pequeno zoo só com espécies brasileiras vindas de cativeiro, nada apreendido na natureza. O lugar é bem montado e agradável, mas os grandes felinos poderiam ter espaços maiores como os tem os pássaros. Como é empreendimento novo, espero sinceramente que mudem as acomodações de onças e familiares. Apesar das falhas, é um zoo sem cara de zoo e uma boa oportunidade de se observar espécies do sul e reproduções de eco-sistemas pouco conhecidos, como o banhado do Rio Grande.
PASCOA NA ARGENTINA



Um destino óbvio e fácil para nós brasileiros, hoje em dia mais em conta do que nossas praias badaladas ou resorts elegantes. Buenos Aires, quero dizer e em nível médio de despesas. Mais detalhes sobre custos argentinos no fim deste artigo.
A Argentina é linda, mas cara e difícil de viajar com exceção de sua charmosa capital. Um destino mais do que batido e popularíssimo, Bariloche, por exemplo. Se não for julho e em vôos fretados, esqueça! O turista paga cerca de 300 dólares por bilhete ida e volta Buenos Aires/Bariloche e tem que pernoitar na capital, pois os vôos que saem do Brasil não dão conexão no mesmo dia para Bariloche. Na volta sim, mas com cara troca de aeroporto. Isso sem falar no perigo que representam os horríveis táxis portenhos!!! Vôos de duração similar, na Europa ou Estados Unidos (até mesmo no Brasil) saem por cerca de 100 dólares e as opções de horários são inúmeras. Com o detalhe de que é necessário trocar de aeroporto para se chegar à cidade patagônica. Impossível entender isso, já que Bariloche é o lugar, depois de Buenos Aires, que mais turistas recebe no país. Nenhum ser vivo merece ter que trocar de aeroporto para chegar lá.
Apesar do inconveniente e da despesa, resolvemos pagar o mico, caríssimo por sinal e hospedar-nos no bom Hotel Madero e almoçar esplendidamente no La Cabaña. Buenos Aires continua alegre e bonita e o cemitério da Recoleta ainda recebe muitos visitantes embasbacados com túmulos e lápides tão luxuosos. Em nossa breve passagem pela cidade, constatamos o desenvolvimento elegante e moderno da região de Puerto Madero, que só melhora a cada dia. Mais construções de vanguarda, mais espaços públicos, parques, calçadões, bares, restaurantes e sorveterias. Tudo cheio de gente bonita e seus igualmente belos cães, criaturas que os portenhos tem em tão alta conta quanto os franceses. Carnes, doce de leite, sorvetes, alfajores e vinhos continuam sendo os pontos altos de incursões culinárias pela cidade.
O hotel Madero, gerenciado pelo Sofitel, é moderno, apartamentos amplos e bem decorados, bom café da manhã. Vale os 200 dólares da diária. Assim como vale os 150 por um almoço para duas pessoas no La Cabaña. A churrascaria VIP de Buenos Aires continua ótima, serviço impecável. A carta de vinhos argentinos é maravilhosa e o ambiente dos mais agradáveis. As carnes divinas, as empanadas ainda as melhores do país...
No dia seguinte, vôo para Bariloche com a LAN, opção muito mais civilizada do que a pavorosa Aerolíneas Argentinas. Nas duas primeiras noites nos hospedamos no Design Suítes, filhote de hotel modernoso de Buenos Aires. Os 150 dólares da diária com café da manhã apenas regular não torna o Design Suítes a melhor opção para quem quer ficar perto da cidade mas não dentro dela. As cabanas/chalés que se espalham dentro e fora de Bariloche são escolhas mais acertadas e mais baratas. Quem quer gastar dinheiro com altíssimo custo benefício deve desembolsar os muitos dólares necessários para um modesto quarto no inigualável Llao Llao. Entra ano sai ano ele é deslumbrante, imponente, majestoso e simplesmente localizado no lugar mais bonito do mundo. Cercado de lagos cristalinos, coroado pelos Andes nevados, rodeado de florestas belíssimas, emoldurado por jardins perfeitos e um campo de golfe espetacular. Assim é um dos hotéis mais divinos do mundo. Vale o que cobra. Ainda mais por oferecer inúmeras opções de lazer, restaurantes de primeira linha e um dos melhores cafés da manhã do planeta. Serviço excelente, bar charmoso, lojas chiques, tudo no Llao Llao é perfeito.
Também de alto nível é o restaurante ali perto, o Gabilano, fácil o melhor de Bariloche. Comida italiana caprichadíssima, ambiente romântico e pequeno, uma delícia.
Bem menos perfeita é a cidade de Bariloche, que apesar de muito simpática, sofre de terceiro-mundismo na falta de manutenção de ruas e calçadas, no pouco cuidado com o lixo. Seus 110.000 habitantes, a maior parte deles vivendo exclusivamente do turismo, poderiam por mais pressão nas autoridades locais para que seus impostos tivessem melhor uso. Os restaurantes dentro da cidade são fracos, voltados para os grupos de excursão que inundam o lugar principalmente no inverno. Fuja rápido do Família Weiss e sua comida de hospital e decoração bizarra. O La Marmite tem fondues sem graça mas ambiente bonitinho. Legal mesmo é o Boliche de Alberto e suas carnes fantásticas. É o único digno de menção dentro da cidade. E para os que, como eu, sofrem de forte preconceito contra os chocolates de Bariloche e suas mega-stores, uma boa dica: os ursinhos de chocolate branco e ao leite recheados de doce de leite da cafona Mamoushka e os pequenos, delicados e saborosíssimos figos ao conhaque da surreal Rapa Nui (pode ter nome mais ridículo???).
Já Villa La Angostura, a 80 kms rumo norte, por ser pequena e abrigar hotéis, condomínios residências e pousadas caprichadas e não sofrer com a invasão de hordas que atacam Bariloche na alta temporada, está ainda mais preservada e bem mantida. A cidadezinha é um charme, idem para suas lojas e restaurantes. No quesito gastronômico abriga o único Relais Chateaux da Argentina, o Las Balsas; hotel e restaurante excelentes. Hotel pequeno, super bem decorado e aconchegante, comida maravilhosa, verdadeiramente gourmet. É um pequeno paraíso abrigado por uma linda e pequena baía que torna tudo um cartão postal melhor que a foto. Na região, outro hotel de primeira, o Correntoso e a melhor comida do pedaço em relação custo/benefício. Sofisticada e metade do preço dos Las Balsas. A vista do aconchegante restaurante é maravilhosa. Villa La Angostura também ganha na categoria bares charmosos, pizzarias gostosas e cafés escurinhos. Para casais “in love” e com orçamento mais apertado, a Hostería La Escondida e sua localização perfeita, mais restaurante-casa-de-boneca com boa comida à luz de velas pode ser a solução.
Há cerca de 3 anos escrevi um artigo sobre Buenos Aires e meu retorno à cidade depois de 7 anos sem pisar nela. Continuo repetindo e batendo na mesma tecla: nada há de barato em viagens à Argentina que não sejam em grupos CVC e pacotes hediondos do gênero. O país é lindo e vale muito ser visitado. Já estive lá muitas vezes e pretendo voltar em futuro próximo. Mas sem ilusões de custo. Viagens em bom estilo à Argentina são tão caras ou mais que aqui no Brasil. Hotéis 5 estrelas custam mais de 300 dólares por dia, quarto standard. O Llao Llao, fora de temporada nos cobrou 410!!!
O melhor mesmo é encarar o país como qualquer outro destino sofisticado pelo mundo. O que é REALMENTE bom, NUNCA é barato!
NATAL ARGENTINO


Não foi o primeiro. Já havia passado um maravilhoso Natal em Bariloche, meu único sozinha, uma experiência inesquecível e enriquecedora. Desta vez, chegamos a Buenos Aires no ensolarado dia 25/12/2007 e como tínhamos algumas horas livres até nosso próximo vôo, tivemos a péssima idéia de almoçar no Cabaña Las Lilás; péssima não porque o restaurante seja ruim, mas não contávamos com a multidão natalina que assolava a casa naquele dia de Natal. Nativos, brasileiros, russos, ingleses, uma impressionante e frenética mistura de gente que em muito comprometeu o serviço,a acústica e a comida desta que é uma das melhores churrascarias de Buenos Aires. Uma pena...
Mas as agruras desta viagem muito bem sucedida pararam por aí. Tomamos nosso avião até Neuquén, capital do estado argentino de mesmo nome. É o norte da Patagônia argentina. A cidade em si nada tem de especial, apesar de ser economicamente importante por conta da mineração e exploração petrolífera. Em compensação, a paisagem é fantástica, na viagem de 5 horas de carro entre Neuquén e a minúscula Villa Pehuenia. Tem-se a impressão, nas primeiras duas horas (estradas em bom estado) de que se está no Novo México ou Texas, nos Estados Unidos. Paisagem árida, seca, vegetação desértica, cores impressionantes, horizontes sem fim, pequenos canions e colinas avermelhadas; tudo que não se espera de um cenário argentino. Após este trecho, a coisa muda e fica mais verde, mais montanhosa e as enormes fazendas de cabras e carneiros aparecem magníficas no horizonte. Com elas, as araucárias locais, lindas e muito diferentes das nossas. São “hermanas” distantes!
Por que Villa Pehuenia? Por que voar até Buenos Aires, trocar de aeroporto, voar até Neuquén, pernoitar em hotel de aeroporto sem graça e enfrentar no dia seguinte 5 horas de carro? Primeiro, porque as tais cinco horas parecem uma hora de tão diferente e única que a paisagem é. Já vale a viagem. Segundo, porque Villa Pehuenia é uma das regiões mais interessantes da América do Sul, com clima, vegetação, geografia, lagos , vulcões, praias, solo, tudo, mas tudo mesmo completamente diferente do lado chileno, apesar de localizada na fronteira com o Chile e de tudo o mais do resto da enorme região chamada Patagônia. Aliás, uma das minhas preferidas pelo mundo afora. Entre Argentina e Chile, já estive na Patagônia umas 10 vezes. E não canso: penso em voltar constantemente.
Em Villa Pehuenia, um povoado de 800 habitantes, se encontra uma versão ultra-primitiva de Bariloche. Cercada pelos vulcões poderosos do Chile, por lagos cristalinos, excelentes para esportes aquáticos e pesca, clima bem mais ameno do que Bariloche, apesar de frio no inverno, com neve e pequena estrutura para esqui. Villa Pehuenia é um paraíso no verão, coberta de flores, com praias surpreendentes de areia branca e uma vegetação belíssima. Nos hospedamos na excelente pousada-chique La Escondida. Ótimo quarto com grande terraço debruçado sobre o lago Aluminé e prainha particular. Um encanto barato e sofisticado. O restaurante da pousada é descolado e os pratos modernosos e saborosos. Serviço personalizado e atencioso. Destaque para o vinho patagonico, Saurus Reserva.
Em Pehuenia, possibilidades gastronômicas são limitadas e o restaurante da La Escondida é de longe o melhor do vilarejo. As outras opções são simples, como o agradável Parador del Lago onde as empanadas cracantes dão o tom. Há também pizzas. Como boa comida não costuma ser grande problema na Argentina, acredito que churrascarias e restaurantes simples servindo os peixes de água doce da região devem ser bons. Para quem gosta de andar, como nós, Pehuenia oferece trechos preciosos no vulcão extinto Batea Matua. A cratera virou lago e a vista no topo é 360 graus de puro deslumbramento. Fomos duas vezes e fazer pic-nics por ali é um belo e saudável programa. A caminhada é fácil e tranqüila.
Após três noites românticas na La Escondida, outro trecho de carro muito bonito até a mais conhecida San Martín de los Andes, onde passamos o Ano Novo. É a prima-pobre de Bariloche e o esqui mais barato no monte Chapelco. No verão, atividades próprias da estação. A cidadezinha é simpática e oferece bons serviços, restaurantes surpreendentes e algumas lojas interessantes. Entretanto, sua localização, em termos de beleza natural, perde muito para Pehuenia, Bariloche e Villa la Angostura. Para verão não aconselho. Todas a s trilhas para caminhadas e outras atrações estão longíssimas de San Martín, amargando muitos quilômetros por péssimas estradas de terra. Inverno deve ser bom para quem esqui, pois chegar de volta depois de um dia suado nas pistas, aos bons e baratos hotéis e pousadas e jantar no Bamboo, por exemplo, não dever ser mau...
O Bamboo é o melhor custo-benefíco do lugar, uma churrascaria deliciosa, moderna, envidraçada e muito barata. A mais famosa, Pisces, perde de longe para a Bamboo apesar de ser também boa opção. Há restaurantes mais sofisticados por ali, mas não fomos. Nossa cabaña no Las Rosas era muito aconchegante e preferimos preparar nós mesmos alguns petiscos aproveitando os bons supermercados da cidade.
Próxima parada: Villa la Angostura. A jóia da coroa da região dos lagos argentinos. A Bariloche-chique que conta com um dos pouquíssimos Relais Chateaux da Argentina, isso se não for o único, o Las Balsas. O lugar, como anteriormente descrito em meu artigo de abril/2007 sobre a região, é deslumbrante. O gigantesco lago Nahuel Huapi tem por lá seus cantos, recantos, braços e trechos mais lindos, formando baías ultra charmosas. A vegetação é farta, muito verde e repleta de flores do campo. As lavandas em vários tons de roxo e as rosas-mosqueta são apenas algumas das variedades que aparecem espontaneamente no verão.
A viagem de carro entre San Martín e Villa la Angostura é nada menos do que a famosa Ruta de Siete Lagos. É mesmo muito bonita, está sendo melhorada e pavimentada em alguns trechos, mas por enquanto é um sacrifício, que não recomendo, de várias horas. Apesar de toda beleza, cem quilômetros de terra ruim não é brincadeira. Mesmo com tempo bom; com chuva, nem pensar. A coisa é tão desanimadora que nos impediu de visitar a supostamente bela Villa Traful. Um dia, quando as coisas melhorarem, voltaremos. O percurso em estado civilizado é mesmo impressionante; uma competição de lagos de cores e tamanhos diferentes, florestas lindas e montanhas nevadas que completam o cenário de sonho.
Em Puerto Manzano, pitoresca baía um pouco adiante de Villa la Angostura, tivemos a grande sorte de hospedar-nos na Marinas Alto Manzano, uma hospedaria maravilhosa. Misto de hotel e pousada, conta com quartos muito bons (agradavelmente baratos/100 dólares por dia com café da manhã), cabañas fantásticas e lofts super românticos. Os serviços são limitados, pois não se trata de hotel cinco estrelas. No Marinas, a vista é dez estrelas e toma conta de tudo, dominando e fascinando os hospedes o dia inteiro. E que dias! Com o novo horário de verão imposto pela ridícula governante argentina, a nova Evita-Isabelita, “ Rainha Cristina”, há luz diurna de 7.30 até 22.30. Os dias longos e sensacionalmente ensolarados, quentes sob o sol e geladinhos à noite são fantásticos e a vista do Marinas para todo o tesouro patagonico à sua volta é inesquecível. Nos hospedamos 2 noites em uma cabaña e uma em um loft.
A cabaña gigante com 100 metros quadrados e um terraço espaçoso, com a tal vista e churrasqueira, não dá vontade de fazer nada mais, não inspira saídas ou programas. Dois quartos espaçosos e bem mobiliados com enormes janelas fazendo com que o lago, as montanhas e a floresta estejam “dentro” dos aposentos; um bom banheiro e outro equipado com janela panorâmica para chuveiradas/banhos apreciando a paisagem e o movimento de lanchas e veleiros pelas águas muito azuis de Puerto Manzano. A sala conta com pequena cozinha e lareira grande, muito vidro para não se perder nada do que a natureza oferece lá fora. Acomoda fácil e confortavelmente 4 pessoas. Tudo isso por 180 dólares a diária. O loft, um pouco mais barato, oferece quase tudo que a cabaña apresenta, com um banheiro a menos e medidas do resto das instalações, menores. O charme total fica por conta da grande banheira de hidromassagem para casal no excelente banheiro, com, vista, claro e o teto inclinado do espaço em desnível, com a cama de casal king-size, é totalmente de vidro. Maravilhoso. Estrelas, lua, nada mais sexy...
Desta vez, tentamos explorar restaurantes mais simples em Villa la Angostura, como o Raíces, o Estribor e o Australis. Como já conhecemos os “top” e amamos, decidimos explorar novas possibilidades. O Raíces, um desastre, fuja. Sujo, demorado, comida ruim. O Estribor é um cantinho romântico beira-lago, com carnes divinas, aqueles grelhados famosos que só a Argentina tem; acompanhados por aqueles vinhos malbec que também, só o país vizinho oferece. A preço de banana (de água talvez?). Ótimo custo-benefício. O Australis, beira-estrada, é uma micro-cervejaria curiosa e engraçada. Ambientes diversos com lareira e muita madeira, envidraçados, aconchegantes, cheios de fotos e objetos de um dono que obviamente viajou o mundo e trouxe de tais passagens muitas lembranças legais. As pizzas são uma delícia, bons preços, empanadas bacaninhas, tipo a humita, com milho verde e carne moída. Passe longe da empanada de truta. Empanada e peixe definitivamente não combinam.
O que fazer em Villa la Angostura? Muito. Só a vilazinha vale o investimento. Lojas super legais e preços idem. Barzinhos descolados. Passeios de barcos maravilhosos; basicamente os mesmos que em Bariloche, mas sem a horrorosa multidão e em barcos melhores, percursos mais bonitos, porto pequeno e charmoso. O famoso passeio ao bosque dos Arrayanes e a Ilha Vitória são divinos se feitos partindo da Villa la Angostura. Outra coisa.
E tem o Cerro Bayo. Que no inverno oferece esqui e no verão uma infinidade de atividades e uma infra embasbacante, coisa de primeiro mundo. Para esportistas, caminhadores, famílias com crianças, preguiçosos, todo mundo. E com direito a filial da casa de chá mais charmosa da vila, a Tématyco. Fofinhamente apelidada de: bar de infusões. Não só chás e mates, mas “liquados” (usa espécie de “vitamina” argentina) e sanduíches de miga, no pão miga ou na crocante ciabatta. Ai, ai, ai...
Para terminar a viagem, um dos lugares e hotéis mais impressionantes do planeta: o Llao Llao, em Bariloche.
Sim, continua lindo, perfeito, majestoso, ideal. Ainda mais com a ala nova, que tem agora quartos sensacionais com enormes terraços de cara para o mega-fotogenico vulcão Tronador e sua neve eterna e barulhenta. E para o Lago Moreno, para os paredões imponentes das montanhas cinzentas, para o verde, para a perfeita praia artificial que o hotel ali construiu para quem não quer misturar-se à plebe rude da piscina, que apesar de ótima é pessimamente freqüentada por velhos medonhos e criancinhas uivantes.
Duas noites que valem por cem no hotel mais bonito do universo, no bar mais incrivelmente charmoso e aconchegante, no estabelecimento que oferece o campo de golf mais bem localizado da terra, o café da manhã mais bem escolhido e generoso que se possa imaginar, completo com waffles fresquinhos cobertos por dulce de leche, cerejas e por aí vai...
Visitamos o restaurante gourmet do Llao Llao desta vez, o Los Cesares. É fora de série, o melhor de Bariloche. Seu concorrente mais próximo e sensacional é o restaurante do incrivelmente moderno e sofisticado Hotel El Casco. Os dois estão muito, mas muito acima do Gambrinus, bom, mas longe do mesmo nível.
No centro de Bariloche, o Boliche de Alberto continua oferecendo as melhores carnes da Patagônia e quiçá da Argentina e cobra preços muito convenientes.
Após duas semanas de sonho, voltamos por, infelizmente, só uma noite à frenética Buenos Aires e nos hospedamos em Palermo Soho no descoladíssimo Costa Petit. Só quatro quartos lindamente decorados, uma piscininha adorável e uma localização perfeita, em meio às ruas arborizadas de um dos bairros que mais cresce em charme e popularidade da capital argentina.
Uma viagem feliz a preços módicos e experiências inesquecíveis.



Zurich, 03 de fevereiro de 2008
NOVA YORK 2008

Restaurantes, compras, teatros, museus e tudo de bom na cidade que nunca dorme!


O que fazer na cidade mais não-americana dos EUA se você já esteve lá 14 vezes? Ainda há o que ver? Muito.
Em maio de 2008 eu e uma amiga decidimos passar uma deliciosa semana na Big Apple e constatamos como sua renovação é ininterrupta e quando se pensa que já viu tudo, ainda há muito, mas muito mesmo o que fazer. Como São Paulo, Londres ou Paris, NY é incansável em sua oferta fantástica de programas para todas e idades e preferências. Mesmo pós-2001, mesmo atacada, ferida, a cidade não deixa marcas da tragédia das Torres Gêmeas. Segue altiva e movimentada, sem olhar para trás.
E foi com o mesmo espírito que decidi não visitar o Ground Zero, tentar não pensar na covardia que atingiu tanta gente e destruiu um marco da cidade; que sempre me indicava, de dentro do táxi indo do aeroporto para Manhattan, que a cidade estava perto. Mesmo sem os imponentes edifícios, NY continua louca, vibrante, agitadíssima. E sem o Sr. Giuliani, mais suja e o transito pior do que nunca. Ruas esburacadas, buzinas e sirenes completam o quadro tão familiar a uma paulistana como eu. Nada que comprometa muito a diversão, pois se não consertam buracos, consertam museus e o remodelado MoMa está melhor do que nunca e mereceu duas visitas em 6 dias. Atenção especial para o quarto e quinto andares.
Nos tempos atuais, toneladas de turistas correm atrás das compras barateadas pelo dólar fraco e muitos brasileiros se esbaldam nas ruas da cidade e até no estado vizinho, New Jersey, em um centro comercial chamado Woodbury Common Premium Outlets. Vale a pena enfrentar uma hora e meia de carro (ou duas, dependendo do transito) para chegar lá. Além de ótimas lojas e precinhos convidativos, o shopping center não é a enorme caixa fechada, sufocante, com luzes artificiais a que estamos acostumados. É uma réplica de cidadezinha do interior da Nova Inglaterra, cada loja parece aquelas casinhas de madeira pintadas de branco com telhados escuros. Jardins floridos, boa sinalização, bancos para descansar por toda parte. A praça de alimentação é numa destas “casas”, completamente separada das lojas e os restaurantes (não as lanchonetes) tem entradas separadas. Há até um italiano bastante bom para restaurante de shopping, o Positano Grill. Enormes Caesar Salad’s com ou sem camarões ou frango grelhado, mais bolo de chocolate (mousse) no almoço dão forças aos compradores para não parar de adquirir freneticamente – como bons brasileiros – “quase” tudo que o Woodbury tem a oferecer.
Na cidade, Manhattan propriamente dita, comprar continua sendo um banquete; mesmo que seja com os olhos, como é o caso da loja chique, Barney’s. Cara, mas um passeio por um mundo de sonhos “fashion”. E para o paladar também, pois seu restaurante do nono andar, Fred’s, é bom e cheio de gente interessante: peruas e homens/mulheres de negócios basicamente. Omeletes e saladas para fingir que se está de regime e profiteroles e tiramisús de sobremesa para desmascarar a “fazeção de gênero”...
Nunca havia estado no Soho para compras e fiquei impressionada com a seleção de lojas e lojinhas interessantíssimas e diferentes. Principalmente nas ruas menores perpendiculares à longa Broadway. Na grande avenida, opções maiores mas não por isso menos interessantes. Isso sem falar no público jovem e descolado por toda parte. É um lado mesmos turístico, até mesmo mais afável de NY. Se é que isso é possível...
Mas, pelo menos por enquanto, a loja-bombada da cidade é mesmo a Apple em frente ao hotel Plaza. Além de bonita e bem sortida, conta com excelente serviço de vendedores simpáticos e muito eficientes. Vale uma visita, mesmo se não se gosta de tecnologia ou não se quer comprar nada. No Columbus Circle, o shopping fechado dentro dos magníficos arranha céus de mesmo nome da rotatória, oferece um show de lojas bonitas, úteis (Sephora, meninas!) e restaurantes maravilhosos. É um bom programa para dias chuvosos. Perto dali, a loja de eletrônicos Best Buy é mais agradável do que a filial da 5º Avenida. Mais bonita e mais calma.
Os quatro espetáculos que assisti me encantaram: 3 musicais, Young Frankenstein, Gypsy e Mamma Mia e 1 peça muito séria, The Country Girl, estrelada por Morgan Freeman, Frances McDormand e Peter Gahllager. São oportunidades únicas, tornadas ainda mais especiais pelo charme e qualidade acústica dos teatros históricos da Broadway.
No campo gastronômico, NY continua imbatível e o pelotão francês domina o cenário do luxo à mesa, com Alain Ducasse e seu novo Adour e Joel Robuchon e o L’Atelier. O primeiro, inaugurado há poucos meses, está instalado em salão nobre do hotel St Regis. Decoração moderna mas sóbria, em meio a uma adega-vitrine para os vinhos que acompanham os pratos e são as reais estrelas da casa. O cardápio é enxuto e perfeito, sem supérfluos e os preços, para lugar tão bom são razoáveis para padrões franco-novaiorquinos: 140 dólares por pessoa, um jantar com 3 pratos e uma garrafa de prosecco para 2. É um custo-benefíco bastante superior ao pretensioso L’Atelier do outro chef francês acima citado. Lá, o cidadão desembolsa 170 dólares com os tais 3 pratos e uma mísera taça de vinho. Isto, sentado em ambiente barulhento e desconfortável em duas opções: ou balcão tipo bar ou mesinhas igualmente tipo bar. Tudo apertado, diga-se, belissimamente decorado, mas sofrendo com o barulho ensurdecedor do enorme bar do hotel Four Seasons, grudado ao restaurante. Perda de tempo. Prestigie Monsieur Ducasse no Adour a ainda sobra tempo e dinheiro para visitar seu adorável bistrô, na mesma Rua 55, o Benoit. Inaugurado no mês passado, é cópia fiel do antiguinho de Paris (1912), também de propriedade de Alain Ducasse. Para quem ama escargots, aspargos, poires belle Helène e os demais clássicos da cozinha francesa, uma delícia. Custo na média de restaurantes do gênero e serve também café da manhã com croissants fresquinhos.
Ainda na terra dos descendentes de Asterix, a brasserie Cognac apresenta um croque monsieur dos melhores, fatiado em charmosa tábua de madeira. Lugar perfeito pós-teatro. Para almoços concorridos, para ver gente bonita e estar em lugar praticamente sem turistas, dirija-se ao db bistro moderne, de outro monstro das panelas, Daniel Bolud. Gaste 32 dólares no DB, hambúrguer gourmet do lugar, recheado com trufas e foie gras; não se esquecendo das batatinhas perfeitamente fritas e crocantes. Ambas as guloseimas só perdem para os cheeseburgers do P J Clarke’s, uma instituição aparentemente imortal da cidade. Mais baratos, cerca de 11 o com bacon e molho bernaise, são os melhores do mundo. Pão, carne, tudo perfeito. Como perfeita é a sobremesa-estrela, o suflê de biscoito de chocolate com gordos pedaços de chocolate; que de suflê não tem nada e é um bolo recheado pelos tais generosos pedaços de chocolate quentes e calda grossa da mesma iguaria. Por 75 dólares duas pessoas almoçam “à americana”, no que os EUA tem de melhor, sua inigualável junk food. No P J’s, com qualidade!
Italianos não podem faltar, claro e foram bem representados na modernidade do Serafina Broadway e suas enormes pizzas de massa fininha ou massas muito leves e seus molhos delicados. Para quem está perto do teatro e precisa almoçar ou jantar sem sair da região, o Barbetta é o restaurante mais antigo da cidade cujos donos ainda pertencem à mesma família dos fundadores. Parece uma casa saída do filme O Poderoso Chefão, uma mansão tombada pelo patrimônio histórico e que pertenceu aos milionários Astor. Está praticamente intocada e no meio deste “museu” pode-se saborear iguarias do Piemonte, como salada de verdes, grão de bico e mini-lulas e risoto impecável salpicado por frutos do mar. As sobremesas são as tradicionais tortas de frutas ou cremes brulée, mais para francesas do que para italianas.
Mas, deixei o melhor para o final, o restaurante do qual mais gostamos e não necessariamente o mais caro: o Eleven Madison, em endereço de mesmo nome. Dividindo o mesmo embasbacante prédio art-deco com um importante banco suíço, a casa é maravilhosamente decorada e romanticamente iluminada e o chef americano, de São Francisco, faz maravilhas em suas inspiradas panelas. Massas comuns como nhoque em suas abençoadas mãos viram iguarias com toques de casca de laranja, peixes e frangos derretem na boca e as modernas sobremesas tem magnífica apresentação. É uma mistura feliz de clássico e moderno, com serviço muito profissional e simpático, em meio a boa musica e lindos arranjos de flores.
É, segundo o guia Zagat’s, bíblia gastronômica de Nova York, um dos top-10 favoritos dos habitantes da grande cidade. Eles tem bom gosto!
Comer em Nova York não é barato e a média com as terríveis taxas, impostos e absurdas gorjetas que chegam aos 20% fica em redor de 60 dólares por pessoa, em restaurantes de nível médio. Querendo mais sofisticação, vai de 120 até à lua, dependendo, como sempre, das bebidas.
Contudo, para paulistanos que pagam 330 reais em singelo almoçinho para duas pessoas, em shopping, no Armani Café, ou ridículos 900 no mega-pretencioso Fasano, NY vale o que cobra...


São Paulo, 25 de maio de 2008.

Para Roberta Chamma Petty, uma ótima companhia de viagem
MEXICO 2008

Cidade do México e Oaxaca – História e Modernidade


Minha experiência do México, como país, se restringia a duas curtas temporadas turísticas em Cancún, nos anos 90. Adorei, mas sempre tive a sensação de que não tinha visto muito do país, que Cancún não era verdadeiramente representativa do “real” México. E, apesar de linda e agradável, não é mesmo. Com exceção da magnífica parte arqueológica daquele trecho da península de Yucatán, o resto é Gringolandia pura. Ótima para férias, mas para um melhor conhecimento da alma de nossos “hermanos” do norte, bem fraca.
Conheço muitos países da América Latina e Caribe e, sem dúvida, o México é o mais parecido com o Brasil. Na bagunça, corrupção, sujeira, desorganização, mas também nas coisas que fazem do Brasil e do México lugares tão agradáveis para se viver e visitar: a simpatia maravilhosa do povo, o senso de humor, o otimismo, as festas, a musica e dança, o sol, as praias, a solidariedade, relações sociais e familiares, o misticismo, o nível de desenvolvimento econômico que só parece melhorar, empurrando os dois países rumo a dias melhores. Ojalá, como dizem em espanhol!
Primeira e inevitável parada em nossa viagem de 23 dias: Cidade do México. Como paulistana viajadíssima, nunca havia estado em urbe maior que minha cidade natal, pois não conheço Tóquio. O Distrito Federal mexicano é maior e praticamente idêntico a São Paulo em tudo de bom e tudo de ruim. Portanto, me senti em casa! A enorme e feia capital mexicana é fascinante e louca e nos poucos dias em que lá nos hospedamos, vimos muito e gostaríamos de voltar – senão por nada, para tentar ver os dois enormes vulcões nevados que reinam sobre a urbe eternamente poluída. O Popo, mais bonito e famoso é facilmente observado em Puebla, a 200 kms dali. Os museus incríveis, dos quais visitamos poucos, parques gigantescos salpicados de atrações culturais, ótimos restaurantes e lojas, aeroporto moderno com vôos pontuais e uma companhia aérea de primeira, a Aeroméxico e custo de vida bem abaixo da capital paulista, nos encantaram.
Como a cidade é muito policiada, não tivemos problemas e caminhamos tranquilamente por toda parte. Começando pelo coração do lugar, a praça principal tão típica de todos os países de língua espanhola, que no México não é “plaza” e sim, “zócalo”. A da Cidade do México é impressionante e muito bonita. Limpa e vigiada, oferece joalherias embaixo de arcos de edificações no mais puro estilo espanhol, bastante bem conservadas. Ali também está a belíssima catedral, que além de deslumbrante é ainda mais curiosa por ter sido afetada, mas não destruída, pelo monstruoso terremoto que matou tantos mexicanos em 1985. Calçadas e paredes tortas dão um toque bizarro e surreal às construções que nada deixam a dever às mais imponentes similares na Espanha. O Palácio Nacional, sede administrativa do Legislativo mexicano, é outros destes prédios poderosos, tornado mais interessante pelos famosos murais do mais famoso ainda, Diego Rivera. Sim, aquele marido maluco da Frida Kahlo. Mais importante e melhor pintor do que ela, retratou toda a história do México em murais espalhados pelo segundo andar do palácio. Com fidelidade, humor, precisão e arte; difícil combinação que o Sr. Rivera conseguiu com louvor. Vale horas de visita e observação, pois os detalhes são preciosos e sua técnica, incomparável. Afinal, o conturbado Diego levou cerca de 20 anos para completá-los e é sem a menor sombra de dúvida, sua obra-prima e a expressão máxima da arte muralista, pela qual o México é tão famoso.
As ruas em redor do Zócalo são também interessantes, cheias de lojas antiguinhas, pequenos museus como o da Cozinha Mexicana e lojas modernas como a Zara, por exemplo. A região do Zócalo vale um dia inteiro e a melhor parada para descanso é o terraço do hotel Holiday Inn, numa das ruas laterais. A vista é ótima e os drinques também. E, é claro, como tudo no México envolve história no formato de ruínas, as da pré-hispanica Tenochtitlán, sobre a qual a capital foi construída, também formam outro conjunto digno de nota, plantadas no coração da cidade. Tristes, de certo modo, pois as ruínas não deixam esquecer o tamanho da destruição promovida pelos espanhóis e sua “santa” Inquisição. Por outro lado, edificações magníficas como o Palácio de Belas Artes, todo em mármore, um luxo de teatro muitas vezes mais bonito do que o Teatro Municipal de São Paulo, por exemplo, enfeitam a cidade e oferecem espetáculos de alta qualidade a preços baixos para sua população.
Outro dia inteiro pode ser passado no Museu de Arqueologia, uma espécie de Arca do Tesouro oficial. É um dos museus mais espetaculares que já percorri em minha longa peregrinação por museus ao redor do mundo. Enorme, arquitetura excêntrica, muito bem montado e mantido, o museu cobre séculos de descobrimentos sobre aqueles povos que estudamos brevemente nas aulas de história: astecas, maias, mistecas, zapotecas e outros “tecas” menos conhecidos. Jóias, pedras, cerâmica, pintura, escultura, tudo. Até simulações perfeitas do que cidades, templos e habitações devem ter sido. Completas com jardins e vegetação das diversas regiões correspondentes. Como o museu é enorme, melhor refazer-se no simpático restaurante e bar do local, melhores do que nos feios quiosques do vendedores ambulantes do parque de Chapultepec, o Ibirapuera dos mexicanos, dentro do qual se encontra o museu. Na volta ao hotel, caminhamos pelo dito parque e pela imponente avenida principal, o Paseo de la Reforma. Bonita, bem cuidada, uma espécie de jardim/avenida com esculturas engraçadas por todo o trajeto, lojas finas e hotéis de luxo.
Mas a melhor maneira de se ter uma vaga idéia do que é a imensidão do Distrito Federal, é passar 3 horas no Turibús (aqueles de dois andares com o segundo ao ar livre que existem em Barcelona e Capetown), ônibus turístico, limpo e organizado, que para em pontos principais da cidade. Há fones de ouvido e explicações em varias línguas e pode-se entrar e sair do ônibus, em vários pontos diferentes, o dia todo. Bom e barato. E poupa os pés, considerando-se as dimensões faraônicas da capital mexicana. Táxis devem ser tomados com cuidado, de preferência em pontos dos mesmos e na frente de grandes hotéis. Brancos e vermelhos parecem ser mais confiáveis do que os verdes. Folclore? Lendas Urbanas? Pode ser, mas evitar assaltos e coisas desagradáveis é sempre conveniente. A Cidade do México, apesar de não parecer, é tão ou mais violenta do que São Paulo, portanto...
Também visitamos a casa de Frida Kahlo e os estúdios dela e de Diego Rivera, ambos localizados em bairros longínquos e bonitos chamados Coyoacán e o vizinho, San Ángel. As visitas a tais museus valem muitíssimo a pena para quem gosta das obras dos dois pintores, viu o filme de Salma Hayek sobre Frida, ou leu/estudou sobre eles. Sem conhecimento prévio não tem graça. Para quem assistiu ao filme a visita a casa dela é como entrar em um cenário, participar da história e sofrimento desta grande artista. Tudo muito bem exposto e conservado. E para os fanáticos, há mais dois museus pela cidade em homenagem a eles. Não deu tempo, uma pena...
E visitar a Cidade do México esquecendo a Virgem de Guadalupe e as pirâmides de Teotihuacán é como visitar o Rio de Janeiro e não ir ao Corcovado ou ao Pão de Açúcar. Dois em um, o passeio cobre um dia todo, pois ambas as atrações são fora do centro da cidade. No caminho, ruínas chamadas de Três Culturas, uma chatice dispensável, mas afortunadamente curta.
O complexo Virgem de Guadalupe é portentoso, algo menor do que Aparecida do Norte, mas igualmente impactante em termos de fé e dinheiro gasto nos vários templos. Os antigos, três ou quatro se não me engano, são bonitos e de importância histórica também. Os jardins da colina que abriga o menor deles são lindamente floridos e cuidados. A catedral moderna é uma monstruosidade de mau gosto e dinheiro jogado no lixo, contrastando com a catedral antiga ali ao lado, caindo aos pedaços e necessitando restauração urgente. Mesmo se os turistas não forem particularmente religiosos estes templos são muito importantes para se entender a alma mexicana. A história da aparição da Virgem e do Santo Sudário resultante dela (supostamente exposto na igreja moderna) são curiosas e altamente inverossímeis. Só a fé mesmo para explicar o comportamento fanático dos mexicanos quanto se trata da santa. Moços ou velhos lá estão pagando promessas variadas, de joelhos.
Do templo católico passamos ao asteca, as famosas pirâmides. No meio do nada semi-desértico, o complexo de ruínas que constituíram cidade importantíssima antes de Cristo, encanta. As duas majestosas pirâmides não fazem feio quando comparadas às egípcias e pode-se subir nas duas. Vale a pena para se ter toda a dimensão da área e do que ela representou para os astecas.
Conselhos práticos quanto a passeios no México: nunca, mas nunca mesmo compre excursões. Nem sequer um inocente city tour. Prefira sempre contratar um carro particular no hotel. Por quê? Todas as operadoras de turismo mexicanas SÓ querem explorar os turistas levando-os às lojas hediondas o tempo todo. Um passeio que duraria duas ou três horas se torna uma tortura de seis por causa das lojas. Ficam muito pouco nos pontos históricos e muito, muito tempo nas tais lojas-armadilhas. Como espanhol mexicano é fácil de compreender e o povo muito legal, vale investir um pouco mais no carro e motorista particulares. Você vê mais e não se aborrece.
Ficamos muito pouco na Cidade do México em relação ao que o local oferece e uma semana teria sido o ideal ao invés de três noites. O Guia da Folha México, em português, é ótimo para orientar os visitantes brasileiros e não se precisa de muito mais. Se ler inglês, compre também o Lonely Planet e a Cidade do México será sua!
Mas é na simpática e bem menor Oaxaca, região centro-sul do México, que a verdadeira “cara” mexicana se revela. Não só pela grande população indígena que preserva super bem suas tradições, mas pelas construções coloniais em bom estado, pela excelente culinária, pelo artesanato lindo, pela alegria que reina na praça principal, pelas festas constantes, pelo jeito calmo e alegre dos mexicanos; que pode ser melhor observado em cidade de 400.000 habitantes, contando com um centro histórico fechado para carros, onde os turistas não são tratados como máquinas de desembolsar gorjetas e se misturam aos nativos de maneira natural. Oaxaca é bastante hospitaleira e os centros de informações estão por toda parte.
A igreja de Santo Domingo, espetacular, compõe com seu centro cultural, museu e jardim botânico, um conjunto dos mais impressionantes. A igreja é embasbacante, num estilo barroco-rococó mexicano que não deixa um só centímetro sem decoração de algum tipo. Equipes restauram colunas douradas, santos e afrescos o tempo todo. O museu é enorme e interessantíssimo, alojado em antigo monastério que foi também prisão em alguma época da história do lugar. O jardim botânico pode ser visitado com ótimo tour guiado e a variedade de plantas é incrível para um lugar aparentemente tão seco. Aliás, a maior parte do México parece um semi-deserto repleto dos cactos mais lindos e charmosos e nada mais. Engano: é na verdade o abrigo de um eco-sistema bastante singular e abriga milhares de espécies raras de plantas, pássaros e insetos.
A outra maravilha de Oaxaca é a “Machu Pichu” mexicana, Monte Albán, localizada a apenas 10 kms do centro. Em cima de uma colina cujo topo foi totalmente cortado e tornado plano pelos zapotecas, os ditos construíram uma linda cidade e centro religioso de imensa influência na região, antes e depois de Cristo. No museu acima citado há uma sala inteira dedicada a uma pequena parte dos tesouros, jóias e objetos encontrados na Tumba sete. O resto está no Museu de Arqueologia da Cidade do México.
Em direção oposta, fica Mitla, outro belo centro de templos misteriosos. Há 50 kms de Oaxaca, não impressiona tanto quanto Monte Albán, mas sua arquitetura totalmente diferente de qualquer outra ruína ou monumento pré-hispanico no país e o fato de se poder engatinhar por tumbas e observar bem de perto as esculturas das paredes, que, de certa forma, tem algo da civilização incaica + frisos greco-romanos, vale a visita. Antes de chegar a Mitla, visita-se uma das árvores maiores e mais antigas do mundo, uma anciã de cerca de 4000 anos. Seu impressionante diâmetro e beleza servem de verdadeiros condomínios para os alegres passarinhos da vila chamada Santa Maria del Tule. Também no caminho, fábrica de tapetes. Sim, o artesanato de Oaxaca e região é tão rico que até belos tapetes podem ser comprados. Na fábrica citada e nas divinas lojas das ruas principais do centro histórico de Oaxaca. Nas lojas, claro, melhores e mais caros.
No setor compras Oaxaca é imbatível se você quiser levar um pouco do México autentico com você para casa. Nada de roupas bordadas em cores berrantes ou medonhos sombreiros de mariachis, garrafas de tequila intragáveis e chaveiros cafonas. Quase tudo em Oaxaca é de bom gosto. Jóias de design inovador em ouro e prata, roupas tradicionais em cores e modelos usáveis, principalmente para crianças, toalhas de mesa leves e baratas, brinquedos e objetos de madeira pintada, bastante alegres e originais – os famosos e bem feitos alebrijes. Galerias de arte oferecem pinturas e esculturas entre o folclore a vanguarda; livrarias muito bem sortidas, mercados orgânicos onde se pode comprar os famosos doces de frutas glaceadas/cristalizadas – não existe competição neste ramo para este tipo de produto mexicano e o aeroporto da Cidade do México tem uma loja especializada nelas, de tão boas e variadas que são. Comprei 11 figos que me duraram quase a viagem inteira, um lanchinho original e saudável. Para os que apreciam mercados sujos, lotados e fascinantes, Oaxaca é a Meca total. Mas o bom da cidade é que , ao contrário de outros lugares, por exemplo, cidades da Ásia, há também mercados limpos e organizados e não menos genuínos por isso. E o legal de Oaxaca é exatamente isso: não existe lugar só de turista, guetos de americanos feios e gordos, coisa segregada que a população local não freqüenta. Tudo e todos se misturam, tipo carnaval brasileiro, por exemplo.
Mais museus e igrejas completam o quadro cultural da cidade e atividades de esportes radicais e mais história espalhados por todo o estado fazem da área um lugar para se ficar ao menos sete noites. Mas talvez o melhor mesmo da cidade seja conseguir uma mesa no restaurante La Casa de la Abuela, perfeitamente localizado na praça principal (zócalo) no fim da tarde de uma sexta-feira e apreciar os mais diversos grupos de locais passeando e se divertindo por ali. Além das bebidas e comidas boas o restaurante, por estar no primeiro andar de uma casa antiga, em esquina frente à catedral, oferece um ponto de observação confortável e sem o assédio de pedintes e a feiúra dos gringos mal vestidos e brancos que povoam os cafés que circundam a praça.
Como na Cidade do México, vale o mesmo conselho: faça tudo por conta própria ou contrate táxis. Grupos guiados nunca! E no setor hospedagem, invista mais pesos mexicanos para ficar no melhor hotel da cidade, o Camino Real. Perfeito, piscina ótima e uma das poucas opções hoteleiras/posadas com relativo silencio. Oaxaca é barulhenta e o nível de ruído pode comprometer seriamente seu sono/descanso. Nosso hotel, o Aitana, apesar de razoável e bem localizado, nos deixou insones por quatro noites com os caminhões e ônibus ininterruptos da rua. Como Oaxaca é capital de um estado de mesmo nome e grande centro industrial e de agricultura, além de pólo turístico, o movimento é grande.
Oaxaca foi o ponto alto de nossa estadia no país. Aquele tipo de lugar que se lembra com carinho e saudade. E se tem sempre vontade de voltar...
Peru - Machu Pichu - Trilha Inca de LuxoData: 26/08/2008


Por: Fernanda Caiuby



Dezessete anos depois da trilha inca mochileira, aquela de acampamento, frio, comida ruim e dor nas costas, partimos no inicio de agosto 2008 para a trilha Salkantay e toda a mordomia que ela envolve.

Finalmente, nós brasileiros, que em nossa imensa maioria odiamos acampar, temos uma alternativa maravilhosamente civilizada para chegar a Machu Pichu caminhando (ou quase) e conhecendo melhor a região sem sofrer (muito).

Proprietários de terras peruanos, enxergaram o potencial do lugar, finalmente, criando a Mountain Lodges of Peru, uma organização que promove trilhas pelas belíssimas montanhas peruanas com a possibilidade de um teto e comida quente e boa aos viajantes.

A coisa funciona assim: parte-se de Cuzco um belo dia pela manhã, cedo, e inicia-se la pelas 11 da manhã uma linda e dura caminhada que levará no máximo doze felizardos às proximidades de Machu Pichu. Em percursos variando de 5 a 9 horas de duração, durante seis dias, entra-se em contato com geleiras remotas, imensas montanhas de mais de 6000 metros de altura e um deslumbramento de lagos, vales e rios que estão mais para Escócia e Canadá do que para os trópicos peruanos. Os pernoites são em quatro pousadas muito bem decoradas, confortáveis e com cozinha excelente. O serviço é perfeito, desde os guias até os faxineiros. Tudo funciona com eficiência e simpatia.

Naturalmente, os preços equivalem ao serviço e não é coisa para mochileiros e nem gente fora de forma. É necessário ter um nível de condicionamento físico razoável para enfrentar altitudes que batem fácil nos 4800 metros. Os três primeiros dias são os mais duros e o ultimo requer joelhos de aço nas descidas quase verticais de um quilometro em algumas poucas horas.

É um programa perfeito para amantes da natureza, montanhismo, condicionamento físico, desafios. É ideal para grupos de amigos ou famílias, pelo tamanho reduzido dos grupos. Para nós, um casal, foi arriscado mas demos sorte: nosso grupo de quatro americanos e cinco ingleses era muito legal. Mas vale o aviso. Pode não ser uma experiência tão gratificante se você não gosta de compartilhar três refeições ao dia e caminhadas longas com estranhos. O conceito Mountain Lodges of Peru é de integração. Eu, particularmente, prefiro o conceito chileno da cadeia Explora, que junta turistas nos passeios e os separa nas refeições. Na trilha Salkantay se está junto para o que der e vier!
No sexto dia de caminhada avistamos Machu Pichu
No sexto dia de caminhada avistamos Machu Pichu por um ângulo fantástico e único, que só se obtém na trilha Salkantay. É como se a misteriosa Cidade Perdida fosse o cenário de uma peça de teatro e estivesse ali esperando os atores para iniciar o espetáculo. É uma perspectiva da grandiosidade do projeto e o mistério que envolve sua mal explicada construção. Por entre as arvores e densa vegetação de uma floresta repleta de orquídeas multicores se avista uma espécie de altar macabro e suspenso no ar, uma homenagem a deuses ferozes e à uma natureza dura e espetacular, a cadeia de montanhas Vilcabamba, incrivelmente verde e íngreme, flutuando no ar puro e apoiada nos nevados gigantes das geleiras de montes como o Verônica, por exemplo.

Vale qualquer sacrifício e o descanso está ali pertinho, no adorável hotel Inkaterra, na bizarra e divertida cidadezinha apropriadamente chamada de Águas Calientes; que não é mais do que uma favela-chique espremida entre encostas gigantes e o leito do rio Urubamba, cortada por trens alegres e barulhentos e eterna base de acesso a Machu Pichu.

Nem pense em hospedar-se no espremido e caro Sanctuary Lodge, o único hotel próximo às ruínas de Machu Pichu. Apesar de pertencer à cadeia Oriente Express, oferecer ótima "cuisine" e acomodações, nem de longe se compara ao charme, conforto e divertimento do Inkaterra. A idéia é a seguinte: os turistas acham que pagar 1000 dólares a diária para ficar colado à Machu Pichu é legal. Não é. O Sanctuary nada oferece em termos de espaços comuns e divertimento, os quartos são pequenos, não se tem nada para fazer e nem onde ficar e o check out é as 9 da manhã!. Os hospedes viram reféns dos apartamentos ou do restaurante. A loja é apenas uma vitrine pois não há espaço nem para uma mísera loja!!! Machu Pichu fechas as 5 da tarde e para os não-atléticos e não-místicos, são ruínas difíceis e penosas de se percorrer em seus infinitos degraus, escadarias e ladeiras.
O Inkaterra, em Águas Calientes,
O Inkaterra, em Águas Calientes, oferece espaço, conforto, charme e divertimento pela metade do preço. E uma loja de verdade, com coisas lindas e a bons preços. Isso sem falar do ótimo restaurante, do SPA, da piscina, dos jardins, do café da manhã, das múltiplas salas e bares com lareiras quentinhas (há lareiras nos espaçosos quartos também). É um hotel que consegue agradar a todos, ser privativo, romântico e zen e ao mesmo tempo adequar-se a famílias. Raridade...

Mas apesar da "jóia da coroa" do Orient Express não valer a pena, o Trem Hiram Bingham que liga Cuzco a Macu Pichu e o espetacular hotel Monastério valem. E muito. O jantar a bordo do trem é perfeito e o clima "livro da Agatha Christie" não deixa nada a dever ao trem inglês da mesma empresa. A operação é impecável e tudo funciona a contento. O Monastério é de longe e disparado o melhor hotel de Cuzco e seu restaurante o único chique da cidade.
O Peru é atualmente e estranhamente um pólo da moderna gastronomia mundial e se tiver umas horas sobrando em Lima, o viajante pode passá-las no maravilhoso bar-restaurante-shopping-pier Rosa Nautica, em cima do Oceano Pacifico no bairro de Miraflores. Cardápio extenso e inovador, gente bonita e as furiosas ondas do mar completam uma experiência interessante.

Com ou sem caminhada, a região Cuzco-Machu Pichu merece fácil de uma semana a 10 dias de viagem. A lista de atrações vai do histórico ao esportivo e a infra turística é muito boa. Isso sem falar dos drinques pisco sour, melhores do que nunca e agora em versões descoladas com morango e maracujá. Salud!
MIAMI – 2008


Dois anos após uma agradável temporada em Miami, voltei para aproveitar as temperaturas amenas do fim de novembro e para conferir os estragos da recessão que afeta os EUA desde o final de 2007.
Lojas vazias, preços ótimos, restaurantes cheios.
Como cheia também estava a ópera La Traviata, encenada no magnífico teatro Adrienne Arscht, um complexo de arquitetura arrojada, dedicado às artes cênicas. Perto dali também assistimos um concerto de musica clássica em imponente catedral católica. Nem só de compras e praia vive Miami. Cada vez mais, seu lado cultural se expande, assim atendendo uma crescente população internacional, motivadas pelas empresas do mundo inteiro que tem na cidade suas sedes para operações latino americanas. Só vi mais franceses nos EUA, em maio passado, em Nova York.
Muitos turistas reclamam da pobreza da vida cultural da cidade, mas isso não é verdade. É só abrir o maior jornal local, o Miami Herald, e ver quantos bons espetáculos a cidade oferece. A diferença é as distancias só negociáveis mesmo de carro. Miami não é Nova York, onde os teatros estão lado a lado. Se o turista estiver devidamente motorizado e munido de bom GPS, com nível razoável de inglês (na cidade o espanhol ajuda muito) e um pouco de boa vontade, a diversão é certa e de alta qualidade.
Mesmo com crise econômica, bares e restaurantes continuam cheios e os preços razoáveis. Cadeias como The Cheesecake Factory não parecem sentir a queda no poder aquisitivo de muitos americanos e seu cheesecake de abóbora e noz pecan, exclusividade do mês de novembro, faz esquecer qualquer problema. O Houston’s, mais chique, segue lotado e suas brownies e burgers continuam imbatíveis. Ótimo custo benefício, valendo o longo percurso até Coral Gables.
Em Miami Beach/South Beach, o Joe’s Stone Crabs não tem rival e oferece uma das melhores lagostas do país. E uma clientela divertida e variada, com muitos elementos curiosos, bem ao estilo Miami Vice. Para quem quer aliar glamour à gastronomia, o melhor mesmo é reservar uma concorrida mesa no Casa Tua. O menu italiano impecável, os espaços bem decorados e aconchegantes e uma clientela repleta de modelos e atores de cinema não desapontam. Tanto o Joe’s como o Casa Tua ficam na faixa de 100 dólares por pessoa. Para este tipo de estabelecimento premium, uma pechincha se comparadas à casas similares em Nova York. Com as da Europa então, nem se fala...
E para os veteranos na cidade, cansados dos mesmos shoppings de sempre, por que não tentar o lindo, classudo e vazio Merrick Park? Belíssimo centro comercial ao ar livre, só lojas de alto nível, jardins, fontes, valet parking e bons restaurantes. O da loja Neiman Marcus é excelente e durante o almoço apresenta mini desfiles de moda, bem divertidos.
O aeroporto de Miami, reformado, é agora um dos mais civilizados dos EUA e a cidade norte americana favorita dos brasileiros está cada vez mais alegre e sofisticada.