Parece piada, mas é possível ver exibições de arte e ciencia na capital mundial da jogatina.
As magníficas reliquias do naugragio do famoso Titanic continuam em exibição no hotel Luxor e são espetaculares. Não menos, a mostra sobre a recriação de alguns inventos de Leonardo da Vinci e a fascinante técnica de um fotógrafo frances que teve acesso à Mona Lisa e pode recriar com precisão as cores em que foi originalmente pintada.
Impressionistas franceses? O hotel Bellagio não faz por menos e abre seu pequeno e luxuoso salão para que o publico confira as jóias de seu reduzido mas espetacular acervo.
Vale também a pena conferir as galerias de arte do monumental hotel Mandarin, especialmente a do artista americano Dale Chihuly. Seus "poemas em vidro" estão entre as criações mais bonitas e coloridas que um especialista da técnica pode alcançar. Agora ele também produz gravuras ousadas e interessantes e várias esculturas para espaços abertos.
Deve haver mais em termos culturais em Vegas, isso sem mencionar o novissimo Neon Museum, com os sinais luminosos que deram fama à cidade e o bizarro Museu Liberace. Há outro que conta as origens mafiosas da cidade e outro mais sério, com foco nas origens menos "criminosas" da área.
Nem só de jogo, sexo, shows e compras vive a Sin City (cidade do pecado)!
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domingo, 25 de novembro de 2012
domingo, 11 de novembro de 2012
versao atualizada do artigo Vegas e Orlando
FOLIAS AMERICANAS
LAS VEGAS E ORLANDO - NOVEMBRO 2012
Dois lugares artificiais, duas cidades muito divertidas.
Já estive em ambas varias vezes e resolvi voltar para conferir novidades. Primeiro Vegas e o espetacular complexo comercial e hoteleiro, City Center. Arquitetura arrojada, sem nada de “parque temático”, coisa comum em vários hotéis da área. Não é voltado a famílias e o forte são os adultos e convenções. Muita moçada bonita do Cosmopolitan, os menos endinheirados no Vdara, os chiques no Mandarim e os “genéricos” no Aria. Restaurantes variados, nada de muito bom. Mix, com decoração Jetsons bem legal mas cozinha fácil de esquecer. Aliás, fujam do Sage, com seu foie gras em forma de maionese pavorosa e cordeiro semi-podre com cheiro de curral – sem piada, minha irmã não saiu do banheiro no dia seguinte.
Comida correta no Postrio de Wolfgang Puck, no horrendo hotel The Venitian e supimpa no Restaurante Joel Robuchon. Continua sendo o melhor de Las Vegas e assim será. A mentalidade de grandes estabelecimentos gastronômicos que “era uma vez” reinava por lá, o vento levou. O mesmo “vento” que trouxe a recessão americana já iniciada em 2007, matou uma cena gourmet que estava florescendo por ali. Pena...
Nada de diferente nos cassinos, mas o hotel Vdara em que nos hospedamos, não possui um, coisa muito rara na cidade. Torna-se um oásis de paz em meio a tanta jogatina. O hotel é “bom e barato”, excelente custo beneficio com enormes suítes, vista estonteante entre outras amenidades, por cerca de 250 dólares a diária.
O shopping center do complexo, Crystals, é pequeno e bem luxuoso, lindo na sua concepção “cristal não lapidado”, coisa para quem pode. Só há marcas de grifes Robb Report. Poucas e boas. Um café e um restaurante para almoçinhos rápidos. Só. O resto é a força das marcas ultra Premium de joias e roupas que não precisam de maiores explicações. JK e Cidade Jardim não chegam nem perto...
Shows e gastronomia fracos desta vez. O novo espetáculo do Cirque du Soleil, Zarkana, não poderia ser pior. Participação pesada de palhaços, coisa que detesto. Menopause não vale a pena e o magico David Copperfield, apesar de bonitão e competente, apresenta show mais para programa de auditório do que ilusionismo sofisticado. Sinal dos tempos. O melhor mesmo, foi a apresentação barata e singela, em cassino mega brega, do magico Mac King. Por menos de 50 dólares, com direito a buffet-monstro, o publico se diverte com seu senso de humor simples e aguçado e alguns truques interessantes. Altamente recomendado.
Orlando para mim, desta vez, significou os estúdios da Universal e o ótimo hotel Portofino, dentro do complexo dos dois parques. Muito adequados a adultos e adolescentes, com algumas concessões a criancinhas, as atrações do estúdio de Hollywood que celebra seus 100 anos de existência, são bastante divertidas. A maravilhosa e alucinada montanha russa se faz passar por escola do Harry Potter, vale muito as longas filas e para quem gosta de coisas mais arrojadas ainda há varias “corridas malucas” pelos 2 parques. Adorei Spider Man, Terminator 2, Minion Mayhem, Simpsons, o show de maquiagem, o de rock Beetlejuice e o espetáculo com animais. Como também o autointitulado “o maior Hard Rock Café do mundo”. É enorme, a comida é boa, serviço muito simpático e se escapa da porcariada dentro dos parques. Outras opções adultas de bares, restaurantes, shows ao vivo, lojas e cinemas podem ser encontradas no City Walk, uma espécie de pré-entrada ao complexo Universal. Do estacionamento já se sai direto nos cinemas e numa parafernália de luzes e cores muito legal. Boa maneira de fugir em pouco dos parques e suas multidões em certas épocas do ano.
Fina comida e hospedagem no caro hotel Portofino. SPA delicioso, piscina imitando praia, jardins e lagos refrescantes, quartos grandes e confortáveis, localização perfeita, visual tão agradável que até parece um pouquinho a cidade italiana de mesmo nome, inspiração para o lugar. Acesso a pé para os parques, mas distante o suficiente do vulgo populacho que frequenta os mesmos.
Mas para mim que já estive cerca de 7 ou 8 vezes tanto em Orlando quanto em Vegas, já chega. O mundo é grande e há muito, muito, muito para se conhecer. Mas para quem não conhece, as duas cidades são um paraíso de diversão, compras e uma cafonice deliciosa. Sem dizer da “atração calórica-visual” dos obesos, em numero impressionante nos dois logradouros. Sem vergonha na cara, total: agora tem “bike-gorda”; significando bicicleta elétrica, reforçada e confortável para que não se exercitem nem um segundo e comam ainda mais enquanto negociam as ruas de Vegas, os cassinos, os buffets “coma-ate-morrer-por-20-dolares-em-24-horas” e principalmente, os parques de Orlando. Para que andar? O legal é ter uma bunda tão gigantesca que não cabem em certas montanhas russas onde os assentos precisam ser do tamanho de gente normal. Há até o “teste-bunda”, assentos fora das ditas atrações para que os monstrengos “provem” se cabem lá ou não. Tipo “provador de traseiros”!
Only in America...
Orlando, 10 de novembro de 2012
sábado, 10 de novembro de 2012
VIVA BREGA LAS VEGAS E GORDA ORLANDO
FOLIAS AMERICANAS
LAS VEGAS E ORLANDO - NOVEMBRO 2012
Dois lugares artificiais, duas cidades muito divertidas.
Já estive em ambas varias vezes e resolvi voltar para conferir novidades. Primeiro Vegas e o espetacular complexo comercial e hoteleiro, City Center. Arquitetura arrojada, sem nada de “parque temático”, coisa comum em vários hotéis da área. Não é voltado a famílias e o forte são os adultos e convenções. Muita moçada bonita do Cosmopolitan, os menos endinheirados no Vdara, os chiques no Mandarim e os “genéricos” no Aria. Restaurantes variados, nada de muito bom. Mix, com decoração Jetsons bem legal mas cozinha fácil de esquecer. Aliás, fujam do Sage, com seu foie gras em forma de maionese pavorosa e cordeiro semi-podre com cheiro de curral – sem piada, minha irmã não saiu do banheiro no dia seguinte.
Comida correta no Postrio de Wolfgang Puck, no horrendo hotel The Venitian e supimpa no Restaurante Joel Robuchon. Continua sendo o melhor de Las Vegas e assim será. A mentalidade de grandes estabelecimentos gastronômicos que “era uma vez” reinava por lá, o vento levou. O mesmo “vento” que trouxe a recessão americana já iniciada em 2007, matou uma cena gourmet que estava florescendo por ali. Pena...
Nada de diferente nos cassinos, mas o hotel Vdara em que nos hospedamos, não possui um, coisa muito rara na cidade. Torna-se um oásis de paz em meio a tanta jogatina. O hotel é “bom e barato”, excelente custo beneficio com enormes suítes, vista estonteante entre outras amenidades, por cerca de 250 dólares a diária.
O shopping center do complexo, Crystals, é pequeno e bem luxuoso, lindo na sua concepção “cristal não lapidado”, coisa para quem pode. Só há marcas de grifes Robb Report. Poucas e boas. Um café e um restaurante para almoçinhos rápidos. Só. O resto é a força das marcas ultra Premium de joias e roupas que não precisam de maiores explicações. JK e Cidade Jardim não chegam nem perto...
Shows e gastronomia fracos desta vez. O novo espetáculo do Cirque du Soleil, Zarkana, não poderia ser pior. Participação pesada de palhaços, coisa que detesto. Menopause não vale a pena e o magico David Copperfield, apesar de bonitão e competente, apresenta show mais para programa de auditório do que ilusionismo sofisticado. Sinal dos tempos. O melhor mesmo, foi a apresentação barata e singela, em cassino mega brega, do magico Mac King. Por menos de 50 dólares, com direito a buffet-monstro, o publico se diverte com seu senso de humor simples e aguçado e alguns truques interessantes. Altamente recomendado.
Orlando para mim, desta vez, significou os estúdios da Universal e o ótimo hotel Portofino, dentro do complexo dos dois parques. Muito adequados a adultos e adolescentes, com algumas concessões a criancinhas, as atrações do estúdio de Hollywood que celebra seus 100 anos de existência, são bastante divertidas. A maravilhosa e alucinada montanha russa se faz passar por escola do Harry Potter, vale muito as longas filas e para quem gosta de coisas mais arrojadas ainda há varias “corridas malucas” pelos 2 parques. Adorei Spider Man, Terminator 2, Minion Mayhem, Simpsons, o show de maquiagem, o de rock Beetlejuice e o espetáculo com animais. Como também o autointitulado “o maior Hard Rock Café do mundo”. É enorme, a comida é boa, serviço muito simpático e se escapa da porcariada dentro dos parques.
Boa comida e hospedagem no caro hotel Portofino. SPA delicioso, piscina imitando praia, quartos grandes e confortáveis, localização perfeita, visual tão agradável que até parece um pouquinho a cidade italiana de mesmo nome, inspiração para o lugar.
Mas para mim que já estive cerca de 7 ou 8 vezes tanto em Orlando quanto em Vegas, já chega. O mundo é grande e há muito, muito, muito para se conhecer. Mas para quem não conhece, as duas cidades são um paraíso de diversão, compras e uma cafonice deliciosa. Sem dizer da “atração calórica-visual” dos obesos, em numero impressionante nos dois logradouros. Sem vergonha na cara, total: agora tem “bike-gorda”; significando bicicleta elétrica, reforçada e confortável para que não se exercitem nem um segundo e comam ainda mais enquanto negociam as ruas de Vegas, os cassinos, os buffets “coma-ate-morrer-por-20-dolares-em-24-horas” e principalmente, os parques de Orlando. Para que andar? O legal é ter uma bunda tão gigantesca que não cabem em certas montanhas russas onde os assentos precisam ser do tamanho de gente normal. Há até o “teste-bunda”, assentos fora das ditas atrações para que os monstrengos “provem” se cabem lá ou não. Tipo “provador de traseiros”!
Only in America...
Orlando, 10 de novembro de 2012
quinta-feira, 8 de novembro de 2012
NOVA YORK 2012
NOVA YORK – 3 dias depois do FURACAO SANDY
Pensei que não poderia voar de Zurique ate a Big Apple, viagem programada há mais de um ano, muito esperada, visto que NYC é a minha cidade grande favorita e estive aqui há quase 2 anos. Mais do que na hora de voltar!
E voltei, chegando no dia 01 de novembro de 2012 e partindo no dia 06. Pouco tempo, mas de qualidade. Certo que não pude ir ao Ground Zero ou finalmente aprender a usar o metro, coisas que tinha na lista do que fazer lá. A cidade estava limitada por tuneis e pontes fechadas, falta de combustível, transportes parcialmente suspensos, taxis raros e fornecimento de energia comprometido, ruas fechadas e lojas idem. Mesmo assim, o lugar continua sendo o máximo; feia e suja, louca e interessantíssima. Apesar da volta dos mendigos e sem-teto, coisa que eu não via por ali há mais de 10 anos. Movimentos de gente protestando contra os caciques de Wall Street por toda parte. Uma Nova Iorque sofrida e muito politica. A proliferação de camelôs também anda intensa e o pior mesmo são as inúmeras barracas de cachorro quente e “churrasquinho de gato”, estilo americano, árabe, grego. O cheiro é insuportável, fumaça nauseante, o visual péssimo. Até em frente à Apple, lugar nobre da cidade, as horrendas barracas-trailer enfeiam e emporcalham tudo. Resultado desastroso da recessão americana que já dura mais de 4 anos. Na véspera da eleição presidencial, na mesma semana do furacão cujo impacto foi semelhante ao ataque de 11 de setembro as Torres Gêmeas.
Contudo, este “empobrecimento” da metrópole deu espaço a uma espécie de humanização da mesma; na forma de ciclovias, ruas só para pedestres e canteiros com flores. As charretes com cavalos que sempre foram marca da área do Central Park, bem em frente ao Hotel Plaza, se juntaram bizarros riquixas. Sim, isso mesmo. Em vez de bestas de carga, seres humanos pedalando e levando as pessoas pelas gigantescas avenidas. Parece coisa da Ásia, mas não é. Mais uma maluquice nova-iorquina, licenciada pela não menos maluca prefeitura local. Como diz o velho ditado popular, “o mundo gira e a Lusitana roda”, e no rodar o vento levou o luxuoso e tradicional Hotel The Pierre. Continua no mesmo lugar, mas virou indiano, propriedade da cadeia de hotéis Taj. É o terceiro mundo invadindo tudo, do luxo ao lixo e por que não, também humanizando o lugar?
Como a cidade é grande e oferece muita coisa, sou da opinião que se deve focar em algo especifico e não ficar tentando fazer tudo, aproveitar cada minuto alucinadamente. Se a sua praia é vida noturna e gastronomia, invista só nisso; se for museu vá fundo na enormidade cultural que a cidade tem a oferecer. Compras? Arraste sacola até morrer!
Eu me concentrei nos teatros e cinemas, em casual dining e muitas caminhadas pelas ruas um tanto vazias da metrópole. Cheio mesmo só o Times Square, agora realmente uma praça com transito drasticamente reduzido e uma alucinante mistura de raças e línguas. O centro do mundo está lá, um espaço de convivência alegre e super vibrante. Vários artistas de ruas se exibem por ali e quiosques vendem de bolsas Vuitton falsas a empanadas chilenas. Tudo colorido e organizado e sob os olhos atentos da policia local, a não menos famosa NYPD. A megaloja da Virgin Records foi substituída por Sephora, Disney e Microsoft. Além de McDonald’s e M.A.C.
A maratona cancelada um dia antes, a cidade cheia de atletas profissionais e amadores. Os mais otimistas correram mesmo assim e no domingo a cidade ficou colorida de maratonistas que não se deram por vencidos e fizeram metade do percurso pelas ruas e dentro do Central Park. Vitoria da mobilização rapidíssima no Facebook. Pessoalmente, achei a atitude do prefeito Bloomberg muito errada ao cancelar um evento tão importante para a cidade. Dizem ser em respeito às vitimas do Sandy. Então tudo deveria fechar “em respeito” a isso? Decisão politica burra...
E os teatros , minha eterna paixão.
Nesta temporada, em 5 dias vi 7 espetáculos: Nice Work if you Can Get it, The Book of Mormon e Bring it On na categoria musicais. Não sou grande fá do gênero, mas estes 3 são geniais. O primeiro, é uma perola clássica da Broadway, estrelando o ótimo Mathew Broderick – sim, o marido da feia e chata Sarah Jessica Parker, infinitamente mais talentoso do que sua pretenciosa mulher. O musical é uma festa com a musica celestial dos irmãos Gershwin e brasileiros com pouco inglês podem ir tranquilos. O texto é leve e o que importa mesmo é a musica e a dança. O mesmo já não pode ser dito do FABULOSO The Book of Mormon, um dos espetáculos mais incríveis e inovadores que já vi em minha longa carreira de fã do teatro.
Caro (252 dólares por uma entrada comprada direto na bilheteria do teatro – jamais uso cambistas ou serviços-roubo pela internet) mas vale cada segundo da apresentação. É uma historia louca e irreverente, desconstruindo qualquer religião, por completo, com foco nos mórmons e similares. Para quem é religioso, um choque. Para quem gosta de textos brilhantes, geniais e engraçadíssimos, uma festa! Os tresloucados autores são os mesmos da serie televisiva, South Park. Não precisa dizer mais nada...
Mas aviso a brasileiros: não vá sem entender muito bem inglês. Apesar de musical, a coisa toda fica perdida no ar sem boa compreensão da língua. O mesmo vale, em menor medida, para o adolescente Bring It On, uma espécie de Glee versão Broadway. Como a dança e acrobacias, piruetas e saltos fabulosos são onipresentes, o inglês já não é tão importante. Muito adequado a jovens adultos e adolescentes. Apesar da temática semi-infantil, o texto é bom no sentido de expor diferenças sócio-racias de maneira inteligente. Boa musica.
Teatro pesado, de verdade, atuação de gigantes, ficou por conta do clássico de David Manet, Glengarry Glen Ross. Difícil, denso e brilhante na atuação icônica de Al Pacino, o texto perfeito se concentra na miséria humana do “tudo por dinheiro”. Vou rever o filme, no qual Al Pacino faz um papel diferente do que faz nesta versão teatral. Também pesada e seríssima, a obra-prima do norueguês Ibsen, An Enemy of the People. Atuação perfeita de um elenco coeso e eficiente, no drama de um medico que luta em defesa da verdade quando ela é extremamente inconveniente para políticos e população de uma pequena cidade norueguesa. Faz pensar na solidão de quem defende suas ideias contra tudo e contra todos.
Para contrabalançar, a comedia-sátira Forbbiden Broadway. Hilariante ao parodiar e arrasar os grandes êxitos comerciais do teatro local, como Lion King, Mary Poppins e porcarias do gênero. Mas só tem graça para quem, como eu, já viu muitas das peças e musicais da Broadway. Sem esse “histórico” a coisa toda fica sem sentido. Os 4 atores são brilhantes e o texto muito bom.
Finalizando a temporada, The Heiress. Chave de ouro maciço, uma joia do teatro clássico, com as interpretações magistrais de David Strathairn, Dan Stevens (o bonitão Mathew de Downton Abbey) e a divina Jessica Chastain, em minha opinião, a próxima Meryl Streep. Inglês de fácil compreensão. O nome da peça deveria ser: “vingança é um prato que dever ser degustado frio”.
Museu desta vez só o Guggenheim, que não visitava há muitos anos e com o qual finalmente me reconciliei. Motivo: exposição preto e branca de Picasso. Valeu a caminhada em dia ensolarado e frio, por cerca de 33 quarteirões. Andaria mais 40 que fosse para apreciar esta mostra de curadoria primorosa, em espaço perfeito. A arquitetura bisonha, em espiral, do museu proporciona a chance de observar as obras “ladeira acima e ladeira abaixo”, o que você não viu bem na ida, vê na volta. E o branco total do grande espaço serviu de cenário ideal para as obras do genial pintor espanhol; todas elas em tons de cinza, preto e branco, dai o titulo da mostra.
Nunca me canso de admirar a fertilidade e variedade de Picasso. Tantos estilos, tantas obras, tanto talento. Ali mesmo, numa sala que é acervo do museu, mais 30 Picasos, todos coloridos, um contraste interessante com a exibição temporária. Uma rica família alemã que doou os mesmos e mais alguns precisos impressionistas franceses ao museu. Nada como ter grana...
Alguns Kandinsys em outra sala especial, para quem gosta um prato cheio. Tudo isso contrasta e reduz a pó a mostra paralela de “arte contemporânea”; que nada mais é do que lixo reciclado se comparado aos Picassos, Monets, Gaugins, Van Goghs e outros fulanos que realmente sabiam pintar e elevar o substantivo “arte” a um alto patamar. As “novas aquisições’ da tal arte contemporânea não valem uma missa. Pensando bem, nem meia...
Cinema para fugir do vento gelado e só dei sorte: Argo, genial, The Sessions, lindo e triste, Flight , eletrizante e mais triste ainda e o melhor, um filme sueco, uma poesia visual que emociona incrivelmente, Simon and the Oaks.
Gastronomia ficou em segundo plano nesta visita a NY. Só 2 passadas por 2 filiais do Serafina. Uma para brunch e outra para almoço. Ambos ótimos. P.J. Clark’s desta vez decepcionou e perde p o cheeseburger de nosso Ritz paulistano. O DB Bistro Moderne continua correto e serviço perfeito. O mesmo vale para o Benoit. Também pudera, os dois pertencem a dois ícones da cozinha francesa, Daniel Bolud e AlainDucasse.
E a besteira brasileira de dizer que os restaurantes de São Paulo são mais caros que os de Nova York continua não colando. O almoço no P.J. Clark’s (o cheeseburger Cadillac de lá, menor do que o da filial paulistana e um copo de vinho estão em 100 reais), por exemplo, sai quase o dobro do Ritz. E a casa paulistana tem serviço melhor. Roupas e eletrônicos, as amadas “compras” dos brasileiros, isso sim, são bem mais baratas do que no Brasil. Mas continuo batendo na velha tecla: somando a cara passagem aérea para Nova York, os hotéis caríssimos e comida idem (sem falar dos preços dos teatros), NÃO vale a pena do ponto de vista financeiro.
O que vale é a experiência única de se estar no centro do mundo, da loucura e fascínio das ruas, da gente, dos excessos, brilho, luxo, diversão, cultura. As coisas que fazem da cidade o lugar mais diversificado do planeta, uma São Paulo rica e semi-civilizada, impossível de domar ou definir com precisão. A fênix que se renova e luta contra os malvados de toda espécie, sejam eles terroristas ou climáticos. O resto é falatório...
Nova York, 6 de novembro de 2012
domingo, 21 de outubro de 2012
NOVIDADES EM SANTO ANDRÉ - BAHIA
PRIMAVERA 2012 EM SANTO ANDRÉ
Com alegria registro a volta triunfal de meus queridos amigos Pablo e Amadeu. Eles tem uma imensa capacidade se “reinventar” e ainda maior de encontrar lugares lindos para viver e trabalhar. Agora estão na Chácara do Céu, uma propriedade-floresta encantadora. Em meio a palmeiras, árvores centenárias e deliciosas jabuticabeiras, eles organizam encontros xamanicos, massagens shiatzu e jantares privados sob as árvores. É necessário reserva.
Sua antiga Casa Praia foi vendida e devidamente repaginada e as sessões de cinema continuam firmes e interessantes às sextas feiras. O cardápio dos “comes” e principalmente, dos “bebes” foi estendido e continua sendo boa opção para o dia na praia, ou o cinema (à noite, só abre as sextas mesmo). O belíssimo espaço também pode ser alugado para festas. Não posso imaginar casamento mais lindo do que uma cerimonia em baixo dos coqueiros e trilha sonora do mar ...
Jacumã continua firme sob a mão forte e competente de Stefano e sua excelente cozinha. Já vai celebrar seis anos de Santo André e permanece como melhor e mais confiável opção gastronômica. Sim, confiável, pois em Santo André, infelizmente, nunca se sabe o que abre ou fecha e quando.
Por ser um bairro afastado da feia Cabrália, o que faz de Santo André – além da praia maravilhosa, claro – um encanto, é também seu maior problema: a falta de público regular fora do verão. Quem quer ver lojas e restaurantes abertos tem que ir do Natal ao Carnaval. Fora disso, só Deus sabe...
Antigos bastiões de confiabilidade como o restaurante da pousada Victor Hugo, se foram. A pousada permanece e conta com serviço de praia e petiscos, além do café da manhã. O El Floridita, casa da pousada Corsário e ótimo estabelecimento, estava fechado em pleno feriado de 12 de outubro. Coisas de Santo André...
Também misterioso é o padrão de funcionamento do restaurante Sant’Ana. Em quase 11 anos de idas frequentes a Santo André eu só consegui comer lá uma só vez. Agora fomos três vezes e adoramos! É outro italiano, também chamado Stefano, que comanda o lugar. Pequeno e charmoso, o restaurante oferece massas e foccacias soberbas. E a torta de limão é a melhor do mundo. Dá de mil nas famosas Key Lime Pies dos EUA.
O Gaivota continua uma perda de tempo com bela vista diurna e cuidado ao se arriscar neste restaurante: eles recebem ruidosos e desagradáveis grupos CVC. Ali perto, o mais ou menos novo Bar do Rio. Não fui, mas voltando na Páscoa 2013 vou conferir. Se ainda existir...
O bom de Santo André é que apesar do vai e vem dos restaurantes e pousadas, a praia continua lá. E continua sendo a que para mim é a “praia mais bonita do Brasil” .
Gosto não se discute.
São Paulo, 21 de outubro de 2012
domingo, 12 de agosto de 2012
ARTIGO DE 2000 SOBRE AS 3 CHAPADAS - CONTINUO PREFERINDO A DIAMANTINA
AS TRÊS CHAPADAS BRASILEIRAS: QUAL É A MELHOR?
Diamantina, Guimarães e Veadeiros. Sempre a dúvida, qual a mais interessante, qual conhecer primeiro? Será que visitando uma já vale pelas três? Por que uma tem mais divulgação que a outra?
Muitas perguntas para a pobre cabecinha do turista brasileiro, confuso com as centenas de possibilidades que se abriram no front turístico nacional nos últimos tempos. Entre resorts em praias nem é melhor falar, já que as opções não param de crescer. Mas como o turismo ecológico não para também, a dúvida persiste.
Visitei as três chapadas num período de um ano e meio, entre abril de 1999 e novembro de 2000. Adorei as três, mas elas são diferentes e merecem ser visitadas; cada qual por sua diversidade e beleza.
Gostei mais da Diamantina, a mais prática e a melhor para descanso ou romance é a dos Guimarães e a mais zen é a dos Veadeiros.
Para início de conversa, é bom verificar se o viajante topa mesmo o programa “chapada”, limitado a caminhadas, paisagens e vistas. Em resumo: natureza e mais natureza, com uma boa dose de exercício físico na receita. Não é programa para gente com pouco preparo físico, alguma desabilidade ou idade muito avançada. No Brasil a estrutura é quase inexistente para pessoas de idade ou fora de forma. Portanto, se a sua “praia” é natureza e malhação, comece pela Chapada dos Guimarães.
É a de mais fácil acesso, pois fica a apenas 60km de Cuiabá e um táxi tomado já no aeroporto resolve o problema, por boa estrada de asfalto. A cidadezinha de Chapada dos Guimarães é limpa e organizada e o hotel Penhasco é ótimo. Há passeios que podem ser feitos de carro e algumas cachoeiras cujo acesso não é muito penoso. As formações rochosas são maravilhosas e não é necessários escalar altos morros para se ter grandes vistas. Para os dispostos a andar, programas mil e boa organização.
A dos Veadeiros seria um segundo passo, uma espécie de “upgrade” em matéria de chapadas. As cidades de apoio não são lá grande coisa, não há bons hotéis, só pousadas bastante mixurucas. O que é muito bom por lá é o respeito à natureza, o parque nacional e os ótimos guias. As cachoeiras são lindíssimas, as flores do cerrado dão um show especial, o clima é ameno e não é necessário andar tanto como na Diamantina.
Os cristais da região e os hippies conferem o necessário clima zen. É um lugar bastante freqüentado por moçada barulhenta e todo cuidado é pouco no quesito alojamento. É também bom lugar para perder peso, pois a comida é muito fraca. O acesso é razoável, duas horas e meia de carro, de Brasília.
Mas a rainha mesmo é a Diamantina, o coração da Bahia, quase 500km a oeste de Salvador.
Há vôos fretados diretos de São Paulo até Lençóis, principal cidade das várias que compõe essa área magnífica, na certa um dos lugares mais bonitos do Brasil, comparável à Amazônia, ao Pantanal, ao Rio, à Foz do Iguaçu e aos Lençóis Maranhenses.
Mas como tudo o que é bom tem seu preço, a Diamantina é cara. Gasto do solado do sapato, de tempo e de dinheiro. Visitá-la por menos de uma semana não vale a pena, as atrações são muitas. Anda-se alucinadamente e comer bem e hospedar-se bem são lá possibilidades concretas mas longe de baratas. Mesmo assim, se tiver tempo para apenas uma chapada na vida, a Diamantina deve ser a escolhida. Tem tudo o que as outras tem de bom e muito mais. Além de possuir o charme e o encanto do povo baiano, coisa que só mesmo lá, na terra deles, é possível apreciar.
Mais detalhes em meu próximo artigo: “Diamante Negro”.
RETORNO 2012 A CHAPADA DIAMANTINA
CHAPADA DIAMANTINA – 2012
Doze anos depois da primeira vez em que estive no coração da Bahia, lá voltei para percorrer o Vale do Paty, no que é considerada a “caminhada mais bonita do Brasil”.
O Parque Nacional da Chapada Diamantina é belíssimo, bem como todo o seu entorno. Vale muito a pena ser conhecido, mas no esquema turista: hospedando-se em bons hotéis em Lençóis, Mucugê, Capão e Andaraí, as cidades principais. Com conforto, se chega às lindas cachoeiras, maravilha-se com os cânions, morros, lagoas, rios e variadas formações rochosas, tira-se muitas fotos das intrigantes flores do cerrado, caminha-se bastante e celebra-se tudo no fim do dia com um vinho revigorante, chuveiro quente, boa cozinha e cama quentinha.
Digo isso, pois tive em 2000 esta experiência e foi ótima. Desta vez, optei pelo “mico” da caminhada no Paty. O vale é muito bonito, mas hospedar-se na “casa de nativos” por quatro longas e intermináveis noites é pior que acampar. E olhe que eu ODEIO acampar. As casas são frias, feias, sujas e desconfortáveis. A comida não é ruim, mas o enorme sacrifico da brutal caminhada, o perigo constante de pedras gigantes e/ou soltas pelo caminho, a péssima organização das agencias locais (em parceria com a ineficiente Pisa Trekking de São Paulo, entre outras) faz da coisa um mega programa de índio. Talvez, um dia, se o parque tiver manejo profissional e opções decentes de acomodação, guias munidos com cordas e boa estrutura de primeiros socorros e evacuação, o trekking no Vale do Paty se torne a nossa “trilha Inca”. Também no Peru, a trilha Salkantay, funciona com pousadas decentes pelo trajeto e a coisa toda além de bonita é muito prazerosa.
Por enquanto fuja do abacaxi e hospede-se no Hotel Canto das Águas em Lençóis, curta a ótima comida do Azul, o restaurante do hotel que é de longe o melhor da cidade, visite todas as atrações turísticas que podem ser alcançadas de lá mesmo e depois mude-se para a Pousada Villa Lagoa das Cores no Capão. Conforto com clima hippie da charmosa vila, comida e vinhos de primeira e dia inteiro na Cachoeira da Fumaça que é um espetáculo.
Volto ainda à Chapada para explorar Igatu e Mucuge. Com conforto.
Meu artigo escrito em 2000 sobre a Chapada precede este. A maior parte dos restaurantes de Lençóis não existe mais como citados, mas a cidadezinha continua interessante e acolhedora, repleta de estrangeiros do mundo todo e muito animada. E as belezas naturais da Bahia continuam firmes por lá. Esplendorosas!
São Paulo, 12 de agosto de 2012
CHAPADA DIAMANTINA EM 2000
DIAMANTE NEGRO
Não é o famoso chocolate da Lacta, mas sim o precioso mineral que deu o nome de Diamantina à famosa Chapada, bem ali, no coração da Bahia. E não podia mesmo ser um coração mais bonito, grande ou generoso. A Chapada Diamantina é linda e enorme, impossível conhece-la de uma vez. Tanto melhor, volto outra vez.
Da primeira, escolhi o roteiro turístico padrão, de oito dias. Vôo direto de Congonhas para Lençóis, num bizarro mas confortável avião a hélice da Pantanal. Ótimo serviço e comida melhor do que as nossas gigantes da aviação. As três horas e meia de vôo são plenamente compensadas pelo conforto do único cinco estrelas de Lençóis, o hotel Portal Lençóis. Os quartos são confortáveis, a TV pequena demais, mas a vista do terraço é melhor do que qualquer programa de televisão, de qualquer maneira. A vista da ótima piscina é que é mesmo sensacional, uma espécie de prenúncio do que está por vir. Recomendo o hotel, pois é um verdadeiro oásis, um porto seguro para seus pés e traseiro que ficarão na certa moídos de tanto caminhar e ficar sentados nos longos trajetos de carro. Só não recomendo o regime de meia-pensão vendido pelas agências de turismo. O tal sistema não inclui sobremesa e muitas vezes é gostoso comer na cidade, que oferece restaurantes interessantes e não muito caros (ver meu artigo Comendo Bem na Chapada Diamantina). Recomendo, para quem gosta de massagem, a do canadense Jacques Gagnon, que vai até o hotel e te proporciona uma hora e meia de deliciosa terapia crânio-sacral. Uma viagem de sonho à luz de velas, incenso e óleos perfumados e terapêuticos. Ele é um profissional de primeira linha e faz os músculos doloridos de tanto andar ficarem relaxados e fortes para mais caminhadas que virão!
Observações importantes: a Chapada Diamantina não é programa para crianças com menos de 10 anos e para gente fora de forma. Quem não aprecia muita natureza e é avesso a exercícios físicos, é melhor procurar outro destino. A Chapada Diamantina, entre as duas outras, Guimarães e Veadeiros, é a que exige mais esforço físico, mais tempo e mais paciência com os trajetos. Em compensação é a mais bonita. Bem, nada é perfeito na vida...
Muitas agências vendem pacotes para lá, todos em geral muito parecidos. O diferencial está no público que os compra. Prefira sempre empresas especializadas em eco-turismo, como a Venturas e Aventuras ou a Ambiental. Apesar do preço ser o mesmo e o roteiro também, as pessoas que procuram as agências acima citadas e similares, estão interessadas em trekking, cultura e natureza. As outras fornecem serviços à turma do axé com cerveja, a turma da farra e da gritaria. Se não é sua praia, fuja como o diabo da cruz. Motivo? Você vai passar oito dias na mesma confortável van com as odiosas criaturas, pelo menos 6 horas de cada um dos oito dias! Quer mais?
Outra dica importante: não vá na conversa de que um simples tênis resolve a questão calçado. Nada mais longe da verdade. As caminhadas são muito duras e o terreno é extremamente perigoso e acidentado. Pedras e mais pedras. Invista numa bota de trekking, cano alto mesmo. Para os que não suportam botas, compre na casa Bayard um dos calçados para todo-terreno da francesa Solomon. São meio caros mas valem a pena. Procure materiais à prova d’água ou de rápida secagem, os melhores para as condições do local.
Tudo providenciado, espírito preparado, lá vamos nós.
Talvez fosse melhor uma triagem preliminar dos passeios:
Imperdíveis, vá mesmo se estiver doente:
Poço Encantado. É a mais linda caverna que seus olhos já viram ou vão ver. Imensa e difícil de negociar, mas vá em frente. Quando você para de andar e chega no ponto em que os guias terminam o sofrimento da descida, não é óbvio que há um lago ali. Há uma coisa muito azul, mas só com calma e observando o suave movimento da água é que se enxerga o deslumbrante lago e seu fundo tétrico. O guia local é ótimo e conta coisas muito interessantes. É, no mínimo, uma experiência emocionante.
Xique-Xique do Igatú. Pode ir, mesmo com esse nome. O trajeto de carro é duro, mas plenamente compensado pelas paradas na bonitinha cidade de Mucugê e seu cemitério bizantino, pelo cenário espetacular do vale do Pati e pelo curioso projeto Sempre Viva. É o dia em que mais se anda de van, mas tudo vale a pena quando se chega à cidade-fantasma de Igatú. As vibrações dos pobres garimpeiros que ali moraram e ali sonharam com a fortuna proporcionada pelos diamantes negros, de uso industrial, ainda pairam no ar. Suas casas de pedra, em ruínas e abandonadas, conferem ao lugar uma atmosfera meio Machu Pichu. Ao mesmo tempo, as casas da minúscula vila habitada, são alegres e coloridas e a região perto da bonita igreja parece um pouco a Toscana. Itália e Peru na Bahia? Pois é, só indo lá mesmo para conferir.
Cachoeira da Fumaça e Riachinho. Longa e bela caminhada, só mesmo para os que gostam de andar. O resultado de tanto esforço é um enorme buraco com uma estranha cachoeira que se vê de cima, deitado à beira de um precipício. Outra caminhada mais bonita ainda, dentro de um cânion de enormes pedras cor de rosa e no fim, uma cachoeira espetacular; é a Cachoeira do Sossego. É mesmo o melhor trekking do roteiro, mas extremamente perigoso pela altura das pedras que se tem que pular como uma cabra de montanha. Para quem aprecia caminhadas e vai à Chapada para isso, não é possível perder esses dois dias com Fumaça e Sossego, que ainda têm de quebra as cachoeiras bonitas do Riachinho e a alegria do escorrega do Ribeirão do Meio; esse último um tobogã natural, com vários furos nas pedras servindo de mini-piscinas de hidromassagem com cor de Coca-Cola! Para quem não quer andar tanto, é possível ir até o início da trilha do escorrega de carro e andar uma hora a pé até chegar na cachoeira, por trilha suave e bem marcada.
Os passeios acima citados, mesmo não sendo para todos, são a cara da Chapada e os considero muito importantes. A famosa vista do Morro do Pai Inácio também, por ser o cartão-postal do lugar, aquela foto que é a estampa da Chapada. A subida de 40 minutos é forte, mas não impossível. Lugar ótimo para gastar filme.
Agora vamos aos passeios bons, mas não imprescindíveis. Perde-los não mata ninguém, mas eles completam muito bem a grande experiência que é a Chapada Diamantina, na certa um dos dez lugares mais bonitos do Brasil.
O rio Serrano e o salão das areias coloridas, mais cachoeira da primavera é um passeio light, bem perto da cidade e uma boa oportunidade para observar o material rochoso que compõe as pedras vermelhas e rosadas da região, ali transformados num mostruário de areias que vão do roxo ao rosa claro. A gruta da Lapa Doce e da Torrinha são duas das principais cavernas da região, muito interessantes. A última é especial por suas formações únicas e possibilidade de passeios variando entre uma hora e meia e três horas e meia. O Poço do Diabo é um lugar lindo, uma cachoeira com cenário tipo filmes do Indiana Jones, cheia de orquídeas, ótimo lugar para descansar e tomar sol.
Infelizmente, não posso opinar sobre a famosa Pratinha, mistura de rio, gruta e lago, outro cartão-postal da Chapada. Nas fotos ela é linda, verde, azul, transparente. No dia que eu fui era um barro só e nem nadar pudemos. Outro passeio fraco, o único, aliás: rio Mucugezinho. Uma cachoeira sem nada demais e uma lanchonete horrorosa. Ponto.
Na maioria dos passeios, um lanche é fornecido; bom, por sinal. Acho que para compensar a total falta de infra-estrutura da Chapada. Os banheiros são horríveis e lanchonetes de chorar. Levar barras de cereais e água mineral não é má idéia, além de papel higiênico e protetores de assento para vasos sanitários.
E, com certeza, uma das melhores coisas da região é a própria cidade de Lençóis. Um charme, construções antigas razoavelmente preservadas, um astral especial. Gente nas portas das casas, tudo aberto como antigamente, a vida acontecendo na rua. Pessoas alegre, simpáticas, hospitaleiras. Interessantes lojinhas e restaurantes, bares e doceiras. Mas talvez mesmo o melhor seja a roda de capoeira que acontece na área do mercado municipal, ás sextas feiras, de 18 até 20.30. É a alma da cidade e da Bahia, brancos e negros juntos, homens e mulheres ensinando mais de 80 crianças a antiga arte vinda da África. É um balé impressionante pela mistura segura de leveza e violência, ninguém se machuca. É diferente da capoeira para turistas de Salvador.
É uma experiência emocionante, um Brasil diferente, mas nem por isso menos Brasil. Assim como a Chapada Diamantina. Nem quente, nem fria, verde forte da mata ciliar misturado a partes de caatinga, muita pedra e muita água cercados por regiões ultra-secas e planas. Uma beleza sem paralelo.
Da próxima vez vou e recomendo o seguinte roteiro: três dias em Lençóis no mesmo hotel Portal, três em Mucugê no hotel Alpina e uma noite na pousada da Pedra em Xique-Xique do Igatú. É um roteiro perfeito para as trilhas sensacionais do vale do Paty, para apreciar paisagem diferente do primeiro roteiro e também para conhecer o povo e as cidadezinhas das outras partes da gigantesca Chapada Diamantina.
GASTRONOMIA BAHIANA 2000
COMENDO BEM NA CHAPADA DIAMANTINA
É possível, diferente do que acontece em outro lugar campeão em eco-turismo no Brasil, Bonito. Em Bonito as opções são poucas e fracas, em Lençóis, cidade principal da enorme área que compõe a Chapada Diamantina, a escolha é boa. Nada de paraíso gourmet, tentações a cada esquina; mas o que há por lá consegue ser bastante satisfatório.
A Chapada Diamantina ainda abriga cidades como Mucugê e Andaraí, mas como não as visitei tempo suficiente para uma opinião gastronômica, vamos nos concentrar em Lençóis, a maior, onde pousam os aviões de turismo.
Também não estive no restaurante que o Guia Quatro Rodas considera como o melhor de Lençóis, o Neco’s de comida típica; em compensação, estive na Foccaceria. É, claro, o único restaurante italiano do lugar e fui lá com uma certa relutância, pois estabelecimento italiano em pleno sertão baiano não parece uma escolha muito sensata. Pois revelou-se o melhor da cidade.
Me hospedei no único 5 estrelas de Lençóis, o simpático Portal Lençóis. A vista é linda, o serviço é ótimo, mas a comida, apesar de boa, não é daquele tipo que você sonha em repetir. É apenas gostosa, porções fartas; é bom fugir das massas, fervidas à exaustão. A moqueca de siri e filés em geral (destaque para o poivre) não decepcionam. Sobremesas inexistem. O restaurante do Portal vale a pena ser visitado pela linda vista, o serviço gentil, as boas caipirinhas e por ser uma das melhores alternativas em termos de comida em Lençóis.
Mas voltando ao Foccaceria: é um lugar que se tem vontade de repetir, sonha-se com massas e sobremesas. Instalado numa bela casa antiga na praça principal, lá é possível saborear massas verdadeiramente al dente, como o famoso fettucine Alfredo, um espaguete ao pesto, uma foccacia fresquinha e um original fettucine com rúcula e tomate seco. Reserve um espaço para a sobremesa, pois o gelado de abacaxi _ delícia com pedaços de coco e abacaxi _ e a torta de limão são ótimas. Para os padrões de preços em Lençóis é o mais caro: R$25 por pessoa, sem vinho.
Um lugar bem simples e barato, mas bom para moquecas e filés é o Picanha na Praça. Ao ar livre, serviço amável, bom complemento para uma moqueca de namorado ou um filé a parmegiana. Um prato dá folgado para dois e uma refeição para 4 pessoas não sai por mais do que R$30 com boa gorjeta.
Duas confeitarias que vale a pena conferir: a Beija Flor pela torta de limão e a Arco Íris pelos brigadeiros, beijinhos e a simpatia do dono.
Mas talvez o lugar que seja mais a cara de Lençóis e do público que freqüenta a Chapada, seja mesmo o Pizza na Pedra. Como o Foccaceria, também é caro para a média da cidade: R$50 para 3 pessoas, meia garrafa de vinho nacional, sem sobremesa, com gorjeta. Como a pizza pequena é média e a média é grande e nós não sabíamos disso, é possível economizar no tamanho.
O dono é paulista, mas não importa, pois ele criou lá uma casa simples e charmosa. As pizzas são boas, os recheios criativos, mas para pessoas que não gostam de queijos fortes é melhor pedir uma 4 queijos sem gorgonzola, mais puxada no catupiry. O motivo é que em todas as pizzas do lugar é utilizado um queijo regional de sabor muito acentuado. Se você é amante de queijo, ótimo. Se não é tão flexível, cuidado: as pizzas do Pizza na pedra parecem comuns e seguras, mas não são. Eu diria mesmo que são uns desafios a paladares dos mais sofisticados! Em todo caso, vale conhecer o restaurante, um point de badalação, nem que seja para tomar um drinque. Além disso, é o único lugar de Lençóis que tem uma carta de vinhos decente.
E alegres sapos pululando entre as mesas no verão!
domingo, 15 de julho de 2012
PARTE 2 DA GASTRONOMIA ARGENTINA
PARAISO GASTRONOMICO
BUENOS AIRES – JULHO 2012
Meus 3 primeiros dias aqui foram um inferno gastronômico relatado em artigo de mesmo nome. Felizmente, o La Cabaña, Duhau e Tomo 1 amenizaram a má impressão.
O La Cabaña é velho conhecido e a qualidade continua insuperável. Para quem quer carnes soberbas em ambiente refinado, é a melhor pedida.
O Duhau é o restaurante chique do chiquérrimo Park Hyatt. Não é intimidante como seria de se supor em estabelecimento desta ordem. Pequeno e aconchegante, romântico e com um terraço acolhedor, o cardápio diminuto e muito caprichado oferece o melhor de dois mundos: parrilla e opções mais light como peixes e saladas. Meu ojo de bife, batatas fritas com casca e sobremesa divina, com o sempre bem-vindo doce de leite envolto em panqueca gratinada e acompanhado de sorvete, foi maravilhoso.
Por fim, o Tomo 1. Mal localizado no hotel Panamericano, o restaurante recebe 2 estrelas do Guia 4 Rodas Buenos Aires, em cidade que não exibe qualquer casa com 3 estrelas. Merece. A carta de vinhos apresentada em iPad é ótima e oferece preços justos e meu filet fantástico com purê e cebolas mostrou-se magnifico. A sobremesa superou a panqueca de doce de leite do La Cabaña, até então a melhor do mundo, em minha humilde opinião. A do Tomo 1 vem com nozes e está mais para crepe do que panqueca e o doce de leite do recheio é na verdade um caramelo puxa-puxa. Inesquecível...
Em julho de 2012 não se come nestes estabelecimentos por menos de 200 reais por pessoa. Preços paulistas.
C’est la vie...
COMENDO BEM E NEM TANTO EM BUENOS AIRES
INFERNO GASTRONOMICO
Sartre já dizia que “o inferno são os outros”. Referia-se a pessoas, claro. Eu completaria que o “inferno são os outros restaurantes”. Já explico:
Vim a Buenos Aires sonhando com as carnes suculentas, as empanadas fumegantes, o doce de leite inigualável, os vinhos dos céus. Bem, até agora, só os vinhos estão indo bem. O resto...
Em 30 horas na capital argentina eu comi mal e caro.
O primeiro foi o tourist trap, o nosso bom e velho “pega trouxa”. La Bourgogne, chef francês, hotel Alvear, Relais et Chateaux e por aí vai. Soa bom? Não é. Custa 270 reais com bom vinho e sem sobremesa. Serviço ótimo, lugar luxuoso mas sem graça, no porão do hotel, junto ao Spa. Não dá para entender que em hotel lindo como o Alvear o restaurante estrela fique no subsolo e a vista seja para os carros manobrando na ladeira. O cardápio é moderno e ousado, mas há opções de pratos franceses clássicos. Escolhi um de cada. A entrada de frutos do mar e arroz negro estava ok, mas meio fria. O filet ao poivre preparado e flambado em carrinho com fogareiro decepcionou pelo sem graça do gosto da carne, o molho fraco e acompanhamentos bobos.
No dia seguinte, empanadas no famosos Sanjuanino. Outro tourist trap, cheia de brasileiros iludidos por empanadas caras e, de novo, frias. Serviço bom.
Mas a “joia da coroa” foi meu jantar hoje. O festival da espuma do péssimo e francamente pretencioso, Tarquino. Fui parar lá por 2 motivos: menção do Guia 4 Rodas edição Buenos Aires (ótimo, por sinal) e o fato de estar instalado na mesma casa onde funcionou meu amado La Cabana. Fiquei curiosa para ver a reforma que fizeram no lugar e entrei pelo cano. Como se diz em inglês: curiosity killed the cat (a curiosidade matou o gato). R$ 150,00 jogados no lixo.
A começar pela decoração: um sarcófago de mármore branco que faz de entrada, que precede um bar escuríssimo aonde uma lanterna viria a calhar. O salão do restaurante é quase tão escuro quanto e outra lanterna é necessária para ler o cardápio e a amarga conta. Tudo, ou quase é espuma. A pizza de entrada é uma “desconstrução” da mesma. Trocando em miúdos: espuma de pizza, na verdade sopa levinha de provolone. A tal porcaria deve ser degustada com 2 colheres que vem decoradas, uma com bola de vinho doce e gosto de xarope São Joao e a outra por uma fortíssima preparação de azeitonas. Pior impossível.
O maitre e a garçonete bonita, ambos muito simpáticos, orientam a vitima-cliente a comer pão com pasta de grão de bico e consome de osso buco. Uma mistura infernal que embrulha estomago ate de um camelo! Após esta parte 1 da tortura, veio o prato principal, uma convencional entranha, corte argentino sem equivalente nacional. O comi pela primeira vez em restaurante argentino em Coral Gales e amei. Na própria Argentina já provei 3 vezes e não gostei: corte meio duro e com gosto de curral. O do Tarquino não foge a regra, repleto de nervos e duro de cortar; acompanhado por lentilhas frias e a mesma bolinha de vinho doce para dar um toque “especial” a parte 2 da refeição-sofrimento.
A sobremesa foi o melhor do jantar e a espuma (outra vez) de doce de leite estava boa. O sorvete puxa para o chá verde, outra calda contem erva misteriosa e o bolo-borracha de banana e coco não tem gosto nem de um e nem do outro. O café e ruim.
Sigo tentando.... E amanhã tem mais!
Buenos Aires, 06 de julho de 2012
DESPEDIDA DE BUENOS AIRES
ULTIMO DIA EM BUENOS AIRES
DIA 10 DE JULHO DE 2012
Adiós Pampa mía...
Pena... fui muito feliz aqui....
Hoje compras, muitas caminhadas pela Recoleta e pelo centro, almoço divino no Tomo 1.
Decidi rever o cemitério da Recoleta, que sempre, para mim, tem aquele clima do filme dirigido pelo genial Clint Eastwood:” Midnight in the Garden of Good and Evil”. Triste sem ser macabro, interessante e misterioso. Lugar cheio de gatos, pássaros e plantas, em meio a tumbas bem mantidas e outras abandonadas. O grande Jorge Luís Borges dizia que terminaria ali. Não sei se está lá ou não. Sua obra com certeza está por toda Buenos Aires. E pelo mundo...
Em julho de 2012, algumas considerações sobre a cidade:
1- Muito suja apesar dos esforços incansáveis da prefeitura local.
2- Muito cara, preços de São Paulo.
3- Hospedagem no hotel Urban Suites. Bom preço, bom quarto, boa localização. Mas bem barulhento. Só vale a pena para quem sai o dia todo e usa o quarto só para dormir e tomar banho.
4- Dólar é rei na terra da “rainha Cristina”. Se você tiver dólar em dinheiro vivo, o que eles chamam no espanhol local de “efectivo”, sua vida fica mais fácil e mais barata.
5 – Vinhos Malbec custam assustadoramente mais do que os das outras uvas. Os por taça jamais valem a pena. Perceberam que brasileiros e americanos adoram os malbecs e metem a faca!
Mas a Argentina de hoje é o que o Brasil foi há 30 anos. Inconstante e louca. Como bunda de nenê. Nunca se sabe o que vem pela frente.
Isso posto, a capital do país é um doce deleite (nos dois sentidos) e vale muito, muito, muito a pena ser visitada.
PARTE 4
PARTE 4 - DIARIOS DE BUENOS AIRES
Buenos Aires, 09 de julho de 2012
Hoje foi um dia inusitado, feriado nacional argentino e segunda feira, semi-mico cultural.
Aproveitei para fugir do frio e ver 3 filmes no renovado Recoleta Mall a dois passos de meu hotel. O shopping é péssimo, mas os cinemas são excelentes. Madagascar 3 e Sombras Tenebrosas em espanhol são impagáveis. Minha segunda vez ouvindo Johnnie Depp dublado em espanhol mexicano. Uma delicia! Do lado menos trash, O Caminho, belo filme escrito, produzido e dirigido por Emilio Estevez, irmão do controverso ator Charlie Sheen. Uma historia real, toda passada na Espanha ao longo do Caminho de Santiago. Para mim que o percorri, emocionante.
O almoço foi ótimo no sofisticado Duhau, do hotel Park Hyatt. Comida e serviço de primeira. Volto com prazer.
O lado cultural ficou restrito a Igreja Nossa Senhora do Pilar, ao lado do cemitério da Recoleta, seu pequeno claustro e ao surpreendente Centro Cultural da Recoleta. Muito maior do que se imagina e instalado em antigo monastério, ele abriga todo o tipo de arte moderna, de exposição sobre famosos arquitetos argentinos, a museu de ciências para crianças e uma alegre variedade de arte comunitária. Artistas de bairros vizinhos expõem lá seus trabalhos, junto a médicos que pintam, escolhidos pelo Ministério da Saúde. Não é necessário ser famoso para exibir os trabalhos no Centro. Verdadeira democracia cultural.
E os argentinos estão tão acostumados a museus grátis que se espantam com os que cobram ingresso. Ao saber que teria que pagar o equivalente a 2 reais para ver o acervo religioso da igreja do Pilar, uma senhora idosa rebateu: “Mas isso não é um museu?”. Para ela, museu não é coisa que se pague. Como as ruas, pertence a todos.
Em um mundo perfeito...
PARTE 3
PARTE 3 – Diários de Buenos Aires
Buenos Aires, 08 de julho de 2012
Um dia espetacular!
Tudo a pé, da Recoleta a Puerto Madero. Primeira parada, Café Tortoni para churros e chocolate quente. Depois, uma olhada no delírio neogótico que é o Palácio Barolo, na mesma rua do café. Um dos prédios mais impressionantes numa cidade repleta deles. A Catedral Metropolitana, na sequencia e uma boa copia da Madeleine de Paris, merece ser visitada.
Após olhada rápida na infame Casa Rosada, fui ao espetacular museu do Bicentenário, inaugurado no ano passado. Bem atrás da sede do governo, o museu é um show de modernidade construído com bom gosto e ousadia sobre as ruinas de um forte que havia no local. É um museu sobre politica argentina, pendendo ao peronismo e aos “nefastos” da dinastia Kirchner. Não importa, pois é tudo muito interessante e vídeos em telas grandes explicam cada etapa dos 200 anos da independência argentina, mesclado a pinturas, objetos, instalações e até um vestido bonito de Evita Peron. Os guardas oficiais da Casa Rosada estão por lá esplendorosamente uniformizados. O café é muito charmoso e a iluminação natural da moderna construção em vidro e aço pôs em relevo o antigo das ruinas. Imperdível!
De lá, boa caminhada ao sempre vanguardista Faena Arts Center. Dois artistas cubanos que se intitulam Los Carpinteros desconstroem tudo em suas instalações controversas que podem ser desde uma avionetada cravada por flechas indígenas, passando por barracos de papelão empilhados e desmoronando, até postes de iluminação de ruas que mais parecem arvores com raízes. No outro espaço, a beleza e leveza das obras em papel de Manuel Ameztony. Vídeos e telas completam a experiência de cores suaves e uma espécie de floresta desconstruída. Muito bonito.
Como ninguém é de ferro, almoço no meu amado La Cabana. Mais espetacular que nunca. Fiquei feliz de ver muitos brasileiros por lá. Dá de 10 no Cabana Las Lillas, vizinho, e é 100% argentino. Ao contrario do outro que é coisa do Rubayat em Buenos Aires. Quem quer ares paulistanos vai a São Paulo e não a Puerto Madero.
Feliz com o almoço magnifico composto das melhores empanadas do planeta, filet mignon dos deuses e a melhor panqueca de doce de leita que já tive a honra de provar, hora de voltar a me regalar com as preciosidades da Coleção Fortabat. Vale os 15 reais do ingresso, mesmo preço cobrado pelo Faena. Cultura custa pouco nesta cidade...
Mais caminhada até chegar à maravilha das maravilhas que se chama Teatro Colón, o terceiro melhor em acústica do mundo. Maior do que a Opera Garnier de Paris e tão bonito quanto, assisti a um ballet dançado pela companhia do próprio teatro. Show!
O grande ator americano Dustin Hoffman disse que apesar de fases difíceis em sua vida e longos períodos de depressão, o que valorizava era mesmo sua capacidade de ainda se maravilhar.
O Colón e o ballet avivaram a minha. Tão bom encher os olhos de lagrimas por estar num teatro que lembra minha infância nos espetáculos do Municipal, o ballet La Sylphide que não pode ser mais poético, a orquestra ao vivo glorificando a acústica perfeita do teatro. Lotado. E maravilhoso.
Para minha mãe, que me iniciou na jornada de maravilhar-me.
PARTE 2
PARTE 2 DOS DIARIOS DE BUENOOS AIRES
Buenos Aires, 07 de julho de 2012
Mais um dia de sol e frio, temperatura ideal para caminhar muito por esta bela cidade. Ajudada pelo ótimo e surpreendentemente pontual Buenosairesbus. Por 40 reais você usa o serviço por dois dias, um longo percurso do centro a Boca, Puerto Madero, Palermo e Belgrano. Embarques e desembarques múltiplos pelas 24 paradas do veiculo que conta com 2 andares, o segundo ao ar livre. Opção civilizada para ver mais desta enorme e interessantíssima cidade, sem enfiar-se no sujo metro onde não se vê nada. Primeira parada, o museu de Belas Artes da Boca, ou museu Quinquela Martin. O dito foi um patrono das artes no bairro pobre e feio, mas importante culturalmente por ser o berço do tango.
O museu divide um prédio muito simples e velho, com escola, teatro e ambulatório. Um espaço típico de bairro, mistura boa de cultura com educação e saúde. O acervo é interessante e pinturas são de renomados artistas argentinos, de estilo figurativo como o do próprio Quinquela. Além de pinturas, esculturas e mobília do apartamento onde viveu o artista, o museu exibe figuras de proa de antigos navios; diferente e especial no sentido místico que conferiam às embarcações. Este museu foi dica de um amigo argentino e como fica em lugar tão feio, quase passa despercebido. Mas vale a visita, pois os quadros de Quinquela são impactantes em tamanho, cores, estilo dramático lembrando as fortes pinceladas de Van Gogh. As cores são poderosos tons de laranja escuro, preto ou vermelho e retratam perfeitamente a dureza e o perigo da vida portuária na primeira parte do século vinte. Incêndios na aérea e nas embarcações eram comuns e Quinquela mostra tudo isso perfeitamente em suas obras poderosas.
Alias a Boca, bairro que continua feio e pobre, pode tornar-se num futuro não muito distante, o novo Puerto Madero. Mas via cultura e não especulação imobiliária. Para revitalizar a área, que além de horrenda e suja é também perigosa, vários museus e centros culturais estão aparecendo por lá. Até o chef mais famoso da Argentina, Francis Malmann, ousou abrir um restaurante vizinho à bela Fundacion Proa. O Patagonia Sur dá certo há mais de ano e pode ser a primeira de varias casas estilosas no bairro.
De novo, não pude visitar o Proa que só funciona com exposições temporárias. Atenção brasileiros: uma exibição de arte pop Brasil-Argentina lá começa no dia 14 de julho. Deve ser barbara e tem forte patrocínio dos dois governos.
À tarde, depois de mais uma refeição decepcionante, desta vez no bonito Fervor (comida razoável mas cara, serviço muito eficiente), lá fui eu de novo ao museu de Arte Decorativa ver a exposição especial Meraviglie Dalle Marche,que vai ate setembro próximo. Amarguei fila de meia hora e de novo me encantei com a casa-palácio dos Errazuriz. A mostra de 600 anos de pintura italiana é magnifica, mas totalmente centrada em temas religiosos. Para quem curte arte sacra, um prato cheio. Cara para padrões argentinos, 15 reais a entrada. No Quinquela paguei 4 reais.
Zero pagamento no museu de artes plásticas Eduardo Sivori. Bela exposição de desenhos do artista húngaro radicado na Argentina, Lajos Szalay. O museu fica dentro dos Bosques de Palermo, gigantesca área de 80 hectares que é um mega-Ibirapuera portenho.
O ultimo do dia com 4 museus foi o belo e pequeno museu de Arte Espanhola Enrique Larreta, em Belgrano. Outro semi-palacio de milionário argentino, que além de rico e de bom gosto também era escritor. Mobiliário precioso e retábulos sensacionais. Custo do ingresso: 50 centavos. A intrigante e totalmente redonda igreja da Imaculada Conceição, em frente, completou o dia cheio e alegre.
BUENOS AIRES 2012
DIARIO DE BUENOS AIRES
São Paulo, 06 de julho de 2012
Voltei.
Como prometi a mim mesma no final de setembro do ano passado, quando fiquei frustrantes 48 horas na majestosa capital argentina. Com sol, céu muito azul e preços bem mais altos do que os praticados em 2011. Mesmo assim, o numero de brasileiros aqui é impressionante. Só se ouve português. Mas como meu objetivo é cultural-gastronômico, não me importam as compras e muito menos os compatriotas.
No lado gastronômico, dois extremos: o fino e caro La Bourgogne, a estrela do hotel Alvear e as boas empanadas do Sanjuanino. O melhor de dois mundos. Mas nem um dos dois me impressionou, nem o que se diz o melhor francês do país e nem o que reclama para si o titulo de “rei das empanadas”. Não voltaria a ambos.
Por enquanto ganha o lado cultural e as visitas ao Palais de Glace, ao Museo de Arte Hispanoamericano e ao lindíssimo Museo Nacional de Arte Decorativo. No primeiro umas instalações chatas, mas exposição de fotos muito interessantes. Verdade nua e crua, a la Sebastiao Salgado. No segundo, mais fotos, mas desta fez feitas por um jesuíta suíço que viajou longamente pela América Latina documentando pessoas e igrejas. Sua foto preto e branca de Olinda é genial. Mar, igrejas e muitas palmeiras. Bem Brasil. Este museu tem importante acervo de arte sacra nos países latinos, prataria e pinturas cusquenhas mais bonitas do que as que vi em Cusco; tudo isso cercado por jardins andaluzes muito agradáveis e se encontra em uma mansão neocolonial de 1922, perto da Recoleta.
O campeão do dia foi o palácio Errazuriz Alvear, em Palermo, sede do museu de arte decorativa. A casa é um espetacular palácio, uma espécie de San Simeon portenho. Tudo bonito e interessante e o salão principal, ao som de musica clássica nos remete a 1918, época em que foi construída a residência e os bailes que lá ocorreram. Em meio a estatuas de Rodin e obras de El Greco e Manet. Volto amanha para conferir uma exposição que celebra séculos de arte italiana no pais.
Buenos Aires oferece além de museus ótimos, os mais baratos também. O Palais de Glace e grátis, bem como as sessões de cinema as sextas e finais de semana. O palácio-show custa 2 reais e o de arte hispano-americana cobra 50 centavos!
Cultura ao alcance de todos. Como deveria ser no mundo inteiro.
segunda-feira, 30 de abril de 2012
VIVA A BICICLETA!
AMSTERDAM E A BICICLETA
Capital de um dos países mais civilizados do mundo, cerca de 800.000 habitantes. Lugar onde o carro e os bondes cedem passo às milhares de bicicletas que circulam pela divertidíssima Amsterdam, uma das cidades mais gostosas e descoladas do globo. O lindo povo alto e louro, sem capacetes em sua grande maioria, circula com ou sem pimpolhos em bicicletas velhas e pretas, enferrujadas, descascadas e com aquelas bizarras buzinas do “pén pén” de antigamente. Chamam as mesmas, carinhosamente, de “bicicletas da vovó”. São roubadas rotineiramente e deixadas ás vezes caídas pelas calçadas, mas não importa; compra-se outra de fontes duvidosas, por preço de banana. O importante é bicicletar. E ao inferno os pedestres também. Os bikers estão com tudo e não abrem mão de seus espaços conquistados com muita luta, a duras penas, há séculos.
Isso e outras coisas fazem da cidade um lugar descontraído e jovem, apesar do envelhecimento geral do continente europeu. Em Amsterdam os velhos são jovens em suas atitudes e modo de vestir. Nada de gente chique e arrumada. Impera o tênis e a camiseta. Terno só para os homens de negócio que operam nas maravilhosas casas de tijolos escuros que margeiam os muitos canais da “Veneza holandesa”.
Vida noturna agitada, restaurantes modernosos mas de comida fraca, não importa. A cerveja holandesa é ótima e a Heineken tem até museu; como também as bebidas Bols, matéria prima de drinques vanguardistas. E museu é o que não falta por lá. Há uma enorme praça com os três principais e o “Municipal” de lá, o Concert Gebow: o gigantesco e imponente Rijksmuseum, o Van Gogh e o de Arte Moderna e sua arquitetura espacial. Uma festa! Entre as 10 principais atrações da cidade, de acordo com o guia inglês Eyewitness (aqui chamado de Guia da Folha), 5 são museus. Infelizmente, só pude ver 2, pois o de arte moderna estava fechado. Além do mais, 2 dias inteiros por lá não dá para quase nada. A cidade é muito rica em possibilidades culturais.
O Rijksmuseum, um mamute comparável aos imensos Louvre, British e Metropolitan, leva dias para ser corretamente apreciado. Como ele está em reforma e só estará aberto no ano que vem, pode-se apreciar algumas de suas obras principais, como belos e importantes quadros de Rembrant, Vermeer e Frans Hals no pequeno Philips Hall, um anexo que a poderosa firma holandesa de eletrônicos, Philips, patrocinou para que o museu não ficasse sem visitantes por tanto tempo. Lá estão quadros, móveis e objetos importantes da história do país, bem como obras de arte e, é claro, loja. Como os holandeses são e sempre foram espertíssimos para comércio, montaram temporariamente uma outra loja do museu na grande praça em frente, bem como restaurante e banheiros. Tudo moderno, limpo e organizado. No meio, a frase local, tipo I Love New York, que por ali transformaram em “I AMsterdam”. Genial!
Mas o máximo em termos de pintura está guardado no Van Gogh Museum, ali ao lado. Vale enfrentar as enormes filas para ver os 200 óleos e mais centenas de gravuras que o museu exibe do famoso e louco pintor holandês. Ele só pintou por 10 anos, produzindo cerca de 900 trabalhos, mas que obras primas! Os 200 do museu são no mínimo espetaculares, tudo bem exposto e explicado. Com o luxo incomparável de, quando Van Gogh se inspirava em outro pintor, por exemplo, seu amigo Paul Gaugin, há um quadro do próprio Gaugin (original, nada de cópia ou foto) ao lado para que o público possa realmente ver as técnicas e influencias principalmente no uso da cor. Os holandeses, grandes pintores, não usavam cores fortes em seus quadros e Van Gogh foi o primeira a fazer isso, pois aprendeu com os impressionistas franceses, seus contemporâneos, vivendo na França e lá morrendo, por vários anos. Sua vida foi uma tragédia indescritível, mas seu legado é emocionante e toda sua tortura interna e o deslumbramento que sentia pela arte japonesa estão expostos em sua obra. A influência japonesa deu frutos e o Japão financiou uma ala nova do museu, em estilo moderno japonês, para exibições temporárias. Havia quando visitei uma sobre Simbolismo, muito interessante. De novo, com as comparações didáticas entre pintores e mais um show de obras originais para se analisar influencias.
O museu Van Gogh é permanentemente lotado e isso pode ser um tanto irritante. No entanto, o conteúdo e a maneira como tudo é organizado e bem explicado minimiza a turba ignara. Há um bom café para descanso das longas caminhadas museológicas.
Aliás, caminhar é o melhor para se conhecer a cidade. É fácil alugar bicicletas, mas os detalhes da arquitetura e estilo de vida local são melhores observados a pé. Ou de barco, nos bons passeios oferecidos pela empresa Blue Boat. Até mesmo numa roda-gigante, coisa que fizemos na praça principal, a Dam, pois ali montaram um parque de diversões para a comemoração do dia mais baladeiro de Amsterdam, o Dia da Rainha. É só festa e a Dam, onde estão importantes monumentos como igrejas e Palácio Real, fica totalmente lotada e obscurecida pelo tal parque. Mas ideal mesmo é voltar numa época sem a tal festa para observar e curtir a praça sem os barulhentos brinquedos do parque.
A Oude Kerk, a mais importante e antiga igreja da cidade, fica ali perto, no famoso Red Light District. Famoso pelas prostitutas expostas em vitrines, como se fossem peças de carne em açougue. Interessante e diferente, mas um tanto deprimente. Visita imperdível pois só em Amsterdam se pode ver isso e o tal comércio é setorizado: moças asiáticas numa rua, negras em outra, velhas mais ali adiante, gordas acolá, russas na esquina e por aí vai. Junto com as lojas de maconha e outros que tais. O que torna o cenário ainda mais intrigante é o fato de tudo ser legalizado, seguro e pelo menos aparentemente, encarado com naturalidade pelos holandeses; que estão sempre entre os povos mais liberais e tolerantes do mundo.
Para um pouco de paz do barulho e agitação das ruas e canais, uma visita a Begijnhof, uma pracinha central, ajardinada e florida, mas escondida, é recomendada. Lá está a casa mais antiga da cidade e a arquitetura das casinhas é adorável. Vibrações do filme baseado na vida do genial pintor holandês Vermeer, “Garota com o Brinco de Pérola”, estrelado por Scarlet Johansson.
Há lojas para todos os gostos e bolsos, o comércio é ebuliente e bem distribuído, tendo a P C Hoofstraat como centro chique, com todas as marcas luxuosas ali representadas. O que não impede que lugares como o café Maxime, bem simples e francês, lá se estabeleça, oferecendo pratos simples e bem feitos.
Mas gastronomia não é o forte da cidade. Além do Maxime fomos ao descolado George e ao Zinc e nada agradou muito. Fuja das vária churrascarias argentinas abertas no rastro da popularidade da princesa Máxima, argentina plebéia casada com o príncipe herdeiro holandês.Tampouco arrisque a comida típica, um festival de itens fritos que tem nas “bitterbalen” sua estrela máxima. São horríveis croquetes super engordurados, grandes. Quando a vítima-turista morde um deles, esperando um croquete, digamos, depara-se com um líquido cinzento, de procedência duvidosa e pavorosa consistência. Horrível...
Como Amsterdam tem muito a oferecer, esqueça a comida e aproveite o resto. Boa maneira de perder peso. Bem, nem tanto. A torta de maçã típica é ótima e o Café Sucre oferece mini docinhos deliciosos. E a cerveja...
Voltarei no ano que vem para conferir a reabertura do Rijksmuseum, a glória do de arte moderna, para curtir mais os canais, as tulipas e a alegria do povo holandês, que depois de mexicanos e brasileiros é, seguramente, o mais simpático e bem-humorado do planeta.
Zurique, 30 de abril de 2012
domingo, 29 de abril de 2012
PÁSCOA SEM CHOCOLATE E COELHO
PÁSCOA EM SANTO ANDRÉ
Primeira vez.
Já estive na que chamo “a praia mais bonita do mundo” várias vezes em abril, mas nunca na Páscoa; que este ano caiu no começo de abril, proporcionando assim uns dias ensolarados e com temperaturas mais amenas do que as auferidas no efervescente calor baiano e ainda sem chuva. Perfeito para paz e descanso, 4 noites divinas na pousada mais pé-na-areia do Brasil, minha querida Victor Hugo. Cozinha renovada, as bruschettas estão de novo ótimas e o arroz de polvo faz par com a casquinha de siri no quesito: frutos do mar deliciosos! O serviço é como sempre gentil e eficiente.
Restaurantes Jacumã e Pousada do Corsário seguem maravilhosos e os preços em Santo André são bem razoáveis para uma paulista como eu, vítima do verdadeiro roubo que virou o setor hoteleiro/restaurantes e similares pelo Brasil inteiro, minha cidade natal mais cara do que Paris ou Nova York. Compensa a política de custos sensatos, pois na normalmente vazia Santo André a maioria das pousadas e o hotel-brega-CVC estavam bastante movimentados.
Mas nem tudo é sol e beleza em Santo André. A má notícia é o súbito e misterioso fechamento do querido Casa Praia, a única opção de divertimento noturno na pacata demais Santo André. Uma pena...
O novo dono já está reformando para reabrir, mas como bar de praia e não como cinema e centro de performances artísticas-baladeiras sob o comando dos inigualáveis Pablo e Amadeo.
O que me leva a pensar que neste mundo comandado por esforços de marketing e promoções infindáveis, resultando em enorme competição no setor turístico, especialização e renovação constantes são a chave do sucesso. Nichos de mercado. Não dá para competir com vizinhos gigantes? Especialize-se! Seja o melhor no seu setor, nem que ele seja um mero carrinho de pipoca. Sua clientela é gay? Promova seu hotel e restaurante para eles/elas. Marketing barato e direto no Google e no Facebook.
Cenários românticos, idílios para casais? Invista nos quartos e no restaurante. Estratégia que, pessoalmente, como hóspede e amiga do dono e do gerente da pousada Victor Hugo, sugiro a eles. Bons banheiros, iluminação para leitura correta, televisão a cabo nos apartamentos, telefone para os hóspedes pedirem lucrativas bebidas e petiscos. Cardápio criativo aliado aos cocos e deliciosos pratos baianos podem dar bons resultados. Com o “upgrade” pode-se promover a pousada e sua localização mais que perfeita em agencias de turismo chiques das grandes capitais. O marketing do “luxo sem ostentação”, com pitadas ecológicas que tanto agradam a certos setores endinheirados no Brasil. Quem apostou nisso com sucesso foi a bela Vila dos Orixás, em Morro de São Paulo. Anda repleta de gente bonita, gastando para valer na pousada.
Afinal, o medonho hotel vizinho, Costa Brasilis se especializou no “público genérico” – termo politicamente correto para gente brega e barulhenta. Com grande êxito e sem poluir a praia ou perturbar os vizinhos.
E viva Santo André!
Zurique, 29 de abril de 2012
LUXO
O MELHOR BRUNCH DO MUNDO
Aconteceu no hotel The Dolder Grand, um dos melhores do mundo, em Zurique, abril de 2012.
O que era para ser apenas um jantar de comemoração dos 50 anos do aniversário de meu marido e seu irmão gêmeo, tornou-se um fim de semana luxuoso e inesquecível. Suíça, um dos países mais ricos do mundo, tem, claro, vários bons hotéis em oferta, mas o Dolder é especialíssimo, pois num país pequeno, onde espaço vale muito, o Dolder dispõe de campo de golfe, florestas, apart hotel para quem não pode pagar as salgadas diárias dos palácios principais (sim, são verdadeiros palácios com suítes de até 400 m2), restaurante com 2 estrelas no Guia Michelin (para referencia:o máximo são 3 estrelas e o Brasil não possui estabelecimento algum com sequer uma mísera estrela ), obras de arte que decoram os espaços variando de Andy Warhol a Picasso, com pinceladas de Matisse e o SPA mais lindo e celestial que meus olhos já viram.
Tudo começou quando um questionável milionário local decidiu recuperar uma antiga casa de saúde depois transformada em hotel e posteriormente fechado por falta de grana para manutenção. Sim, isso também acontece em países endinheirados...
Em 2008, o Dolder reabriu em grande estilo e o resultado de tanto dinheiro e esforço é, no mínimo espetacular. A casa antiga está lindíssima e decorada com extremo bom gosto misturando antigo e moderno. Todos os apartamentos vem equipados com “brinquedinhos” de ultima geração, como controle remoto Bang & Olufson que resolve todos os problemas, de abrir as cortinas e apagar luzes até ligar as múltiplas televisões do aposento, enchendo a banheira-ofurô de sais perfumados no processo; uma das ditas televisões faz parte do espelho de cristal da marmorizada sala de banho. Flores, frutas e mimos deliciosos fazem parte do pacote, bem como drinques sofisticados misturando vodka, gengibre, pepino e wasabi. Tudo isso com direito a terraço e vista deslumbrante das montanhas nevadas. Mas o luxo e beleza da decoração perdem bastante para a excelência do serviço, mais que perfeito. É sublime, hotelaria suíça no seu máximo esplendor. Todos os funcionários que entram em contato com os hóspedes sabem os nomes e sobrenomes dos mesmos, estão sempre impecavelmente vestidos, falam uma variedade estonteante de línguas e garçons jamais deixam a vizinhança das mesas durante as refeições. São verdadeiros mordomos prontos a buscar um celular que você esqueceu debaixo do banco esquerdo do seu carro, por exemplo. Organizam surpresas de aniversário, como bolo-brioche coberto pelo mais puro e suave chocolate local, com direito a congratulações do gerente que vem pessoalmente à mesa do aniversariante. Nada de cantoria cafona dos garçons como é comum nos EUA, por exemplo. Discreção, simpatia e classe, nesta ordem, são via de regra no Dolder.
O café da manhã, lógico, é igualmente delicioso, mas o brunch dominical é a estrela máxima da constelação do luxo.
Não sou facilmente impressionável por bufês de qualquer espécie, pois os detesto com todas as minhas forças. Mas o brunch do Dolder é um caso a parte. Por R$ 180,00 por pessoa o freguês pode servir-se de acepipes que variam dos mais perfeitos sushis e sahimis, salmão defumado escocês, raros tipos de caviar,rosbifes suculentos, entrecotes rosados,steak tartar incrível (coisa que nunca vi em bufês, pois a carne crua é fonte fácil de contaminação – no Dolder está quase submersa em gelo, o que elimina possíveis problemas), pratos suíços típicos, massas variadas, saladas frescas e crocantes, aspargos de sonho e a mesa de sobremesas mais maravilhosa que já encontrei. Parece vitrine de confeitaria francesa, com pirâmides de macarrons de diversos sabores, pequenas tortas de frutas sortidas, mouses indiscutíveis, sorvetes cremosos, delírios de chocolates brancos, ao leite e amargo de todas as formas e tamanhos. Isso tudo mais os itens normais de café da manhã, facilmente esquecíveis em vista de tantas alucinantes possibilidades. Tudo muito bem apresentado, prata e cristais por toda parte. Nada de pratos requentados, grudando nos réchauds; tudo é reposto com precisão dos famosos relógios do país. Como acima mencionado, os garçons grudados à sua mesa não deixam nada faltar e bebidas fluem intermitentemente e pratos/talheres trocados como se os funcionários fossem invisíveis.
Qualidade, bom gosto, charme e luxo. O que mais pode querer um mortal?
E preços mais camaradas do que os extorsivos que tem sido praticados ultimamente em São Paulo. O jantar de aniversário de meu marido, ocorrido na noite anterior ao brunch, custou, para 10 pessoas, com bebidas no bar durante e depois, menos do que jantar remotamente comparável ocorrido em dezembro passado no restaurante Antiquarius. Que não está no mesmo nível agora e nunca estará do esplendido Garden Restaurant do Dolder.
Zurique, 29 de abril de 2012
sábado, 25 de fevereiro de 2012
ACAMPAR NA NEVE E FOTOS ABAIXO
ACAMPANDO NA NEVE
Já acampei no gelo do Ártico canadense; duro mas inesquecível. Como assim é a experiência de acampar em pleno inverno suíço, nas montanhas da região francesa do país, cercanias da famosa Verbier.
Sempre a caça de novidades viageiras, no dia 24 de dezembro de 2011 me deparei com um artigo que descrevia um “acampamento de luxo”, na Suíça, na revista de bordo da linha aérea daquele pais, a SWISS. Fiquei fascinada pelo conceito e convenci meu marido a passar 3 noites lá, fevereiro 2012. O preço “promocional” do pacote, R$ 2000,00 com café da manha, nos animou a tentar.
O lugar se chama Whitepod, o “hotel” localizado perto da feia Monthey. Chegar lá com mau tempo, como foi o nosso caso, não é fácil e requer correntes nos pneus do carro. Meu marido, suíço e precavido, ligou para o hotel no dia anterior e perguntou sobre este quesito e lhe disseram que as tais correntes não eram necessárias. São. Num dos invernos mais frios da Europa nos últimos 30 anos, as temperaturas e condições meteorológicas mudam rapidamente e a estradinha que leva ao hotel é facilmente coberta de neve. Em menos de uma hora...
Chegamos por milagre, sem enxergar nada, uma neblina que misturada com a neve caindo e o vento era uma tortura. Na recepção, a funcionaria sem a menor boa vontade em nos ajudar, nos deu bastões de esqui e sapatos especiais para que “caminhássemos” naquelas condições terríveis, por meia hora, ate nossa “tenda”. Que eles sofisticadamente chamam de “pod”, palavra inglesa muito em moda à custa dos produtos da americana Apple. Poderíamos ter ido nos snowcats, espécie de jet-ski de neve. Mas faz parte da “aventura” a caminhada introdutória, uma espécie de “iniciação”...
Pouco a pouco nos arrastamos pela tormenta e o frio intenso até nosso pod, que surpreendentemente estava quentinho. Os pods são tendas bem grandes em formato de iglu e supostamente bem insuladas contra o frio. Supostamente, pois a porta é um zíper de barraca de acampamento normal e toda a sofisticação das duas camadas de plástico separadas por isopor, de todo o resto, não servem para muita coisa. O pod é realmente aquecido por uma poderosa lareira fechada com uma porta de ferro e vidro. Não é fácil lidar com a dita cuja, mas é a única maneira de não virar uma pedra de gelo no pod. Se a lareira é mantida constantemente funcionando o pod realmente fica quentinho e agradável.
As mega-tendas iglu são confortáveis e contam com enormes camas box-spring, edredons e cobertores poderosos, poltronas cobertas por peles de carneiro e um banheiro surpreendentemente grande e bem equipado. O chuveiro tem agua bem quente e há até um aquecedor elétrico para tornar tudo mais confortável. Como se pode ver, um verdadeiro acampamento de luxo.
O cenário é maravilhoso, as montanhas nevadas deslumbrantes e o fato de se estar praticamente dentro da neve é muito especial. Os pods tem grandes sacadas de madeira e cadeiras para se desfrutar do sol que ameniza as temperaturas em dias de sorte. Tivemos sorte após nossa dramática chegada e o sol brilhou o tempo todo, refletindo no azul forte do céu o branco cintilante da neve. Incrivelmente lindo e especial.
As atividades no Whitepod são basicamente esportes de inverno como esqui e suas variantes, caminhadas na neve com os snowshoes (ótima maneira de queimar as muitas calorias do ótimos fondues do hotel), trenós individuais e os divertidos puxados por cachorros treinados, coisa que diverte muito as crianças. O restaurante do hotel tem cardápio restrito mas bem executado e além dos clássicos pratos do inverno suíço, como raclettes e fondues, boas opções da cozinha francesa estão presentes. Nada de muito sofisticado ou especial, mas corretamente preparado. Em chalé de madeira, com lareira aberta central, muito romântico e aconchegante com iluminação de velas.
Não voltaria a me hospedar no Whitepod, uma vez basta. Foi uma experiência única e divertida, uma coisa bastante diferente que vale muito a pena. Mas prefiro mesmo em bom quarto de hotel ou casa/apartamento alugado, com calefação. Não é fácil acordar de 3 em 3 horas para por lenha na lareira, para manter o pod aquecido. Na primeira noite não fizemos isso e a temperatura de menos 5 graus, DENTRO do pod não foi nada agradável...
Recomendo para famílias com crianças, para os românticos, os aventureiros, os amantes do esqui que podem fazer uma combinação com as magnificas pistas de Verbier, seus hotéis sofisticados e comida fabulosa como o La Table D’Adrien. O Whitepod é uma parada louca dentro de um roteiro invernal na Suíça, uma coisa que só funciona num pais onde se pode contar com as condições a seguir:
1- A área é TODA aberta. Não há muros, cercas, nada. Tudo maravilhosamente sem fronteiras, barreiras ou qualquer funcionário de segurança.
2- As tendas, os pods, não tem tranca. São fechados apenas com zíper. Nada ocorre, os turistas dormem tranquilos e nada é roubado.
3- O bar é igualmente aberto. Localizado em belo chalé antigo, perto dos pods (recepção e restaurante estão à meia hora de caminhada pela neve como anteriormente mencionado) e lugar onde também é servido o café da manha, ótimo por sinal. O tal conceito de bar aberto é verdadeiramente incrível num mundo violento e superpopuloso como o que habitamos. As bebidas estão em prateleiras e na geladeira. Você se serve do que quer e anota o que consumiu e o numero do seu pod. Não há nenhuma alma viva no lugar para controlar e NADA desaparece.
Só na Suíça mesmo...
Zurique, 25 de fevereiro de 2012
Já acampei no gelo do Ártico canadense; duro mas inesquecível. Como assim é a experiência de acampar em pleno inverno suíço, nas montanhas da região francesa do país, cercanias da famosa Verbier.
Sempre a caça de novidades viageiras, no dia 24 de dezembro de 2011 me deparei com um artigo que descrevia um “acampamento de luxo”, na Suíça, na revista de bordo da linha aérea daquele pais, a SWISS. Fiquei fascinada pelo conceito e convenci meu marido a passar 3 noites lá, fevereiro 2012. O preço “promocional” do pacote, R$ 2000,00 com café da manha, nos animou a tentar.
O lugar se chama Whitepod, o “hotel” localizado perto da feia Monthey. Chegar lá com mau tempo, como foi o nosso caso, não é fácil e requer correntes nos pneus do carro. Meu marido, suíço e precavido, ligou para o hotel no dia anterior e perguntou sobre este quesito e lhe disseram que as tais correntes não eram necessárias. São. Num dos invernos mais frios da Europa nos últimos 30 anos, as temperaturas e condições meteorológicas mudam rapidamente e a estradinha que leva ao hotel é facilmente coberta de neve. Em menos de uma hora...
Chegamos por milagre, sem enxergar nada, uma neblina que misturada com a neve caindo e o vento era uma tortura. Na recepção, a funcionaria sem a menor boa vontade em nos ajudar, nos deu bastões de esqui e sapatos especiais para que “caminhássemos” naquelas condições terríveis, por meia hora, ate nossa “tenda”. Que eles sofisticadamente chamam de “pod”, palavra inglesa muito em moda à custa dos produtos da americana Apple. Poderíamos ter ido nos snowcats, espécie de jet-ski de neve. Mas faz parte da “aventura” a caminhada introdutória, uma espécie de “iniciação”...
Pouco a pouco nos arrastamos pela tormenta e o frio intenso até nosso pod, que surpreendentemente estava quentinho. Os pods são tendas bem grandes em formato de iglu e supostamente bem insuladas contra o frio. Supostamente, pois a porta é um zíper de barraca de acampamento normal e toda a sofisticação das duas camadas de plástico separadas por isopor, de todo o resto, não servem para muita coisa. O pod é realmente aquecido por uma poderosa lareira fechada com uma porta de ferro e vidro. Não é fácil lidar com a dita cuja, mas é a única maneira de não virar uma pedra de gelo no pod. Se a lareira é mantida constantemente funcionando o pod realmente fica quentinho e agradável.
As mega-tendas iglu são confortáveis e contam com enormes camas box-spring, edredons e cobertores poderosos, poltronas cobertas por peles de carneiro e um banheiro surpreendentemente grande e bem equipado. O chuveiro tem agua bem quente e há até um aquecedor elétrico para tornar tudo mais confortável. Como se pode ver, um verdadeiro acampamento de luxo.
O cenário é maravilhoso, as montanhas nevadas deslumbrantes e o fato de se estar praticamente dentro da neve é muito especial. Os pods tem grandes sacadas de madeira e cadeiras para se desfrutar do sol que ameniza as temperaturas em dias de sorte. Tivemos sorte após nossa dramática chegada e o sol brilhou o tempo todo, refletindo no azul forte do céu o branco cintilante da neve. Incrivelmente lindo e especial.
As atividades no Whitepod são basicamente esportes de inverno como esqui e suas variantes, caminhadas na neve com os snowshoes (ótima maneira de queimar as muitas calorias do ótimos fondues do hotel), trenós individuais e os divertidos puxados por cachorros treinados, coisa que diverte muito as crianças. O restaurante do hotel tem cardápio restrito mas bem executado e além dos clássicos pratos do inverno suíço, como raclettes e fondues, boas opções da cozinha francesa estão presentes. Nada de muito sofisticado ou especial, mas corretamente preparado. Em chalé de madeira, com lareira aberta central, muito romântico e aconchegante com iluminação de velas.
Não voltaria a me hospedar no Whitepod, uma vez basta. Foi uma experiência única e divertida, uma coisa bastante diferente que vale muito a pena. Mas prefiro mesmo em bom quarto de hotel ou casa/apartamento alugado, com calefação. Não é fácil acordar de 3 em 3 horas para por lenha na lareira, para manter o pod aquecido. Na primeira noite não fizemos isso e a temperatura de menos 5 graus, DENTRO do pod não foi nada agradável...
Recomendo para famílias com crianças, para os românticos, os aventureiros, os amantes do esqui que podem fazer uma combinação com as magnificas pistas de Verbier, seus hotéis sofisticados e comida fabulosa como o La Table D’Adrien. O Whitepod é uma parada louca dentro de um roteiro invernal na Suíça, uma coisa que só funciona num pais onde se pode contar com as condições a seguir:
1- A área é TODA aberta. Não há muros, cercas, nada. Tudo maravilhosamente sem fronteiras, barreiras ou qualquer funcionário de segurança.
2- As tendas, os pods, não tem tranca. São fechados apenas com zíper. Nada ocorre, os turistas dormem tranquilos e nada é roubado.
3- O bar é igualmente aberto. Localizado em belo chalé antigo, perto dos pods (recepção e restaurante estão à meia hora de caminhada pela neve como anteriormente mencionado) e lugar onde também é servido o café da manha, ótimo por sinal. O tal conceito de bar aberto é verdadeiramente incrível num mundo violento e superpopuloso como o que habitamos. As bebidas estão em prateleiras e na geladeira. Você se serve do que quer e anota o que consumiu e o numero do seu pod. Não há nenhuma alma viva no lugar para controlar e NADA desaparece.
Só na Suíça mesmo...
Zurique, 25 de fevereiro de 2012
SALVADOR, MORRO DE SAO PAULO E GRAMADO
O MELHOR DE DOIS MUNDOS
Férias de verão na praia e na montanha? Pela manhã nadando no mar, calorão, muito sol e a noite, dormindo quentinha debaixo de um fofo edredom? Perfeitamente possível no Brasil entre dezembro e janeiro. Foi o que fizemos, escolhendo a Bahia para o fim do ano e começando 2012 em Gramado; um projeto caríssimo, mas feliz.
Infelizmente, contudo, viajar bem no Brasil muito, muito caro. Nosso projeto saiu o mesmo ou mais do que gastaríamos no igual numero de dias em Paris, por exemplo.
Saímos de São Paulo, via Congonhas, para Salvador no dia 25 de dezembro. Qualquer passagem via Congonhas custa quase o dobro de uma via Guarulhos. Em Salvador nos hospedamos no luxuoso e péssimo Convento do Carmo. O prédio antigo e lindo, bem restaurado, os quartos magníficos e localização ótima – para quem quer curtir o Pelourinho. No entanto, o serviço péssimo e o restaurante idem. O café da manha muito bom, contrastando com o jantar a preços de São Paulo, horas de espera pela comida – fraca - e garçons que nada sabem. Como também nada sabe o pessoal da recepção, um deles um italiano idiota que não sabia informar onde era o Solar do Unhão (um dos principais museus da cidade) e não reservou o taxi que pedimos. Uma vergonha, solido exemplo da cretinice da administradora portuguesa, a bisonha cadeia Pestana.
Mas os problemas com o hotel não atrapalharam nossa estadia feliz em Salvador, uma cidade sempre alegre e interessante. Caminhadas pelo centro histórico e visitas as lindas igrejas principais foram acrescidas de um longo passeio com o ônibus turístico de dois andares, cópia dos que existem na Europa e África do Sul. O roteiro em Salvador muito extenso e quem não quer ficar no ônibus por cinco horas, melhor não encarar. Também cara a passagem, como todo o resto, compensa por ter o andar de cima aberto, o veiculo limpo e confortável e uma ótima maneira de se ter uma ideia do que Salvador. Como toda cidade grande, difícil de conhecer de uma vez, em única visita. Mas com o ônibus de dois andares e todas as explicações, em três idiomas, a coisa fica mais fácil. Visita-se a infalível igreja do Bonfim, bairros residências modernos, lagoa do Abaete, praias, Mercado Modelo. O ônibus para em alguns destes locais e fica cerca de meia hora em cada um. Terminamos o passeio com um magnífico almoço/jantar no Amado, restaurante versão-baiana do Manacá de Camburi. Lugar bonito, beira mar, bom serviço, comida de primeira. Também preços paulistas.
Depois de Salvador, encaramos a avioneta-terror para Morro de São Paulo. Vale o medo, pois nosso hotel, Villa dos Orixás, não podia ter sido escolha melhor. Foram 5 noites perfeitas em praia de sonho, com serviço e comida maravilhosos. O tempo ajudou, só sol e mar transparente, pontilhado de peixes coloridos, morninho. Uma delicia! Na paz e beleza da praia do Encanto, bem longe da cafonice e barulheira que destruíram o centro e praias de 1 a 4 em Morro. A festa de Réveillon foi animada, ótima ceia com direito a champanhe espanhol, a cava, em homenagem aos donos que são de Barcelona. O jovem casal faz ali um belo trabalho de hotelaria e treinamento dos toscos nativos, gente com pouca escolaridade, mas com simpatia e boa vontade de sobra. O resultado um hotel-boutique digno do nome, um coqueiral belíssimo polvilhado por 10 bangalôs bem montados e confortáveis. Salva de palmas para a moqueca de polvo com banana e outras delícias que enfeitam um cardápio criativo e bem bolado. As caipirinhas são igualmente criativas e algumas delas usam a erva capim-santo em sua composição.
No dia 1 de janeiro, encaramos 3 voos para chegar até Gramado. A avioneta de volta a Salvador, um para Guarulhos e outro para Porto Alegre. Tempo péssimo, muita turbulência e os preços das passagens, literalmente, nas nuvens. A parte aérea de nossa viagem nos custou em torno de R$ 8000,00 para duas pessoas. Mais caro que Europa! Os hotéis no final de ano brasileiro estão, como diria minha avó, “pela hora da morte”. Não nos hospedamos nos extorsivos resorts que cobram fortunas inimagináveis, mas nossos 3 nesta viagem eram níveis de 4 a 5 estrelas e preços foram de 500 a 700 dólares por dia. Só com café da manha. Por estas quantias fica-se bem em Paris...
Carro alugado (coisa longe de ser barata em nosso país), lá fomos serra acima até nossa querida Gramado, justamente eleita pelos leitores de Viagem e Turismo como o melhor destino de viagens no Brasil. Sem falar que é o melhor destino de inverno. Há muito tempo.
Com amigos suíços nos visitando lá, fomos de novo ao lindo espetáculo de música, o Nativitaten. O Natal em Gramado dura mais de dois meses e vai de meados de novembro a meados de janeiro. É bem estranho ouvir canções natalinas em janeiro, Papai Noel desfilando por toda parte em janeiro, mas a cidade organiza tudo tão bem, que funciona. O clima é de alegria e animação, mesmo que fora de época. Revisitamos também o zoológico que agora conta com mais bichos e uma loja bem sortida e fizemos longas caminhadas pelo Parque Ferradura. Curtimos como sempre a hospedagem perfeita no La Hacienda e nos deliciamos com a cozinha do hotel, cada vez melhor e variada.
O contraste entre o clima ameno e as noites friazinhas de Gramado no verão com a fornalha baiana é intenso, mas não deixa de ser interessante. Aproveita-se a incomparável baianidade das praias do meu estado nordestino preferido, a culinária única da angelicais moquecas, a simpatia sempre presente dos baianos, a costa deslumbrante e a grande importância histórica de Salvador. Cultural e contemporânea, os museus de arte moderna não param de despontar por suas ruas arborizadas e gostosas de caminhar.
Em Gramado, limpeza, organização e ótima estrutura turística; na Bahia, sujeira e pouco treinamento dos profissionais que recebem os visitantes. São contrastes ainda mais fortes se vistos e sentidos nas mesma viagem, 16 dias entre os dois estados. Uma boa lição de Brasil. De nossas virtudes e de nossos desafios. E um destes desafios transformar os custos em somas pagáveis, os aeroportos em locais eficientes e a educação da população, prioridade. Máxima.
Martigny, Suíça, 20 de fevereiro de 2012
Férias de verão na praia e na montanha? Pela manhã nadando no mar, calorão, muito sol e a noite, dormindo quentinha debaixo de um fofo edredom? Perfeitamente possível no Brasil entre dezembro e janeiro. Foi o que fizemos, escolhendo a Bahia para o fim do ano e começando 2012 em Gramado; um projeto caríssimo, mas feliz.
Infelizmente, contudo, viajar bem no Brasil muito, muito caro. Nosso projeto saiu o mesmo ou mais do que gastaríamos no igual numero de dias em Paris, por exemplo.
Saímos de São Paulo, via Congonhas, para Salvador no dia 25 de dezembro. Qualquer passagem via Congonhas custa quase o dobro de uma via Guarulhos. Em Salvador nos hospedamos no luxuoso e péssimo Convento do Carmo. O prédio antigo e lindo, bem restaurado, os quartos magníficos e localização ótima – para quem quer curtir o Pelourinho. No entanto, o serviço péssimo e o restaurante idem. O café da manha muito bom, contrastando com o jantar a preços de São Paulo, horas de espera pela comida – fraca - e garçons que nada sabem. Como também nada sabe o pessoal da recepção, um deles um italiano idiota que não sabia informar onde era o Solar do Unhão (um dos principais museus da cidade) e não reservou o taxi que pedimos. Uma vergonha, solido exemplo da cretinice da administradora portuguesa, a bisonha cadeia Pestana.
Mas os problemas com o hotel não atrapalharam nossa estadia feliz em Salvador, uma cidade sempre alegre e interessante. Caminhadas pelo centro histórico e visitas as lindas igrejas principais foram acrescidas de um longo passeio com o ônibus turístico de dois andares, cópia dos que existem na Europa e África do Sul. O roteiro em Salvador muito extenso e quem não quer ficar no ônibus por cinco horas, melhor não encarar. Também cara a passagem, como todo o resto, compensa por ter o andar de cima aberto, o veiculo limpo e confortável e uma ótima maneira de se ter uma ideia do que Salvador. Como toda cidade grande, difícil de conhecer de uma vez, em única visita. Mas com o ônibus de dois andares e todas as explicações, em três idiomas, a coisa fica mais fácil. Visita-se a infalível igreja do Bonfim, bairros residências modernos, lagoa do Abaete, praias, Mercado Modelo. O ônibus para em alguns destes locais e fica cerca de meia hora em cada um. Terminamos o passeio com um magnífico almoço/jantar no Amado, restaurante versão-baiana do Manacá de Camburi. Lugar bonito, beira mar, bom serviço, comida de primeira. Também preços paulistas.
Depois de Salvador, encaramos a avioneta-terror para Morro de São Paulo. Vale o medo, pois nosso hotel, Villa dos Orixás, não podia ter sido escolha melhor. Foram 5 noites perfeitas em praia de sonho, com serviço e comida maravilhosos. O tempo ajudou, só sol e mar transparente, pontilhado de peixes coloridos, morninho. Uma delicia! Na paz e beleza da praia do Encanto, bem longe da cafonice e barulheira que destruíram o centro e praias de 1 a 4 em Morro. A festa de Réveillon foi animada, ótima ceia com direito a champanhe espanhol, a cava, em homenagem aos donos que são de Barcelona. O jovem casal faz ali um belo trabalho de hotelaria e treinamento dos toscos nativos, gente com pouca escolaridade, mas com simpatia e boa vontade de sobra. O resultado um hotel-boutique digno do nome, um coqueiral belíssimo polvilhado por 10 bangalôs bem montados e confortáveis. Salva de palmas para a moqueca de polvo com banana e outras delícias que enfeitam um cardápio criativo e bem bolado. As caipirinhas são igualmente criativas e algumas delas usam a erva capim-santo em sua composição.
No dia 1 de janeiro, encaramos 3 voos para chegar até Gramado. A avioneta de volta a Salvador, um para Guarulhos e outro para Porto Alegre. Tempo péssimo, muita turbulência e os preços das passagens, literalmente, nas nuvens. A parte aérea de nossa viagem nos custou em torno de R$ 8000,00 para duas pessoas. Mais caro que Europa! Os hotéis no final de ano brasileiro estão, como diria minha avó, “pela hora da morte”. Não nos hospedamos nos extorsivos resorts que cobram fortunas inimagináveis, mas nossos 3 nesta viagem eram níveis de 4 a 5 estrelas e preços foram de 500 a 700 dólares por dia. Só com café da manha. Por estas quantias fica-se bem em Paris...
Carro alugado (coisa longe de ser barata em nosso país), lá fomos serra acima até nossa querida Gramado, justamente eleita pelos leitores de Viagem e Turismo como o melhor destino de viagens no Brasil. Sem falar que é o melhor destino de inverno. Há muito tempo.
Com amigos suíços nos visitando lá, fomos de novo ao lindo espetáculo de música, o Nativitaten. O Natal em Gramado dura mais de dois meses e vai de meados de novembro a meados de janeiro. É bem estranho ouvir canções natalinas em janeiro, Papai Noel desfilando por toda parte em janeiro, mas a cidade organiza tudo tão bem, que funciona. O clima é de alegria e animação, mesmo que fora de época. Revisitamos também o zoológico que agora conta com mais bichos e uma loja bem sortida e fizemos longas caminhadas pelo Parque Ferradura. Curtimos como sempre a hospedagem perfeita no La Hacienda e nos deliciamos com a cozinha do hotel, cada vez melhor e variada.
O contraste entre o clima ameno e as noites friazinhas de Gramado no verão com a fornalha baiana é intenso, mas não deixa de ser interessante. Aproveita-se a incomparável baianidade das praias do meu estado nordestino preferido, a culinária única da angelicais moquecas, a simpatia sempre presente dos baianos, a costa deslumbrante e a grande importância histórica de Salvador. Cultural e contemporânea, os museus de arte moderna não param de despontar por suas ruas arborizadas e gostosas de caminhar.
Em Gramado, limpeza, organização e ótima estrutura turística; na Bahia, sujeira e pouco treinamento dos profissionais que recebem os visitantes. São contrastes ainda mais fortes se vistos e sentidos nas mesma viagem, 16 dias entre os dois estados. Uma boa lição de Brasil. De nossas virtudes e de nossos desafios. E um destes desafios transformar os custos em somas pagáveis, os aeroportos em locais eficientes e a educação da população, prioridade. Máxima.
Martigny, Suíça, 20 de fevereiro de 2012
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